A cultura da soja é de extrema importância para o agronegócio brasileiro, posicionando o Brasil como o maior produtor e exportador mundial dessa oleaginosa. No entanto, a produtividade é severamente afetada por diversas doenças que, quando não manejadas adequadamente, podem causar prejuízos consideráveis.

Ferrugem-asiática, septoriose, mancha-alvo, oídio, mofo-branco, cercosporiose e podridão de grãos (anomalias da soja) são algumas das principais doenças que ameaçam essa cultura.

Compreender a interação entre o hospedeiro, os patógenos e o ambiente, é a chave para as melhores tomadas de decisão relacionadas ao manejo, que deve considerar diferentes práticas de maneira integrada e preventiva. Além disso, é importante conhecer as especificidades de cada doença para manejar a lavoura de forma assertiva. 

Nesse artigo, detalhamos as principais doenças da soja, seus impactos para o cultivo da oleaginosa e os fatores que devem ser considerados para manejá-las corretamente.

Cenário atual das doenças da soja no Brasil

O Brasil se destaca como o maior produtor mundial de soja, com áreas de cultivo que se estendem por milhões de hectares. No entanto, a expansão dessa cultura e o cultivo intensivo em diversas regiões do país têm contribuído para a disseminação e o agravamento de doenças que impactam diretamente a produtividade das lavouras.

A ferrugem-asiática continua sendo a doença mais devastadora para a soja, causando perdas que podem ultrapassar 80% da safra em casos severos. A mancha-alvo e o mofo-branco também se tornaram problemas crescentes, exigindo um manejo rigoroso. 

Além disso, recentemente, alguns patógenos vem desafiando os produtores e criando uma nova dinâmica no manejo das doenças, como é o caso da podridão de grãos e sementes, também conhecida como anomalia da soja

Sem contar doenças como septoriose, cercosporiose e oídio, que são problemas recorrentes em diversas regiões produtoras.

A pressão das doenças é acentuada por condições ambientais favoráveis, como alta umidade e temperaturas amenas, comuns em várias regiões produtoras do Brasil. A escolha de variedades suscetíveis, a falta de rotação de culturas e o manejo inadequado dos restos culturais também contribuem para a disseminação dos patógenos, aumentando a incidência e a severidade das doenças.

O triângulo das doenças: compreendendo o processo de infecção

O conceito do triângulo das doenças é essencial para entender como as infecções ocorrem na cultura da soja. Este triângulo é composto por três elementos: o hospedeiro (a planta de soja), o patógeno (fungos, bactérias ou vírus que causam a doença) e o ambiente (as condições climáticas que favorecem ou desfavorecem o desenvolvimento da doença). 

A interação entre esses três componentes é o que determina a ocorrência e a gravidade de uma doença em uma lavoura. Saiba mais sobre cada um deles abaixo:

  1. Hospedeiro: a soja, como hospedeiro, pode ser mais ou menos suscetível a certas doenças, dependendo da variedade cultivada. Algumas cultivares possuem resistência genética a determinados patógenos, o que pode ajudar a reduzir a severidade de uma infecção. No entanto, mesmo cultivares resistentes podem ser afetadas se as condições ambientais forem extremamente favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.
  2. Patógeno: diversos patógenos atacam a soja, com diferentes níveis de agressividade e capacidade de sobrevivência no solo ou nos restos culturais. A ferrugem-asiática, por exemplo, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é altamente agressiva e pode causar grandes perdas em pouco tempo. 
  3. Ambiente: as condições ambientais desempenham um papel crucial no desenvolvimento das doenças. Umidade elevada, temperaturas moderadas e chuvas frequentes são fatores que favorecem a proliferação de patógenos, como o causador da ferrugem-asiática e do mofo-branco. Além disso, práticas agrícolas inadequadas, como a alta densidade de plantio e a ausência de rotação de culturas, podem criar microclimas que favorecem o desenvolvimento de doenças.
imagem sobre o triangulo da doença

A compreensão do triângulo das doenças permite aos produtores adotarem medidas preventivas mais eficazes. Por exemplo, em regiões onde a umidade e as chuvas são constantes, é fundamental optar por cultivares resistentes e realizar o monitoramento constante das lavouras para identificar precocemente o surgimento de doenças.

O manejo integrado, que combina práticas culturais, controle químico e uso de variedades tolerantes ou resistentes, é um dos principais caminhos para minimizar os impactos negativos das doenças na produtividade. 

Principais doenças da soja: danos e prejuízos

Ferrugem-asiática

A ferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é a doença mais preocupante para os sojicultores. Desde sua introdução no Brasil na safra 2001/02, a ferrugem-asiática tem causado prejuízos bilionários.

Os sintomas iniciais são pequenas lesões esverdeadas nas folhas, que evoluem para manchas marrons, levando à desfolha precoce e à redução drástica da capacidade fotossintética da planta. Em casos graves, as perdas de produtividade podem superar 80%.

A ferrugem-asiática pode causar perdas devastadoras em lavouras que não recebem tratamento adequado, sendo uma das principais responsáveis pela redução da produtividade da soja no Brasil.

Septoriose

A septoriose, causada pelo fungo Septoria glycines, provoca manchas marrons com bordas escuras nas folhas da soja, especialmente nas folhas mais baixas. Embora essa doença seja menos preocupante que a ferrugem-asiática, ela pode causar desfolha precoce e comprometer o enchimento dos grãos, reduzindo o rendimento final da cultura.

A septoriose afeta a área foliar ativa da planta, reduzindo a capacidade de fotossíntese e, consequentemente, a produção de grãos.

Mancha-alvo

A mancha-alvo, causada por Corynespora cassiicola, tem ganhado importância nas últimas safras. As lesões características da doença são circulares, com centro escuro e bordas claras, e podem ser observadas em todas as partes aéreas da planta. Em infecções severas, a mancha-alvo causa desfolha precoce, prejudicando o enchimento dos grãos e a produtividade.

A mancha-alvo pode resultar em perdas significativas, especialmente em áreas onde a doença não é controlada adequadamente.

Oídio

O oídio, causado por fungos da família Erysiphaceae, é uma doença comum em regiões de clima seco, com baixa umidade relativa do ar. O fungo cobre folhas, hastes e vagens da planta com um pó branco, reduzindo a capacidade fotossintética da soja e, em casos graves, causando queda de folhas e vagens.

Esta doença pode comprometer o rendimento da soja se não for devidamente controlada, especialmente em áreas com clima favorável ao desenvolvimento do fungo.

Mofo-branco

O mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença desafiadora no cultivo da soja, favorecida por alta umidade e temperaturas amenas. O fungo sobrevive no solo por longos períodos, infectando a planta através das lesões que se formam no caule. A infecção resulta em um mofo branco característico que pode levar à morte da planta e à perda total da área afetada.

O mofo-branco pode causar perdas severas, especialmente em regiões onde o patógeno já está presente no solo e as condições ambientais são propícias.

Cercosporiose

A cercosporiose, provocada por fungos do gênero Cercospora, é uma doença foliar que ataca folhas, pecíolos e vagens, gerando manchas que vão de marrom a preto. Essas manchas interferem na capacidade da planta de realizar a fotossíntese, resultando em desfolha precoce. 

O comprometimento do enchimento dos grãos e a queda de produtividade são consequências diretas da presença dessa doença.

A cercosporiose pode reduzir drasticamente a qualidade e a quantidade de grãos produzidos, especialmente em áreas onde o controle não é adequadamente conduzido.

Podridão de grãos e sementes (anomalia da soja)

A podridão de grãos e sementes, também conhecida como anomalia da soja, é causada por patógenos como Phomopsis, Fusarium e Colletotrichum. Essa doença se manifesta, principalmente, durante o enchimento dos grãos, causando o apodrecimento e a deterioração de grãos e sementes.

Os grãos infectados apresentam manchas escuras e deformações. A colheita e a qualidade de grãos e sementes ficam comprometidas, resultando em perdas tanto na quantidade quanto na viabilidade.

A podridão de grãos e sementes é uma das principais causas de perda de qualidade na colheita, afetando tanto a produtividade quanto o valor comercial do produto final.

Manejo das doenças da soja

O manejo integrado das doenças da soja é uma estratégia essencial para mitigar os impactos negativos na produtividade das lavouras. As práticas de manejo devem considerar as características específicas de cada região e a incidência das doenças ao longo das safras. A seguir, são detalhadas algumas das principais medidas para o controle eficaz dessas doenças.

  1. Rotação de culturas: alternar a soja com outras culturas não hospedeiras é uma das formas mais eficientes de reduzir a quantidade de inóculo presente no solo. A rotação de culturas ajuda a quebrar o ciclo de vida dos patógenos, diminuindo a pressão de infecção para a próxima safra de soja.
  2. Eliminação de restos culturais: a remoção e a destruição adequada dos restos culturais das safras anteriores são fundamentais para evitar a sobrevivência dos patógenos entre as safras. Restos de plantas doentes podem servir como fontes de inóculo, perpetuando a presença de doenças na lavoura.
  3. Uso de cultivares resistentes: o uso de variedades tolerantes e/ou resistentes é também uma estratégia eficiente no contexto do manejo integrado. Importante ressaltar que, independente das variedades utilizadas, é importante que os produtores se mantenham atentos ao monitoramento e à construção da sanidade foliar.

Controle químico

O controle químico é uma parte crucial do manejo das doenças da soja, mas deve ser empregado de forma preventiva e integrada a outras práticas. A aplicação de fungicidas, quando feita corretamente, pode controlar eficientemente a maioria das doenças, protegendo o potencial produtivo da lavoura.

  1. Aplicações preventivas: é importante que a aplicação de fungicidas ocorra de maneira preventiva, e preferencialmente ainda no estádio vegetativo da cultura, antes do surgimento dos primeiros sintomas. A proteção precoce das plantas é essencial para evitar que as doenças se instalem e causem danos irreversíveis.
  2. Escolha das moléculas: a escolha dos fungicidas deve considerar o histórico de uso na área e a eficácia das moléculas disponíveis. A rotação de fungicidas com diferentes modos de ação é fundamental para evitar a seleção de patógenos resistentes. 
  3. Intervalo de aplicações: respeitar os intervalos recomendados entre as aplicações é crucial para manter a eficácia do controle químico. Aplicações em intervalos muito curtos ou muito longos podem comprometer a proteção da lavoura.
  4. Tecnologias de aplicação: o uso de tecnologias de aplicação adequadas, como pulverizadores calibrados e bicos que garantem uma cobertura uniforme, é essencial para a eficácia do controle químico. O alcance do fungicida nas partes mais suscetíveis da planta, como a face inferior das folhas, em alguns casos, é extremamente importante para o sucesso do tratamento.

As doenças da soja representam um desafio contínuo para os produtores brasileiros, exigindo estratégias de manejo integradas e eficazes para minimizar os impactos na produtividade.

A compreensão do triângulo das doenças, a escolha adequada das práticas culturais e a utilização estratégica de fungicidas são elementos fundamentais para garantir a saúde das lavouras e a sustentabilidade do cultivo da soja. Implementar um programa de manejo integrado, adaptado às condições específicas de cada região, é essencial para manter a produtividade e a competitividade da soja brasileira no cenário global.

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