A segunda safra de milho – o milho safrinha – já corresponde a cerca de 70% da produção nacional do grão no Brasil, tornando-se pilar da segurança alimentar e do agronegócio. Apesar dessa relevância, muitos produtores ainda enfrentam problemas decorrentes de manejos inadequados ou incompletos na lavoura, pequenos “detalhes” que passam despercebidos no dia a dia.  

Na tentativa de reduzir custos ou acelerar operações, práticas agronômicas fundamentais acabam sendo negligenciadas, o que resulta em efeitos cumulativos: maior pressão de pragas e doenças, proliferação de plantas daninhas resistentes, perda gradativa da fertilidade do solo e até redução na eficácia de tecnologias empregadas. Em conjunto, esses fatores impactam diretamente a produtividade e a rentabilidade, comprometendo os resultados mesmo em anos de clima favorável.  

Com margens cada vez mais apertadas e um mercado altamente competitivo, o produtor que deixa de observar essas etapas críticas pode estar perdendo sacas por hectare sem perceber. É comum atribuir os prejuízos apenas ao clima ou aos preços de mercado, mas, muitas vezes, o “gargalo” está dentro da porteira, em práticas negligenciadas no campo.  

Que práticas são essas, afinal? A seguir, listamos as principais falhas de manejo na safrinha que, segundo pesquisas, costumam ser subestimadas nas lavouras de milho, e mostramos seus impactos na produtividade e na rentabilidade, bem como os caminhos recomendados para evitar essas perdas. 

1. Manejo antecipado e integrado de plantas daninhas 

Controlar as plantas daninhas não é opcional, é um passo decisivo para garantir o potencial produtivo do milho safrinha (e de qualquer outra cultura agrícola).  

Ainda assim, é frequente vermos produtores pulando etapas no controle de invasoras: alguns deixam de fazer a dessecação adequada antes do plantio, outros economizam no uso de herbicidas pré-emergentes ou dependem de um único produto pós-emergente para “quebrar o galho”.  

O problema é que essas simplificações abrem brechas para infestações que competem por água, luz e nutrientes, derrubando o rendimento da lavoura de milho.  

Estimativas mostram que, sem nenhum manejo de plantas daninhas, as perdas podem chegar a 90% da produção, e mesmo infestações moderadas podem reduzir a produtividade do milho em até 87%

Em outras palavras, uma lavoura sufocada pelas ervas daninhas dificilmente alcançará a performance esperada. 

Além da concorrência direta, o manejo falho de daninhas traz outro problema sério: a seleção de populações de daninhas sem sensibilidade aos herbicidas 

A adoção intensiva do glifosato como ferramenta única de controle ao longo dos anos, por exemplo, exerceu forte pressão de seleção, resultando no surgimento de várias espécies de plantas daninhas resistentes a esse herbicida (no Brasil, já se confirmaram pelo menos azevém, três espécies de buva, capim-amargoso e capim-branco, entre outras).  

Ou seja, confiar em um só mecanismo de ação favoreceu a evolução de “super-daninhas” que não respondem mais ao tratamento convencional. Quando o produtor negligencia o manejo integrado – deixa de realizar o manejo antecipado, de usar herbicidas residuais em pré-emergência, não intercala ingredientes ativos ou dispensa práticas culturais – ele basicamente cria um ambiente ideal para “escapes” e biótipos resistentes proliferarem, complicando cada vez mais o controle e elevando os custos ao longo do tempo. 

A saída é adotar um Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) efetivo 

Isso inclui: realizar o manejo antecipado para reduzir a pressão das daninhas e do banco de sementes na entressafra, realizar uma boa dessecação pré-plantio para entrar com o milho em área limpa; aplicar herbicidas pré-emergentes logo antes ou logo após a semeadura para segurar o banco de sementes de invasoras; fazer o controle em pós-emergência de forma criteriosa (monitorando as rebrotas no momento certo); e, fundamentalmente, rotacionar mecanismos de ação em vez de usar sempre o mesmo produto. 

Medidas culturais também são essenciais, como a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura, que diminuem a infestação ao ocupar o solo na entressafra.  

Com essas estratégias combinadas, o produtor reduz a dependência de um único método e minimiza o risco de resistência. Abrir mão dessas etapas “para economizar tempo ou dinheiro” é um falso ganho – a infestação resultante pode custar muito mais em sacas perdidas e em herbicidas extras lá na frente. 

2. Aplicação preventiva de fungicidas (doenças no início do ciclo) 

As doenças atacam o milho safrinha ao longo do ciclo, muitas vezes já nos estádios iniciais, especialmente em anos de alta umidade, e podem dizimar uma parcela considerável do potencial produtivo se não forem corretamente manejadas.  

Estudos indicam, por exemplo, que a mancha de Bipolaris pode causar perdas de 10% até 80% na produtividade dependendo da severidade do surto. Outras doenças comuns, como cercosporiose, ferrugem-polissora, helmintosporiose e podridões, podem, individualmente, cortar de 20% a 50% do rendimento quando não controladas. 

O ponto-chave aqui é o timing e a frequência das aplicações 

Muitos agricultores cometem o erro de esperar os sintomas aparecerem ou de fazer apenas uma aplicação tardia, já no enchimento de grãos, “se precisar”. Porém, quando as lesões são visíveis a olho nu, o estrago já está em andamento: fungos, como Bipolaris, Cercospora e Puccinia, infectam e reduzem a área foliar muito antes da manifestação intensa, prejudicando a fotossíntese e o enchimento de grãos.  

A primeira aplicação de fungicida não deve ser tardia. Pesquisas recentes reforçam a importância da pulverização antecipada, já no início do ciclo.  

Em outras palavras, quem espera demais para entrar com o fungicida literalmente deixa sacas no campo a cada dia de demora

A boa prática é implementar um manejo preventivo de doenças 

Isso envolve realizar a primeira aplicação de maneira antecipada, antes do “estouro” das doenças, e depois manter o controle até o final do ciclo conforme a necessidade e o clima.  

Deve-se respeitar as doses e os intervalos recomendados em bula e evitar reduzir doses ou alongar demais o intervalo apenas para economizar – tais atitudes aumentam a chance de fuga da doença e também favorecem fungos resistentes.  

Outro ponto importante é utilizar misturas de fungicidas e princípios ativos diferentes, rotacionando os mecanismos de ação para prevenir resistência. Pesquisas de monitoramento têm encontrado populações de patógenos menos sensíveis a fungicidas em várias regiões, portanto, a rotação de moléculas e o uso de fungicidas multissítio em mistura hoje são considerados indispensáveis por fitopatologistas.  

Lembre-se: fungicida bom é fungicida bem usado. Quem negligencia as aplicações ou aplica fora do momento correto pode até “economizar” alguns reais em produto, mas arrisca enfrentar alta severidade de doenças e desfolha precoce, resultando em plantas que tombam ou não enchem bem as espigas – e aí a perda em produtividade e qualidade de grãos sai muito mais cara. 

3. Rotação de modo de ação e integração de biológicos (combate à resistência) 

No manejo de pragas e doenças, outro ponto frequentemente subestimado é a prevenção da seleção de populações resistentes aos mecanismos de ação. Em safras de milho cada vez mais tecnificadas, é comum vermos um uso repetitivo das mesmas estratégias de controle – seja aplicar o mesmo inseticida várias vezes contra lagartas, utilizar o mesmo fungicida em todas as etapas, ou até mesmo não respeitar áreas de refúgio em lavouras que utilizam a tecnologia Bt.  

Essa falta de diversificação cria o cenário perfeito para que insetos e patógenos resistentes sobrevivam no ambiente e gerem novas gerações resistentes, tornando as ferramentas atuais menos eficazes.  

Entre os erros mais comuns que aumentam a pressão de seleção para resistência, eles citaram: uso de doses menores do que as recomendadas, aplicações sucessivas do mesmo produto na mesma safra, ausência de áreas de refúgio no caso do milho Bt e falta de adoção de estratégias complementares de controle.  

Ou seja, confiar exclusivamente em uma tática e repeti-la continuamente é “queimar cartucho” – cedo ou tarde, surgem populações de pragas capazes de sobreviver a ela. 

A recomendação dos pesquisadores e órgãos técnicos é clara: adotar um manejo integrado e antirresistência, combinando múltiplas ferramentas 

Rotacionar os princípios ativos ao longo do ciclo e entre as safras é fundamental. Além disso, é crucial diversificar as estratégias: não depender só de químico. Ferramentas biológicas e alternativas estão cada vez mais acessíveis e eficazes, e podem aliviar a pressão sobre os químicos.  

Por exemplo, hoje o produtor de milho pode lançar mão de inimigos naturais, produtos à base de baculovírus, Bacillus ou Pseudomonas, entre outros biocontroles. Essas opções dão ao produtor um leque mais amplo de ações, reduzindo a dependência exclusiva e reforçando a proteção da lavoura por diferentes frentes. 

Mas os benefícios de integrar diferentes métodos vão além da antirresistência – refletem também em produtividade e economia 

Em suma, variar as armas do manejo e não esperar a situação sair do controle são atitudes que pagam dividendo em sacas colhidas. Se o produtor negligencia a rotação de modos de ação e a integração de novas tecnologias (biológicos, cultura de cobertura, etc.), ele pode até não sentir de imediato, mas gradualmente verá seus defensivos “perderem força” e suas lavouras ficarem mais vulneráveis a surtos difíceis de conter.  

O resultado? Mais perdas e mais gastos. O manejo proativo é o que separa quem se antecipa do problema de quem vai arcar com prejuízos depois. 

4. Manejo de nematoides: o inimigo oculto e ainda subestimado 

Entre os “gargalos invisíveis” da produtividade, os nematoides merecem destaque especial. Esses vermes microscópicos que parasitam raízes frequentemente são ignorados pelos produtores de milho, seja por falta de conhecimento ou por não associarem os sintomas a sua presença.  

De fato, muitas vezes os danos de nematoides são confundidos com deficiência nutricional ou estresse hídrico – as plantas ficam menores, amarelecidas (cloróticas) e murcham nas horas mais quentes, sintomas que se parecem com falta de nutrientes ou de água. Com isso, o produtor acha que é “solo fraco” ou seca, e não investiga a possibilidade de nematoides, deixando de tomar medidas.  

O resultado é que essas ameaças continuam atuando de forma discreta no subsolo, reduzindo o sistema radicular, abrindo feridas nas raízes e prejudicando a absorção de água e nutrientes.  

Principais nematoides que atacam o milho safrinha e estratégias de manejo 

Os nematoides do gênero Pratylenchus (nematoides das lesões radiculares) e Meloidogyne (das galhas), entre outros, frequentemente vêm de áreas de soja infestadas e encontram no milho um hospedeiro alternativo, mantendo altas populações no solo ano após ano. Negligenciar o manejo de nematoides significa permitir que essas populações cresçam a cada safra, até chegarem a níveis devastadores.  

Felizmente, existem estratégias eficazes para lidar com eles dentro do conceito de Manejo Integrado de Nematoides (MIN). A primeira medida é prevenir a introdução e a dispersão: usar mudas/sementes de áreas limpas, limpar máquinas e implementos que vêm de talhões infestados (para não levar terra com nematoide junto) e evitar transitar com equipamentos de áreas contaminadas para sadias sem higienização.  

Em seguida, monitorar constantemente: fazer análise de solo e raízes periodicamente, identificando quais espécies e população de nematoides existem, é essencial para saber o nível de risco e avaliar medidas de controle. 

No plantio do milho, uma prática fundamental é o tratamento de sementes com nematicida – seja químico ou biológico – a cada safra, visando reduzir a população inicial de nematoides que infectará as raízes novas.  

 Outra estratégia é a rotação de culturas com espécies não hospedeiras dos nematoides-problema. Por exemplo, em áreas com Meloidogyne, pode-se rotacionar com alguma gramínea forrageira ou outra cultura menos suscetível; em áreas de Pratylenchus, utilizar soja ou braquiária cv. que tenham menor multiplicação, etc.  

A diversificação de culturas reduz drasticamente a reprodução dos nematoides no solo. Há também plantas de cobertura nematicidas, como crotalárias, que podem ajudar a suprimir certas espécies quando cultivadas na entressafra. 

O ponto central é: nematoides existem e causam danos reais na cultura do milho, embora nem sempre sejam visíveis. Cada produtor deve se perguntar se não está subestimando esse inimigo oculto. Deixar de fazer análises de solo ou de investir em manejo específico contra nematoides pode estar custando uma fatia significativa da produtividade sem que você perceba.  

5. Rotação de culturas e solo equilibrado (fugindo da “monocultura de duas safras”) 

No contexto da safrinha, quando falamos em rotação de culturas, muitos produtores imediatamente podem pensar: “eu já faço, planto soja no verão e milho na safrinha todo ano, isso é rotação”.  

De fato, soja seguida de milho é uma forma de sucessão de culturas bem estabelecida no Brasil Central e em outras regiões. O problema é que, quando essa é a única alternância praticada ano após ano, sem variações ou pausas, ela pode se tornar quase uma “monocultura disfarçada” – e os efeitos negativos começam a surgir no solo e na fitossanidade do sistema.  

O resultado prático para o produtor é que, após alguns anos, o solo “cansa”: há redução de produtividade mesmo com adubação, aumento de problemas de compactação e erosão, e desequilíbrios que favorecem pragas, doenças e ervas daninhas adaptadas àquele sistema. Em outras palavras, o sistema produtivo vai se tornando menos resiliente e menos responsivo. 

Do ponto de vista fitossanitário, não diversificar o cultivo também permite que vários inimigos se multipliquem livremente 

Patógenos causadores de doenças no milho, por exemplo, sobrevivem nos restos culturais (colmos, palhada) que ficam  após a colheita. Se logo em seguida, já vem outra safra de milho (ou até mesmo a soja, que pode não ser hospedeira dos mesmos patógenos, mas não interrompe o ciclo no solo) e esses fungos e bactérias permanecem viáveis até a próxima estação de seu hospedeiro.  

Assim, a falta de um pousio ou de uma rotação efetiva acaba levando a um acúmulo de inóculo de doenças no ambiente. Na safrinha seguinte, esse inóculo elevado resulta em infecções mais precoces e intensas, com mancha-branca, cercosporiose, enfezamentos, podridões e outras doenças atacando com força.  

O mesmo vale para pragas no milho: muitos insetos sobrevivem em restos da cultura anterior ou em plantas voluntárias (“tiguera”) que nascem no intervalo, mantendo populações altas o ano todo.  

E as plantas daninhas?  

Sem rotação, as espécies infestantes também se adaptam ao sistema dominante e podem escapar do controle – por exemplo, certas daninhas de difícil controle prosperam em sistemas contínuos soja-milho, porque sempre encontram condições favoráveis (luz após a colheita da soja, nutrientes disponíveis, etc.).  

Não é à toa que sistemas diversificados tendem a ter menos pressão de infestantes, pois quebram o ciclo dessas plantas indesejadas e muitas vezes envolvem culturas ou coberturas que suprimem o mato. 

Portanto, a rotação de culturas vai muito além de apenas alternar milho e soja 

Envolve pensar em uma estratégia de médio a longo prazo para o talhão, incluindo diferentes espécies ao longo dos anos agrícolas. Isso pode significar introduzir uma cultura de cobertura (ex.: braquiária, crotalária, nabo forrageiro) em algum inverno no lugar do milho safrinha, ou inserir um terceiro cultivo comercial na rotação (sorgo, girassol, milheto, feijão, etc., dependendo da região e da viabilidade de mercado), ou ainda adotar períodos de pousio coberto.  

A diversidade de culturas traz inúmeros benefícios: agrega matéria orgânica e recicla nutrientes no solo, melhora as características físicas ( raiz de plantas diferentes exploram camadas distintas e podem descompactar solo), aumenta a biodiversidade benéfica (microrganismos diversificados do solo, que competem com patógenos), e quebra os ciclos de pragas, doenças e plantas daninhas específicas de cada cultura. 

Assim, para sustentar níveis altos de produtividade, é preciso “dar um passo atrás” e planejar uma estratégia de rotação/cobertura viável para a propriedade. O importante é não deixar o sistema entrar em exaustão. A rotação de culturas é uma prática clássica e comprovadamente benéfica – negligenciá-la é perder a oportunidade de ter um sistema mais equilibrado, produtivo e rentável a longo prazo.

Transformando perdas ocultas em produtividade 

Colheita de milho com tratores no interior do estado de São Paulo, no Brasil

Cada um dos pontos citados nesse artigo, se ignorados, podem retirar parcelas do potencial produtivo da lavoura – seja por perda direta de plantas e grãos, seja por aumento de custos para contornar problemas que poderiam ter sido evitados. 

A boa notícia é que todas essas práticas têm solução conhecida e viável. O primeiro passo é o produtor questionar a si mesmo: “o que eu tenho deixado de fazer que está me custando produtividade?”. Ao reconhecer onde estão os “gargalos ocultos” em sua operação, ele pode buscar assistência técnica e informação para corrigir a rota.  

Em um cenário de preços voláteis e custos altos, perder rendimento por descuido no manejo é algo que ninguém pode se dar ao luxo. Cada saca importa. Portanto, encare seu milho safrinha de forma investigativa: procure os pontos cegos, aquilo que pode estar passando despercebido.  

Pequenas mudanças podem se traduzir em grãos a mais no armazém e reais a mais no bolso. E, acima de tudo, lembre-se que produtividade e rentabilidade andam de mãos dadas com sistemas equilibrados, sustentáveis e bem manejados.  

O milho safrinha já mostrou que pode ser altamente lucrativo; agora, cabe a cada produtor assegurar que ele atinja esse potencial não apenas confiando no clima ou na genética, mas fazendo a sua parte em cada etapa do manejo. Afinal, como vimos, o impacto na safra muitas vezes está nas nossas mãos, ou nas práticas que decidimos (ou não) adotar no campo.  

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