Frequentemente subestimado, o trigo mourisco é uma cultura de cobertura de ciclo curto que oferece um leque de benefícios muito além da simples produção de biomassa. Ele atua como um poderoso aliado na saúde do solo e na otimização dos sistemas de produção.
Neste conteúdo, entenda a relevância do trigo mourisco para a rotação de culturas e a recuperação de solos no Brasil. Entenda impactos agronômicos positivos (como sua função nematicida e a capacidade de recuperar nutrientes) e práticas para implementação da cultura.
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O que é o trigo mourisco?
O trigo mourisco, conhecido cientificamente como Fagopyrum esculentum, e popularmente também como trigo-sarraceno, não é um cereal verdadeiro, apesar de seu nome. A planta é utilizada como cultura de cobertura e adubação verde, devido às suas rápidas qualidades de estabelecimento e aos diversos benefícios para o solo e culturas subsequentes.
Pertencente à família Polygonaceae, a mesma da azedinha e do ruibarbo, suas sementes são botanicamente classificadas como aquênios, semelhantes às nozes.
Sua origem remonta às regiões montanhosas da Ásia, onde é cultivado há milhares de anos, sendo um alimento básico em diversas culturas, especialmente na Ásia Central e Europa Oriental.
No contexto brasileiro, sua capacidade de germinação e crescimento, aliada a um ciclo curto, o torna ideal para ser inserido em sistemas de rotação de culturas entre as safras principais, como milho e soja.
Ciclo de vida
O trigo mourisco possui um ciclo curto de aproximadamente 70 a 90 dias, dependendo da cultivar e das condições climáticas. A germinação é rápida, ocorrendo entre 3 e 5 dias após o plantio em condições ideais.
O desenvolvimento vegetativo é acelerado, e a floração inicia-se geralmente por volta dos 30-40 dias após a emergência, estendendo-se por várias semanas, o que permite um escalonamento da produção de sementes.
A maturação das sementes também ocorre de forma desuniforme, o que pode ser um desafio para a colheita mecânica, mas é um benefício para a produção contínua de biomassa.
O trigo-sarraceno é uma planta herbácea anual estratégica para o planejamento agrícola.
Quais são os benefícios agronômicos do trigo mourisco para lavouras?
A inclusão do trigo mourisco como cultura de cobertura em sistemas de rotação de culturas traz uma gama impressionante de benefícios agronômicos e ambientais, comprovados por diversos estudos científicos. Sua rápida capacidade de crescimento e o ciclo curto permitem que ele seja uma ferramenta versátil para melhorar a saúde do solo e o desempenho das culturas principais.
Este aspecto é crucial para a agricultura sustentável, pois a utilização estratégica do trigo-sarraceno pode impactar positivamente a produtividade rural, reduzir a dependência de insumos externos e promover um ambiente agrícola mais resiliente.

1. Auxilia no manejo de nematoides
Um dos benefícios do trigo mourisco é seu potencial de ajudar a controlar populações de nematoides fitoparasitas que causam grandes perdas na produção agrícola, especialmente em culturas como a soja.
Segundo um Relatório da Embrapa sobre nematoides na soja, o uso do trigo mourisco como planta de cobertura contribui para a redução populacional de nematoides no solo.
De acordo com a Embrapa, práticas culturais como rotação com plantas de cobertura resistentes podem diminuir a população de nematoides.
2. Recuperação de nutrientes
O trigo mourisco é uma cultura notável por sua capacidade de reciclar e mobilizar nutrientes no solo, especialmente o fósforo (P) e outros micronutrientes. Seu sistema radicular denso e a liberação de ácidos orgânicos pelas raízes permitem que ele absorva formas de P que estão indisponíveis para outras culturas, fixadas na matriz do solo.
Quando o trigo mourisco é manejado como biomassa verde e incorporado ao solo, esses nutrientes são liberados novamente para as culturas seguintes, reduzindo a necessidade de adubação externa.
Essa característica é crucial para a recuperação de solos com baixa fertilidade ou onde nutrientes foram lixiviados. Um estudo publicado na Enciclopédia Biosfera, avaliou a capacidade do trigo mourisco de extrair e acumular fósforo do solo.
Essa planta é capaz de utilizar fósforo de fontes minerais pouco solúveis, promovendo a formação de fosfatos assimiláveis pela cultura subsequente, o que torna o trigo mourisco um excelente aliado para a qualidade do solo e para redução da necessidade de insumos químicos.
3. Combate à erosão
A intensa produção de biomassa verde e o rápido estabelecimento do trigo mourisco no campo o tornam um protetor do solo contra os efeitos da erosão hídrica e eólica.
De acordo com materiais da Embrapa, o trigo-sarraceno protege o solo da exposição direta à chuva, reduzindo a perda de água por evaporação e a erosão causada pelo impacto das gotas de chuva, o que contribui significativamente para a conservação do solo e da umidade.
Dessa maneira, a planta herbácea previne a perda de matéria orgânica e nutrientes que seriam arrastados pela água ou vento. Essa proteção é vital para manter a fertilidade a longo prazo e evitar a degradação de áreas cultivadas, consolidando a sustentabilidade e meio ambiente como prioridade no manejo.
4. Controle natural de plantas daninhas
Outro relatório da Embrapa sobre controle de plantas daninhas destaca que o trigo mourisco é uma cultura de cobertura eficaz no manejo cultural de plantas daninhas. Características como rápida germinação, crescimento vigoroso e capacidade de formar uma densa cobertura do solo (que compete por luz, água e nutrientes), suprime o desenvolvimento das espécies indesejadas.
Além da competição física, o trigo mourisco libera compostos alelopáticos que inibem a germinação e o crescimento das plantas daninhas, promovendo um controle natural que reduz a dependência de herbicidas.
O estudo enfatiza que essa prática contribui para a sustentabilidade agrícola, diminuindo custos e impactos ambientais.
Como cultivar o trigo mourisco
O cultivo do trigo mourisco é relativamente simples e flexível, o que o torna uma opção atrativa para muitos produtores que buscam os benefícios da rotação de culturas e recuperação de solos.
No entanto, como qualquer cultura, alguns cuidados e conhecimentos técnicos são essenciais para maximizar seu potencial e garantir os resultados desejados:
- Adapte a época de plantio conforme as condições climáticas e o cronograma da lavoura principal subsequente para garantir o encaixe do ciclo curto do trigo mourisco;
- Prepare o solo adequadamente, considerando as características específicas da região e as necessidades nutricionais da cultura principal que virá depois;
- Realize a adubação correta para otimizar o desenvolvimento da planta, garantindo boa produção de biomassa e o potencial nematicida;
- Considere a resistência do trigo mourisco a solos de baixa fertilidade, aproveitando essa característica para cultivo em áreas de risco reduzido;
- Planeje o cultivo com o acompanhamento de um engenheiro agrônomo para ajustar os detalhes técnicos de acordo com o sistema produtivo;
- Escolha a época de plantio para evitar períodos de geada, pois o trigo mourisco é sensível ao frio;
- Aproveite o rápido crescimento da planta para maximizar a produção de biomassa verde, que contribui para o enriquecimento do solo.
Leia também: Rotação de culturas com trigo no Manejo Integrado de Nematoides
Culturas indicadas
O trigo mourisco é indicado como cultura de cobertura em sistemas de rotação de culturas que precedem ou sucedem grandes culturas de grãos, como soja, milho, feijão e algodão.
Sua capacidade de mobilizar fósforo e suprimir nematoides é especialmente benéfica para a cultura da soja, que é altamente sensível a esses fatores.
Em áreas onde o milho safrinha é cultivado, o trigo mourisco pode ser plantado após a colheita e antes do próximo plantio de soja, ou como uma cultura de entressafra para manter o solo coberto e enriquecido.
Ele também pode ser utilizado em hortaliças afetadas por nematoides, pomares e áreas de recuperação de pastagens degradadas, onde a recuperação de solos é uma prioridade.
Sua versatilidade permite que seja inserido em diversos arranjos produtivos, sempre visando a melhoria da qualidade do solo, o controle natural de plantas daninhas e a sustentabilidade agrícola. A decisão sobre as culturas indicadas para rotação com o trigo mourisco deve sempre considerar o histórico da área e os objetivos do produtor.
Temperatura e umidade
O trigo mourisco se adapta melhor a climas temperados ou subtropicais. Ele prefere temperaturas amenas, entre 15°C e 25°C, para um desenvolvimento ideal. É relativamente tolerante à seca no início de seu desenvolvimento, mas necessita de umidade adequada, especialmente durante a floração e formação de grãos. O excesso de calor (>30°C) durante a floração pode levar a uma baixa frutificação e queda de flores, o que afeta a produção de sementes e biomassa verde.
A melhor época de plantio do trigo mourisco no Brasil varia conforme a região. Em grande parte do país, ele é cultivado como cultura de outono-inverno, aproveitando as temperaturas mais amenas e o regime de chuvas.
No Sul e Sudeste, pode ser semeado a partir de março-abril. Em regiões de clima mais quente, como no Centro-Oeste, é comumente semeado no final do período chuvoso, entre fevereiro e abril, ou em consórcio/sucessão à soja, para aproveitar a umidade residual e evitar o estresse hídrico. A sensibilidade a geadas tardias é um fator limitante que deve ser observado.
Preparação do solo e adubação
Uma das vantagens do trigo mourisco é que ele não exige uma preparação do solo e adubação intensiva. Ele se desenvolve bem em solos de baixa fertilidade e até mesmo em solos ácidos.
No entanto, para otimizar sua performance como cultura de cobertura e adubação verde, um preparo mínimo do solo para garantir bom contato da semente com a terra é recomendado. O plantio direto é uma técnica ideal para o trigo mourisco, pois ele prospera na palhada da cultura anterior, protegendo e enriquecendo o solo.
Em termos de adubação, geralmente não são necessárias altas doses de nutrientes. Se o objetivo é a produção de biomassa verde para recuperação de solos, uma adubação básica com fósforo e potássio, conforme análise de solo, pode ser suficiente.
O uso de nitrogênio deve ser avaliado, pois o excesso pode levar a um crescimento vegetativo exuberante, mas com menor produção de sementes.
Desafios no uso de trigo-sarraceno no Brasil
Apesar dos inúmeros benefícios e da crescente importância do trigo mourisco para a rotação de culturas e a sustentabilidade agrícola, seu uso em larga escala no Brasil ainda enfrenta alguns desafios. A falta de conhecimento sobre as melhores práticas de manejo e a escassez de cultivares adaptadas às condições tropicais são fatores que limitam sua disseminação.
Muitos produtores ainda não estão familiarizados com o potencial do trigo-sarraceno como biomassa verde ou como ferramenta para o controle natural de plantas daninhas e o potencial de supressão de nematoides.
Outro ponto é a maturação desuniforme das sementes, o que pode dificultar a colheita em sistemas de produção que visam o aproveitamento comercial dos grãos. Isso exige ajustes nas máquinas e no tempo de colheita, que nem sempre são economicamente viáveis para todos.
Além disso, a sensibilidade a geadas em certas fases de desenvolvimento pode restringir a época de plantio em algumas regiões, exigindo um planejamento cuidadoso para evitar perdas.
A pesquisa contínua e a difusão de informações técnicas são cruciais para superar esses obstáculos e consolidar o trigo mourisco como uma ferramenta indispensável para a recuperação de solos e a produtividade rural no agronegócio brasileiro.
A importância do trigo mourisco para a rotação de culturas e o manejo de solos é uma evidência clara de como a natureza, quando bem manejada, oferece soluções robustas para os desafios da agricultura moderna.
Seu papel como cultura de cobertura, adubação verde, supressor de nematoides e controlador de plantas daninhas o posiciona como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e altamente produtiva no Brasil.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
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