A lagarta-enroladeira-das-folhas (Hedylepta indicata; Omiodes indicata) é uma das pragas que mais desafiam o manejo agrícola em regiões tropicais como o Brasil. Seu comportamento de enrolar as folhas com fios de seda para se proteger e se alimentar a torna difícil de controlar e capaz de causar sérios prejuízos em diferentes culturas, especialmente nas de grande expressão econômica, como soja e feijão.
Essa praga discreta, mas extremamente danosa, compromete o desenvolvimento das plantas desde os estágios iniciais, reduzindo sua capacidade fotossintética e, consequentemente, a produtividade final. Entender o comportamento, as fases de desenvolvimento e as formas de controle da Hedylepta indicata é essencial para evitar que sua presença se torne um problema econômico e fitossanitário grave na lavoura.
Neste conteúdo, você vai entender em detalhes como identificar a lagarta-enroladeira-das-folhas, reconhecer os danos que ela provoca, conhecer as culturas mais afetadas e aplicar as melhores práticas de monitoramento e manejo para proteger sua produção.
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Características da lagarta-enroladeira-das-folhas
A lagarta-enroladeira-das-folhas, cujo nome científico é Omiodes indicatus (sin. Lamprosema indicata ou Hedylepta indicata), pertence à família Crambidae e é reconhecida por seu hábito peculiar de enrolar as folhas das plantas para se proteger e se alimentar. Este comportamento distintivo a torna uma praga de fácil identificação, mas de controle desafiador.
Sua distribuição é ampla, ocorrendo em diversas regiões tropicais e subtropicais, incluindo o Brasil, onde se estabeleceu como um problema em várias culturas. O ciclo de vida do inseto e suas características físicas são cruciais para um monitoramento eficaz.
A fase de lagarta, que é a mais danosa à cultura, é caracterizada por uma larva de coloração verde, podendo apresentar tonalidades mais claras ou escuras, com uma cabeça tipicamente de cor marrom-clara a escura. Seu corpo é liso e, quando perturbada, tende a se debater vigorosamente ou, em alguns casos, a se soltar da folha e cair ao chão, suspendendo-se por um fio de seda.

O adulto é uma mariposa de pequeno porte, com uma envergadura que pode chegar a 20 mm, de coloração predominantemente amarelada ou alaranjada, com padrões mais escuros nas asas em forma de três linhas escuras e semicirculares. Geralmente, as mariposas são noturnas ou crepusculares, o que dificulta a sua observação direta no campo, mas o monitoramento de ovos e lagartas é mais viável.
Ciclo de vida da Omiodes indicatus
O ciclo de vida da Omiodes indicatus é holometabólico, ou seja, passa pelas fases de ovo, lagarta (larva), pupa e adulto (mariposa). A duração de cada fase varia conforme as condições ambientais, como temperatura e umidade, sendo mais rápido em climas quentes e úmidos.
- Ovo: as fêmeas adultas depositam ovos pequenos, ovais e achatados, geralmente de coloração esbranquiçada ou translúcida, na face inferior das folhas ou próximo às nervuras. A eclosão ocorre, em média, de 3 a 5 dias após a postura na face inferior das folhas, dependendo da temperatura ambiente. Uma fêmea pode colocar centenas de ovos durante sua vida.
- Lagarta: após a eclosão, a lagarta emerge e começa a se alimentar vorazmente do tecido foliar. Essa é a fase de maior dano à planta. A larva passa por diferentes estágios de desenvolvimento entre as mudas, crescendo progressivamente. Seu comportamento de enrolar as folhas com fios de seda é uma estratégia para se proteger de predadores e inseticidas. Essa fase pode durar, em média, 11 dias.
- Pupa: completado o desenvolvimento larval, a lagarta se transforma em pupa, geralmente dentro das folhas enroladas ou em detritos vegetais no solo. A pupa é de coloração marrom e tem um formato fusiforme. Essa fase de inatividade aparente dura aproximadamente 5 dias.
- Adulto (Mariposa): a mariposa emerge da pupa, iniciando o ciclo reprodutivo. Os adultos vivem cerca de 6 dias e são responsáveis pela dispersão da praga e pela oviposição, dando continuidade à infestação. A mariposa tem hábitos noturnos e pode voar por curtas distâncias para encontrar novas plantas hospedeiras e parceiros para acasalamento.
Em condições favoráveis, a Omiodes indicatus pode ter múltiplas gerações ao longo de uma safra, o que exige um monitoramento contínuo e um manejo integrado para evitar surtos populacionais que possam causar perdas econômicas significativas. A velocidade de seu ciclo reprodutivo é um dos fatores que a tornam uma praga tão persistente e desafiadora para o agricultor.
Principais culturas afetadas pela lagarta-enroladeira-das-folhas
A Omiodes indicatus é uma praga polífaga, o que significa que se alimenta de uma vasta gama de plantas hospedeiras. No entanto, ela demonstra uma preferência e causa danos econômicos mais expressivos em algumas culturas de grande importância para o agronegócio brasileiro.
Entre as culturas mais impactadas, destacam-se:
Soja (Glycine max)
A soja é uma das culturas mais afetadas pela Omiodes indicatus. As lagartas atacam as folhas, principalmente no terço superior da planta, comprometendo a capacidade fotossintética e, consequentemente, o enchimento de grãos. Em infestações severas, pode haver desfolha significativa, impactando a produtividade.
A praga da soja exige monitoramento constante.
Feijão (Phaseolus vulgaris)
O feijão também sofre com a presença do inseto. Os danos são semelhantes aos observados na soja, com as lagartas enrolando as folhas e consumindo o tecido foliar.
Em estágios iniciais de desenvolvimento do feijoeiro, o consumo das folhas pela praga do feijão pode retardar o crescimento da planta e reduzir o potencial produtivo.
Amendoim (Arachis hypogaea)
Embora menos frequente que em soja e feijão, a Omiodes indicatus também pode causar danos em lavouras de amendoim, afetando a área foliar e, indiretamente, a formação doas vagens subterrâneas.
Algodão (Gossypium hirsutum)
Em algumas regiões e épocas, o algodão pode ser hospedeiro da lagarta-enroladeira, embora não seja sua cultura preferencial. Os danos foliares podem, no entanto, somar-se a outras pragas e estresses, impactando o desenvolvimento da planta.
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Hortaliças
Algumas hortaliças, como como couve, alface e brócolis, também podem ser atacadas. Nesses casos, a praga pode inviabilizar a comercialização do produto fresco devido aos danos estéticos e à presença das lagartas.
A polifagia da Omiodes indicatus ressalta a importância de um monitoramento abrangente em sistemas de cultivo diversificados e em áreas próximas a lavouras já infestadas.
A atenção especial a culturas leguminosas, como a soja e o feijão, contudo, é primordial devido ao seu peso econômico no Brasil e à alta suscetibilidade aos danos em folhas causados por essa lagarta.
Danos causados pela lagarta-enroladeira-das-folhas
Os danos provocados pela lagarta-enroladeira-das-folhas, Omiodes indicatus, são predominantemente observados na parte aérea das plantas, com destaque para as folhas. O principal sintoma visual da infestação é o enrolamento das folhas, característico que dá nome à praga. As lagartas utilizam fios de seda para unir as bordas das folhas ou para ligar folhas adjacentes, criando um abrigo onde se alimentam protegidas de intempéries, inimigos naturais e da ação de defensivos agrícolas.
Dentro desse invólucro protetor, a lagarta enroladeira raspa o parênquima foliar, deixando apenas as nervuras e a epiderme oposta, o que é conhecido como esquelitização. Com o avanço da infestação e o crescimento das lagartas, os danos se intensificam, podendo levar à perfuração completa do limbo foliar e, em casos severos, à desfolha da planta. Os principais impactos negativos incluem:
- Redução da área foliar fotossintética: a destruição do tecido foliar diminui a capacidade da planta de realizar fotossíntese, processo essencial para a produção de energia e açúcares. Essa redução impacta diretamente o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, comprometendo o acúmulo de biomassa e o enchimento de grãos ou frutos.
- Atraso no desenvolvimento e maturação: plantas severamente atacadas podem apresentar um crescimento mais lento, atraso na floração e na maturação, o que pode desorganizar o calendário agrícola e afetar a qualidade final do produto.
- Perda de produtividade e qualidade: em culturas como soja e feijão, os danos em folhas podem reduzir o rendimento quando não manejada, uma vez que a desfolha reduz a capacidade produtiva das plantas. Além da quantidade, a qualidade dos grãos pode ser afetada, reduzindo seu valor comercial.
- Porta de entrada para doenças: as lesões causadas pela alimentação das lagartas podem servir como porta de entrada para patógenos fúngicos e bacterianos, aumentando a suscetibilidade da planta a doenças secundárias, o que agrava ainda mais o quadro fitossanitário.
- Dificuldade no controle: o comportamento de enrolar as folhas dificulta o contato dos defensivos agrícolas com a praga, exigindo ajustes nas estratégias de aplicação e na escolha dos produtos para garantir que atinjam o alvo de forma eficaz.

Técnicas de manejo para controle da Omiodes indicatus
O controle eficaz da lagarta-enroladeira-das-folhas (Omiodes indicatus) exige uma abordagem integrada, combinando diferentes estratégias para reduzir a população da praga e minimizar os danos em folhas de forma sustentável. O manejo integrado de pragas (MIP) é a metodologia mais recomendada, pois busca equilibrar a produtividade com a sustentabilidade ambiental e econômica.
Abaixo, detalhamos as principais técnicas.
Monitoramento e amostragem
A base de qualquer estratégia de controle é o monitoramento constante da lavoura. Sem conhecer a real situação da infestação, qualquer ação pode ser ineficaz ou desnecessária.
- Inspeção visual: realize caminhadas regulares pela lavoura, inspecionando visualmente as folhas, principalmente no terço superior das plantas. Procure por folhas enroladas, raspagem do tecido foliar e a presença da larva de coloração verde dentro dos abrigos.
- Pano de batida: nas culturas de soja e feijão, o pano de batida pode ser utilizado para estimar a população de lagartas e outros insetos. Recomenda-se realizar o método em vários pontos da lavoura, batendo as plantas sobre o pano para que as lagartas caiam e possam ser contadas. Mas, como a lagarta tende a se abrigar nas folhas dobradas, esse método de monitoramento não chega a ser tão preciso.
- Armadilhas luminosas: para monitorar a população de adultos (mariposas), armadilhas luminosas podem ser úteis. Embora não sejam um método de controle direto, fornecem informações sobre o início dos voos e o potencial de oviposição, auxiliando na previsão de infestações.
Controle cultural
- Rotação de culturas: evitar o cultivo sucessivo de culturas hospedeiras na mesma área. A rotação com gramíneas, por exemplo, pode quebrar o ciclo da praga, reduzindo sua população inicial.
- Manejo de plantas daninhas: plantas daninhas podem servir como hospedeiras alternativas para a Hedylepta indicata. Um bom controle de lagartas começa com a eliminação dessas plantas na lavoura e em suas bordaduras.
- Época de semeadura: em algumas situações, o ajuste da época de semeadura pode ajudar a evitar os picos populacionais da praga, minimizando os danos em estágios mais suscetíveis da cultura.
Controle biológico
O controle biológico da lagarta-enroladeira das folhas baseia-se na utilização de inimigos naturais para reduzir sua população. Parasitoides, como vespas do gênero Trichogramma, atacam os ovos da praga, enquanto predadores gerais, como percevejos, aranhas e aves, alimentam-se das lagartas, sendo essencial conservar esses agentes naturais no ambiente.
Inseticidas biológicos também podem apresentar alta eficácia no combate às lagartas, oferecendo uma alternativa sustentável ao manejo.
Em programas de manejo integrado, a liberação massal desses inimigos naturais pode ser realizada em áreas infestadas, potencializando o controle da praga ao complementar a ação dos organismos já presentes na lavoura.
Controle comportamental
O controle comportamental engloba métodos que alteram o comportamento da praga para facilitar seu controle.
Embora ainda em fase de pesquisa para a Hedylepta indicata, o uso de feromônios para confundir os machos e impedir o acasalamento (disrupção do acasalamento) é uma técnica interessante em outras pragas de lepidópteros. Também podem ser usados em armadilhas para monitoramento massal.
Tratamentos e soluções no controle da Omiodes indicatus
Quando as populações da lagarta-enroladeira-das-folhas (Omiodes indicatus) atingem os níveis de controle e as medidas de controle cultural e biológico não são suficientes, torna-se necessário recorrer a tratamentos e soluções mais diretas, como o uso de defensivos agrícolas.
O uso de inseticidas demonstra-se um aliado importante no controle da Hedylepta indicata, especialmente em situações em que as práticas culturais e biológicas não são suficientes para manter a praga abaixo do nível de dano econômico.
No entanto, sua utilização deve ser estratégica e inserida dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), priorizando a eficiência e a sustentabilidade.
A escolha do produto deve considerar o modo de ação, a seletividade e o menor impacto possível sobre inimigos naturais. A aplicação deve ser feita preferencialmente em lagartas jovens, antes que se abriguem nas folhas enroladas, utilizando tecnologias que proporcionem boa cobertura foliar.
Além disso, é essencial realizar a rotação de ingredientes ativos com diferentes modos de ação para prevenir resistência e prolongar a eficácia das ferramentas de controle químico disponíveis.
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