Desde a revolução industrial foram séculos de desenvolvimento de produção em larga escala. O sucesso dos fármacos e do controle de doenças levou a um aumento populacional jamais visto, aumentando as demandas por alimentos, cujo setor produtivo também precisou aprimorar seus processos. No entanto, ninguém previa a rapidez com que os impactos ambientais se manifestariam. Todo esse histórico resulta na grande discussão a respeito dos créditos de carbono, que domina governos e instituições econômicas.
Entre outubro e novembro de 2021, 197 países se reuniram na Cop26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), sediada na Escócia. O tema principal foi as impressionantes mudanças climáticas testemunhadas recentemente e a contribuição que a emissão de gases de efeito estufa oferece para o fenômeno.
Pode parecer um debate ultrapassado, mas mais do que nunca o planeta está em alerta em relação aos frutos que colhemos pelas décadas de poluição atmosférica. A solução não será alcançada a curto prazo, pois envolve engajamento global e incentivo por meio das políticas e metodologias em torno do sequestro de carbono.
Por isso, o especialista Guilherme Raucci tratou especificamente do tema dos créditos de carbono em palestra no estande da Syngenta na feira Show Rural, ampliando as possibilidades de discutir o assunto a nível nacional.
Cop26: metas para reverter as mudanças climáticas
A Conferência que ocorreu no final do ano passado foi decisiva para as relações de exportação neste começo de 2022. Os acordos em prol da redução dos gases de efeito estufa foram fechados com base em um consentimento geral: o aquecimento global comprovadamente é causa de danos irreversíveis à natureza.
A partir disso, duas acepções gerais concluíram a discussão que será retomada na Cop27, que acontecerá no Egito no final deste ano:
meta de limitar o aquecimento global em até 1,5 ºC;
governos devem antecipar os prazos de seus planos de redução de emissão de carbono, e os países assinantes do novo acordo devem reportar o progresso no próximo encontro.
Isso causou efeitos imediatos nas relações comerciais com a China, que reduziu suas exportações de insumos agrícolas como uma das medidas internas para diminuir sua taxa de emissão de poluentes e produzir mais créditos de carbono. Diante disso, países como o Brasil tiveram o setor do agronegócio impactado pela falta de acesso a fertilizantes e produtos de manejo.
O Brasil, o agronegócio e os créditos de carbono
A posição do governo chinês para alcançar as metas da Cop26 é apenas um método possível. No cenário brasileiro, as condições para conseguir sequestrar mais carbono na agricultura pela retenção do solo, a partir de práticas de manejo sustentáveis e sistemas produtivos que integrem lavoura e pecuária, são bastante positivas.
Esse foi o tema central da palestra oferecida por Guilherme Raucci, engenheiro agrônomo Gerente de Sustentabilidade Digital na Syngenta, na primeira grande feira agro do ano: a Show Rural. Em cerca de 30 minutos de apresentação, o especialista mostrou o lugar do Brasil nessa discussão, apontando dados que comprovam a relação direta entre a emissão de gases e as mudanças climáticas que afetam a produção.
Segundo o especialista, “créditos de carbono talvez seja um dos temas mais falados recentemente no mundo todo. É uma super oportunidade para os produtores e para o agro brasileiro, mas como acontece com toda grande oportunidade, é preciso conhecer os conceitos dessa discussão.”
Vamos, então, a eles.
Emissão de gases e os impactos das mudanças climáticas na agricultura
A aceleração do fenômeno natural do efeito estufa é o grande astro do debate. A retenção de calor na atmosfera gerou recentemente grandes instabilidades no clima, que afetaram as produções de alimentos e de matérias-primas para combustível.
No último ano, houve recorde de acionamentos de seguros por perdas causadas pela seca, apenas um dos reflexos do aquecimento global na agricultura.
Diferentemente do quadro mundial, que apresenta o setor energético como maior emissor de carbono, no Brasil, o desmatamento, classificado na categoria “mudança de uso da terra”, e a agricultura lideram as emissões de gases poluentes, sendo os principais o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso, grandes responsáveis pelas instabilidades climáticas que a agricultura enfrenta atualmente.
Tendo em vista o cerne do problema, seus efeitos na produção e as estratégias para sequestrar carbono, é completamente viável adaptar processos para alcançar as metas e colocar nosso país no mercado do crédito de carbono.
Como o Brasil pode produzir créditos de carbono?
O crédito de carbono representa uma tonelada de CO2 equivalente (CO2eq) que deixou de ser emitida para a atmosfera, é, assim, a diferença entre o carbono gerado e o carbono sequestrado.
O crédito de carbono é um certificado emitido, com valor financeiro e comercializável, que comprova a redução da emissão de gases (se não é possível reduzir por meio de otimização de processos, é possível atingir as metas por meio de compra de créditos).
Com isso, se não bastasse a necessidade de frear as mudanças climáticas de maneira a impedir prejuízos na produção agrícola e valorizar as commodities do setor a longo prazo, há mais um ponto de interesse nos planos de sequestro de carbono: o rendimento financeiro. A depender da abrangência da estratégia, cada crédito de carbono tem um valor entre 15 e 60 dólares.
Projetos de sequestro de carbono para gerar créditos precisam seguir critérios a fim de serem aprovados pelos órgãos responsáveis. Segundo Raucci, os principais critérios que precisam de atenção no Brasil, são:
1. Adicionalidade: o projeto precisa superar as expectativas legislativas. O que já está na lei é obrigatório, os projetos privados devem ir além disso, assim, o plantio direto já é uma prática comum, portanto não responde ao critério de adicionalidade, embora o tema gere polêmica dentro das instituições.
2. Permanência: o projeto deve assegurar a garantia de que o carbono ficará retido por longo tempo, não podendo haver projeções de alterações no ambiente que devolvam esse carbono para a atmosfera.
No ciclo do carbono, o solo, maior reservatório de carbono do mundo, tem papel fundamental para o sequestro da molécula, e esse pode ser o foco dos projetos brasileiros, com a integração entre produção, manutenção de florestas e criação de animais, estratégia que tem potencial para diminuir as emissões.
“Acumular carbono no solo vai ser bom para gerar os créditos, mas também é bom para o sistema produtivo em si, e nós já sabemos fazer isso muito bem. Em um cenário de plantio direto na palha, há a capacidade de sequestrar de meia a uma tonelada de carbono por hectare por ano. É um potencial super expressivo”, comenta Raucci.
No infográfico acima, foram expostas algumas opções viáveis para que produtores brasileiros mantenham sua produtividade agrícola e submetam projetos para produzir créditos de carbono também em suas propriedades.
Projetos de crédito de carbono já vigentes no Brasil
Engana-se quem pensa que tudo isso é novidade. Como bem apontou Guilherme Raucci em sua palestra na Show Rural, o Plano ABC já vem sendo pensado há mais de uma década e demonstra a importância do Brasil diante do cenário climático global por meio de dados, oferecendo estratégias para manter as commodities e contribuir para a desaceleração do efeito estufa.
Outra iniciativa nesse sentido é o Programa Reverte, da Syngenta, que busca incentivar a recuperação de áreas degradadas no cerrado a partir de sistemas integrados de produção agrícola.
A empresa ainda lançou o Plano de Agricultura Sustentável, voltado para o desenvolvimento de comunidades rurais, o que demonstra uma visão bastante ampla do conceito de sustentabilidade, especialmente quando se trata de agricultura.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.
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