O pulgão preto dos citros (Toxoptera citricidus) é uma praga de grande importância econômica para a citricultura mundial, especialmente no Brasil, onde o setor desempenha um papel crucial na economia agrícola. 

Além de causar danos diretos às plantas ao se alimentar de sua seiva, o pulgão preto é também vetor de uma das doenças mais devastadoras para a cultura cítrica: a tristeza dos citros. A gravidade dessa praga está relacionada não apenas à sua capacidade de reduzir a produtividade dos pomares, mas também à disseminação rápida dessa doença, que já provocou enormes perdas no Brasil.

O cenário brasileiro é particularmente favorável à proliferação do inseto e com o crescimento constante da demanda por citros no mercado interno e nas exportações, o controle eficiente desse pulgão é vital para garantir a rentabilidade e a sustentabilidade da produção. 

Neste artigo, vamos explorar as principais características desse inseto, os danos que ele causa e as estratégias de controle que os produtores vêm adotando para mitigar seus impactos, com um foco especial no Manejo Integrado de Pragas.

Incidência do pulgão preto nos pomares brasileiros

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de citros, com destaque para as laranjas, limões e tangerinas. A incidência do pulgão preto dos citros é particularmente significativa em regiões produtoras de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, onde as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento da praga. Esses Estados concentram grande parte dos pomares cítricos do país, o que torna o controle desse inseto uma prioridade para os citricultores.

Os surtos de Toxoptera citricidus ocorrem com maior frequência em períodos de clima mais ameno, como na primavera e no outono, épocas de condições ideais para a reprodução do pulgão. 

A temperatura é um dos fatores determinantes para a multiplicação dessa praga, de forma que situações mais extremas (de frio ou de calor) atrapalham o desenvolvimento das colônias. Chuvas intensas também prejudicam a população do pulgão preto, pois impedem os adultos alados de se dispersarem para outras regiões.

Os prejuízos causados por essa praga não se restringem apenas à diminuição da produtividade, mas também ao aumento dos custos de produção. O uso frequente de produtos fitossanitários para o controle do pulgão preto e de suas consequências, como a fumagina, representa uma parte considerável do orçamento de muitos produtores.

Identificação e danos do pulgão preto dos citros

O Toxoptera citricidus, conhecido como pulgão preto dos citros, é uma praga que se destaca pela coloração escura, geralmente preta ou marrom-escura, que facilita sua identificação no campo. 

O tamanho varia de 1,5 a 2,0 mm, com um corpo arredondado e pernas finas. As fases de adulto e ninfas se alimentam da seiva das plantas, especialmente nas partes mais jovens e tenras dos citros, como brotações, folhas novas e botões florais, causando deformações e murchamentos

Outro problema causado pelo pulgão preto é a produção de honeydew (excreção açucarada), que serve de substrato para o desenvolvimento de fungos conhecidos como fumagina. A fumagina cobre as folhas com uma camada escura, dificultando a realização da fotossíntese e reduzindo a eficiência da planta na produção de nutrientes.

Além dos danos diretos, o pulgão preto é vetor do vírus causador da tristeza dos citros (Citrus tristeza virus – CTV), uma doença altamente devastadora que afeta a vitalidade das plantas e pode levá-las à morte. A tristeza dos citros é transmitida pelo pulgão preto quando este se alimenta de uma planta infectada e, em seguida, migra para uma planta saudável. Essa transmissão rápida do vírus é um dos maiores temores dos citricultores, uma vez que o controle da doença é bastante desafiador.

Sua presença, inicialmente discreta, pode se expandir rapidamente, uma vez que o ciclo de vida do pulgão é relativamente curto e sua capacidade reprodutiva é alta, podendo uma fêmea originar até trinta novos indivíduos. Nas brotações, é normalmente encontrado em grandes colônias.

Os pulgões adultos podem ser alados ou ápteros (sem asas). Os alados são mais comuns em momentos de dispersão, quando as colônias estão densas ou as condições ambientais tornam-se desfavoráveis, enquanto os ápteros são frequentemente observados em colônias estabelecidas.

A capacidade de voo permite que os afídeos se dispersem, migrando de uma planta para outra, o que facilita a colonização de novas plantas em melhores condições nutricionais, onde podem se desenvolver plenamente. O vento desempenha um papel significativo na disseminação desses insetos, transportando a grandes distâncias não apenas ovos, mas também larvas e adultos de várias espécies, incluindo insetos alados ou mesmo aqueles sem capacidade de voo.

A cor que mais atrai os pulgões é o amarelo, pois reflete muito pouco ultravioleta, o que explica a preferência dos pulgões alados por pousarem em brotações novas. Após o pouso, o inseto realiza uma picada de prova para avaliar a planta. Se a planta for adequada, o pulgão permanece. Caso contrário, faz pequenos voos próximos em busca de outra planta, ou eventualmente morre.

O conhecimento sobre o pulgão preto e seus danos é extremamente importante ao planejar formas de controle da praga. E para um controle efetivo, o produtor deve priorizar seguir as diretrizes do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

MIP como método de controle do pulgão preto dos citros

O controle do pulgão preto dos citros pode ser feito por meio de diferentes formas, que vão desde o controle cultural até o biológico e o químico. Essas formas fazem parte das estratégias de MIP, que visam a utilização sustentável e eficiente dos recursos, reduzindo os danos da praga e os custos para o produtor.

Ao falarmos de MIP, é essencial destacar a importância do monitoramento e conhecer as principais formas de controle.

  • Importância do monitoramento e da identificação

O monitoramento contínuo é uma das principais ferramentas para o controle eficaz do pulgão preto dos citros. A identificação precoce da praga permite que o produtor adote medidas de controle de forma preventiva, evitando a disseminação da praga e a ocorrência de surtos.

O uso de armadilhas adesivas e inspeções regulares nas brotações jovens são métodos eficazes para identificar a presença do pulgão no pomar.

Além disso, o monitoramento constante permite avaliar a eficácia das medidas de controle adotadas, ajustando as estratégias conforme necessário e minimizando os custos e os danos à lavoura.

  • Controle cultural

O controle cultural envolve práticas que tornam o ambiente menos favorável ao desenvolvimento da praga. O manejo adequado do pomar, com podas regulares e eliminação de brotos excessivos, ajuda a reduzir o número de áreas suscetíveis ao ataque dos pulgões. 

Além disso, a manutenção da sanidade das plantas por meio de adubação balanceada e irrigação eficiente fortalece a resistência das plantas, tornando-as menos vulneráveis aos ataques.

  • Controle biológico

O controle biológico é uma ferramenta importante dentro do MIP e envolve o uso de inimigos naturais do pulgão preto, como espécies de parasitoides, que atacam e matam os pulgões durante seu desenvolvimento. Esses organismos benéficos devem ser liberados nos pomares em momentos estratégicos para reduzir as populações da praga de forma sustentável.

Outro importante agente biológico no controle do pulgão preto é a joaninha (família Coccinellidae), predador natural do pulgão preto e de outras espécies de afídeos. A presença de joaninhas nos pomares é um indicativo de um ecossistema equilibrado, e consequentemente, de baixos danos oriundos da praga.

  • Controle químico

O controle químico é uma das estratégias mais comuns para a redução da população de pulgões nos pomares. O uso de inseticidas específicos, quando realizado de maneira adequada, pode ser eficaz no controle da praga. 

No entanto, é fundamental seguir as recomendações técnicas, respeitando o intervalo de aplicação, as melhores doses e o uso rotacionado de moléculas para evitar a seleção de organismos resistentes aos princípios ativos.

Além disso, o uso de defensivos deve ser realizado utilizando as melhores tecnologias de aplicação, visando melhor recobrimento da área com o produto e evitando a deriva para locais não-alvo. Também é importante estar atento às condições climáticas no momento da aplicação, para que o produto alcance adequadamente as diversas regiões da planta e tenha sua eficácia garantida.

Perspectivas sobre o controle do pulgão preto dos citros

O manejo eficaz do pulgão preto dos citros exige uma combinação de estratégias de controle, incluindo o uso racional de produtos fitossanitários, o controle biológico e as práticas culturais adequadas. 

O sucesso no combate dessa praga depende do monitoramento contínuo e da adoção de técnicas de Manejo Integrado de Pragas, que possibilitam a sustentabilidade do sistema de produção e a proteção dos pomares.

Em um cenário de crescente preocupação com a sustentabilidade e o impacto ambiental das práticas agrícolas, o controle biológico e o monitoramento são ferramentas que ganham cada vez mais importância. A adoção dessas práticas não apenas protege as lavouras contra o ataque do pulgão preto, mas também contribui para a manutenção de um ecossistema saudável e produtivo.

Os citricultores brasileiros têm à disposição uma série de recursos e tecnologias que permitem enfrentar o desafio do Toxoptera citricidus de forma eficaz e sustentável, permitindo manter a competitividade da produção de citros no cenário internacional.