O fenômeno La Niña iniciou em setembro de 2020, contabilizando a quarta ocorrência em 20 anos, de acordo com os dados oficiais da CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos). Há pouco mais de dois anos são percebidas anomalias climáticas em todo o mundo por conta do La Niña, com maior impacto sobre determinadas regiões, como a América Latina, que sofreu alterações no padrão pluviométrico e de temperatura.

Essas alterações de clima afetam fortemente a atividade agrícola, que depende de um regime de chuvas regular para ser possível planejar o manejo das lavouras e o calendário de plantio e colheita. A falta de previsibilidade das condições climáticas dificulta tomadas de decisão a longo prazo, de quando seria o melhor momento para colocar os maquinários no campo e de como realizar os tratamentos fitossanitários nas culturas, devido à dificuldade em antecipar o comportamento de patógenos e pragas, que agem muito em função do clima.

Dessa forma, por mais que se redobrassem os cuidados, quebras de safra foram inevitáveis, a exemplo a safra de soja 2021/22 na região Sul do Brasil. Novas projeções baseadas em análises dos padrões climáticos nos próximos meses mostram o La Niña bastante enfraquecido no início de 2023, com probabilidade de permanência de apenas 27%. Por outro lado, o que chama a atenção da meteorologia é a possibilidade de ocorrência do El Niño, fenômeno cujos impactos para a agricultura precisam ser analisados a fim de realizar um planejamento preventivo. 

Como funciona o La Niña?

O La Niña é, por definição, um fenômeno atmosférico-oceânico que incide sobre a região Equatorial do oceano Pacífico, resultando em uma queda de temperatura das águas e da atmosfera adjacente, que fica abaixo da média histórica, com a consequência de alterar não apenas o microclima, mas o comportamento climático global, a depender da intensidade do fenômeno, ou seja, da quantidade de graus em decréscimo.

Uma anomalia de -0,5 °C na superfície do mar já indica o estabelecimento do fenômeno La Niña, um cálculo feito a partir de índices meteorológicos relacionados à região do Pacífico. A análise dos parâmetros meteorológicos dos primeiros meses de 2023, por parte de instituições de referência global, mostra uma tendência de normalização dos padrões climáticos no Oceano Pacífico, com temperatura mais próxima ao grau zero em diferentes regiões oceânicas que causam o fenômeno. Assim, a projeção é de que o La Niña chegue ao fim ainda no primeiro semestre, o que gera alterações graduais no clima das regiões agricultoras brasileiras e exige novas estratégias para explorar o potencial produtivo das culturas de interesse econômico.

La Niña e agricultura: quais desafios climáticos o produtor rural enfrenta?

O CPTEC avalia que a anomalia climática responsável pelo La Niña tende a manter as águas do Pacífico Equatorial em graus negativos pelo menos até maio de 2023. No entanto, os modelos meteorológicos mostram que o aquecimento do oceano na costa do Peru e do Chile já iniciou, o que explica o enfraquecimento do fenômeno, que ainda persiste, mas alcança a condição de neutralidade gradativamenteEssa análise explica os desafios que o produtor rural enfrenta nas safras de verão e já permite prever o que se pode esperar para as safras de inverno.

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Esquema visual da temperatura do Pacífico que explica o La Niña. Fonte: CPTEC, 2023.

Os primeiros dois meses de 2023 foram semelhantes ao que se observou durante o ano anterior: irregularidade das chuvas no Rio Grande do Sul e chuva generalizada no Centro-Oeste. As chuvas localizadas em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais oferecem boas condições para realizar operações de plantio e colheita. Além disso, a partir de fevereiro, as chuvas retornaram ao extremo Sul, devido a dois fatores principais:

  1. a concentração dos corredores de umidade sobre a faixa central do território brasileiro;
  2. a zona de convergência intertropical mais ao norte do Atlântico leva pouca chuva ao interior do nordeste, causando irregularidade.

A Rural Clima avalia que pode-se esperar boa quantidade de chuva em todo o Brasil entre março e maio, com possibilidade de chover também em junho e julho, por conta da elevação da temperatura oceânica, condição que pode ser considerada incomum no país.

O cenário gera algumas consequências importantes na agricultura, tais como:

  • o desenvolvimento das culturas de verão da região Sul foi prejudicado por conta das chuvas irregulares e em quantidade abaixo do ideal para a época do ano;
  • a colheita da soja e as operações de plantio prejudicadas pela chuva diária em determinadas regiões produtoras, afetando negativamente a qualidade dos grãos;
  • a distribuição mais equilibrada das chuvas até agosto é uma condição favorável para o milho safrinha a ser semeado no outono, mas determina um problema para as culturas perenes, como algodão, café, cana e laranja, que são afetadas pelas pancadas de chuva em períodos de colheita ou pela perda da qualidade, no caso do café. 

O que se verifica é que não somente o La Niña vem influenciando o clima nas regiões produtoras, mas também há outros fenômenos de menor importância, como a oscilação antártica, responsável pela recente normalização das condições no Rio Grande do Sul.

Mitos e verdades sobre o El Niño 2023

Está todo mundo de olho na transição das condições climáticas do Brasil depois que foi anunciada a possibilidade de ocorrência do El Niño em 2023. Esse fenômeno ocorre na mesma região do La Niña, mas está relacionado a uma temperatura oceânica acima da média, o que também interfere nos regimes de chuvas e no comportamento do clima de forma generalizada. 

Instituições de acompanhamento do clima global perceberam que as águas da região costeira que banha a América do Sul entraram em uma zona de temperatura positiva no final de janeiro, fato que foi avaliado por muitos como um indício de proximidade do El Niño. Apesar disso, a probabilidade de que o fenômeno se forme ainda no primeiro semestre de 2023 é extremamente reduzida. O que se verifica, no entanto, é que a temperatura do Pacífico na região central ainda se mantém abaixo da média.

A análise dos padrões climáticos da Rural Clima conclui que pode demorar meses para essa região responsável pela anomalia climática ficar em temperatura positiva, inviabilizando a ocorrência do fenômeno El Niño em 2023. Isso porque a temperatura do Atlântico Sul está oscilando e entra em processo de resfriamento com frequência, fator que também justifica a chuva irregular no Rio Grande do Sul.

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Condição do clima global sob o efeito do La Niña entre 2022 e 2023. Fonte: CPTEC, 2023.

O aquecimento da região costeira do Pacífico é muito possível de ocorrer (significando a transição climática que dará fim ao La Niña), com possibilidade de alcançar temperatura positiva em abril, avançando ainda mais entre maio e junho. Assim, caso essa tendência se concretize de fato, há chances de ocorrer o El Niño. Os produtores não devem contar com isso para as safras 2022/23, sendo mais plausível que o fenômeno entre e exerça influência nas lavouras apenas no início de 2024, com a formação de um El Niño clássico, próximo ao que ocorreu em 2015/16.

A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.

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