A safra 2022/23 de cana-de-açúcar no Brasil apresenta estimativa de redução de produção, devido ao recuo na extensão da área plantada, que cedeu espaço para culturas amplamente valorizadas, como o milho e a soja. Considerando a importância da cana para a indústria, que requer matéria-prima com índices adequados de TCH e ATR, o foco em proteger a qualidade das plantas é ainda mais proeminente.

As mudanças no setor neste ano não envolveram somente a área cultivada. As indústrias sucroalcooleiras também alteraram o mix de produção, dando preferência para o etanol em detrimento do açúcar, visto a valorização do biocombustível. Confira um panorama da cadeia de produção de cana-de-açúcar:

Infográfico

Apesar da queda na maioria dos índices, percebe-se uma estimativa de aumento de produtividade, possivelmente graças à melhoria das condições climáticas, em comparação com 2021, e ao maior preparo dos produtores em relação ao manejo da cana-de-açúcar, o que permite um volume elevado de produção, mesmo com a redução de área.

Agora, colocando a mão na massa, vale ressaltar que as pragas da cana-de-açúcar são uma das principais responsáveis por perdas de produtividade e qualidade, pois interferem diretamente no vigor das plantas e no teor de açúcar. Assim, um MIP (Manejo Integrado de Pragas) bem-planejado durante todo o ciclo do cultivo de cana é a melhor saída para produzir mais em uma mesma área, com níveis de ATR elevados.

TCH e ATR: a importância da qualidade da cana-de-açúcar para a indústria

TCH (Toneladas de Colmos por Hectare ou Toneladas de Cana por Hectare) é o índice utilizado para calcular a produtividade dos canaviais. Dividindo a quantidade de cana plantada pela área dedicada ao cultivo, é possível estimar o TCH, que está diretamente relacionado ao rendimento dos canaviais, uma vez que plantas vigorosas produzem mais em uma mesma área, evidenciando a importância de estratégias que visam a eficiência do uso do solo.

O ATR (Açúcar Total Recuperável) é um indicativo da qualidade da cana que corresponde à soma total dos açúcares na cana, relacionado à capacidade de transformar a matéria-prima nos seus principais subprodutos: etanol e açúcar. O ATR determina o valor comercial da cana-de-açúcar antes de chegar na indústria, sendo um índice decisivo para a rentabilidade do produtor rural.

Assim, TCH e concentração de açúcar são os fatores que podem influenciar o ATR. Quanto maior o ATR, maior a produção de subprodutos da cana, a partir de um mesmo volume de colheita, o que valoriza a matéria-prima.

Quais fatores diminuem os níveis de TCH e ATR na cana?

Entre os inconvenientes que impactam negativamente o TCH e o ATR, o clima ganha destaque, seguido pela incidência de pragas. Não é possível controlar ou mesmo prever com precisão o clima, tendo em vista as adversidades climáticas que vêm sendo observadas. No entanto, o controle de pragas tem sido cada vez mais aprimorado, a fim de proteger a qualidade da cana.

As inimigas da produtividade e da qualidade da cana

Sem um programa de manejo integrado e assertivo, as pragas da cana, que têm alto potencial destrutivo, podem comprometer toda a produtividade da safra. As perdas podem acontecer em larga escala, afetando tanto a produtividade quanto a qualidade da matéria-prima para a indústria e, consequentemente, a rentabilidade da produção. Assim, o controle adequado de pragas se torna decisivo quando o assunto é produtividade no canavial e valorização do ATR.

As 4 pragas mais prejudiciais aos canaviais

É possível destacar quatro pragas da cana-de-açúcar que precisam ser observadas de perto para um manejo eficiente, de maneira a organizar um MIP que tenha como foco essas ameaças e a proteção da qualidade da matéria-prima.

1. Bicudo-da-cana (Sphenophorus levis)

bicudo

Pupa do bicudo-da-cana no interior do colmo. Fonte: Mais Agro, 2022.

Essa praga está amplamente distribuída em todas as regiões produtoras de cana no Brasil, de maneira a representar um problema generalizado. O bicudo-da-cana é um besouro de coloração escura, cujas larvas são responsáveis pelos danos à cultura.

O besouro adulto deposita os ovos abaixo do nível do solo, de maneira que, após a eclosão, as larvas abrem galerias na base da brotação da planta, danificando as raízes, os colmos e os perfilhos. Um dos resultados é o secamento da cana de fora para dentro, sintoma que pode ocasionar a morte da planta.

Estima-se que a cada 1% de toco prejudicado, 1,6 toneladas por hectare são perdidos.

2. Broca-da-cana (Diatraea saccharalis)broca

Broca-da-cana perfurando o colmo da planta. Fonte: Mais Agro, 2021.

Esse inseto é uma mariposa de cor clara e manchas escuras nas asas. Elas ovipositam nas folhas da cana-de-açúcar, onde eclodem as lagartas. De início, a broca se alimenta da superfície foliar, por meio de raspagem, danificando as folhas e prejudicando a fotossíntese, com consequente influência negativa no desenvolvimento da planta.

Já um pouco maiores, essas lagartas migram para o interior dos colmos, por meio de perfuração, onde sua atividade compromete agressivamente a estrutura da planta, criando suscetibilidade para a infecção por doenças, o que é conhecido como complexo broca-podridão.

Estima-se que os danos causados pela broca-da-cana signifiquem 1,14% do TCH para cada 1% de colmo atacado, o que se traduz em um prejuízo de grandes proporções.

3. Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata)

cigarrinha

Cigarrinha-das-raízes adulta. Fonte: Mais Agro, 2022

A cigarrinha-das-raízes se beneficia de clima chuvoso e ambiente úmido, de maneira a reproduzir-se rapidamente e infestar a lavoura em pouco tempo. A praga vive em colônias, e a fêmea normalmente coloca seus ovos sobre o solo.

Na fase adulta, o inseto suga a seiva das folhas e dos colmos. Nesse processo injeta toxinas na planta e cria manchas nas folhas, causando redução da taxa de fotossíntese e, por consequência, do teor de açúcar, o que implica em ATR reduzido.

Já as ninfas agem na base do colmo, onde ficam protegidas por uma espuma esbranquiçada, alimentando-se da seiva das raízes. Assim, pode ocorrer necrose do tecido das raízes, desidratação dos vasos condutores da planta, além de vãos e rachaduras nos colmos.

Com isso, não apenas a qualidade da cana é afetada, com redução do ATR, mas pode haver perda de até 80% do TCH.

4. Pão-de-galinha (Diloboderus abderus)

pão de galinha

Larva do besouro pão-de-galinha.

Também conhecido como coró, o pão-de-galinha incide sobre os toletes nos estágios iniciais da cultura da cana, alcançando também o rizoma. São as larvas que podem atacar durante o plantio ou em canaviais já formados.

No primeiro caso, atingem as gemas dos toletes e comprometem a germinação, provocando falhas e redução de perfilhos. No segundo caso, as larvas do pão-de-galinha provocam a destruição das raízes e atingem a base dos colmos, o que pode resultar também na morte da planta. Tanto no plantio como em canaviais formados, a praga se manifesta em reboleiras.

Os adultos ovipositam no solo, e os ovos dão origem a pupas que emergem durante os períodos quentes e chuvosos, coincidindo com o momento de brotação dos canaviais, de maneira a prejudicar as plantas precocemente.

Ao atacar o sistema radicular, diminui a capacidade em captar água e nutrientes, o que enfraquece a cana-de-açúcar, a torna mais suscetível a doenças e interfere diretamente no TCH e no ATR, quando não leva ao secamento das plantas, podendo haver necessidade de replantio, a depender da densidade da infestação.

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Como proteger a qualidade da cana?

A importância econômica dessa cultura e a agressividade das pragas que prejudicam a rentabilidade do produtor exigem o constante desenvolvimento de estratégias que visam proteger a qualidade da cana e ampliar a potência do setor sucroenergético brasileiro, responsável por atender uma parcela significativa da demanda mundial de açúcar e de biocombustível.

Iniciativas como a Operação Praga Zero têm como objetivo a transferência de tecnologia para um MIP adequado nas lavouras de cana. Nesse mesmo passo, a seguir são elencados as 5 práticas de manejo que, quando integradas, possibilitam produções com altos índices de TCH e ATR, reduzindo riscos a partir do controle de pragas.

operação praga zero

Operação Praga Zero divulga conhecimento sobre MIP na cana.

5 boas práticas integradas no manejo da cana-de-açúcar

  1. Identificação das pragas

A primeira medida a ser tomada para proteger a qualidade do canavial é conhecer a biologia das pragas. Descrições como as apresentadas neste conteúdo anteriormente permitem que o produtor conheça seus inimigos e os identifique rapidamente, antes que resultem em danos expressivos.

Compreender o ciclo de vida, as características físicas e fisiológicas e seu comportamento nas lavouras é o que permite reconhecer o problema e tomar decisões estratégicas.

  1. Monitoramento

Uma vez identificadas as espécies de pragas que incidem sobre o canavial, é chegado o momento de observar de perto. O monitoramento permite perceber se as infestações ainda estão abaixo do nível de controle, se as populações estão ou não aumentando, quais os locais da lavoura com maior grau de infestação, qual a quantidade de adultos e o seu potencial na formação de novas gerações.

Tudo isso é determinante para saber como agir em seguida, selecionando as tecnologias de manejo de acordo com o contexto específico de cada área de cultivo. O monitoramento pode ser feito visual e/ou manualmente, por meio de inspeção e armadilhas, de maneira que conhecer as pragas em detalhes se faz ainda mais importante. Por outro lado, é possível também contar com ferramentas de agricultura de precisão, que mapeiam a área por meio de georreferenciamento e oferecem dados periódicos ao agricultor.

  1. Mudas de qualidade

A escolha de mudas criteriosamente selecionadas para o plantio é de extrema importância no processo de controle de pragas para proteger a qualidade da cana, isso porque muitas vezes os insetos podem ser transferidos para as lavouras por meio das mudas, infestando uma área que poderia estar livre dessa ameaça.

Assim, para a produção de mudas, os viveiros devem ser posicionados em áreas sem histórico de incidência de pragas, do contrário, o plantio pode ser feito a partir de material vegetal já condenado.

  1. Limpeza do maquinário

A higienização e a revisão de todo o maquinário utilizado nas operações também se faz uma medida essencial no MIP para a cana-de-açúcar, uma vez que ovos, larvas, ninfas ou até mesmo insetos adultos podem ser transferidos de uma área de cultivo a outra por meio dos tratores e outras ferramentas.

Nessa condição, cria-se uma infestação generalizada, o que não é incomum, resultando em um aumento no custo de produção para o controle das pragas e colocando em risco todo o cultivo. Assim, para proteger a qualidade da cana, não se pode esquecer que a limpeza do maquinário também faz parte do MIP.

  1. Uso de defensivos de alta performance

O uso de defensivos inseticidas é uma das práticas integradas do manejo de pragas, tão indispensável quanto qualquer outra. Todas as etapas anteriores definirão a quantidade de pulverizações, a escolha da solução, da formulação e a tecnologia de aplicação a ser empregada, a depender da intensidade de infestação, das espécies de pragas identificadas e do nível de agressividade.

Cada solução tem um ingrediente ativo específico, quando não dois ou mais agindo de maneira sinérgica, para alcançar um amplo espectro de pragas. Diante disso, a escolha da solução dependerá do seu efeito sobre cada uma das pragas identificadas.

No entanto, quando a área tem um histórico de infestação, sendo realizado o mesmo controle químico em mais de um ciclo, é possível que as gerações seguintes do inseto desenvolvam resistência aos ativos das soluções.

Por isso, é importante intercalar o ingrediente ativo e o mecanismo de ação dos produtos utilizados, de maneira a criar uma estratégia de manejo antirresistência que seja eficiente para o controle de pragas da cana a longo prazo.

Pensando em proteger a qualidade da cana a partir das estratégias de MIP e das boas práticas de controle, a Syngenta tem um portfólio completo para o manejo de pragas nos canaviais, que se alinham às necessidades de driblar a resistência das espécies de insetos.

A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.

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