O algodão é uma das culturas agrícolas mais relevantes para o Brasil, tanto no cenário interno quanto no mercado internacional. O país figura entre os maiores produtores e o maior exportador de algodão do mundo, sendo responsável por grande parte do fornecimento da fibra para a indústria têxtil global. 

Devido ao seu valor econômico e à sua ampla distribuição geográfica, o algodão tem um papel de destaque no agronegócio brasileiro. No entanto, a cultura enfrenta uma série de desafios, entre os quais se destacam as pragas que podem comprometer a produtividade e a qualidade da colheita.

A presença de pragas na cultura do algodão pode causar grandes prejuízos aos produtores. A ação dessas pragas pode reduzir drasticamente o rendimento das lavouras e aumentar os custos de produção, uma vez que exige maiores investimentos em controle. 

Por isso, é fundamental conhecer as principais espécies que afetam o algodão no Brasil, bem como as práticas recomendadas para seu manejo eficiente, especialmente por meio de técnicas de manejo integrado de pragas (MIP), que permitem equilibrar a necessidade de controle com a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade econômica.

Principais pragas do algodoeiro no Brasil

Diversas espécies de insetos se alimentam de folhas, raízes e estruturas reprodutivas do algodoeiro, provocando danos que podem comprometer severamente o desenvolvimento da planta e a colheita. 

Para os produtores brasileiros, o conhecimento das principais pragas e das estratégias eficazes de controle é essencial para manter a competitividade no mercado, especialmente por meio de técnicas de manejo integrado de pragas.

Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis)

O bicudo-do-algodoeiro é considerado uma das pragas mais destrutivas da cultura do algodão. Introduzido no Brasil na década de 1980, o Anthonomus grandis rapidamente se espalhou pelas principais regiões produtoras. 

O inseto ataca principalmente as estruturas reprodutivas da planta, como botões florais e maçãs, causando perfurações. Os botões atacados podem acabar caindo, as pétalas ficam perfuradas e as maçãs acabam produzindo uma fibra de baixa qualidade.

Algumas condições são favoráveis à ocorrência do bicudo, como a presença de algumas plantas daninhas na entressafra e a semeadura do algodão fora da janela recomendada.

Broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis)

A broca-da-raiz inicia seu ataque ao algodoeiro criando aberturas nas galerias próximas aos vasos lenhosos, responsáveis pelo transporte de seiva bruta. À medida que as larvas evoluem, essas galerias aumentam de tamanho, comprometendo ainda mais a planta. 

Com os cortes nos vasos, a circulação da seiva é interrompida, paralisando o desenvolvimento do algodoeiro. Em alguns casos, a planta pode morrer, e, quando sobrevive, fica comprometida, resultando em uma fibra de qualidade inferior.

Os primeiros sinais do ataque da broca-da-raiz são folhas avermelhadas, que murcham durante os períodos mais quentes do dia, posteriormente secando e caindo. No colo da planta, observa-se um engrossamento devido ao ataque, enquanto, nas raízes, surgem nós e partes mortas. 

Os danos são especialmente críticos quando afetam plantas imaturas, com altura entre 20 e 25 cm.

Mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B)

A Bemisia tabaci, conhecida como mosca-branca, é uma praga polífaga que afeta diversas culturas, incluindo o algodão. No algodoeiro, os danos são causados por adultos e ninfas, e uma de suas ações é a sucção da seiva, que enfraquece as plantas e pode provocar o amarelecimento das folhas. 

Ao mesmo tempo que se alimenta da seiva, a mosca-branca secreta uma substância açucarada, chamada de “mela” ou “honeydew”, que favorece a multiplicação da fumagina. 

A fumagina é um fungo escuro que recobre os tecidos da planta, incluindo hastes, ramos, folhas, frutos e capulhos, atrapalhando a capacidade fotossintética e reduzindo o valor comercial das fibras que possuem o fungo.

Pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii)

O pulgão-do-algodoeiro é uma praga bastante comum e ataca várias culturas agrícolas. O inseto adulto, de coloração esverdeada escura, possui aproximadamente 1,3 mm de comprimento e se abriga na face de baixo das folhas, principalmente no baixeiro.

No algodão, o pulgão se alimenta sugando a seiva das plantas, o que pode resultar em deformações nas folhas, deformação das novas brotações e redução da produtividade. 

Esse pulgão também pode favorecer o desenvolvimento da fumagina e transmitir as doenças vermelhão-do-algodoeiro e o mosaico-das-nervuras. 

Percevejo-castanho (Scaptocoris castanea)

Durante os períodos chuvosos, os percevejos castanhos, como o Scaptocoris castanea, permanecem próximos à superfície do solo, onde atacam as raízes das plantas em áreas localizadas (reboleiras). Nessa fase, ocorrem revoadas dos insetos adultos, permitindo que as fêmeas se dispersem e iniciem novos ciclos de oviposição em outras áreas. 

Esses insetos injetam toxinas nas raízes, provocando o enfraquecimento das plantas, com sintomas como amarelecimento, murcha e redução do crescimento. A praga está presente em diversas regiões no Brasil, mas principalmente no Cerrado, onde se torna frequente devido às condições climáticas favoráveis.

Em períodos secos, esses percevejos se aprofundam no solo, buscando camadas mais úmidas que podem variar de 50 cm a 1 metro de profundidade. Como pragas polífagas, eles podem permanecer nas áreas de cultivo mesmo após a colheita, utilizando plantas daninhas ou remanescentes como hospedeiras. 

Com pernas escavadoras adaptadas para o solo, essas pragas têm grande capacidade de sobrevivência e adaptação em diversas culturas além do algodão, como milho, soja e cana-de-açúcar, sendo especialmente prejudiciais no início das lavouras de verão, quando as chuvas favorecem seu aumento populacional.

Percevejo-manchador (Dysdercus spp.)

O percevejo-manchador causa danos significativos nas plantações de algodão, começando pela queda das maçãs novas devido às picadas que enfraquecem os frutos. 

Quando o ataque ocorre cedo, o desenvolvimento das maçãs é comprometido, resultando em capulhos que se abrem de forma defeituosa, prejudicando a qualidade da colheita.

Além disso, os dejetos dos percevejos mancham as fibras do algodão, reduzindo seu valor comercial. Outro impacto grave é a possibilidade de contaminação por bactérias e fungos nas fibras por meio das perfurações, o que provoca podridão nos capulhos e compromete ainda mais a produção.

Pode atacar outras culturas como café, citrus, feijão e cana-de-açúcar, o que pode servir de alerta para o produtor se houver lavouras vizinhas com essas culturas.

Complexo de percevejos 

O complexo de percevejos, que inclui diversas espécies, é uma ameaça significativa para o algodoeiro, principalmente a partir da fase reprodutiva até a colheita. Entre eles, podemos citar:

  • percevejo-verde (Nezara viridula);
  • percevejo-marrom (Euschistus heros);
  • percevejo-pequeno (Piezodorus guildinii).

Esses percevejos, de maneira geral, se alimentam sugando a seiva dos botões florais e das maçãs, o que pode resultar em abortos florais, frutos deformados e atrofiamento. 

Os capulhos ficam defeituosos, com manchas nas fibras e possíveis contaminações por outros fungos oportunistas.

Suas populações tendem a ser mais frequentes após períodos de temperaturas altas com precipitações frequentes.

Lagartas 

As lagartas estão entre as pragas mais comuns e destrutivas no algodoeiro, afetando diretamente as folhas, as flores e as maçãs. Dentre as principais espécies de lagartas que atacam essa cultura, estão:

  • curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argilacea); 
  • falsa-medideira (Chrysodeixis includens); 
  • lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella);
  • complexo de Spodopteras (S. frugiperda, S. eridania, S. cosmioides).

Essas lagartas, de maneira geral, causam danos ao se alimentarem das folhas, o que reduz a capacidade fotossintética das plantas, e, em casos mais graves, atacam as estruturas reprodutivas, resultando em perdas significativas de produção. 

No entanto, cada uma delas pode apresentar hábitos alimentares um pouco distintos. A lagarta-rosada, por exemplo, afeta majoritariamente as flores e as maçãs, enquanto o dano da curuquerê é observado mais no início do ciclo, atacando o limbo foliar e causando significativa desfolha em plantas jovens.

A falsa-medideira, por sua vez, costuma deixar as folhas raspadas e com aspecto rendilhado, o que pode evoluir para perfurações circulares. As Spodopteras perfuram folhas e danificam também as brácteas, as flores e as maçãs.

Ácaros

Os ácaros são pequenos artrópodes que podem causar grandes danos à cultura do algodão. Esses organismos se alimentam da seiva das plantas, e sua infestação compromete o desenvolvimento dos vegetais e pode levar à queda precoce das folhas, afetando negativamente a produtividade.

Costumam ocorrer em locais e safras com maior incidência de veranicos. Entre as espécies que mais geram preocupações, estão:

  • ácaro-rajado (Tetranychus urticae), que forma colônias na face inferior das folhas, causando manchas avermelhadas nesses órgãos da planta;
  • ácaro-vermelho (Tetranychus ludeni), que assim como o T. urticae, também produz teia para se proteger de predadores;
  • ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus), de coloração esbranquiçada, deixam as folhas escurecidas. 

É evidente que a cultura do algodoeiro pode ser comprometida por diversas pragas e em diferentes fases de seu desenvolvimento. Para um controle eficiente, garantindo a produtividade a campo, produtores e técnicos devem fazer uso do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Manejo Integrado de Pragas (MIP) no algodoeiro

O MIP é uma estratégia fundamental para o controle eficiente de pragas no algodoeiro, garantindo a preservação da produtividade e da qualidade da colheita. O MIP tem como principal objetivo integrar diferentes métodos de controle de pragas, otimizando o uso de defensivos e promovendo uma agricultura mais sustentável. 

Sua importância no cultivo do algodão está diretamente ligada à redução de perdas econômicas e ao impacto ambiental, preservando a biodiversidade e melhorando a eficiência produtiva.

Fases do MIP no algodão

  • Monitoramento:

A base do MIP é o monitoramento constante das lavouras para identificar a presença de pragas e determinar o nível de infestação. A utilização de armadilhas, inspeções visuais e amostragens regulares em diferentes estágios de crescimento da planta podem ser importantes ferramentas nessa fase.

O monitoramento permite a tomada de decisões mais assertivas sobre o momento ideal para aplicar medidas de controle.

  • Controle cultural

Inclui práticas agrícolas que dificultam o desenvolvimento de pragas, como a rotação de culturas e a eliminação de plantas daninhas que possam servir de hospedeiras.

O manejo adequado do solo e a escolha de variedades mais resistentes ou tolerantes são essenciais para prevenir infestações. Estar atento às plantas daninhas na área ou em torno da lavoura que podem servir de abrigo para algumas pragas pode ser extremamente importante no controle cultural. 

  • Controle biológico

O controle biológico ajuda a manter o equilíbrio ecológico no ambiente de cultivo.

Consiste no uso de inimigos naturais das pragas, como predadores, parasitas e microrganismos que regulam suas populações, e por isso, já ocorre de forma natural no ambiente. 

No entanto, essa ocorrência natural é muito pequena, pensando em uma lavoura com grande população de plantas e, nesse caso, deve ser feita a introdução desses organismos benéficos. 

Algumas experiências de utilização de predadores naturais para o bicudo-do-algodoeiro e para a lagarta-rosada mostraram bons resultados para o controle dessas pragas.

  • Controle químico

Importantes considerações técnicas devem ser observadas no controle químico, como a rotação de ingredientes ativos para evitar o desenvolvimento de resistência das pragas. É fundamental que se alterne os ingredientes ativos dos inseticidas utilizados, buscando a diversidade de grupos químicos.

Além disso, é extremamente importante seguir as recomendações técnicas de doses, intervalos e momentos de aplicação do fabricante. 

O controle químico deve ser integrado com outras práticas, como as culturais e biológicas, para reduzir a pressão de seleção e prolongar a eficácia dos produtos disponíveis no mercado.

Essas práticas, usadas em conjunto, têm permitido aos produtores enfrentar com mais eficiência o desafio das pragas no algodoeiro, garantindo maior sustentabilidade e rentabilidade à produção.

Considerações finais

O controle das pragas do algodoeiro é uma questão central para a viabilidade da cultura no Brasil. O conhecimento das principais pragas, seus danos e as práticas de manejo mais adequadas são fundamentais para que os produtores possam tomar decisões assertivas e garantir a saúde de suas lavouras. 

A adoção do Manejo Integrado de Pragas, com a combinação de diferentes métodos de controle, se destaca como a estratégia mais sustentável e eficaz para lidar com esse desafio, promovendo uma agricultura mais equilibrada e competitiva no cenário global.