O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), uma das plantas daninhas mais agressivas e resistentes do sistema produtivo, tem sido um desafio crescente nas lavouras brasileiras. 

Essa invasora, que afeta culturas como soja, milho e algodão, vem causando grandes preocupações entre os produtores e especialistas, com uma complexidade de manejo que tem confundido até mesmo quem já conhece a problemática há muito tempo.

O comportamento dinâmico e imprevisível do capim-pé-de-galinha tem sido reforçado pela falta de moléculas pós-emergentes que sejam realmente eficientes, e pelas mudanças climáticas, que vem favorecendo a retomada do protagonismo dessa daninha. 

Em entrevista exclusiva para a central de conteúdos Mais Agro, o pesquisador da Embrapa, Fernando Adegas, apresentou um panorama detalhado dessa planta, que se destaca pela capacidade de adaptação e resistência a diferentes moléculas herbicidas. 

Complementando essa análise, o consultor da Takizawa Engenharia Agronômica, Evaldo Takizawa, contribuiu com sua experiência sobre os desafios específicos do controle dessa planta no sistema de cultivo.

Um dos pontos ressaltados é a necessidade urgente de desenvolver novos estudos para entender melhor o capim-pé-de-galinha. Além de participar ativamente desse movimento, queremos reforçar o nosso compromisso com os produtores de disseminar as informações que temos. 

Por isso, confira a seguir os principais alertas dos especialistas sobre a pior daninha do sistema produtivo na atualidade.

Contexto histórico do capim-pé-de-galinha: como está a problemática no Brasil?

Conhecido há décadas no Brasil e em diversas regiões agrícolas do mundo, o pé-de-galinha é uma gramínea anual originária de regiões tropicais, que se adaptou facilmente a diferentes tipos de solo e condições climáticas, tornando-se uma das espécies mais difíceis de controlar nos sistemas produtivos.

Seu nome popular vem da aparência de suas inflorescências, que lembram a forma de pés de galinha, e ela se dissemina rapidamente, principalmente devido à sua elevada produção de sementes e à capacidade de germinar em várias épocas do ano. 

“O pé-de-galinha já era considerado uma planta daninha importante na década de 1980, especialmente em cultivos de arroz na Ásia […]. Se você pega o mapa de dispersão no Brasil, tem intensidades diferentes de local para local, mas ela já está desde do bioma Cerrado até a região do Sul. É uma planta que já está totalmente adaptada a todos os sistemas agrícolas do Brasil. E ela sempre foi uma planta presente nas nossas lavouras”, contextualiza o pesquisador Fernando Adegas.

Nas últimas décadas, o capim-pé-de-galinha ganhou destaque por sua capacidade de resistência a diferentes herbicidas, inicialmente aos inibidores da ACCase e posteriormente ao glifosato, que é amplamente utilizado no campo. 

“Como ela foi uma planta daninha chave no Cerrado, nós começamos a utilizar herbicidas com mais intensidade nessa região. E os principais herbicidas que controlam o pé-de-galinha são os inibidores da ACCase. Então, no Cerrado, houve uma pressão muito grande desses produtos, o que começou a selecionar populações de pé-de-galinha resistentes. Então o que aconteceu com pé-de-galinha? Hoje, o principal problema das daninhas é a resistência ao glifosato, certo? Só que o pé-de-galinha começou ao contrário, começou com resistência a ACCase.” explicou Fernando.

Esse fato tem agravado o problema, já que muitos produtores dependem dessas moléculas para o controle de outras espécies de daninhas.

Além disso, o uso contínuo de práticas agrícolas que favorecem a seleção de espécies resistentes, como a ausência de rotação de culturas e o uso repetido de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, contribuiu para o aumento da infestação dessa planta nas áreas cultivadas, especialmente em culturas como soja, milho e algodão.

“É uma planta que está sobrando de uma cultura e indo para outra, o que dificulta o manejo”, ressalta o pesquisador. 

O consultor Evaldo Takizawa, que trabalha com o manejo de plantas daninhas no Cerrado, compartilha sua perspectiva sobre os desafios que o capim-pé-de-galinha impõe às lavouras. Takizawa destaca que o capim-pé-de-galinha, além de competir diretamente por nutrientes e água com a cultura, também compromete a qualidade da colheita.

Ele ressalta que o manejo integrado é fundamental para mitigar os impactos dessa planta daninha: “é importante que o produtor esteja atento a todas as estratégias, desde o manejo cultural até o uso de herbicidas e outras ferramentas complementares.”

Takizawa também chama a atenção para as mudanças que ocorreram no sistema de cultivo, especialmente no Cerrado, que favoreceram o crescimento do capim-pé-de-galinha. Segundo ele, a dependência excessiva de um único mecanismo de controle também aumentou a pressão de seleção e favoreceu a resistência do capim-pé-de-galinha.

Nos últimos anos, o problema, que antes estava concentrado no Cerrado, também começou a aparecer com mais força em regiões do Sul do país. “Com o aumento da seleção aqui no Sul, nos últimos dois anos, o pé-de-galinha também aumentou os problemas nessa região. Na safra atual, foi a planta daninha que mais preocupou, especialmente no Paraná, e está chegando também nas regiões mais frias”, explica Adegas.

Essa dispersão acelerada está diretamente relacionada à capacidade de resistência que a planta desenvolveu ao longo do tempo. Com sua propagação do Cerrado para o Sul e sua resistência múltipla a herbicidas, o capim-pé-de-galinha se consolidou como a planta daninha número um no país

Características que fazem do capim-pé-de-galinha a planta daninha número um do país atualmente

Segundo Fernando Adegas, a primeira característica que posiciona o pé-de-galinha como número um no status problemático é que ele possui uma emergência um pouco mais tardia em comparação com outras plantas daninhas. 

Isso significa que, em muitos sistemas de cultivo, como soja e milho, a planta pode surgir após o final do período residual dos herbicidas pré-emergentes ou após as primeiras aplicações dos herbicidas pós-emergentes, muitas vezes escapando do controle inicial. 

Além disso, a planta é extremamente resistente e se adapta bem aos nossos sistemas de cultivos intensivos. Adegas observa que, quando o capim-pé-de-galinha persiste após a colheita da soja, ele pode crescer e rebrotar, tornando-se ainda mais difícil de controlar dentro das culturas subsequentes, como milho e algodão. 

Ele comenta: “É uma planta grande que foi cortada, rebrotada, para estar dentro do milho, dentro do algodão. É uma planta que, hoje, os herbicidas que nós temos disponíveis não controlam com eficiência necessária.”

Outro ponto crítico é a resistência múltipla que o capim-pé-de-galinha desenvolveu ao longo dos anos. A resistência não se limita a um único tipo de herbicida, tornando a identificação do controle mais eficaz um desafio constante. 

Adegas ressalta: “Hoje, o produtor já não sabe a qual molécula o capim-pé-de-galinha é resistente. Então também ele começa a achar que nada mais controla.” Essa falta de conhecimento contribui para a dificuldade em manejar a planta.

Por fim, a combinação dessas características – emergência tardia, resistência a herbicidas, e adaptação a diferentes sistemas de cultivo – faz do capim-pé-de-galinha uma planta daninha extremamente complexa e desafiadora de controlar. Adegas conclui que “é a planta daninha que mais dá dor de cabeça atualmente” e que, mesmo com avanços no uso de pré-emergentes, o controle efetivo ainda requer um manejo integrado e cuidadoso.

Herbicida pré-emergente é essencial no manejo do capim-pé-de-galinha

Pensando na capacidade de produção de sementes e na complexidade do manejo, o uso de herbicidas pré-emergentes é fundamental para o manejo do capim-pé-de-galinha. 

Fernando ressalta que os produtores encontram bons produtos no mercado atualmente, e a aplicação correta pode ser a chave para minimizar os problemas causados por essa planta.

Segundo Adegas, “O manejo para o pé-de-galinha precisa ter o pré-emergente. Isso é fundamental.” No entanto, ele observa que nem todos os produtores seguem essa prática, o que tem levado a um aumento dos problemas. A falta do uso consistente de pré-emergentes contribui para o crescimento descontrolado do capim-pé-de-galinha, que pode se tornar um problema significativo se não for abordado desde o início.

Adegas também aponta que a falta de um bom manejo inicial pode levar a problemas recorrentes. “Aquele produtor que não iniciou com bom manejo, começa a ter problemas.” Ele recomenda que, além do uso de pré-emergentes, os produtores estejam atentos a técnicas de manejo pós-colheita, especialmente para controlar o capim-pé-de-galinha após a segunda safra.

No Cerrado, os produtores já estão convivendo com o problema há mais tempo, por isso aprenderam sobre a importância do pré-emergente, apesar de Adegas ressaltar que alguns produtores ainda negligenciam essa etapa do manejo.

Por outro lado, no Sul do Brasil, o problema é relativamente novo, e os produtores ainda estão tentando entender como lidar com ele. Adegas menciona que “o pessoal está meio perdido em relação a isso, porque em algumas áreas apareceu o problema e não se conseguiu realizar adequadamente o controle.”, ressaltando a importância de disseminar o conhecimento técnico sobre o assunto.

Adegas enfatiza que “alguns ainda dão menos importância do que deveriam dar” ao manejo integrado e especialmente ao uso de herbicidas pré-emergentes, destacando a necessidade de uma abordagem mais rigorosa e informada para enfrentar esse desafio crescente.

Alerta para os produtores: manejo do capim-pé-de-galinha deve ser abordado com rigor

Tanto Adegas quanto Takizawa concordam que o manejo do capim-pé-de-galinha deve ser integrado e rigoroso. 

Adegas reforça que a gestão do capim-pé-de-galinha deve começar pelo controle preventivo. “A dica é […] não deixar entrar na área, mas, se entrar, não deixar aumentar,” essa é a regra crucial para evitar que o problema se agrave. 

Ele observa que o capim-pé-de-galinha não pode ser controlado de forma eficaz apenas com aplicações em uma cultura específica, como soja ou milho. O manejo deve ser integrado, abrangente e bem planejado para ser eficaz.

Além disso, Adegas alerta que “o combo de resistência, de dificuldade de controle para o pé-de-galinha é muito maior do que para as outras plantas daninhas.”

Takizawa reforça que a combinação de diferentes estratégias é essencial: “precisamos montar estratégias robustas para evitar que a competição com o capim-pé-de-galinha comprometa tanto a produtividade quanto a qualidade da cultura”, comenta. Ele também destaca a importância de conhecer bem o sistema de cultivo e suas particularidades para montar um plano eficaz de manejo.

Os produtores devem estar cientes de que iniciar o controle do pé-de-galinha de maneira inadequada pode levar a desafios muito maiores no futuro. Adegas enfatiza que “se você iniciar errando, vai ser difícil de consertar.” Portanto, é fundamental seguir práticas de manejo rigorosas e buscar orientações específicas para controlar essa planta daninha.

Em resumo, a mensagem é clara: o capim-pé-de-galinha requer um manejo cuidadoso e bem planejado. “Não bobeie” e tome todas as medidas necessárias para controlar essa planta, pois os desafios associados a ela são consideravelmente mais complexos do que os enfrentados com outras daninhas. O alerta é um chamado à ação para garantir que o controle do capim-pé-de-galinha seja abordado com a seriedade e a atenção que a situação exige. “Tudo que você puder fazer, faça certinho” aconselha o pesquisador. 

O desafio da falta de informação sobre a biologia da planta

Para Fernando, um dos maiores desafios no controle do capim-pé-de-galinha, além dos já citados, é a falta de informações detalhadas sobre sua ecofisiologia. “Por mais que essa planta já seja antiga no nosso sistema, ainda temos uma carência de estudos sobre sua biologia”, aponta Adegas. “Precisamos entender mais sobre a emergência dela em diferentes regiões, sua taxa de crescimento e mecanismos de dispersão.”

Adegas destaca a importância de se conhecer melhor o “inimigo” para desenvolver estratégias mais eficazes de controle. “Há tantas variáveis que ainda desconhecemos sobre essa planta que é fundamental aprofundarmos nossos estudos para entender suas particularidades e melhorar nosso manejo.” ressalta o pesquisador.

Esses dados são essenciais para desenvolver estratégias de manejo mais eficazes e para preencher as lacunas no conhecimento existente.

A falta de informações é evidente em casos em que comportamentos da planta desafiam explicações simples, como a necessidade de uma investigação mais profunda sobre como o capim-pé-de-galinha interage com diferentes produtos químicos e ambientes.

Além disso, há uma necessidade urgente de atualização dos dados existentes. Estudos antigos podem não refletir as condições e variáveis atuais, o que limita a eficácia das práticas de manejo baseadas nesses dados.

Adegas conclui que, para enfrentar eficazmente o capim-pé-de-galinha, é crucial que a pesquisa se concentre em entender melhor a planta em diversos aspectos, não apenas em relação ao que a controla e o que não a controla. Com um conhecimento mais profundo, será possível desenvolver abordagens mais eficazes e específicas para o manejo dessa daninha persistente e complexa.

Perspectivas futuras: um cenário dinâmico para o manejo de plantas daninhas

O manejo de plantas daninhas é um campo em constante evolução, e a experiência de cada safra revela a complexidade e a dinamicidade desse desafio. 

Como destaca Fernando Adegas, “Talvez, se a gente tiver uma reunião daqui a 5 anos, nós poderemos estar falando de outra planta daninha.” A mudança constante nos cenários de infestação é uma característica marcante desse problema, e cada ano pode trazer novos desafios.

Historicamente, plantas daninhas como a buva chamaram a atenção dos produtores devido à sua resistência e dificuldade de controle. No entanto, nesse início da safra 2024/25, a buva não teve tanta repercussão, dando lugar a outras plantas daninhas, como o capim-pé-de-galinha, que se tornou a principal dor de cabeça para muitos produtores. 

Adegas observa que, “Temos dificuldade em encontrar buva no campo esse ano, mas o capim-pé-de-galinha tem tirado o sono de muita gente,” destacando a dificuldade crescente no manejo dessa planta.

O cenário para o manejo de plantas daninhas é cada vez mais complexo e dinâmico. O clima atual tem favorecido o crescimento e a dispersão das daninhas, o que intensifica o problema. Adegas comenta que, “Cada ano é um ano diferente pra gente,” enfatizando como as condições climáticas podem variar e impactar a prevalência de diferentes plantas daninhas.

Diante desse panorama, é essencial que os produtores fiquem atentos e atualizados sobre as melhores práticas de manejo. Para enfrentar os desafios futuros, os produtores devem se manter informados e proativos, ajustando suas abordagens de acordo com as atualizações e evoluções no campo, sem deixar brechas para as daninhas.

O manejo de plantas daninhas é uma tarefa que exige vigilância constante e adaptação. Com o cenário em constante mudança e o clima influenciando a prevalência das daninhas, os produtores devem estar preparados para enfrentar novos desafios e buscar soluções inovadoras para manter a produtividade e a sanidade de suas culturas.

Por fim, Fernando acende novamente o alerta: “O manejo de plantas daninhas talvez seja a parte mais complexa dos nossos sistemas de produção de grãos atualmente. E, se não tomarmos os devidos cuidados, a tendência é piorar.”

Evaldo Takizawa também finaliza com um alerta importante para os produtores: “o agricultor precisa estar consciente das ameaças presentes em sua lavoura e montar estratégias combinadas para neutralizar o capim-pé-de-galinha. Quanto mais conhecimento ele tiver sobre seu sistema de cultivo, mais eficaz será no manejo dessa planta daninha.”

Para enfrentar os desafios contínuos no manejo de plantas daninhas, é essencial que você se mantenha atualizado e acompanhe os canais de conteúdo que oferecem as informações mais atualizadas, como a central de conteúdos Mais Agro.

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