Os solos são elementos fundamentais para a agricultura, sendo responsáveis pelo suporte físico, armazenamento de água e nutrientes essenciais para o crescimento das plantas. Entre os diversos tipos de solos presentes no Brasil, os argissolos ocupam uma posição de destaque devido à sua ampla distribuição geográfica e importância para a produção agrícola.
Os argissolos possuem características próprias de formação e material de origem que o fazem ter uma ampla aptidão agrícola. Porém, apesar de suas peculiaridades, esse tipo de solo requer cuidados específicos para o manejo sustentável.
Neste artigo, serão abordadas as principais características dos argissolos, os locais de maior ocorrência no Brasil, sua aptidão agrícola, limitações ao uso e estratégias de manejo. A intenção é fornecer informações técnicas e práticas para agricultores, pesquisadores e gestores que buscam compreender melhor esse tipo de solo e utilizá-lo de forma eficiente e sustentável.
Características principais dos argissolos
Os argissolos são classificados como solos de profundidade variada, que podem ser medianamente profundos a profundos, com drenagem moderada e presença de um horizonte B textural. Esse horizonte diagnóstico, que define a classe do solo, apresenta colorações que variam entre vermelho e amarelo, com textura predominantemente argilosa. Acima do horizonte B, encontra-se um horizonte A ou E, geralmente de coloração mais clara e com textura arenosa ou média, além de baixos níveis de matéria orgânica.
Os argissolos se formam a partir de uma ampla variedade de materiais de origem, ocupando áreas que vão desde terrenos planos até regiões montanhosas.
Outra característica marcante desses solos é a argila de baixa atividade, associada a uma saturação por bases elevada. Essa saturação refere-se à proporção de cátions alcalinos e alcalino-terrosos ocupando o complexo de troca do solo, expressa em porcentagem em relação à sua capacidade total de troca de cátions.
Outro aspecto típico é o aumento evidente no teor de argila ao longo do perfil, especialmente no horizonte B, em que ocorre máxima iluviação (acúmulo de materiais transportados) ou expressão das características desse horizonte. Essa variação pode ou não ser seguida por uma redução na concentração de argila nas camadas inferiores. A transição entre os horizontes A e B costuma ser bem definida, podendo ser clara, abrupta ou gradualmente demarcada.
A fertilidade dos argissolos apresenta variações significativas, sendo diretamente influenciada pelo tipo de material de origem do solo. Em relação à retenção de água, esses solos possuem uma capacidade maior nas camadas subsuperficiais, localizadas abaixo da superfície. Essas camadas atuam como um reservatório natural de água, fornecendo um importante suporte hídrico para o desenvolvimento das plantas, especialmente em períodos de menor disponibilidade de chuva.
As diversas variações da ordem dos argissolos geram outras classificações de subordens mais específicas.
Subordens dos argissolos
Os argissolos possuem as seguintes subordens:
- Argissolos Vermelhos: destacam-se pela presença elevada de óxidos de ferro, cuja natureza é influenciada pelo material de origem e pelas condições de formação em ambientes bem drenados.
- Argissolos Amarelos: se originam predominantemente de materiais sedimentares argilosos ou areno-argilosos, localizados principalmente ao longo da região litorânea do Brasil, e nos baixos platôs da região amazônica.
- Argissolos Acizentados: possuem níveis naturalmente baixos de fertilidade e estão sujeitos a limitações causadas por períodos de estiagem, que restringem seu uso agrícola.
- Argissolos Bruno-Acinzentados: apresentam coloração bruno-acinzentada como resultado de restrições de drenagem, enquanto as camadas superiores do solo exibem tonalidades mais escuras devido aos altos teores de matéria orgânica. Essa acumulação e preservação de matéria orgânica ocorrem com maior facilidade em regiões de clima temperado.
- Argissolos Vermelho-Amarelos: essa subordem está amplamente distribuída por todo o território brasileiro, desde o Amapá até o Rio Grande do Sul, e representa uma das subordens de solo mais extensas do país, juntamente com os latossolos.
Cabe destacar que as classificações dos argissolos podem ser ainda mais detalhadas, considerando os demais níveis categóricos e incluindo outras características, resultantes dos diferentes ambientes em que estes solos se encontram.
Locais de ocorrência dos argissolos
Os argissolos podem ser encontrados em uma ampla variedade de condições climáticas e formados a partir de diferentes tipos de material de origem. Esse tipo de solo está predominantemente associado a paisagens caracterizadas por relevos mais acidentados, como áreas com declividades acentuadas e terrenos mais irregulares.
Essas regiões apresentam superfícies menos uniformes e suaves, frequentemente resultantes de processos de erosão ao longo do tempo. Essa configuração topográfica influencia diretamente a formação e as propriedades desses solos, que se adaptam a essas condições específicas do ambiente.
A ampla ocorrência dos argissolos no Brasil coloca esse tipo de solo entre os três solos mais comuns no país, ao lado dos latossolos e dos neossolos. Sua ampla ocorrência combinada com as diferentes características resulta em um solo com aptidão agrícola para diversas culturas.
Aptidão agrícola dos argissolos
Os argissolos com maior fertilidade natural, conhecidos como eutróficos, apresentam um bom potencial para uso agrícola, especialmente quando combinam boas condições físicas e estão localizados em áreas de relevo mais suave.
Entretanto, algumas limitações são frequentemente observadas, como a baixa fertilidade em certas regiões, a acidez elevada, os altos teores de alumínio e a vulnerabilidade aos processos erosivos. Essa suscetibilidade à erosão é mais acentuada em áreas de relevo ondulado ou movimentado.
A maior propensão à erosão nos argissolos está relacionada à sua relação textural, que resulta em diferenças significativas na infiltração de água entre os horizontes superficiais e subsuperficiais. Por outro lado, argissolos com texturas mais leves, médias ou com uma menor relação textural são mais porosos e apresentam boa permeabilidade. Essas características fazem com que sejam menos suscetíveis à erosão, oferecendo melhores condições para o manejo e a conservação do solo.
Manejo e conservação dos argissolos
O manejo adequado dos argissolos é essencial para superar suas limitações naturais e manter a sustentabilidade da produção agrícola. Devido às suas características, como a baixa fertilidade natural, acidez elevada e suscetibilidade à erosão, esses solos exigem práticas específicas para manter sua produtividade e evitar a degradação.
- Correção da acidez e adubação equilibrada
Uma das etapas mais importantes no manejo dos argissolos é a correção da acidez, que pode ser realizada por meio da calagem. A aplicação de calcário eleva o pH do solo, aumentando a disponibilidade de nutrientes essenciais como cálcio e magnésio, além de reduzir os efeitos tóxicos do alumínio presente em concentrações elevadas. O planejamento adequado da calagem deve ser baseado em análises de solo, permitindo a aplicação das quantidades corretas para atender às necessidades específicas da área.
Além disso, a adubação equilibrada é indispensável para repor os nutrientes extraídos pelas culturas. O uso de fertilizantes deve ser planejado de forma criteriosa, levando em consideração tanto os macronutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, quanto os micronutrientes necessários para o pleno desenvolvimento das plantas.
A rotação de culturas também contribui para a manutenção da fertilidade, reduzindo o esgotamento de nutrientes e promovendo a diversificação biológica do solo.
- Práticas conservacionistas para controle de erosão
Os argissolos, especialmente em áreas de relevo inclinado, são mais suscetíveis à erosão hídrica, o que pode resultar na perda de camadas superficiais férteis. Para mitigar esse problema, a adoção de práticas conservacionistas é fundamental.
O plantio direto, por exemplo, reduz significativamente a erosão ao manter a cobertura do solo com resíduos de culturas anteriores, protegendo-o contra o impacto direto da chuva e melhorando a infiltração de água.
Outra prática eficiente é o uso de plantas de cobertura, que ajudam a proteger o solo durante períodos de entressafra. Essas plantas, além de reduzir a erosão, contribuem para o aumento da matéria orgânica, melhorando a estrutura do solo e sua capacidade de retenção de água. Entre as espécies mais utilizadas estão leguminosas, que também ajudam a fixar nitrogênio no solo, contribuindo para a redução da quantidade de adubação química nitrogenada, dependendo da cultura de interesse.
- Manejo integrado para sustentabilidade
O manejo sustentável dos argissolos depende da combinação de práticas corretivas, como calagem e adubação, com técnicas de conservação do solo. Além disso, o monitoramento constante das condições do solo e o ajuste das práticas de manejo conforme a evolução das culturas são essenciais para preservar a fertilidade, evitar a erosão e manter a longevidade da produção agrícola em áreas em que esse tipo de solo ocorre.
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