O psilídeo dos citros (Diaphorina citri) é considerado, hoje, uma das pragas mais desafiadoras da citricultura mundial por ser vetor do greening (HLB), doença sem cura que ameaça a produtividade e a longevidade dos pomares. Nos últimos anos, a busca por soluções mais sustentáveis e que complementem o manejo impulsionou a adoção de inseticidas biológicos como parte do manejo do psilídeo.
Segundo dados da CropLife Brasil, a utilização de bioinsumos no país cresceu 13% na safra 2024/2025, com taxa média anual de 22%, quatro vezes superior à média global. Hoje, cerca de 31% da área cultivada no Brasil já utiliza produtos biológicos, sendo que aproximadamente 60% das propriedades rurais adotaram essas soluções em algum nível.
Na citricultura, embora o uso ainda represente uma parcela menor (cerca de 6% do total nacional), o cenário começa a mudar. O aumento da incidência do greening tem levado produtores e técnicos a buscarem ferramentas complementares de controle, capazes de reduzir populações do psilídeo sem sobrecarregar o manejo químico.
Neste artigo, você vai entender como os inseticidas biológicos atuam no controle do psilídeo, conhecendo seus benefícios, inovações tecnológicas e como eles se integram ao manejo para proteger os pomares de citros.
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O psilídeo dos citros (Diaphorina citri) é pequeno (2 a 3 mm), mas seu impacto na citricultura brasileira é gigantesco. Essa praga ganhou destaque por ser vetor da doença do Huanglongbing (HLB), também conhecida como greening, considerada a doença mais destrutiva dos citros no mundo.
Ao se alimentar da seiva, o psilídeo transmite bactérias (Candidatus Liberibacter spp.) que obstruem o floema das plantas, causando amarelecimento de ramos, queda prematura de frutos e declínio geral da planta.
Não há cura conhecida para o greening (HLB) em plantas infectadas – uma vez doente, a árvore produtora terá sua vida útil drasticamente reduzida.
Desde a detecção do greening no Brasil em 2004, o psilídeo vem causando prejuízos severos. Em pouco mais de uma década, estimou-se a erradicação de 45 milhões de laranjeiras somente no cinturão citrícola de São Paulo devido à doença.
Atualmente, o greening está presente em todas as regiões citrícolas paulistas e em Estados, como Minas Gerais e Paraná, disseminando-se apesar dos esforços de controle.

Folhas com sintomas de greening. Foto: Embrapa
O progresso do greening é alarmante
Uma pesquisa de 2024 do Fundecitrus revelou que a incidência média de greening no cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) atingiu 44,35% das laranjeiras – quase metade das árvores com sintomas. Isso representa cerca de 90 milhões de árvores afetadas, de um total de ~203 milhões de plantas nos pomares avaliados pelo Fresh Fruit Portal. Em 2023, a incidência era 38%, o que mostra a rápida progressão do problema. Em algumas regiões focais, mais de 60% das plantas estão doentes, exigindo medidas drásticas dos produtores.
Os impactos econômicos do greening são profundos
A doença causa queda de produtividade (frutos menores e em menor quantidade) e aumento dos custos de produção. Produtores precisam inspecionar constantemente os talhões e eliminar plantas sintomáticas para frear a disseminação, além de intensificar a aplicação de inseticidas para controlar o vetor.
Estudos do Cepea indicam que os gastos exclusivos com controle do greening (pulverizações de inseticidas contra o psilídeo e erradicação de plantas doentes) já representam até 30% das despesas totais de manejo de um pomar.
Em locais de alta incidência, o manejo recomendado chega a 26–30 pulverizações por ano somente para o psilídeo, incluindo aplicações semanais nos primeiros anos de um novo pomar.
Esse nível de intervenção encarece a produção e, ainda assim, muitas vezes, apenas retarda o avanço da doença. Entre 2005 e 2016, a área plantada com citros no Estado de São Paulo reduziu de 650 mil para 430 mil hectares, em grande parte pela saída de pequenos e médios citricultores que não conseguiram arcar com os custos e as perdas causadas pelo greening.
Ou seja, além do impacto direto na safra corrente, o psilídeo e o greening vêm provocando danos de longo prazo, mudando o mapa da citricultura brasileira.
Visão global do greening
Para se ter dimensão global, na Flórida (EUA) – outro polo citrícola atingido – o greening infectou cerca de 90% dos laranjais e derrubou a produção anual de 149 milhões para 67 milhões de caixas em pouco mais de 10 anos. As perdas econômicas acumuladas na Flórida de 2006 a 2014 foram estimadas em US$ 9 bilhões, com mais de 7.500 empregos perdidos.
No Brasil, apesar de ainda mantermos a liderança na produção de laranja, o alerta está aceso: sem controle efetivo do psilídeo, a sustentabilidade da atividade fica ameaçada. A sanidade dos pomares depende de um esforço contínuo e coordenado no combate a essa praga.
Os desafios no controle do psilídeo são muitos
O psilídeo é um inseto de alta mobilidade e proliferação rápida, associado a uma doença silenciosa (os sintomas demoram meses para surgir na planta). Isso exige que o controle seja preventivo e regional.
Ou seja, é preciso integrar ações na propriedade (pulverizações, monitoramento, arranquio de doentes) com ações coletivas em pomares vizinhos e plantas hospedeiras alternativas na região.
Além disso, o controle químico isolado enfrenta limitações: o uso repetitivo de inseticidas do mesmo grupo já levou a casos de resistência do psilídeo a certos princípios ativos no Brasil. O combate efetivo passa pela diversificação de estratégias.
Nesse contexto, ganha relevância o manejo integrado com ferramentas biológicas, capaz de aliviar a pressão sobre os químicos e trazer maior sustentabilidade ao controle do psilídeo.
A importância do manejo integrado no controle do psilídeo
Diante de uma praga tão desafiadora quanto o psilídeo, o manejo integrado de pragas nos citrus é fundamental. Nenhuma ferramenta isolada é suficiente para conter o greening, é preciso combinar táticas químicas, biológicas, culturais e genéticas de forma harmoniosa.

O conceito de MIP (Manejo Integrado de Pragas) preconiza exatamente isso: utilizar múltiplos métodos de controle de forma complementar, mantendo a praga abaixo do nível de dano econômico e minimizando impactos ao meio ambiente. No caso do psilídeo, o manejo integrado tem se mostrado vital para ampliar a eficiência do controle e a sustentabilidade dos pomares.
Um dos pilares do manejo integrado é aliar produtos biológicos e químicos, tirando proveito dos pontos fortes de cada abordagem
Os defensivos químicos fornecem ação rápida e de choque, importante em momentos de alta infestação de psilídeos ou em surtos da praga. Já os agentes biológicos oferecem controle contínuo e específico, atuando como “mantenedores” da população em níveis baixos, além de ajudarem na resistência a longo prazo.
Especialistas enfatizam que não se trata de escolher um ou outro, mas de combinar tecnologias. Conforme pontuou Eduardo Leão, diretor da CropLife Brasil, “o produtor aprendeu a combinar tecnologias: defensivos químicos e bioinsumos. Isso tem resultado em aumento de produtividade e sustentabilidade no campo”. Ou seja, a sinergia entre métodos eleva a eficácia total do manejo.
No controle do psilídeo, essa integração aparece de várias formas práticas
Uma estratégia bem-sucedida é o que poderíamos chamar de manejo “dentro-fora”: dentro dos pomares comerciais, realizam-se pulverizações estratégicas com inseticidas (preferencialmente em rotação de modos de ação) para proteger as brotações novas; enquanto fora dos pomares (em plantas cítricas abandonadas, murta-jasmin ou jardins urbanos), faz-se controle biológico liberando parasitoides (Tamarixia radiata) ou aplicando inseticidas biológicos, reduzindo os focos externos que reinfestam as lavouras.
Essa abordagem integrada é recomendada pela Fundecitrus como parte do manejo regional do greening. Essa ação coordenada maximiza o controle e prolonga a vida útil dos inseticidas disponíveis.
Outra grande vantagem do manejo integrado é a redução do risco de resistência. Alternar métodos e ingredientes ativos com diferentes modos de ação evita que o psilídeo seja exposto continuamente à mesma tática de controle, dificultando o surgimento de populações resistentes.
Por exemplo, um programa que intercala pulverizações químicas com aplicações de fungos entomopatogênicos ou bactérias biocontroladoras submete o inseto a estresses distintos, aumentando a mortalidade geral.
Produtores estão percebendo que o controle biológico pode e deve ser um aliado do controle químico para se alcançar uma citricultura mais produtiva e sustentável. A chegada de novas tecnologias biológicas (mais práticas de usar e com resultados consistentes) também tem facilitado a integração.
O papel das bactérias Pseudomonas (P. chlororaphis e P. fluorescens) no controle do psilídeo
Nos últimos anos, pesquisas inovadoras revelaram que certas bactérias do gênero Pseudomonas podem atuar como bioinseticidas contra pragas agrícolas, incluindo o psilídeo dos citros. As espécies Pseudomonas chlororaphis e Pseudomonas fluorescens, em particular, têm se destacado por suas propriedades benéficas tanto para as plantas quanto para o combate de insetos.
Tradicionalmente conhecidas como bactérias promotoras de crescimento e antagonistas de patógenos do solo, algumas cepas dessas Pseudomonas também apresentam atividade entomopatogênica ou efeitos repelentes contra insetos-praga.
Uma das maneiras pelas quais essas bactérias agem é pela produção de toxinas e metabólitos inseticidas
Estudos mostraram que cepas de Pseudomonas associadas a plantas podem sintetizar compostos proteicos letais a insetos.
Por exemplo, foi identificado o chamado toxina Fit, um complexo proteico produzido por Pseudomonas protegens (grupo próximo a P. fluorescens) que causa septicemia em insetos, levando-os à morte. Esse mesmo tipo de toxina ou análogos podem estar presentes em P. chlororaphis e P. fluorescens, conferindo-lhes atividade inseticida de largo espectro.
Adicionalmente, essas bactérias produzem diversos metabólitos secundários (ácido cianídrico, fenazinas, pirrolnitrinas, entre outros) com propriedades bioativas que podem afetar pragas. Muitos desses compostos têm ação antagônica a fungos e bactérias fitopatogênicas, mas alguns também demonstraram efeitos diretos sobre insetos, seja interrompendo sua alimentação ou causando mortalidade.
Outra frente de atuação importante são os compostos voláteis liberados pelas Pseudomonas
Certas cepas de P. chlororaphis emitem VOCs (compostos orgânicos voláteis) que funcionam como semioquímicos, isto é, sinais químicos que interferem no comportamento de insetos. Esses voláteis podem atuar repelindo pragas das plantas tratadas ou mesmo atraindo inimigos naturais.
Estudos indicam que P. chlororaphis produz misturas de voláteis que afetam o comportamento de insetos sugadores, reduzindo sua atratividade pelas plantas tratadas e, consequentemente, a incidência de alimentação. No caso do psilídeo, essa característica é promissora: plantas colonizadas por tais bactérias poderiam tornar-se menos “palatáveis” ou identificáveis para o inseto, dificultando que ele encontre locais adequados para se alimentar e reproduzir.
Do ponto de vista de aplicação prática, as Pseudomonas atuam por múltiplos modos de ação contra o psilídeo
Quando formuladas como inseticida biológico para o controle de psilídeo e aplicadas na planta, elas podem agir por contato direto no inseto (por exemplo, através de enzimas ou metabólitos que degradem a carapaça ou causem infecção) e também por ingestão.
Ao ingerir a seiva de uma planta tratada, o psilídeo consome toxinas produzidas pelas Pseudomonas que afetam seu sistema digestivo e nervoso, levando-o à paralisação e à morte.
Ou seja, essas bactérias combinam um efeito fisiológico interno no inseto (via toxinas entéricas/neurotoxinas) com um efeito externo (via contato cuticular), tornando difícil para a praga escapar ilesa.
Além de atacar o inseto diretamente, P. fluorescens e P. chlororaphis promovem benefícios à planta hospedeira
Elas podem colonizar as raízes ou folhas, agindo como biofertilizantes e estimulando o sistema imunológico da planta (fenômeno de resistência sistêmica induzida). Uma planta mais vigorosa e “alerta” defende-se melhor da alimentação do psilídeo, seja produzindo mais seiva tóxica ao inseto ou cicatrizando melhor os danos.
Essas bactérias também suprimem patógenos oportunistas que poderiam aproveitar as feridas de sucção do psilídeo, ajudando a manter a sanidade da planta de forma geral.
Em síntese, as Pseudomonas atuam como aliadas multifuncionais no controle do psilídeo: produzem toxinas inseticidas, emitem voláteis repelentes, induzem defesa na planta e competem com microrganismos nocivos. Essa versatilidade as torna especialmente atraentes para uso em inseticidas biológicos de nova geração.
NETURE™: inseticida biológico no controle do psilídeo
Desenvolvido pela Syngenta Biologicals como uma solução inovadora para o controle de psilídeo e outras pragas sugadoras, NETURE™ utiliza uma formulação com duas bactérias benéficas – Pseudomonas chlororaphis e Pseudomonas fluorescens – cuidadosamente selecionadas. Essa composição única confere ao produto múltiplos modos de ação técnicos no combate ao psilídeo dos citros.

Os diferenciais técnicos de NETURE™ começam pelo seu mecanismo de ação tríplice
Primeiro, ele atua por contato direto
Ao ser pulverizado sobre as plantas, as bactérias presentes no produto entram em contato com o psilídeo e liberam enzimas e metabólitos que podem aderir ao corpo do inseto, causando estresse e aumentando a mortalidade.
Em segundo lugar, caso o psilídeo ainda assim se alimente da planta tratada NETURE™ age por ingestão
Ele libera toxinas que afetam o trato digestivo e o sistema nervoso do inseto, levando-o à paralisação e à morte pouco tempo após a alimentação. Essa combinação de ação tópica e sistêmica torna o controle mais robusto – mesmo psilídeos que não foram atingidos diretamente na aplicação acabam sofrendo o efeito ao se alimentarem em folhas tratadas.
Em terceiro lugar, as cepas de Pseudomonas de NETURE™ colonizam temporariamente a superfície foliar
Criam um ambiente inóspito ao inseto (possivelmente por voláteis repelentes ou biofilme que dificulta a oviposição).
Esses múltiplos modos de ação dificultam enormemente o desenvolvimento de resistência da praga ao produto, pois atuam em diferentes alvos fisiológicos do psilídeo.
Outro ponto forte de NETURE™ é sua versatilidade e conveniência de uso
Diferentemente de alguns bioinseticidas de gerações anteriores, esse produto não requer armazenamento refrigerado graças à formulação estável em temperatura ambiente. Isso é um grande atrativo para distribuidores e produtores, pois facilita a logística – o produto pode ficar no depósito da fazenda junto com outros defensivos, sem preocupação especial.
Além disso, NETURE™ foi desenvolvido para ser compatível com os principais inseticidas químicos usados na citricultura. Em testes, ele se mostrou miscível em calda com formulações de inseticidas, reguladores de crescimento e até fungicidas, sem perda de viabilidade das bactérias. Isso significa que o produtor pode aplicar NETURE™ em tanque misto, reduzindo o número de entradas no talhão.
No caso específico do psilídeo dos citros, espera-se que a adoção de NETURE™ traga alívio aos produtores em meio à luta contra o greening
Ao incorporar um modo de ação biológico, NETURE™ contribui para um manejo integrado mais equilibrado e sustentável. Trata-se de mais uma ferramenta inovadora, que deve ser usada junto com as demais práticas recomendadas (inspeção e eliminação de plantas doentes, controle regional coordenado, manejo químico racional, etc.).
Em outras palavras, NETURE™ se apresenta como um reforço estratégico no controle do psilídeo. Seus diferenciais técnicos – múltiplas cepas Pseudomonas, modos de ação múltiplos, compatibilidade em mistura, armazenamento simples – resolvem várias das limitações que antes afastavam produtores dos biológicos. Com ele, o citricultor pode aplicar um produto biológico com a mesma praticidade de um químico, obtendo controle eficiente e contribuindo para a longevidade do manejo de greening.
Assim, ao adotar NETURE™ no contexto do manejo integrado, espera-se que os pomares de citros colham benefícios, como:
- melhor controle do psilídeo;
- menor risco de explosão populacional da praga;
- otimização de custos e manejo mais estratégico e inteligente;
- frutos mais alinhados às exigências de mercados sustentáveis.
A inovação em biológicos finalmente coloca nas mãos do produtor uma arma nova contra o velho inimigo psilídeo – um avanço bem-vindo na constante batalha para proteger nossos pomares e a viabilidade da citricultura brasileira no longo prazo.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
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