A intensificação do conflito no Oriente Médio entre Israel e Irã desencadeou uma crise geopolítica com ramificações globais, atingindo setores estratégicos como o agronegócio. Essa instabilidade reverbera nas cadeias produtivas mundiais, expondo vulnerabilidades econômicas e redefinindo fluxos comerciais. Para o Brasil, nação cujo agronegócio sustenta parte expressiva da economia, os efeitos são imediatos.

A interdependência internacional coloca o país em um cenário delicado: dependemos de insumos vitais produzidos em regiões sob tensão, enquanto mercados consumidores essenciais enfrentam riscos de desestabilização.

Nesse conteúdo, compreenda os impactos da intensificação do conflito no Oriente Médio no agronegócio brasileiro, porque ele pode encarecer alimentos no Brasil e entenda quais são os reflexos para o produtor brasileiro, que se prepara para a próxima safra de soja e safrinha.

O conflito do Oriente Médio e seus impactos no agronegócio brasileiro 

O agravamento do conflito no Oriente Médio entre Israel e Irã  já reflete diretamente no mercado de fertilizantes e na segurança alimentar no Brasil. O nosso país, altamente dependente de importações de fertilizantes, enfrenta riscos imediatos na cadeia produtiva, especialmente na safra 2025/26

A região do Oriente Médio é um polo vital para a produção de fertilizantes nitrogenados, com Irã e Egito como grandes fornecedores, cujas operações já sofrem interrupções geopolíticas. Essa instabilidade gera apreensão generalizada entre produtores rurais, que precisam antecipar decisões de compra em um cenário volátil.

A interdependência global fica evidente quando analisamos o papel do Oriente Médio na oferta de ureia: 25% das exportações mundiais são iranianas e o Brasil importou 19% de seu Nitrogênio do país em 2024. A retirada de ofertas do mercado físico por parte de fornecedores, somada à paralisação da produção egípcia e à redução da produção iraniana, amplifica a escassez. 

Consequentemente, a percepção de risco elevou os preços dos fertilizantes em 9,3% em poucos dias, pressionando o custo de produção agrícola de grãos, como soja e milho, para a safra 2025/26. 

Efeitos inflacionários em cadeia sobre alimentos

A elevação dos preços dos fertilizantes e dos custos logísticos devido ao conflito entre Israel e Irã desencadeia um efeito dominó na economia brasileira. Produtos, como carne, óleo de soja e trigo, já sinalizam alta nos mercados futuros, replicando padrões observados durante a guerra na Ucrânia. 

A transmissão de custos ocorre em múltiplos elos. Fertilizantes mais caros elevam custos de produção de culturas, como a soja e o milho, bases da ração animal, impactando avicultura e suinocultura.

O Brasil, embora resiliente, não está imune: 30% do frango exportado tem como destino o Oriente Médio e instabilidades geopolíticas na região afetam receitas de produtores e preços aos consumidores finais.

Pressão sobre custos de produção e logística

A escalada do conflito no Oriente Médio elevou o preço do petróleo em mais de 7% nos últimos dias, impactando diretamente os custos operacionais do agro. Derivados, como óleo diesel, encarecem o frete rodoviário, crucial para escoamento de grãos, enquanto navios enfrentam riscos de desvios de rotas, como o Estreito de Ormuz. 

Tal desvio é muito relevante do ponto de vista logístico, já que 20% do petróleo mundial transita pelo Estreito de Ormuz, rota ameaçada por possíveis retaliações iranianas. Bloqueios ou desvios forçados, como o Cabo da Boa Esperança, elevam fretes e seguros, encarecendo não apenas fertilizantes, mas também o escoamento da produção agrícola para mercados vitais. 

Os preços dos fertilizantes são outro fator impactado. Segundo a ANDA, entre janeiro e dezembro de 2024, o Brasil importou 41,34 milhões de toneladas de fertilizantes e produziu apenas 7,21 milhões de toneladas, ou seja, mais de 85% dos fertilizantes foram importados.

Nota de dólar sobre fertilizantes.
O Brasil depende de importações de fertilizantes para abastecer o mercado interno e é muito afetado por tensões geopolíticas, como o conflito do Oriente Médio.

Os fertilizantes nitrogenados, especialmente a ureia, lideram as altas: o valor da tonelada importada saltou de US$ 398 para US$ 435 em uma semana. O aumento é atribuído à retração de fornecedores do mercado físico, à redução da produção do Irã e à interrupção da produção no Egito, que depende do gás israelense para fabricar fertilizantes. 

Para o produtor rural, isso significa:

  • a antecipação compulsória de compras para garantir insumos da safra 2025/26;
  • margens reduzidas pelo encarecimento de operações de plantio e colheita;
  • exposição à volatilidade cambial, com dólar influenciando custos de importação.

Riscos às exportações para mercados estratégicos

O conflito no Oriente Médio também coloca em xeque as relações comerciais do Brasil com potências regionais, especialmente o Irã. 

O Irã é o terceiro maior comprador de milho brasileiro, além de ser destino de proteínas animais. Uma escalada bélica ou bloqueios logísticos no Golfo Pérsico podem interromper fluxos estabelecidos, gerando perdas bilionárias e realocação forçada de mercadorias. 

O risco não se limita ao Irã: países, como Egito e Arábia Saudita, dependentes de alimentos brasileiros, podem enfrentar desabastecimento, elevando tensões globais. Para o agro nacional, as implicações incluem:

  • perda de mercados consolidados em meio à instabilidade diplomática;
  • aumento de custos do frete marítimo por necessidade de rotas alternativas;
  • pressão sobre preços domésticos, caso as exportações sejam redirecionadas.

Além disso, sanções internacionais e boicotes por motivos geopolíticos são ameaças tangíveis. Em 2023, tensões similares levaram à renegociação de contratos sob pressão, e o cenário atual repete esse padrão. 

Diante desse cenário, fica evidente que o conflito no Oriente Médio transcende fronteiras geográficas e reflete no agro brasileiro. A combinação de gargalos logísticos, volatilidade nos preços dos fertilizantes e vulnerabilidades comerciais exige uma resposta estratégica para equilibrar custos crescentes e manter produtividade e competitividade no mercado.

Reflexos do conflito Israel-Irã exigem análises de potenciais riscos e oportunidades para a próxima safra 

O conflito no Oriente Médio impõe desafios estratégicos imediatos para a safra 2025/26. Com o preço dos fertilizantes em ascensão e gargalos logísticos críticos, os produtores brasileiros enfrentam, mais uma vez, um cenário de pressão sobre os custos.

Contudo, crises globais também abrem janelas de oportunidade. A valorização das commodities agrícolas em mercados futuros ,impulsionada pela alta do petróleo e por rupturas em cadeias concorrentes, oferece margens atrativas para produtores. Culturas, como soja e milho, essenciais para biocombustíveis e ração animal, também tendem a se beneficiar da demanda por alternativas energéticas. 

Além disso, a possível realocação de exportações brasileiras para mercados menos expostos ao conflito, como a Ásia e a Europa, pode mitigar os impactos do conflito no Oriente Médio. Portanto, cabe ao produtor brasileiro julgar os potenciais riscos e se preparar para oportunidades futuras.

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