Os inseticidas piretroides desempenham um papel fundamental na agricultura brasileira, sendo amplamente utilizados no controle de pragas que ameaçam a produtividade de diversas culturas. Sua introdução e popularização no Brasil ocorreram a partir da década de 1970, quando a demanda por soluções eficazes no manejo de pragas aumentou significativamente.

No cenário nacional, os piretroides são reconhecidos por sua adaptabilidade às condições tropicais, que favorecem o surgimento de pragas agrícolas ao longo de todo o ano. Essa característica de adaptabilidade os posiciona como uma ferramenta indispensável em sistemas de produção que abrangem desde culturas de grãos, como soja e milho, até frutas e hortaliças. 

Combinando eficiência, segurança no manuseio e compatibilidade com outras práticas de manejo, os piretroides são elementos-chave no portfólio de soluções fitossanitárias disponíveis no mercado. 

Este artigo detalha as principais características desse grupo químico, seu modo de ação, os princípios ativos mais utilizados, cuidados na aplicação e sua relevância no Manejo Integrado de Pragas.

Características dos inseticidas piretroides

Os inseticidas piretroides possuem um amplo espectro de ação, sendo eficazes contra uma grande variedade de insetos, incluindo lagartas, percevejos e outras pragas sugadoras. Além disso, a versatilidade dos piretroides é especialmente útil em cenários em que diversas pragas coexistem, sendo possível, em alguns casos, reduzir a necessidade de múltiplas aplicações com diferentes produtos.

Os inseticidas piretroides são classificados como produtos de contato porque sua ação está limitada ao controle direto dos insetos, sem qualquer interação com os processos fisiológicos das plantas. Diferentemente de produtos sistêmicos, que são absorvidos e translocados pelos tecidos vegetais, os piretroides permanecem na superfície das plantas.

Seu mecanismo de ação pode ocorrer por contato e ingestão. O contato pode ocorrer de duas formas principais: 

  • dorsal, que acontece quando o produto atinge diretamente o corpo do inseto durante a aplicação, 
  • tarsal, mais comum, que ocorre quando o inseticida é depositado nas plantas e o inseto entra em contato com o produto ao caminhar sobre as superfícies tratadas.

Já o mecanismo de ação por ingestão significa que os insetos entram em contato direto com o produto quando ingerem as folhas ou outras partes da planta tratada. Esse modo de ação em dois momentos aumenta a eficiência do controle, especialmente em situações de alta infestação.

Os piretroides são compostos por substâncias sintéticas que replicam as piretrinas naturais, um grupo de compostos extraídos de flores. Essas substâncias sintéticas são projetadas para serem mais estáveis à luz solar, o que as torna mais duradouras em campo em comparação com suas contrapartes naturais. Além disso, possuem baixa toxicidade para mamíferos, permitindo maior segurança no manejo.

Modo de ação dos piretroides

O modo de ação dos inseticidas piretroides é focado no sistema nervoso dos insetos, atuando especificamente nos canais de sódio localizados nos axônios dos neurônios. Essas estruturas são fundamentais para a condução dos impulsos nervosos, e a interferência promovida pelos piretroides resulta em uma desregulação dos sinais elétricos.

Ao se ligarem aos canais de sódio, os piretroides causam sua abertura prolongada, o que leva a uma excitação contínua das células nervosas. Essa superexcitação resulta em paralisia, perda de coordenação e, eventualmente, na morte do inseto. A especificidade desse mecanismo faz com que os piretroides sejam extremamente eficazes no controle de insetos.

Outra vantagem desse modo de ação é a rápida atuação dos produtos, que proporciona um controle quase imediato após a aplicação. Isso é especialmente útil em situações críticas, em que há necessidade de respostas rápidas para evitar perdas significativas na lavoura.

E para auxiliar no controle de pragas a campo, existem diversos princípios ativos e produtos comerciais disponíveis hoje no mercado.

Princípios ativos mais utilizados

Entre os princípios ativos do grupo dos piretroides, alguns se destacam pela sua eficácia e popularidade no mercado. Entre os mais conhecidos, estão:

  • lambda-cialotrina: amplamente usada em culturas como soja, milho e algodão, é reconhecida por seu alto poder residual e eficiência em baixas doses.
  • cipermetrina: um dos piretroides mais antigos e ainda amplamente utilizado, com boa ação de choque contra diversas pragas agrícolas.
  • deltametrina: possui elevada potência e é frequentemente empregada no manejo de percevejos e lagartas em culturas de grãos.
  • bifentrina: destacada por sua ação prolongada, especialmente contra pragas de difícil controle, como ácaros.

Outras moléculas que também pertencem aos piretroides são: fenpropatrina, alfametrina, permetrina, ciflutrina e fenvalerato. 

Esses princípios ativos são frequentemente formulados em produtos específicos ou combinações para maximizar sua eficácia e prolongar o efeito residual em diferentes condições ambientais. E para se alcançar um controle satisfatório é de extrema relevância estar atento a alguns fatores no momento da utilização.

Cuidados na aplicação de inseticidas piretroides

Embora os inseticidas piretroides sejam reconhecidos por sua baixa toxicidade para mamífero, a aplicação adequada desses produtos requer atenção a diversos fatores para alcançar a eficácia no controle de pragas e a segurança no campo.

  • Recomendações técnicas

Um dos passos mais importantes é seguir rigorosamente as orientações técnicas presentes na bula do produto. A bula contém informações detalhadas sobre a dosagem correta, o momento ideal de aplicação, as culturas autorizadas, o intervalo de segurança e as restrições específicas. 

Além disso, respeitar o período de carência indicado na bula é fundamental para permitir que os resíduos do produto estejam abaixo dos limites permitidos nos alimentos. Essa prática assegura a qualidade e a segurança dos produtos agrícolas, beneficiando tanto o produtor quanto o consumidor final.

Ignorar essas recomendações pode comprometer a eficiência do controle e aumentar os custos operacionais.

  • Equipamentos calibrados

Além disso, a calibração dos equipamentos de pulverização é essencial. Os agricultores devem ajustar a pressão, selecionar bicos adequados e verificar a uniformidade da distribuição do produto nas plantas. 

Uma aplicação irregular pode resultar em áreas subtratadas, favorecendo a sobrevivência de pragas e aumentando o risco de seleção de organismos resistentes.

  • Condições climáticas

Esse fator também desempenha um papel crucial. Aplicações em horários de alta radiação solar e temperaturas elevadas podem reduzir a eficácia dos piretroides. 

Além disso, o vento pode causar deriva, levando o produto para áreas não-alvo, enquanto uma umidade relativa muito baixa pode prejudicar a adesão do produto à superfície tratada. O ideal é realizar as pulverizações em períodos de temperatura amena e umidade adequada, como no início da manhã ou no final da tarde.

  • Aplicação segura

Outro aspecto essencial é o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) pelos aplicadores, como luvas, macacões impermeáveis, máscaras e botas, conforme especificado na bula. Esses cuidados protegem os trabalhadores durante o manuseio e a aplicação, prevenindo a exposição a concentrações elevadas do produto.

Ao seguir todas as recomendações técnicas e boas práticas agrícolas, os inseticidas piretroides podem ser utilizados de forma eficiente e segura, sendo mais uma importante ferramenta no controle de pragas.

Inseticidas piretroides no Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O uso dos inseticidas piretroides como parte do MIP é uma estratégia recomendada para aumentar a sustentabilidade no campo e reduzir a pressão seletiva sobre as populações de pragas. No MIP, os piretroides são utilizados de forma integrada com outras ferramentas, como controle biológico, práticas culturais e uso de variedades resistentes.

Uma das principais vantagens dos piretroides no MIP é sua ação rápida e eficiente, que pode ser usada em momentos de alta infestação para evitar perdas econômicas severas. No entanto, para evitar a seleção de pragas resistentes, é essencial rotacionar os piretroides com outros produtos de diferentes modos de ação, conforme preconizado pelos programas de manejo de resistência.

Os piretroides também podem ser utilizados em associação com controles biológicos, desde que sejam respeitados os intervalos necessários para proteger inimigos naturais. Essa integração potencializa o controle de pragas e mantém a eficácia das estratégias de manejo.