Atualizado em 23/05/2024.

A safra de soja 2023/24 no Brasil foi marcada pelas adversidades climáticas, que causaram efeitos diversos e significativos nas regiões produtoras, acarretando inúmeros desafios, do plantio à colheita.

No início do ciclo, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimava uma produção superior a 160 milhões de toneladas em uma área de 45,3 milhões de hectares, com uma produtividade média de 3505 kg/ha. Entretanto, com o decorrer da safra e a observação dos problemas enfrentados, os prejuízos ficaram evidentes e as projeções precisaram ser revistas.

Agora, com 95,6% da área colhida, a safra de soja 2023/24 encaminha-se para o fim e os resultados podem finalmente ser visualizados. Houve mesmo uma quebra da produção? Tivemos a pior safra dos últimos tempos? Vamos analisar, juntos, ao decorrer desse artigo.

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Resultados da safra de soja 2023/24

De acordo com o 8º Levantamento da Safra 2023/24 da Conab, a área cultivada com soja no Brasil na safra 2023/24 alcançou 45.733,2 mil hectares, o que representa um aumento de 3,8% em relação à safra passada, impulsionado por novas áreas de cultivo na região do Matopiba e também nos Estados de GO, PA, MT e RS.

No entanto, a média de produtividade da safra brasileira de soja 2023/24 ficou em 3.229 kg/ha, 7,9% inferior ao registrado na safra anterior. O volume total de produção no momento registra uma queda de 4,5% em comparação à safra passada, com a produção de 147.684,8 mil toneladas.

Diante desse volume de produção, pode-se falar em quebra da safra de soja? É um fato que, levando em consideração a produção recorde da safra 2022/23, quando atingimos mais de 154,6 milhões de toneladas produzidas do grão, a expectativa era alcançar um montante ainda maior.

Porém, ao observar a evolução da série histórica na tabela abaixo, nota-se que o volume atingido na safra atual representa a segunda maior quantidade de soja produzida em uma safra no Brasil.

Já, quando analisamos a produtividade obtida nesse ciclo, os resultados realmente mostram uma quebra no padrão das últimas safras, rompendo um ritmo que vinha sendo observado desde a safra 2016/17 – com exceção de 2021/22, quando houve influência de uma forte estiagem nos principais Estados produtores.

Assim, fica evidente que foi o aumento na área cultivada com soja – impulsionado pelo otimismo diante dos resultados da safra passada – que sustentou o volume de produção obtido na safra 2023/24. Dessa maneira, diante das dificuldades enfrentadas nessa safra, é natural supor que esse movimento não se repita na safra 2024/25, podendo haver até uma retração da área cultivada com a cultura.

Com esse cenário em mente, é fundamental analisar mais detalhadamente quais foram os detratores da produtividade e, assim, considerá-los nas ações de planejamento do próximo ciclo de cultivo, visando a retomada da curva de crescimento de produção de soja no Brasil.

Panorama da safra de soja 2023/24 por Estado

O panorama da safra de soja 2023/24 em cada Estado brasileiro reflete uma combinação de desafios climáticos, problemas fitossanitários e variações significativas na produtividade e na produção.

Mato Grosso

No Mato Grosso, a safra de soja enfrentou desafios iniciais com falta de umidade, levando a morte de plantas e necessidade de replantio. Posteriormente, chuvas excessivas causaram problemas como ferrugem-asiática, podridão de vagens e grãos (anomalia da soja) e ataques de mosca-branca, reduzindo a produtividade.

A colheita foi atrasada também devido a chuvas, especialmente no sudoeste, nordeste e médio norte do Estado. A produtividade média foi de 3.156 kg/ha com uma produção total de 38,4 milhões de toneladas, uma queda significativa em relação à safra anterior, que teve produtividade de 3.773 kg/ha e produção de 45,6 milhões de toneladas.

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, as lavouras de soja estavam bem desenvolvidas, apesar das chuvas em dezembro e janeiro. No entanto, o Estado enfrentou, no final de abril e início de maio – e ainda vem enfrentando – adversidades meteorológicas expressivas.

Com 75% da área total colhida, as regiões nordeste e noroeste do Estado estavam mais adiantadas, com mais de 80% colhidas, enquanto a Campanha e a Zona Sul estavam mais atrasadas, com menos de 50% colhidas.

A produtividade até então era boa, mas as regiões de expansão tinham potencial menor e foram mais impactadas pelas chuvas extremas de abril e maio. Além disso, houve perdas dos grãos já colhidos e armazenados em áreas afetadas pelas chuvas e inundações.

A produtividade de soja no Rio Grande do Sul foi revisada para 3.168 kg/ha, dentro do esperado, mas pode variar se as condições climáticas adversas continuarem. Sem a catástrofe climática, a produção nacional estimada pela Conab seria acima de 148,4 milhões de toneladas.

Paraná

O Paraná registrou uma queda significativa na produtividade. Com uma média de 3.170 kg/ha, houve uma redução de 17,9% em relação à última safra. A falta de umidade no solo e as altas temperaturas durante as fases reprodutivas foram as principais causas.

Além disso, a região enfrentou problemas com a ferrugem-asiática, especialmente nas áreas de plantio mais tardio. 

Santa Catarina

Em Santa Catarina, as condições climáticas de outubro e novembro, com precipitações elevadas, atrasaram a semeadura e afetaram o estande de plantas, mas a produtividade média foi estimada em 3.780 kg/ha. O controle de doenças, como a ferrugem-asiática, foi crucial.

Goiás

Assim como o Mato Grosso, Goiás enfrentou problemas com a estiagem durante o cultivo da soja. Já no final do ciclo, o excesso de chuvas prejudicou a qualidade dos grãos, afetados também pela incidência de pragas e doenças de final de ciclo.

A produtividade sofreu em algumas localidades, atingindo 3480 kg/ha, frente aos 3900 kg/ha obtidos na safra passada. 

Mato Grosso do Sul

Cultivos tardios no sudoeste e no leste do Mato Grosso do Sul enfrentaram perda de peso nos grãos por falta de água, enquanto o centro-norte teve qualidade reduzida por umidade e grãos ardidos, levando a descontos de até 50%.

A situação foi agravada por um ataque intenso de percevejos, resultando em uma nova diminuição na estimativa de produtividade da soja no Estado.

Minas Gerais

A produtividade variou conforme a época de plantio, com problemas de estiagem e altas temperaturas afetando as primeiras áreas colhidas.

A infestação de mosca-branca e a ocorrência de doenças, como a ferrugem, reduziram ainda mais a produtividade média. A produção total foi 6,7% menor que a safra anterior.

São Paulo

O Estado teve uma safra desafiadora, com a produtividade média de 2.800 kg/ha, 26% inferior à safra anterior.

Precipitações irregulares e altas temperaturas impactaram negativamente o desenvolvimento das plantas em todo o Estado. A colheita foi finalizada, marcada por perdas generalizadas.

Distrito Federal

O DF foi uma das poucas localidades que registraram aumento na produção, mas, ainda assim, com uma ligeira queda na produtividade.

A colheita foi concluída com um aumento de 3% na área cultivada, refletindo uma transição de áreas anteriormente ocupadas por milho para a soja.

Matopiba

No Maranhão, apesar das dificuldades iniciais de plantio devido a déficit hídrico, com replantio de diversas áreas e atraso na implantação das lavouras, o Estado registrou produtividades satisfatórias, com a colheita realizada em 75% da área total no último levantamento da Conab. Houve relatos de ocorrências de grãos ardidos e danificados, em razão das chuvas no período. A expansão da área em 16,8% reflete a substituição de áreas de milho pela soja.

Tocantins enfrentou uma redução de produtividade devido a condições climáticas adversas e pressão por mosca-branca. 

O Piauí confirmou um aumento significativo de área, mantendo boas produtividades devido às condições climáticas favoráveis em quase todo o ciclo da cultura. 

Na Bahia, o plantio fora da janela ideal, em virtude do atraso das chuvas e os problemas de falha na germinação durante dezembro, levaram à redução na produtividade em relação à safra passada.

Pará e Rondônia

No Pará, a área plantada de soja cresceu 16% em relação à safra anterior, com a produtividade aumentando 6,7%. As precipitações frequentes dificultaram a colheita e a armazenagem devido à umidade dos grãos.

Em Rondônia, as áreas implantadas na região sul foram favorecidas pelas chuvas, enquanto o centro/norte enfrentou atrasos no calendário agrícola devido ao início esporádico das chuvas.

Amazonas e Acre

Amazonas e Acre enfrentaram desafios iniciais com uma severa estiagem, mas a regularização das chuvas permitiu a recuperação e o avanço significativo nas áreas plantadas.

A safra de soja 2023/24 no Brasil evidencia a resiliência dos produtores e a complexidade do manejo agrícola frente às adversidades climáticas e fitossanitárias.

Os desafios enfrentados, assim como as reduções na produtividade, destacam a importância de estratégias adaptativas para superar estiagens, chuvas excessivas, doenças e pragas; e reforça a necessidade de um manejo eficiente e de inovações tecnológicas que possam mitigar os impactos de um clima cada vez mais imprevisível. 

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