O setor agrícola brasileiro recentemente enfrentou severas adversidades decorrentes de um intenso El Niño, que manifestou-se na forma de altíssimas temperaturas em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, impondo desafios significativos e afetando diretamente a produtividade.

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Atualmente, ainda sob a influência desse fenômeno, o setor busca estratégias para mitigar os impactos residuais, adaptando-se às variações climáticas ainda presentes. Diante desse contexto, previsões indicam a transição para o La Niña neste ano, o que poderá alterar novamente o cenário climático, gerando um novo espectro de condições meteorológicas.

Com isso em vista, entrevistamos para este artigo o Agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, que explicou de forma detalhada os impactos do El Niño e do La Niña na agricultura brasileira, visando esclarecer as implicações desses fenômenos e delinear estratégias de adaptação e manejo eficazes para enfrentar tais desafios climáticos. Confira!

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O que são os fenômenos El Niño e La Niña e como eles ocorrem?

Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o El Niño e o La Niña são partes de um fenômeno atmosférico-oceânico de macroescala que ocorre no Oceano Pacífico Equatorial – e na atmosfera adjacente – denominado ENOS.

A fase El Niño refere-se às situações nas quais o oceano Pacífico Equatorial está mais quente do que a média histórica, e a fase La Niña refere-se a situação oposta, ou seja, quando o oceano Pacífico Equatorial está mais frio do que a média histórica.

Essas mudanças na temperatura do Oceano Pacífico Equatorial acarretam efeitos globais:

  • nos padrões de circulação atmosférica;
  • no transporte de umidade;
  • na temperatura;
  • e na precipitação.

Marco Antonio dos Santos, Agrometeorologista da Rural Clima, explica como se dá a influência desses fenômenos nos aspectos citados acima:

Como pontuado por Marco Antônio, o El Niño e o La Niña influenciam o clima de formas distintas nas diferentes regiões do Brasil, conforme pode ser conferido no infográfico abaixo:

Influências do El Niño e da La Niña nas diferentes regiões do Brasil

No início da safra 2023/24, agricultores observaram apreensivos os efeitos do El Niño, que desencadearam atrasos no plantio, falhas no estande e prejudicaram o pleno desenvolvimento das plantas, afetando seriamente a produtividade em alguns casos.

O setor de grãos, por exemplo, sofreu com quedas de produção e produtividade. De acordo com 6º Levantamento de Safra da Conab, divulgado em março, as lavouras de soja apresentaram redução de 7,3% na produtividade e 5% na produção na safra 2023/24 em comparação com a safra anterior. O cultivo de milho também sentiu os impactos do fenômeno: queda de 6,5% na produtividade e 14,5% na produção.

Com relação ao setor hortifrúti, os efeitos do El Niño possibilitaram um clima muito favorável para a produção de frutas do Nordeste. Já no Sul, o excesso de chuvas prejudicou a produção e a qualidade de frutas e hortaliças. O Sudeste também teve a produção de HF afetada, mas devido às temperaturas bem acima da média histórica. Marco Antonio também comentou sobre esses impactos:

Mas atenção: o fenômeno ainda não acabou, e é preciso saber o que esperar do clima nos próximos meses. Marco Antonio compartilha as previsões:

La Niña 2024: quais as previsões?

A transição do fenômeno El Niño para um estado de neutralidade climática no Pacífico é prevista para ocorrer entre abril e junho, com uma probabilidade de 79%, conforme indicações da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA). Em seguida, existe uma chance de 55% de que o fenômeno La Niña se estabeleça entre junho e agosto.

Esse cenário sugere uma alteração significativa nos padrões climáticos, potencialmente moderando as temperaturas elevadas experimentadas durante o El Niño e influenciando os padrões de precipitação em várias regiões do Brasil. A ocorrência do La Niña pode levar a um aumento das chuvas no Norte e no Nordeste, enquanto o Sul pode enfrentar secas.

Embora o La Niña tenda a modificar as condições climáticas, especialistas ressaltam que seus efeitos geralmente não são imediatos ou extremamente intensos no primeiro ano. Portanto, a expectativa é de uma mudança gradual no clima no segundo semestre de 2024, com potenciais impactos na agricultura e nas temperaturas em diversas partes do país. Marco Antonio explica melhor sobre o assunto:

Como mitigar os impactos desses fenômenos?

Como vimos, o El Niño e o La Niña mexem com o clima global e impactam diretamente os cultivos agrícolas, seja pelas altas temperaturas ou pelas alterações no regime de chuvas.

Diante desse cenário, o produtor precisa ser resiliente e fazer o que estiver ao seu alcance para mitigar esses efeitos adversos, visando conservar ao máximo o potencial produtivo de sua lavoura.

Sendo assim, perguntamos ao especialista quais atitudes agricultores podem tomar para proteger seus cultivos:

Por fim, Marco Antonio deixa um conselho a respeito do consumo de informações sobre previsões climáticas:

Buscar informações de pessoas realmente sérias. Porque, hoje, somos bombardeados diariamente com milhões de informações, umas mais pessimistas, outras mais otimistas, outras até sensacionalistas, então procure primeiro: quem passou essa informação? Segundo: qual a base de dados que ele teve para dar essa informação? Muita gente toma decisões baseadas no que lê, então, primeiro, toda informação que chegar: cheque elas, veja quem falou, veja qual a confiabilidade daquela informação, como ele chegou naquela informação, se realmente tem um embasamento científico, tem fatos verídicos, se a pessoa tem credibilidade… Se cerque de pessoas, de canais de informação que realmente tenham credibilidade, que tenham realmente esse comprometimento com passar informação fidedigna, com qualidade e realmente embasamento.”

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