Quem acompanha o setor sucroenergético sabe que os desafios nunca param. Depois de recordes históricos de produtividade, a última safra trouxe uma nova preocupação para produtores e usinas: a Síndrome da Murcha da Cana

Essa doença, que também é conhecida como Síndrome do Murchamento da Cana ou Síndrome da Murcha do Colmo, tem se espalhado por diversas regiões do país, causando perdas significativas na produtividade e na qualidade da matéria-prima.

A Síndrome da Murcha da Cana é uma doença complexa, causada principalmente por três fungos: Colletotrichum falcatum, Pleocyta sacchari e Fusarium spp. Embora esses patógenos já sejam conhecidos na cultura da cana, sua atuação em conjunto tem causado sintomas mais severos, levando a perdas de até 45% na produtividade em algumas regiões.

A doença afeta diretamente o desenvolvimento das plantas, reduzindo o ATR (Açúcar Teórico Recuperável) e alterando o índice de Brix, que mede a pureza do caldo da cana e o teor de sacarose. Além disso, a Síndrome da Murcha da Cana tem impactado a longevidade dos canaviais, comprometendo a rentabilidade dos produtores.

No primeiro artigo desta série, exploramos o cenário atual da doença, os principais patógenos envolvidos e os impactos que ela tem causado nas lavouras. Agora, vamos aprofundar o assunto e listar 8 sintomas que podem indicar a presença da Síndrome da Murcha da Cana na sua lavoura

Se você perdeu o primeiro artigo que publicamos sobre essa ameaça emergente, vale conferir: “Síndrome da Murcha da Cana: o que está acontecendo, afinal?”.

1. Murchamento e desidratação dos colmos

Um dos primeiros e mais evidentes sintomas da Síndrome da Murcha da Cana é o murchamento dos colmos. 

Esse sintoma ocorre porque os fungos causadores da doença, como Pleocyta sacchari, Colletotrichum falcatum e Fusarium spp, atacam os tecidos internos da planta, comprometendo sua capacidade de transportar água e nutrientes. 

Com o avanço da infecção, os colmos começam a perder água, ficando secos e murchos, o que afeta diretamente o desenvolvimento da planta.

Esse murchamento pode ser observado em plantas isoladas ou em talhões inteiros, dependendo da severidade da infecção e da disseminação dos fungos na lavoura. Em estágios iniciais, o murchamento pode ser mais discreto, mas, à medida que a doença progride, os colmos ficam visivelmente secos e sem vitalidade. 

Em casos mais graves, a planta pode até morrer, resultando em perdas significativas de produtividade.

2. Descoloração interna e externa dos colmos

A descoloração é um dos sintomas mais característicos da Síndrome da Murcha da Cana e pode ser observada tanto na parte externa quanto interna do colmo.

A presença do fungo Pleocyta sacchari provoca uma coloração marrom-glacê na parte interna do colmo, acompanhada de um cheiro característico de fermentação. Já externamente, a casca pode apresentar perda da cera natural, ficando mais opaca e escurecida.

Quando a infecção está relacionada ao Colletotrichum falcatum, o sintoma mais evidente é a presença de bandas brancas que contrastam com a coloração avermelhada do interior do colmo. Esse padrão de descoloração indica que o fungo está degradando os tecidos internos, comprometendo a circulação de seiva e acelerando o processo de deterioração da planta.

O escurecimento externo e a alteração da coloração interna são sinais importantes para diferenciar a Síndrome da Murcha da Cana de outros problemas fitossanitários ou estresses ambientais. A observação desses sintomas é essencial para um diagnóstico mais preciso e para a adoção de medidas adequadas de manejo.

3. Avermelhamento dos entrenós

Outro sintoma marcante da doença é o avermelhamento dos entrenós, que se torna mais evidente à medida que a infecção avança.

Esse sintoma ocorre porque os fungos atacam os tecidos vasculares da planta, causando necrose e acúmulo de compostos fenólicos, o que leva à alteração da coloração interna do colmo. Esse avermelhamento pode variar de tons mais claros a mais intensos, dependendo da severidade da infecção e do estágio da doença.

Nos estágios iniciais, o sintoma pode ser discreto e localizado, mas, conforme a infecção progride, os entrenós vão ficando cada vez mais comprometidos, indicando que a planta está perdendo sua capacidade de transporte eficiente de água e nutrientes.

Esse fenômeno também pode ser acompanhado de diminuição da resistência mecânica do colmo, aumentando o risco de tombamento e quebra das plantas afetadas, o que reduz ainda mais a produtividade da lavoura.

4. Formação de cavidades ao longo do colmo

Um sintoma preocupante da Síndrome da Murcha da Cana é a formação de cavidades internas ao longo do colmo.

Essa característica ocorre porque os fungos degradam os tecidos internos da planta, levando à perda de integridade estrutural do colmo. Com a progressão da doença, o tecido se rompe e espaços vazios se formam, dificultando ainda mais o transporte de água e nutrientes.

A presença dessas cavidades pode ser identificada ao cortar o colmo longitudinalmente. Em casos avançados, a planta pode até aparentar estar saudável por fora, mas seu interior estará altamente comprometido, tornando-se frágil e mais suscetível a quebras.

Além disso, a presença de cavidades pode favorecer o desenvolvimento de outros patógenos oportunistas, agravando ainda mais a sanidade da lavoura.

5. Estruturas escuras na casca (cirros)

Em infecções mais avançadas, podem ser observadas estruturas escuras globosas na casca do colmo, conhecidas como cirros.

Os cirros são uma ferramenta de reprodução dos fungos, onde ficam armazenados seus esporos. Essas estruturas se parecem com pequenos espinhos escuros na casca.

A presença dessas estruturas indica que o fungo já completou parte de seu ciclo de vida, espalhando esporos para novas infecções na lavoura. Esse é um sinal de alerta para que os produtores redobrem a atenção ao monitoramento da doença e evitem a sua disseminação.

6. Cheiro característico de fermentação

Um outro sintoma que pode ser um grande indicativo da doença é o cheiro característico de fermentação que emana dos colmos afetados.

Esse odor é resultado do processo de degradação dos tecidos internos da planta, causado principalmente pelo fungo Pleocyta sacchari. Conforme a doença avança, os tecidos do colmo sofrem fermentação anaeróbica, liberando compostos voláteis que geram esse cheiro marcante.

7. Redução do ATR e alteração do índice de Brix

Além dos sintomas físicos visíveis, a Síndrome da Murcha da Cana afeta diretamente a qualidade da matéria-prima colhida, impactando dois indicadores fundamentais:

  • ATR (Açúcar Total Recuperável) → com a infecção dos colmos, a planta perde sua capacidade de armazenar sacarose de forma eficiente, reduzindo o potencial de extração de açúcar na indústria.
  • Índice de Brix → a infecção altera a composição dos açúcares presentes na cana, resultando em um caldo menos puro e com menor eficiência na cristalização do açúcar.

Essas alterações comprometem a rentabilidade dos produtores e das usinas, uma vez que o mix de produção pode ser afetado, forçando um maior direcionamento da matéria-prima para etanol em vez de açúcar.

O monitoramento contínuo desses indicadores pode ser uma ferramenta útil para identificar os impactos da doença e tomar decisões estratégicas sobre a colheita.

8. Perda de produtividade

O impacto final e mais preocupante da Síndrome da Murcha da Cana é a redução drástica na produtividade.

Com a progressão da doença, a lavoura pode sofrer perdas de até 45%, dependendo do nível de infestação e das condições ambientais. Essa queda no rendimento ocorre porque:

  • Os colmos afetados perdem peso, reduzindo o volume de biomassa colhida por hectare.
  • O comprometimento no transporte de nutrientes e água enfraquece a planta, diminuindo seu desenvolvimento.
  • A redução da qualidade do caldo impacta o aproveitamento industrial, prejudicando a extração de açúcar e a rentabilidade da safra.

A combinação de todos esses fatores coloca a Síndrome da Murcha da Cana como uma das ameaças emergentes mais severas para a cultura da cana, exigindo atenção redobrada no monitoramento e na adoção de práticas preventivas.

O que fazer se identificar esses sintomas?

Caso você tenha identificado um ou mais desses sintomas no seu canavial, o ideal é buscar um diagnóstico preciso com especialistas. Técnicas laboratoriais e avaliações em campo podem confirmar a presença da síndrome e orientar as melhores estratégias de manejo.

Além disso, monitorar constantemente a lavoura e adotar boas práticas agrícolas são medidas essenciais para minimizar os impactos da doença. O cenário ainda está em construção e quanto mais informações tivermos, mais rápido o setor poderá reagir.

Se quiser saber mais sobre o avanço da Síndrome da Murcha da Cana e entender como os produtores estão lidando com esse desafio, continue acompanhando nossos conteúdos no Mais Agro. Em breve, traremos mais informações sobre os impactos dessa doença na última safra e as perspectivas para o futuro.

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