O greening, também conhecido como Huanglongbing (HBL) ou amarelão do citrus, é uma das principais doenças que ocorrem na citricultura brasileira e mundial. Uma vez que a doença esteja presente nos pomares, o controle é baseado principalmente na erradicação das plantas doentes e no controle do inseto-vetor.
A doença é causada pela bactéria altamente destrutiva do gênero Candidatus Liberibacter, que possui diferentes formas:
- Candidatus Liberibacter asiaticus (Forma Asiática);
- Candidatus Liberibacter americanus (Forma Americana);
- Candidatus Liberibacter africanus (Forma Africana).
No Brasil, há predominância da forma asiática (Candidatus Liberibacter asiaticus).
A doença já foi responsável pela erradicação de milhões de plantas de citrus no Brasil. Em 2021 foram eliminadas, por greening, mais de 6,4 milhões de plantas, e só em 2022, foram mais de 48,68 milhões de árvores afetadas com sintomas, atuando como fonte de inóculo para novas transmissões, agravando o problema em diversas regiões produtoras de laranja.
Psilídeo-dos-citrus, o vetor do greening
O psilídeo vetor, conhecido como psilídeo-dos-citrus (Diaphorina citri), é fator chave na disseminação da doença, sendo necessário controle rigoroso do inseto.
Tanto adultos quanto ninfas podem ser infectados pela bactéria durante a sua alimentação, podendo o inseto permanecer infectivo durante toda a vida. A bactéria se multiplica no hospedeiro (inseto), e permanece associada a sua saliva que, no momento de alimentação nas plantas, acaba sendo inoculada no hospedeiro. O inseto leva até duas semanas, após a sua contaminação, para que possa transmitir a doença e é restrito a plantas da família das Rutaceas.
Ninfas de D. citri, psilídeo vetor do greening, doença altamente destrutiva ao citrus no Brasil e no mundo. Fonte: Syngenta.
Em contrapartida, uma planta infectada pode levar até dois meses para demonstrar sintomas, o que pode facilitar a transmissão da doença antes que os sintomas possam ser detectados.
Panorama do greening nas principais regiões produtoras de Citrus do Brasil
A doença que está presente nas principais regiões produtoras de citrus, está avançando: iniciou nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Há dois anos, foi detectada no Estado do Mato Grosso do Sul e por último, no Estado de Santa Catarina, configurando uma doença nacional, também presente em países próximos como na Argentina e no Paraguai.
O levantamento dos últimos cinco anos aponta crescimento progressivo da doença nas diferentes regiões produtoras do país. Desde 2018, a doença tem aumentado anualmente entre 1,5 e 2%. Considerando a agressividade do patógeno e o poder destrutivo (vide necessidade de eliminação das plantas doentes), esses percentuais são considerados altos.
O maior avanço na incidência é nas regiões produtoras de Limeira e Brotas, com mais de 50% das plantas afetadas. Em Itapetininga e São José do Rio Preto, a doença tem avançado consideravelmente, visto que essas eram consideradas áreas com baixa incidência.
O comportamento diferenciado da doença nas diferentes regiões produtoras está relacionado, principalmente, ao efeito da temperatura sobre a bactéria, que é desfavorecida em temperaturas mais altas. Além disso, a condição de déficit hídrico reflete em brotações mais curtas, reduzindo o período de brotações e por consequência do período favorável à infecção.
No entanto, o aumento exagerado da população de psilídeos nos últimos anos em todas as regiões de produção de citrus do Estado de São Paulo, exceto a região de Frutal, preocupa os citricultores. À medida que a doença avança, as plantas perdem produção, reduzindo a vida útil dos pomares de 30 para 3 anos, dificultando ainda a renovação de pomares, pela rápida disseminação e infecção. Esse cenário já culminou no abandono do cultivo por muitos produtores.
No entanto, embora o panorama da doença seja preocupante, existem maneiras de remediar o problema, reduzindo os danos, e o controle do inseto vetor associado ao manejo correto das plantas doentes são as peças chaves nesse processo.
O que favorece o aumento da incidência do greening nos pomares comerciais do Brasil?
Um dos principais motivos é a manutenção das plantas doentes nas áreas de produção, favorecendo assim a ocorrência da doença, pois essas plantas são fonte de contaminação secundária de novas plantas. Outro fato é a brotação contínua durante todo o ano, o que favorece, em algumas regiões, o aumento da incidência, associado ao controle inadequado do inseto-vetor: o psilídeo.
Por isso, a eliminação de plantas doentes é fundamental para frear a sua disseminação , isso porque a morte da planta não é rápida, permanecendo como fonte de inóculo (bactérias continuam a sua reprodução), favorecendo novas transmissões após a associação do psílido.
Manter plantas doentes na área, além de levar ao aumento no uso de inseticidas para controle do inseto-vetor, o que influencia nos custos de produção, favorece a contaminação de outras plantas e configura perdas de produtividade, uma vez que as plantas doentes produzirão menos até que a doença as leve a morte.
Outro ponto importante é que manter as plantas doentes na área de produção implica ainda em dificuldades de renovação do pomar, visto que as novas plantas podem ser rapidamente contaminadas pela doença devido à fonte de inóculo secundária.
Características do inseto-vetor
Um ponto a se considerar em relação à importância da eliminação de plantas doentes dentro das propriedades é o conhecimento sobre plantas de citrus localizadas em pomares domésticos em um raio de até 5 km, visto que o psilídeo pode se dispersar por até 4 km do local.
Fatores como horário do dia, temperatura e presença ou não de brotações novas, influenciam na dispersão do inseto. Com hábitos diurnos, a maior movimentação desses insetos ocorre entre 14 e 16 horas, em temperaturas favoráveis de 26 a 28 ºC.
São atraídos ainda por brotações novas que influenciam na distância de deslocamento dos insetos. Na ausência de novos ramos, os psilídeos tendem a se deslocar para áreas com novas brotações. Por isso plantas próximas, mesmo que em pomares domésticos, são fonte de inóculo importantes da doença, sendo indispensável a sua eliminação.
Uma dúvida muito comum na eliminação de plantas doentes é o que deve ser feito com os restos vegetais. A bactéria necessita de um hospedeiro vivo para sobrevivência e reprodução. Nesse sentido, após o corte das árvores doentes, ela tende a ficar inativa, e o produtor pode realizar o seu reaproveitamento como lenha.
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Como o manejo pode ser decisivo no controle do greening?
As medidas de manejo para controle da doença seguem normas legislativas, ou seja, as áreas de produção passam por inspeções frequentes, feitas por órgãos governamentais de fiscalização. Essa medida é fundamental para frear a disseminação da doença nas regiões produtoras.
Além disso, o manejo deve ser regional, ou seja, dada a capacidade de dispersão do inseto, é necessário que as plantas de diversas espécies do gênero Citrus e demais hospedeiras, como a falsa-murta dos jardins (Murraya paniculata), sejam devidamente controladas em toda região de cultivo, utilizando do manejo integrado de pragas e doenças (MIPD), reduzindo assim a imigração de psilídeos e, por consequência, a disseminação primária da doença.
Algumas medidas de manejo importantes consistem ainda em:
- eliminação de plantas doentes;
- inspeção dos pomares comerciais;
- ações externas em parcerias com vizinhos, ou seja, plantas localizadas em quintais e parceria com instituições de pesquisas como a Fundecitrus;
- escolha estratégica das plantas utilizadas como cercas vivas para proteção dos pomares. Embora espécies como a falsa- murta sejam hospedeiras do inseto, elas podem ser aliadas no controle;
- plantio de plantas-iscas, como a falsa-murta em duas fileiras em espaçamento de 40 cm. O plantio estratégico de plantas-iscas para atrair o inseto vetor pode ser uma estratégia interessante, visto que, ao atrair os insetos para esse local, o seu controle pode ser facilitado, reduzindo a população e evitando novas transmissões para plantas no pomar de citrus;
- controle do psilídeo-vetor, que deve ser realizado a cada 14 dias em função do seu ciclo de vida (a cada 14 dias novas gerações podem ser formadas, a depender da temperatura);
- na época de podas, o controle do inseto-vetor deve ser ainda mais rigoroso, visto que, se um único inseto contaminado se alimentar de uma planta, isso é o bastante para que o vegetal também seja contaminado.
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- Sobre a época de poda, no entanto, não existe uma recomendação geral, tendo em vista que o manejo dos produtores ocorre em diversas épocas.Além disso, 36% dos pomares são conduzidos em sistema irrigado, o que favorece e estende o período de brotações. Um ponto a se observar ainda, é que plantas doentes costumam induzir brotações precocemente, se comparadas a plantas sadias, visto que nessas árvores há queda precoce de folhas em função da doença. Por isso, brotações antecipadas podem servir de alerta para os produtores;
- uso de inseticidas sistêmicos para controle do inseto-vetor. É importante lembrar que as boas práticas de manejo devem ser seguidas rigorosamente, visto que o uso inadequado de inseticidas favorece a seleção de populações resistentes e, portanto, reduz a eficácia dos inseticidas, agravando o cenário atual da doença;
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- utilização de inseticidas com dose adequada e eficácia de controle;
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- frequência ou intervalo entre as aplicações seguindo as recomendações da bula dos inseticidas, evitando assim pressão de seleção (ocorrência de altas populações da praga) – aplicações a cada 7 dias durante a brotação são importantes para reduzir a infecção. Para evitar a criação dos psilídeos no talhão, o intervalo entre aplicações pode ser de até 14 dias;
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- qualidade da pulverização, priorizando a proteção das plantas inclusive nos ponteiros ou partes mais altas sem poda – calda em volume superior ou igual a 40 ml/m³ de copa. Por isso a poda de plantas em largura e altura ideal (manter as plantas entre 4,5 a 5 metros de altura se faz importante);
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- rotação de inseticidas com diferentes modos de ação – mínimo 3 a 4 modos de ação, segundo recomendações da Fundecitrus, priorizando o manejo antirresistência.
É importante lembrar que a poda de galhos sintomáticos por si só não auxilia no controle da doença, uma vez que a bactéria sobrevive e se reproduz dos vasos do floema, sendo transportada para todos os tecidos da planta, logo, mesmo em ramos não sintomáticos, a bactéria está presente. Além disso, após a poda, com o estímulo de novas brotações e movimentação da bactéria nos tecidos, as novas brotações também estarão contaminadas e, na presença do inseto vetor, a doença será rapidamente transmitida para outras plantas.
Além dessas medidas, é indispensável que as orientações impostas pela legislação em vigor – Portaria MAPA 317, de 21 de maio de 2021 e a Resolução SAA 88, de 07 de dezembro de 2021– que determina os critérios para controle da doença, seja cumprida. O órgão responsável pela fiscalização e pelas ações que façam com que os produtores cumpram a legislação é a CDA (Coordenadoria de Defesa Agropecuária).
Alguns pontos fundamentais da legislação que devem ser utilizados como parte do manejo da doença:
- durante o ano, devem ser realizadas pelo menos quatro inspeções para detecção dos sintomas da doença, sendo necessário, ainda, a elaboração de um relatório semestral sobre o quantitativo de plantas doentes identificadas, bem como o número de plantas erradicadas do pomar;
- as plantas doentes devem ser imediatamente eliminadas assim que a doença for detectada em pomares de até oito anos, evitando assim, novas transmissões.
- Para pomares com idade superior a oito anos, a eliminação das plantas com sintomas é facultativa, desde que o inseto-vetor seja devidamente controlado e que as ninfas se mantenham ausentes, visto que a contaminação pela bactéria ainda na fase ninfal é mais eficiente do que na fase adulta, além disso, a infecção quando ocorre na fase de ninfa, faz com que o inseto seja mais eficiente na transmissão da doença quando adulto, quando comparado a um inseto que tenha sido infectado pela bactéria somente na fase adulta;
- para pomares domésticos, a eliminação de plantas sintomáticas é obrigatória, independentemente da idade das plantas;
- controle rigoroso e obrigatório do inseto-vetor: Diaphorina citri.
Dadas as características da doença, da sua agressividade e do inseto-vetor fica claro que o manejo pode ser decisivo para a sustentabilidade da produção da citricultura brasileira nas regiões em que a doença ocorre. Para que o país se mantenha como o principal produtor de laranja, setor em que somos destaque mundial, as regiões produtoras devem ser devidamente manejadas e protegidas da doença.
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