Há duas safras a produção de trigo bate recorde no Brasil, posicionando o país com competitividade no mercado de um dos alimentos mais consumidos do mundo. Em 2022, o volume exportado foi impressionante, o que pressiona ainda mais a importância da produtividade das lavouras, sendo a demanda pelo produto brasileiro uma tendência. Com a janela de plantio do trigo 2023 aproximando-se, é tempo de antecipar previsões de clima e mercado para colocar as máquinas em campo a partir de um planejamento sólido.

Comparando 2012 com 2022, a produção de trigo mais que dobrou no Brasil, o que significa um avanço histórico para a agricultura nacional. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima, para 2023, uma redução de 200 mil toneladas nas importações, mantendo a curva de crescimento de produção e exportação, enquanto a necessidade de comprar do exterior diminui.

As previsões de volume e área de produção ainda são incertas, mas dois fatores tendem a jogar os valores para cima: por um lado, o trigo brasileiro é atrativo no mercado internacional por conta do preço elevado do cereal produzido na Argentina, o que pode ser um indício de aumento das exportações e, consequentemente, da produção; por outro lado, os atrasos na colheita da soja diminuíram as janelas do milho safrinha, de maneira que o plantio do trigo pode se tornar uma opção interessante para o produtor rural, levando a um aumento de área para a triticultura. 

O gráfico a seguir, retirado da Apresentação de Safra publicado pela Conab em dezembro de 2022, mostra a participação da cultura do trigo no montante da produção total de grãos no Brasil na safra 2022/23. Embora o volume da triticultura ainda seja muito inferior à soja e ao milho, que recebem um interesse econômico ímpar do mercado global, o trigo brasileiro consegue se posicionar em quarto lugar entre os grãos – quando considerada a quantidade de toneladas produzidas –, com o recorde de produção alcançado em 2022.

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Se esses dados são influentes na tomada de decisão de quem trabalha no campo, o clima também é fator de destaque, pois pode impactar a janela de semeadura do trigo, por conta de mudanças nos padrões de chuvas, que vinham sendo influenciados pelo La Niña nas últimas safras, mas se alteram diante do fim do fenômeno.

Janela de plantio do trigo por região

Desde que foi iniciado o cultivo de trigo no Brasil, o RS (Rio Grande do Sul) se destaca como produtor dessa cultura de inverno, de acordo com os dados da Série Histórica da Conab. Isso pode estar relacionado às condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da cultura na região. Com o avanço tecnológico e o desenvolvimento de novas cultivares, foi possível expandir essa fronteira agrícola, consolidando o plantio do trigo em outros Estados do país.

Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia são os Estados que, atualmente, também participam dessa produção, embora o trigo gaúcho ainda carregue grande parte da responsabilidade. Considerando as diferenças de clima, solo e de cultivares adequadas entre as regiões, a janela de semeadura do trigo varia pelo país, sendo instituídos períodos ideais de acordo com as variáveis citadas, a partir dos critérios do ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).

A época de semeadura do trigo no RS – e em outras regiões do Sul do Brasil – é aquela que condiz com as características dessa cultura de inverno: aproveita a diminuição das chuvas, com a chegada do outono, para semear; a cultura se desenvolve ainda em período com alguma precipitação e entra na fase reprodutiva e no ponto de colheita nos meses mais secos, de maneira a não interferir na qualidade do cereal nem nas operações de colheita.

Para outros Estados, o cenário já é um pouco diferente, com janela de plantio variando de acordo com o tipo de solo, época de chuvas, tipo de cultivar e categoria de cultivo (irrigado ou sequeiro). Assim, são estabelecidos períodos de semeadura por município. Analisando todas as portarias publicadas pelo MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) em dezembro de 2022, como uma medida anual do ZARC, é possível visualizar a recomendação de início das operações de semeadura e o limite máximo de quando finalizá-las por Estado.

Com essa informação em mãos, o produtor rural precisa encontrar o momento ideal para iniciar o plantio, respeitando a janela – a fim de evitar perdas de produção e qualidade por conta do clima ao longo do ciclo – e aproveitando dias sem chuvas para ter condições de operar os maquinários.

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Janela de plantio de trigo 2023 por Estado brasileiro. Elaborado pela Redação Mais Agro. Fonte: MAPA, ZARC, dez 2022.

A tabela acima apresenta uma visão geral do que o MAPA indica como época de plantio do trigo em 2023 a fim de evitar riscos climáticos e perdas de produção. No entanto, é importante que o agricultor se informe sobre a janela de plantio exata para o grupo em que a cultivar a ser semeada se classifica, assim como para o tipo de solo e para o município em que a lavoura está instalada.

O que esperar do clima e como ele pode impactar a janela de plantio do trigo?

De maneira geral, os modelos climáticos mostram regularidade de chuvas no Brasil até o mês de agosto, tudo por conta da mudança de temperatura dos oceanos, que decretou o fim do fenômeno La Niña. Chuvas regulares e generalizadas são esperadas até meados de abril, por conta de uma frente fria avançando pelo país a partir da região Sul, influenciando o plantio de trigo em sequeiro na Bahia, no DF (Distrito Federal), em Goiás e em Minas Gerais, cujas janelas de semeadura são mais curtas.

De 20 de abril em diante, no entanto, a previsão é de pancadas de chuvas irregulares e isoladas, o que exige do produtor um acompanhamento atento das previsões climáticas semanais em sua região, para definir quando iniciar a semeadura nos municípios com janela de plantio do trigo mais larga. 

Esse cenário abre chances de um clima favorável para o desenvolvimento do trigo na categoria de sequeiro, principalmente na região Sul, mas também pode favorecer a pressão de pragas e doenças na cultura do trigo. A persistência da umidade elevada nos meses que deveriam ser mais secos, a depender da intensidade e da frequência das pancadas, pode significar perdas de qualidade no cereal.

Lições que o ano de 2022 tem a ensinar para a nova safra de trigo

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Estágios das lavouras de trigo na safra 2022 por mês e por região. Conab, jan 2023.

Especialistas avaliam que o clima no Sul do país durante o outono e o inverno de 2023 seja ligeiramente diferente do ano anterior, de maneira que os desafios enfrentados pelas maiores regiões produtoras de trigo do país podem servir de aprendizado para a nova safra. Com o término da colheita do trigo em dezembro de 2022, verificou-se:

  • RS com uma qualidade ótima para os grãos colhidos, com PH (peso hectolitro) superior a 80;
  • PR com qualidade e produtividade abaixo do esperado.

Esses resultados podem ser analisados a partir de algumas tomadas de decisão ao longo do ciclo. Verificou-se uma intensificação da semeadura nas últimas janelas de plantio para a cultura do trigo no RS, isso, somado ao prolongamento do ciclo da cultura devido a temperaturas abaixo da média entre setembro e novembro, levou a um atraso na colheita. 

Esse cenário seria de alto risco, considerando que, historicamente, o cultivo de trigo é prejudicado quando as chuvas de verão coincidem com o ponto de colheita. No entanto, a atípica escassez hídrica que tomou conta da região no final de 2022, permitiu a manutenção da qualidade do trigo gaúcho.

Já no Paraná, a produtividade das lavouras de trigo foi afetada pela falta de chuvas entre junho e julho em algumas regiões, enquanto em outras, foi a qualidade que sofreu influência, por conta da alta umidade entre agosto e outubro.

Para a safra de trigo 2023, a expectativa é de chuvas irregulares mais bem distribuídas, o que pode mudar significativamente o cenário no Paraná. Além disso, as ondas de frio que influenciaram as lavouras do RS em 2022 tendem a não ocorrer, diante da neutralidade da temperatura oceânica – que estava negativa, justificando o La Niña –, havendo possibilidade de evitar atrasos na colheita, a ser realizada antes da intensificação das chuvas de verão.

Em ambos os casos, isso pode significar uma safra bastante satisfatória em 2023, uma vez que os desafios climáticos para o trigo, do plantio à colheita, parecem recuar para os dois principais responsáveis pela produção do cereal no Brasil.

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