O milho é uma das principais culturas agrícolas do Brasil, sendo essencial para a produção de alimentos e ração animal. No entanto, a produtividade das lavouras de milho pode ser severamente comprometida pela presença de plantas daninhas. Essas espécies competem por recursos, como água, luz e nutrientes, afetando diretamente o desenvolvimento da cultura e reduzindo sua produtividade. 

A presença de plantas daninhas no milho é um desafio constante para os produtores, exigindo o uso de estratégias eficazes de controle para mitigar os impactos econômicos e ambientais causados por essas invasoras. 

Neste artigo, falaremos dos prejuízos causados pelas plantas daninhas, as principais espécies que afetam as lavouras de milho no Brasil, e as melhores práticas de controle, conforme o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD).

Impactos das plantas daninhas nas lavouras de milho

As plantas daninhas competem com o milho por recursos essenciais, como água, luz e nutrientes, o que pode resultar em crescimento reduzido e menor produtividade. Além disso, algumas espécies podem atuar como hospedeiras de pragas e doenças, elevando os riscos fitossanitários da lavoura.

Outro impacto significativo é o aumento dos custos de produção. O controle inadequado das plantas daninhas pode exigir mão de obra intensiva e maior número de horas/máquina e combustível para as atividades.

Existem diferentes espécies de plantas daninhas que podem ser um grande problema nas lavouras de milho. A seguir, falaremos de algumas delas, que costumam estar presentes em diversas regiões. 

Principais espécies de plantas daninhas no milho

No Brasil, diversas espécies de plantas daninhas afetam as lavouras de milho. Entre as mais importantes, destacam-se:

Capim-amargoso (Digitaria insularis)

O capim-amargoso é uma das principais plantas daninhas do Brasil, presente em grande parte do território nacional e conhecida por sua difícil erradicação, especialmente devido à resistência a herbicidas. Seu manejo é particularmente desafiador na cultura do milho, que também é uma gramínea, tornando o controle mais complicado.

Essa planta perene, herbácea e com formação de touceiras, possui rizomas que começam a se formar, em média, 45 dias após sua emergência. Esses rizomas conferem ao capim-amargoso uma grande capacidade de regeneração após danos causados por corte mecânico ou herbicidas, dificultando ainda mais seu controle.

Além disso, o capim-amargoso é altamente prolífico, podendo produzir até 100 mil sementes por planta, que são facilmente dispersadas pelo vento, o que favorece sua rápida disseminação e estabelecimento em novas áreas.

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)

Outra gramínea invasora comum nas lavouras de milho é o capim-pé-de-galinha, que possui um ciclo anual e já contém relatos de resistência a diversos herbicidas. Está presente em praticamente todas as regiões brasileiras.

Sua grande capacidade de produção de sementes, que podem ser facilmente dispersas pelo vento, aumenta o potencial de infestação nas áreas de cultivo. O manejo eficiente dessa planta requer intervenções precoces, preferencialmente antes de atingir mais de dois perfilhos.

Buva (Conyza sp.)

A buva, de ciclo anual e folha larga, é uma das plantas daninhas mais disseminadas no Brasil, também com casos frequentes de resistência a herbicidas. Além disso, a buva é frequentemente encontrada em lavouras de soja, o que também deve ser considerado pelo produtor que utiliza sistemas de sucessão milho-soja. 

Sua capacidade de produzir uma grande quantidade de sementes, que podem se deslocar por grandes distâncias com o vento, é outro fator que torna seu controle um desafio. A germinação das sementes normalmente ocorre no período de outono e inverno. 

Picão-preto (Bidens pilosa)

O picão-preto é comumente encontrado em diversas regiões de cultivo. É uma planta de ciclo anual que se reproduz por sementes, competindo agressivamente com o milho por recursos. 

Suas sementes possuem a capacidade de entrar em dormência e germinarem em épocas favoráveis ao seu desenvolvimento. Além disso, sua disseminação ocorre principalmente por animais, maquinários e implementos agrícolas, pois facilmente se grudam em diferentes superfícies.

Amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla)

O amendoim-bravo, também conhecido como leiteiro, é uma planta de folha larga e ciclo anual curto, podendo desenvolver várias gerações ao longo do ano. Essa planta invasora tem grande capacidade de competição e alta produção de sementes, que podem se manter viáveis por longos períodos, tornando seu controle um desafio. 

Além disso, o amendoim-bravo tem um crescimento inicial bastante acelerado, o que o torna uma planta bastante agressiva na lavoura, além de se adaptar a diversas condições de solo e clima. 

Caruru (Amaranthus spp.)

Essa planta é extremamente relevante no cultivo do milho. É uma daninha exótica e possui diferentes espécies pertencentes a esse gênero (A. palmeri, A. spinosus, A. hybridus, entre outras). Suas características de rápido crescimento, fácil adaptação e facilidade de dispersão das numerosas sementes a tornam muito competitiva, além de conseguirem disputar facilmente com a cultura e reduzir a produtividade do milho.

Outra característica muito importante também são os relatos de resistências a diversos princípios ativos de herbicidas, exigindo do produtor um manejo muito bem planejado, incluindo o conhecimento para a identificação da espécie encontrada no campo. 

Outras espécies relevantes

Além das plantas mencionadas, outras espécies também causam prejuízos às lavouras de milho, como:

  • capim-marmelada (Brachiaria plantaginea);
  • corda-de-viola (Ipomoea spp.);
  • capim-colchão (Digitaria horizontalis);
  • trapoeraba (Commelina benghalensis);
  • vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata);
  • poaia branca (Richardia brasiliensis);
  • guanxuma (Sida rhombifolia).

Essas e outras plantas daninhas podem ser comumente encontradas nas lavouras de milho, porém a presença e o tamanho da população podem ser influenciados por diversos fatores.

O que interfere na presença de plantas daninhas no milho? 

Banco de Sementes

O banco de sementes no solo refere-se ao conjunto de sementes viáveis de diferentes espécies de plantas que estão presentes no solo, aguardando condições adequadas para germinar. Esse banco é formado ao longo dos anos por sementes que caem no solo a partir de plantas daninhas que cresceram nas lavouras ou nas proximidades. 

No caso da lavoura de milho, esse banco de sementes desempenha um papel crucial no surgimento de novas plantas daninhas, sendo um dos maiores desafios no manejo agrícola.

Espécies, como capim-amargoso, capim-pé-de-galinha, buva e amendoim-bravo, são frequentemente encontradas nesse banco, pois produzem numerosas sementes, algumas com dormência que permite sua sobrevivência no solo por anos. 

Em condições favoráveis, como aumento de temperatura e umidade, essas sementes podem germinar em grandes quantidades, resultando em populações densas de plantas daninhas que competem diretamente com o milho, comprometendo o rendimento da lavoura.

O tamanho da população de plantas daninhas que emergem do banco de sementes varia conforme o número de sementes depositadas no solo e a eficácia do manejo preventivo. Em áreas onde o controle de plantas daninhas não foi adequado, o banco de sementes tende a ser mais robusto, levando a uma emergência massiva de plantas daninhas a cada novo ciclo de cultivo. 

Condições climáticas

As condições climáticas exercem uma influência direta sobre a presença e a população de plantas daninhas nas lavouras de milho. Fatores, como temperatura, umidade, precipitação e luminosidade, afetam tanto o ciclo de vida das plantas daninhas quanto a germinação das sementes presentes no solo. Alterações nessas condições podem favorecer o surgimento e a proliferação de determinadas espécies, aumentando a competição com o milho e dificultando o controle.

A umidade do solo e as chuvas, por exemplo, desempenham um papel crucial na germinação das sementes de plantas daninhas. Períodos chuvosos, seguidos de altas temperaturas, criam condições ideais para a emergência de diferentes espécies. Além disso, algumas plantas daninhas apresentam maior capacidade de germinar sob uma ampla faixa de temperaturas, o que lhes permite crescer em diferentes épocas do ano.

A temperatura também influencia o ciclo de vida das plantas daninhas. Em climas quentes, normalmente as plantas aceleram seu desenvolvimento, perfilhando mais cedo e aumentando a dificuldade de controle. Já em regiões com invernos amenos, o banco de sementes pode permanecer ativo por mais tempo, prolongando o período de emergência das plantas daninhas. 

Assim, o monitoramento climático é essencial para planejar o manejo adequado e antecipar os períodos de maior pressão das daninhas sobre a lavoura de milho.

Histórico da área

O histórico de manejo da área agrícola tem uma influência direta na presença e no tamanho da população de plantas daninhas nas lavouras de milho. Áreas com práticas de manejo inadequadas ou monocultivos contínuos tendem a acumular um banco de sementes de plantas daninhas mais robusto, o que facilita a emergência de novas infestações a cada safra. 

A ausência de práticas preventivas, como rotação de culturas e controle eficiente das daninhas em safras anteriores, também contribui para o aumento da população dessas espécies.

Além disso, o manejo inadequado e a eliminação deficiente de plantas daninhas no período da entressafra podem permitir que essas espécies facilmente se multipliquem e contribuam para o aumento do banco de sementes no solo. Esse acúmulo de sementes favorece a emergência massiva de plantas daninhas, especialmente em condições climáticas favoráveis.

Diante de tantos fatores, é essencial que, para um controle eficaz, os produtores façam uso de boas estratégias de controle, priorizando os princípios do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD).

Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD)

O Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) é uma estratégia que visa controlar as invasoras de forma sustentável, combinando diferentes métodos de controle. Porém, inicialmente, é indispensável que se faça um correto e contínuo monitoramento da área. 

Monitoramento e identificação de plantas daninhas

O monitoramento constante das áreas cultivadas é uma etapa essencial no MIPD. Identificar as plantas daninhas no início do ciclo de desenvolvimento permite que os produtores adotem medidas mais eficazes de controle, evitando a proliferação e o estabelecimento de plantas adultas, que são mais difíceis de eliminar.

Além disso, o uso de tecnologias, como aplicativos de identificação de plantas daninhas e drones para mapeamento das áreas infestadas, pode otimizar o monitoramento e auxiliar na tomada de decisões.

Uma vez identificadas as plantas daninhas da área, o produtor tem à sua disposição diferentes métodos de controle do MIPD: cultural, mecânico e químico.

Controle cultural

O controle cultural envolve o uso de práticas agrícolas que reduzem a competitividade das plantas daninhas e inibem sua disseminação, promovendo o crescimento saudável da cultura. Algumas estratégias de controle cultural são a rotação de culturas, o espaçamento adequado e a manutenção da palhada no solo.

A rotação de culturas é fundamental para quebrar o ciclo de vida de plantas daninhas específicas. Ao alternar o milho com culturas de características diferentes, como leguminosas, por exemplo, essa prática pode ajudar a impedir que determinadas espécies de daninhas se estabeleçam e se disseminem, além de reduzir o banco de sementes no solo.

O espaçamento adequado entre plantas e o uso de híbridos de milho mais competitivos também são práticas importantes para criar um ambiente onde as plantas daninhas tenham menos espaço e nutrientes para se desenvolverem. 

A manutenção da palhada no solo consiste em restos culturais, como folhas, caules e raízes de plantas que permanecem na superfície do solo após a colheita, formando uma camada protetora. Essa prática é amplamente utilizada em sistemas de plantio direto e gera diversos benefícios no controle de plantas daninhas, além de contribuir para a conservação do solo.

A principal vantagem da palhada no controle de plantas daninhas é a redução da emergência dessas invasoras. A palhada atua como uma barreira física que impede a passagem de luz para as sementes presentes no banco de sementes do solo. Sem luz suficiente, muitas plantas daninhas não conseguem germinar ou emergem com menos vigor, o que facilita o manejo.

Controle mecânico

O controle mecânico é outra estratégia possível de ser utilizada no MIPD no milho, consistindo na remoção física das plantas daninhas por meio de operações como capina, arranquio ou roçagem. 

Esse método atua diretamente na eliminação das invasoras, sendo especialmente eficaz em estágios iniciais de crescimento das plantas daninhas, antes que elas possam competir significativamente com a cultura.

No entanto, o uso do controle mecânico é limitado, principalmente devido aos altos custos de mão de obra e ao tempo necessário para sua execução em áreas grandes. 

Apesar dessas limitações, o controle mecânico pode ser muito eficiente em situações específicas. Em áreas menores ou em locais onde a resistência de plantas daninhas a herbicidas é um problema, o controle mecânico oferece uma solução imediata e direta. 

Além disso, ele pode ser complementar ao controle químico e cultural, ajudando a reduzir o banco de sementes no solo e eliminando plantas daninhas antes da formação de sementes, contribuindo para um controle mais sustentável e integrado no manejo das invasoras.

Controle químico

O controle químico é uma ferramenta essencial dentro do MIPD no cultivo do milho, proporcionando uma maneira eficaz de reduzir a infestação de plantas invasoras. Ele envolve o uso de herbicidas, que podem ser aplicados de forma seletiva ou não, nas fases de pré e pós-emergência das plantas daninhas. 

Embora seja uma estratégia amplamente utilizada, o sucesso do controle químico depende diretamente da correta aplicação e do respeito às recomendações técnicas.

Seguir as recomendações de dosagem é crucial para garantir a eficácia do produto sem causar danos à cultura do milho ou ao meio ambiente. Subdosagens podem falhar no controle das daninhas, enquanto superdosagens aumentam os riscos de impactos ambientais e de fitotoxicidade. 

O intervalo de aplicação também deve ser respeitado para garantir que as plantas daninhas sejam controladas no momento adequado de seu desenvolvimento. Aplicações tardias ou fora do intervalo correto podem permitir que as plantas escapem ao controle, gerando populações mais vigorosas.

Outro fator importante é o momento do dia para aplicação dos herbicidas. As condições climáticas, como a temperatura, a umidade e a velocidade do vento, influenciam diretamente a eficácia do produto. Aplicações feitas durante o período mais quente do dia, com temperaturas elevadas, podem aumentar a volatilização dos produtos e reduzir sua eficácia. Já condições de vento forte podem causar deriva, dispersando o herbicida para áreas indesejadas e diminuindo a eficiência do controle.

Para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes, é fundamental fazer a rotação de mecanismos de ação dos herbicidas. O uso contínuo de produtos com o mesmo modo de ação pode levar a seleção de biótipos resistentes. A rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação, aliada a outras estratégias do MIPD, como o controle cultural e o mecânico, ajuda a preservar a eficácia dos herbicidas e a manter o equilíbrio no manejo das plantas daninhas.

Considerações finais

As plantas daninhas representam um grande desafio para os produtores de milho no Brasil, exigindo a adoção de estratégias integradas de manejo para minimizar os prejuízos. O uso do MIPD, que combina práticas culturais, mecânicas e químicas, é essencial para garantir a sustentabilidade das lavouras e evitar a seleção de plantas com resistência a herbicidas.

A chave para o sucesso no controle das plantas daninhas é o monitoramento constante, a identificação precisa das espécies, o conhecimento das características de cada planta daninha e a implementação de medidas de controle adaptadas às condições específicas de cada lavoura. 

Com uma estratégia integrada, os produtores podem reduzir os impactos das invasoras e garantir a produtividade e a rentabilidade das suas lavouras de milho.