A cercosporiose é uma das doenças foliares mais comuns e com grande potencial destrutivo a afetar a cultura do milho (Zea mays) no Brasil. Provocada pelo fungo Cercospora zeae-maydis, essa doença tem um impacto significativo na produtividade, especialmente em condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.
O controle eficiente dessa doença exige uma combinação de práticas preventivas e manejo adequado, com atenção ao monitoramento das lavouras e ao uso correto de defensivos agrícolas.
Neste artigo, vamos explorar os principais sintomas da cercosporiose, o ciclo de vida do patógeno, as condições climáticas que favorecem sua disseminação e as melhores estratégias de controle disponíveis para os produtores.
O cenário da cercosporiose do milho no Brasil
A incidência do fungo nas regiões produtoras está relacionada principalmente às condições climáticas ideais para o seu desenvolvimento, além da adoção de práticas de cultivo intensivo e da sucessão frequente com as mesmas culturas, que contribuem para a presença do inóculo na área.
A cercosporiose pode causar uma redução significativa no rendimento das lavouras, com perdas de produtividade muito variáveis, dependendo do grau de infestação e da resposta das plantas às condições de estresse.
Em anos de alta pressão da doença, o impacto econômico sobre os produtores é ainda mais severo, afetando tanto a produção quanto a qualidade do grão.
Principais sintomas e danos da cercosporiose do milho
A cercosporiose do milho se manifesta por sintomas bem característicos que a distingue das demais doenças foliares. Suas lesões amarronzadas se apresentam em formato retangular e são delimitadas pelas nervuras principais das folhas.
Nas lesões mais desenvolvidas, é possível identificar uma coloração mais acinzentada, resultado da formação da esporulação fúngica.
As folhas severamente afetadas pela cercosporiose perdem sua capacidade fotossintética, comprometendo o enchimento de grãos e, consequentemente, o rendimento da lavoura. Em casos mais avançados da doença, o patógeno gera deterioração do colmo e consequentemente predispõe as plantas ao acamamento.
Comparado com outras doenças, o desenvolvimento das lesões da cercosporiose é mais lento, levando até três semanas para atingirem o máximo de desenvolvimento, dependendo bastante das condições ambientais.
Os danos podem ser cada vez mais representativos em uma mesma área se, ao passar das safras, o controle não for feito adequadamente e a quantidade de fungo presente nos restos culturais for aumentando.
A identificação correta da cercosporiose e o entendimento do ciclo de vida do agente causal é essencial para a adoção das corretas medidas de controle.
Características do patógeno: ciclo de vida e dispersão
O fungo Cercospora zeae-maydis é o agente causal da cercosporiose do milho. O ciclo de vida desse patógeno está diretamente ligado à presença de inóculo em restos culturais no solo e à disponibilidade de condições ambientais favoráveis.
O fungo sobrevive melhor nos restos culturais da superfície do solo e não se tem relatos de sua transmissão por sementes.
A infecção inicial ocorre quando os esporos entram em contato com as folhas, geralmente durante períodos de alta umidade e temperaturas moderadas a elevadas. Normalmente as folhas mais inferiores da planta são os primeiros locais onde ocorre a infecção. Com o alto potencial de esporulação do fungo, a doença progride para as folhas mais jovens.
A disseminação do fungo se dá pelo vento e pela chuva, que espalham os esporos para outras áreas da lavoura. Assim, em condições de clima favorável, a cercosporiose pode se espalhar eficazmente por diversas plantas.
Três fatores são fundamentais na taxa de desenvolvimento da cercosporiose:
- Quantidade inicial de inóculo;
- Taxa de reprodução do fungo em um mesmo ciclo de milho, e
- Proporção de tecido sadio a ser infectado.
Considerando essas informações, é preciso estar atento às condições da lavoura e do clima, e seguir corretamente os princípios do Manejo Integrado de Doenças (MID).
Manejo Integrado de Doenças: uma estratégia de controle sustentável
O MID é uma forma de manejo sustentável que combina diversas estratégias de controle, potencializando o uso de defensivos químicos e promovendo a saúde das plantas.
No caso da cercosporiose no milho, o MID envolve a integração de controle cultural, biológico e químico, sempre aliado ao monitoramento constante da lavoura.
A importância do monitoramento e identificação da cercosporiose
O monitoramento constante da lavoura é uma prática essencial para o controle eficiente da cercosporiose. A detecção precoce dos primeiros sinais da doença permite que os produtores adotem medidas assertivas de controle.
O uso de tecnologias de monitoramento, como drones e sensores de umidade, pode auxiliar na detecção de condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno e na identificação de áreas com maior incidência da doença.
Além disso, o treinamento dos agricultores para a identificação correta dos sintomas da cercosporiose, em conjunto com o acompanhamento de técnicos na área, é fundamental para o sucesso no manejo.
O controle bem-sucedido também está fortemente relacionado com os melhores métodos a serem aplicados.
Controle cultural
O controle cultural é uma prática fundamental para reduzir a pressão do inóculo no campo. A rotação de culturas, evitando o plantio sucessivo de milho na mesma área, é uma das principais estratégias para diminuir a sobrevivência do fungo.
A escolha de híbridos de milho mais tolerantes à cercosporiose é outra medida preventiva importante. O uso de variedades cujo potencial produtivo não seja tão comprometido pela doença pode ser uma ferramenta importante, aliada aos demais métodos de controle disponíveis.
Controle biológico
O controle biológico tem ganhado cada vez mais atenção como uma estratégia eficaz e sustentável dentro do Manejo Integrado de Doenças (MID), incluindo o controle da cercosporiose no milho.
Esse controle utiliza organismos vivos, como fungos, bactérias e outros microrganismos, para combater o patógeno Cercospora zeae-maydis, contribuindo para um equilíbrio ecológico na lavoura. A utilização de agentes biológicos tem potencial para controlar o fungo diretamente, limitando sua propagação e protegendo as plantas de maneira mais natural.
O controle biológico tem alto potencial de desenvolvimento e aplicação na agricultura moderna, principalmente devido à crescente demanda por práticas agrícolas mais sustentáveis.
No entanto, para alcançar seu máximo potencial, é necessário continuar investindo em pesquisas e no desenvolvimento de produtos biológicos adaptados às condições específicas das lavouras brasileiras.
Controle químico
No contexto do MID, o controle químico desempenha um papel fundamental na gestão da cercosporiose do milho, especialmente em áreas de alta pressão da doença. Embora as práticas culturais e o monitoramento sejam essenciais, o uso de fungicidas, quando feito de forma estratégica e responsável, é uma das ferramentas mais eficazes para evitar grandes prejuízos.
Para garantir a eficácia do controle químico e prolongar sua durabilidade, é necessário adotar boas práticas de manejo, respeitando as diretrizes de controle preventivo, dose recomendada, intervalos de aplicações, momento do dia para pulverização, rotação de moléculas e tecnologias de aplicação adequadas.
Controle preventivo
O controle preventivo é uma estratégia central no uso de fungicidas para o manejo da cercosporiose. Aplicar produtos químicos antes que a doença se estabeleça de forma severa nas plantas é a melhor maneira de evitar que o fungo Cercospora zeae-maydis cause danos significativos. Fungicidas preventivos atuam criando uma barreira protetora nas folhas do milho, inibindo a germinação dos esporos e a infecção inicial.
Ao adotar o controle preventivo, os produtores podem impedir que a doença progrida para níveis de severidade que resultem em perdas expressivas na produtividade.
Essa estratégia é particularmente importante em regiões onde há um histórico recorrente de cercosporiose, ou quando as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento do fungo.
Dose recomendada
A dose recomendada de fungicida é um fator crucial no controle eficaz da cercosporiose. Utilizar a quantidade adequada do produto permite melhor eficácia no combate ao fungo, além de evitar o desperdício de insumos e o risco de seleção de populações de patógenos resistentes.
Aplicações subdosadas podem não ser suficientes para controlar a doença. Por outro lado, o uso excessivo de fungicidas pode acabar aumentando os custos de produção.
Portanto, seguir as orientações do fabricante e de engenheiros-agrônomos para a dose correta é essencial para um manejo químico eficiente e sustentável. Também é importante ajustar a dosagem conforme o nível de pressão da doença na área cultivada.
Intervalos de aplicações
Definir os intervalos corretos de aplicação de fungicidas é fundamental para o controle eficaz da cercosporiose do milho. A aplicação em intervalos adequados garante que as plantas estejam protegidas ao longo do ciclo de desenvolvimento, principalmente durante as fases mais suscetíveis à infecção.
Os intervalos entre as aplicações devem ser ajustados de acordo com a pressão da doença e as condições climáticas. É importante considerar também o ciclo de vida do fungicida utilizado.
Produtos com ação preventiva e residual prolongado podem permitir intervalos maiores entre as aplicações. No entanto, o monitoramento da lavoura é essencial para ajustar os intervalos de aplicação conforme o avanço da doença, evitando que o patógeno se estabeleça.
Momento do dia para pulverização
O momento do dia para realizar a pulverização também é um fator relevante para maximizar o efeito dos fungicidas no controle da cercosporiose. A aplicação deve ser feita preferencialmente nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde, quando as temperaturas são mais amenas.
Essas condições favorecem a absorção e a eficácia dos produtos químicos, além de reduzir o risco de evaporação e deriva causada por ventos.
Pulverizações durante o meio-dia, quando a radiação solar é mais intensa, podem resultar em evaporação acelerada dos fungicidas, diminuindo sua ação protetora nas folhas.
Outro ponto importante é evitar pulverizações quando houver previsão de chuvas para os próximos dias, já que a chuva pode lavar o produto aplicado, comprometendo a eficácia do controle.
Rotação de moléculas
A rotação de moléculas é uma prática essencial para prolongar a eficácia dos fungicidas e evitar o surgimento de resistência do fungo Cercospora zeae-maydis aos produtos químicos.
Ao longo dos anos, o uso repetido de fungicidas com o mesmo modo de ação pode selecionar populações do patógeno que são naturalmente menos sensíveis aos princípios ativos.
Para prevenir esse problema, é recomendada a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação durante o ciclo da cultura. Além disso, algumas misturas comerciais já combinam diferentes moléculas com modos de ação complementares, oferecendo uma proteção mais ampla e reduzindo o risco de resistência.
Tecnologias de aplicação
As tecnologias de aplicação têm desempenhado um papel crucial no aumento da eficiência do controle de cercosporiose no milho. Pulverizadores modernos com controle de taxa variável permitem ajustes automáticos na quantidade de fungicida aplicado, garantindo uma cobertura uniforme das plantas. Essa precisão ajuda a otimizar a eficácia do controle químico, melhorando a sustentabilidade e reduzindo custos para o produtor.
O uso de drones também vem ganhando destaque, possibilitando a aplicação localizada em áreas de difícil acesso ou com focos específicos da doença. Drones oferecem maior precisão e cobertura em áreas menores, além de reduzir o impacto no solo e o risco de deriva, tornando a aplicação mais eficiente e ambientalmente responsável.
Outra tecnologia importante é a utilização de bicos de pulverização adequados e sistemas de controle de deriva, que garantem que o produto seja aplicado na dosagem correta, minimizando perdas causadas pelo vento.
Além disso, ferramentas de monitoramento digital ajudam a identificar as melhores condições climáticas para a aplicação, como umidade, temperatura e velocidade do vento, otimizando ainda mais a eficácia do manejo químico.
Considerações finais
A cercosporiose do milho é uma doença que pode causar sérios prejuízos à produção brasileira, especialmente em regiões de clima tropical e subtropical. Conhecer o ciclo de vida do patógeno, bem como suas formas de contaminação e dispersão, é o primeiro passo para um manejo eficiente das lavouras.
O controle eficaz dessa doença requer uma combinação de práticas culturais, monitoramento contínuo e uso adequado de fungicidas. A adoção do manejo integrado de doenças, com rotação de culturas, monitoramento constante e controle preventivo, é a chave para uma produção de milho mais sustentável e lucrativa.
Deixe um comentário