No amplo cenário do agronegócio brasileiro, os números da safra de grãos têm superado as expectativas a cada ano. No entanto, por trás desse sucesso de produtividade, surge um grande desafio: a capacidade de armazenagem desses grãos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é necessário que os países tenham uma capacidade de armazenagem de grãos 1,2 vezes maior do que sua produção, a fim de certificar a segurança alimentar e evitar perdas significativas.
Para a safra 2022/23, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um recorde de produção de 313,9 milhões de toneladas. Diante desse volume impressionante, fica a pergunta: o Brasil é capaz de armazenar toda a sua produção de grãos?
Expectativa: para essa safra, seguindo o recomendado pela FAO, o ideal seria que o Brasil contasse com uma infraestrutura capaz de armazenar cerca de 377 milhões de toneladas de grãos.
Realidade: atualmente, a capacidade estática de armazenagem, segundo a Conab, é de 190,14 milhões de toneladas, um déficit de mais de 186 milhões de toneladas em relação à capacidade recomendada.
Enquanto os números de produção crescem, o país enfrenta um dilema na hora de garantir que toda essa riqueza agrícola seja devidamente bem aproveitada.
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Alerta da FAO: por que a capacidade de armazenagem agrícola é tão importante?
Além dos aspectos financeiros, as diretrizes recomendadas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) também visam outros aspectos fundamentais, como segurança alimentar.
Aspectos econômicos
Em termos econômicos, a falta de capacidade adequada de armazenagem resulta em perdas significativas para os produtores rurais e para a economia como um todo.
As perdas pós-colheita, devido à inadequada armazenagem, representam um prejuízo financeiro considerável, afetando diretamente a renda dos produtores e a rentabilidade do setor agrícola.
Além disso, a falta de capacidade de armazenamento implica em uma necessidade de escoamento rápido da produção, o que, muitas vezes, resulta em vendas em momentos desfavoráveis do mercado e preços mais baixos para os grãos.
Esse cenário também impacta negativamente a competitividade do agronegócio brasileiro. Países concorrentes, com infraestruturas mais desenvolvidas, podem armazenar e comercializar seus grãos de maneira mais eficiente, aproveitando melhor as oportunidades do mercado internacional.
Os Estados Unidos, por exemplo, possuem capacidade de armazenar mais de 65% de sua produção, preservando a qualidade dos grãos devido a alta tecnologia de seus armazéns. Isso coloca o Brasil em desvantagem, limitando seu potencial de exportação e a participação nos mercados globais.
Segurança alimentar
Outra consequência relevante é a instabilidade no abastecimento alimentar. O Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo e desempenha um papel crucial no fornecimento de alimentos, tanto para o mercado interno quanto para o mercado internacional.
No entanto, a capacidade limitada de armazenamento coloca em risco a disponibilidade e a qualidade dos grãos ao longo do ano. A falta de estrutura adequada pode levar a situações de escassez, aumentando os preços dos alimentos e comprometendo a segurança alimentar da população.
Outro risco associado a esse problema é a deterioração dos grãos. A falta de estruturas apropriadas disponíveis pode resultar em umidade excessiva, favorecendo a presença de pragas e a proliferação de fungos, o que reduz o valor comercial dos grãos e pode até mesmo torná-los impróprios para consumo humano ou animal.
O desafio pós-colheita: produção de grãos em alta, armazenagem se torna um dilema
O Brasil tem conquistado seu lugar de destaque no cenário global como um dos principais produtores e exportadores de grãos. Bater recordes de produtividade se tornou o “novo normal” das nossas safras, e muitos fatores têm contribuído para isso, como:
- avanços no melhoramento genético das cultivares;
- desenvolvimento de insumos sustentáveis de alta performance;
- uso de técnicas modernas de cultivo e adoção de maquinários mais precisos, autônomos e eficientes;
- diversificação de culturas, apostando em uma ampla gama de grãos, como soja, milho, trigo e arroz, permitindo que diferentes regiões do país explorem seu potencial agrícola de acordo com as características locais;
- novas fronteiras agrícolas, como a região Sul do Brasil, que deixou de ser destinada apenas para produção de arroz e passou a produzir soja. Também a região Nordeste, com expansão da produção de trigo sequeiro, ampliando as possibilidades.
O sucesso das colheitas tem gerado impactos econômicos positivos. Por outro lado, à medida que a produção cresce, os desafios relacionados ao armazenamento aumentam, afetando de maneira direta a rentabilidade de toda essa produção.
Como citamos no início do post, o Brasil se encontra bem abaixo da recomendação da FAO e, embora haja avanços na construção de novas unidades de armazenamento, as colheitas recordes têm mantido uma lacuna significativa entre a produção e a capacidade disponível para armazenar os grãos de forma adequada.
Segundo os dados mais recentes da Conab (gráfico 2), nos últimos 13 anos houve um aumento da capacidade estática dos armazéns em pouco mais de 28%, enquanto a produção de alimentos, seguindo as expectativas da safra 2022/23, cresceu cerca de 60,48% nesse mesmo período.
O que impede o Brasil de expandir a capacidade de armazenamento de grãos?
Um dos nossos principais desafios é a falta de investimentos em infraestrutura. A construção de novas unidades de armazenamento demanda recursos financeiros significativos e, muitas vezes, os produtores rurais enfrentam dificuldades em obter financiamentos adequados para essa finalidade.
Além disso, a ausência de infraestrutura básica, como estradas de acesso e energia elétrica, em determinadas regiões agrícolas do país, dificulta a implantação de novas estruturas de armazenamento.
Outro obstáculo é a falta de conscientização sobre a importância da capacidade de armazenagem. Muitos produtores rurais ainda não têm plena consciência dos impactos negativos que a armazenagem inadequada de grãos pode causar, tanto em termos de perdas econômicas quanto de segurança alimentar.
A conscientização sobre os benefícios de investir em infraestrutura de armazenamento e o compartilhamento de boas práticas são essenciais para superar essa barreira.
Parceria entre os setores público e privado é essencial para solucionar o problema de armazenagem de grãos no Brasil
O enfrentamento dos desafios relacionados ao armazenamento de grãos no Brasil requer uma abordagem colaborativa entre os setores privado e público. A seguir, listamos algumas medidas que podem auxiliar na resolução desses problemas:
- Investimentos em infraestrutura: investir em novas estruturas de armazenamento, como silos, armazéns e unidades de beneficiamento. Esses investimentos contribuem para ampliar a capacidade de armazenagem e melhorar a logística de distribuição dos grãos.
- Pesquisa e desenvolvimento: direcionar recursos para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias inovadoras voltadas para o armazenamento de grãos. Essas soluções podem aumentar a eficiência e a segurança no armazenamento, reduzindo perdas e impactos negativos na cadeia produtiva.
- Parcerias com instituições acadêmicas e centros de pesquisa: compartilhar conhecimentos e realizar estudos específicos sobre a capacidade de armazenagem. Essas parcerias podem gerar novas ideias e soluções, impulsionando a inovação no setor.
- Políticas públicas e incentivos financeiros: implementar políticas públicas que incentivem produtores e empresas a investirem em infraestrutura de armazenamento. Isenções fiscais, linhas de crédito e subsídios são exemplos de incentivos que podem estimular o setor.
- Simplificação dos processos regulatórios: atuar na simplificação e agilização dos processos de licenciamento e autorização para a construção de novas estruturas de armazenamento. A redução da burocracia facilita os investimentos e acelera o crescimento da capacidade de armazenagem.
- Programas de capacitação e assistência técnica: oferecer programas de capacitação e assistência técnica aos produtores rurais, cooperativas e empresas do setor agrícola. Essas iniciativas contribuem para disseminar boas práticas de armazenamento e promover a conscientização sobre a importância da capacidade adequada de armazenagem.
Benefícios que o agro brasileiro terá com o aumento da capacidade de armazenamento de grãos
- redução das perdas pós-colheita;
- preservação da qualidade e do valor dos grãos por períodos mais longos;
- aproveitamento estratégico das oportunidades de mercado para obter melhores retornos financeiros;
- maior flexibilidade para gerenciar a comercialização dos grãos;
- aumento da capacidade de exportação;
- abastecimento e regulação de preços no mercado interno.
Produtores rurais: como otimizar a armazenagem de grãos na fazenda, mesmo diante dos desafios?
Apesar de todo o dilema que relatamos nesse artigo, os produtores rurais podem fazer sua parte adotando algumas orientações e boas práticas para otimizar o armazenamento e preservar a qualidade dos grãos dentro de suas realidades.
Que tal um guia rápido para um armazenamento de grãos eficiente? Você pode conferir isso na nossa matéria sobre armazenamento de grãos em 6 passos!
Em linhas gerais, nossas recomendações principais são:
- planejamento adequado: realize um planejamento prévio para determinar a capacidade de armazenagem necessária com base na sua produção. Considere a demanda do mercado, a sazonalidade e as projeções futuras. Isso ajudará a evitar problemas de falta de espaço;
- condições corretas de armazenamento: as estruturas devem ser projetadas para proporcionar ventilação ideal, controle de temperatura e umidade, além de proteção contra pragas;
- higienização e manutenção: realize uma limpeza completa e periódica das estruturas de armazenamento antes de armazenar os grãos. Remova resíduos e faça a manutenção preventiva para garantir que as instalações estejam em boas condições de uso;
- monitoramento constante: estabeleça um sistema de monitoramento regular para acompanhar a temperatura, a umidade e a presença de pragas nos locais de armazenamento. Isso permitirá identificar eventuais problemas e agir rapidamente para evitar perdas;
- rotação de estoque: utilize a técnica de rotação de estoque para garantir que os grãos armazenados sejam consumidos e comercializados dentro de prazos adequados. Dê preferência aos grãos mais antigos para evitar que fiquem armazenados por muito tempo, o que pode comprometer sua qualidade;
- controle de pragas: adote medidas de controle de pragas, como o uso de inseticidas adequados e a adoção de boas práticas de higiene. Mantenha os locais limpos e evite a presença de insetos e roedores, que podem causar danos aos grãos;
- parcerias com empresas especializadas: considere estabelecer parcerias com empresas especializadas em armazenagem e logística. Elas podem oferecer serviços de monitoramento, controle de pragas e orientações técnicas, contribuindo para a otimização do armazenamento;
- atualização e capacitação: esteja sempre atualizado sobre novas técnicas e tecnologias relacionadas à armazenagem de grãos. Participe de cursos, palestras e eventos do setor para aprimorar seus conhecimentos e trocar experiências com outros produtores.
O futuro do setor agrícola está intrinsecamente ligado à capacidade de armazenagem. É um desafio que exige esforços contínuos, mas com determinação, colaboração e adoção de boas práticas, podemos construir um cenário mais eficiente, garantindo o sucesso e a prosperidade do agronegócio a longo prazo.
Em um cenário em que o preço da soja está atingindo o seu menor patamar em 3 anos (veja a matéria completa aqui), a armazenagem correta dos grãos se torna um fator ainda mais estratégico para que os sojicultores alcancem rentabilidade.
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