O contexto do cultivo de algodão no ano de 2023 foi muito diferente do ano antecedente, 2022, quando o baixo volume pluviométrico resultou em uma das menores taxas de incidência de doenças no algodão já registradas. Na ocasião, a produtividade da pluma também não foi das melhores, pois o clima prejudicou o desenvolvimento vegetativo e a formação de capulhos.
O cenário se inverteu em 2022/23, com bom volume de chuvas nos estádios iniciais das lavouras e boa produtividade. No entanto, se por um lado o bom volume de chuvas pode favorecer o potencial produtivo, por outro, tal condição também pode contribuir para o aumento da incidência das principais doenças do algodão.
Assim, registrou-se uma maior pressão de doenças, principalmente da mancha-de-ramulária (Ramulariopsis spp.) a partir de 120 DAE (dias após a emergência), quando a diminuição da umidade tornou o ambiente desfavorável para a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), que causa desfolha severa e/ou abortamento das maçãs entre 50 e 110 DAE.
Além dessas, ainda há outras cinco que integram a lista das principais doenças do algodão e causam danos não só quantitativos, mas também – e principalmente – qualitativos. A seguir, serão relatados alguns dos desafios possíveis de prever e como realizar um controle simples e poderoso mesmo em condições adversas.
Condições ambientais para o desenvolvimento das doenças do algodão
Entre as variáveis ambientais que podem interferir na produção e na qualidade do algodão, em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, o clima é a principal, pois pode também criar as condições ótimas para o desenvolvimento de patógenos.
José Monteiro (2003), mestre em agronomia pela USP (Universidade de São Paulo), divide essas condições em duas categorias:
- microclima: dependente dos tratos culturais, como densidade de plantas e espaçamento;
- macroclima: dependente de fatores meteorológicos, como temperatura e pluviosidade.
O autor afirma que a interação entre a planta e o patógeno ocorre em função dessas duas condições, de maneira que o ambiente pode tornar determinada doença inexpressiva ou bastante severa. As manchas foliares no algodão são fortemente influenciadas pelo macroclima, embora sombreamento, cobertura do solo e irrigação – fatores do microclima – também sejam relevantes.
De maneira geral, sob alta temperatura o ciclo de reprodução dos patógenos é mais rápido, favorecendo a infecção e a penetração dos organismos no algodoeiro. Quanto à umidade, um período de duas a cinco horas de molhamento foliar costuma ser suficiente para a germinação dos esporos dos patógenos e a expressão dos sintomas.
O sucesso do manejo, portanto, dependerá da correta identificação dos patógenos presentes na área ou dos danos que causam nas plantas, a fim de ser possível definir uma estratégia de controle adequada para o contexto da lavoura.
Glossário de alvos: as principais doenças do algodão
Nas últimas safras de algodão no Brasil, há sete doenças com incidência mais frequente, cujos danos depreciam a qualidade da fibra e geram perdas de produtividade.
Para fins de identificação e praticidade no manejo, a seguir serão apresentadas as características de cada uma, com base na cartilha Identificação e controle das principais doenças do algodoeiro, da Embrapa, e fontes complementares, que apoiam a atualização de algumas informações.
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Antracnose (Colletotrichum gossypii)
A antracnose é uma doença fúngica que pode afetar várias plantas, incluindo o algodão. Ela é causada por diferentes espécies de fungos do gênero Colletotrichum e pode causar danos significativos à cultura. Para identificar a antracnose no algodão, deve-se observar os seguintes sintomas:
- manchas escuras nas folhas e nos caules;
- lesões com centro claro, que podem se tornar necróticas com o tempo;
- murcha, amarelecimento e definhamento das folhas, em casos mais graves;
- lesões escuras nos frutos e nas cápsulas onde as fibras de algodão estão localizadas;
- pústulas de esporulação, principalmente em condições de alta umidade, contribuindo para a disseminação da doença.
No algodão, Colletotrichum gossypii é o patógeno responsável pela antracnose. Ele consegue sobreviver por longos períodos na lavoura até encontrar as condições ideais para se reproduzir, por isso, pode ocorrer em qualquer fase da cultura, sendo que sua presença na pós-emergência causa significativa redução do estande. A detecção precoce é importante para tomar medidas de manejo adequadas.
Mancha-de-cercóspora (Cercospora gossypina)
Uma doença foliar antes considerada secundária e que vem ganhando importância no Brasil é a mancha-de-cercóspora, causada pelo fungo Cercospora gossypina. Ela apresenta alta severidade de danos, por espalhar-se rapidamente pela lavoura, causando desfolha.
Os sintomas típicos da infecção por Cercospora gossypina incluem o aparecimento de manchas foliares de formato circular e/ou irregular em ambas as faces das folhas mais velhas das plantas de algodão. Essas manchas geralmente têm uma coloração escura no centro, com margens mais claras, e podem evoluir até ocupar a totalidade da superfície foliar.
Mancha-alvo (Corynespora cassiicola)
A mancha-alvo no algodão é causada pelo patógeno Corynespora cassiicola, tal como na soja, o que gera um alerta em áreas com sucessão entre essas culturas. Ela é reconhecida por causar lesões características em forma de alvo nas folhas das plantas, daí o seu nome. Essas lesões são compostas por anéis concêntricos de diferentes cores, que podem variar de marrom a preto, cercados por um anel amarelo.
A doença pode gerar danos significativos nas plantações de algodão, afetando negativamente a qualidade das fibras e a produção total. Os sintomas típicos incluem lesões nas folhas, que podem se espalhar para outras partes da planta, como hastes e frutos. Em casos graves, a infecção por Corynespora cassiicola pode levar à queda prematura das folhas e à redução do rendimento da colheita.
Mancha-de-alternária (Alternaria alternata)
A mancha-de-alternária é causada por fungos do gênero Alternaria, embora A. alternata venha ganhando maior expressividade na cultura do algodão nos últimos anos. Sua incidência é mais comum no estádio reprodutivo, entre o florescimento e a frutificação, prejudicando diretamente a produtividade da cultura.
As lesões nas folhas são circundadas por uma borda arroxeada que podem evoluir rapidamente. Os principais danos são desfolha severa e lesões nas maçãs, que são capazes de levar ao apodrecimento.
Mancha-de-mirotécio (Myrothecium roridum)
Registrada pela primeira vez em lavouras de algodão brasileiras em 2003, a mancha-de-mirotécio se torna mais preocupante a cada safra. O fungo Myrothecium roridum sobrevive no solo e pode ser transmitido por meio das sementes, de maneira que os primeiros sintomas têm potencial de surgir logo nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura, a depender das condições ambientais.
Os primeiros sintomas conseguem ser verificados nas folhas, com possibilidade de evoluir para brácteas, maçãs, pecíolos e caules. Para identificação visual da mancha-de-mirotécio, é importante observar manchas circulares com bordas de coloração vinho a avermelhada e centro de coloração marrom, bastante semelhantes aos sintomas da mancha-de-alternária, embora a evolução do M. roridum seja mais rápida que a do A. alternata.
Outra diferenciação importante entre essas doenças é a formação de esporodóquio no centro da lesão causada pela mancha-de-mirotécio, que pode romper e criar buracos nas folhas, o que não ocorre com a mancha-de-alternária.
Os danos da mancha-de-mirotécio em algodão são caracterizados por desfolha precoce, apodrecimento de maçãs e tombamento das plântulas. Além disso, é possível encontrar a estrutura reprodutiva do fungo, de cor escura e hifas brancas no entorno, que fica localizada em ambas as faces das folhas e nas brácteas.
Ramulária (Ramularia areola)
A ramulária foi registrada pela primeira vez no Brasil em 1890, mas foi apenas cem anos depois, em 1990, que passou a ser considerada uma doença primária do algodão, devido aos fatores que a tornam um desafio de manejo até hoje:
- condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento nas regiões com áreas voltadas para a cotonicultura;
- rapidez na reprodução e na disseminação do fungo causador da doença, Ramularia areola.
Os primeiros sintomas costumam surgir na face inferior das folhas mais velhas, onde podem ser encontradas manchas azuladas, que, com a evolução da doença, tornam-se esbranquiçadas ou amareladas, com aspecto pulverulento. Essas características fazem com que a ramulária no algodão seja conhecida como falso míldio, falso oídio ou mancha-branca.
A falta de controle dos danos iniciais acarreta a ampla distribuição das manchas pelo limbo foliar, causando desfolha severa, com alta probabilidade de comprometer significativamente a produtividade da cultura.
A ramulária é uma das principais doenças do algodão na atualidade, pois o patógeno é favorecido por alta umidade e sombreamento e sobrevive em restos culturais presentes no solo, de maneira que pode causar danos no início do cultivo, com chances de se intensificar conforme a plantas se desenvolvem e criam sombra.
Ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides)
A ramulose do algodão é causada por uma variedade do fungo C. gossypii, patógeno responsável pela antracnose. A partir de sua primeira identificação no Brasil, em 1936, no Estado de São Paulo, distribuiu-se rapidamente para as outras regiões produtoras, sendo as sementes sua principal forma de disseminação. A doença pode atingir a lavoura por meio do solo contaminado pelo patógenos, e as condições ideais para que isso ocorra são:
- solo com boa fertilidade;
- temperatura elevada;
- alta pluviosidade.
As plântulas que emergem em solo já contaminado por ramulose podem sofrer tombamento, o que gera falhas no estande e perdas de produtividade logo na fase inicial de desenvolvimento da cultura.
A identificação da ramulose no algodão deve ser iniciada pela observação de sintomas nas folhas mais novas, onde se formam manchas circulares, ou alongadas, e necróticas. O tecido afetado pode cair, criando perfurações nas folhas, o que diminui a sua capacidade fotossintética.
Quando as manchas ocorrem nas nervuras das folhas, pode haver desenvolvimento desuniforme, enrugamento do limbo e folhas retorcidas. Quando o fungo afeta o meristema apical, é possível que provoque superbrotamento e intumescimento dos internódios, de maneira a reduzir o porte do algodoeiro contaminado.
Nova ramulária no algodão? Histórico, danos e manejo
Nas últimas safras de algodão, foi identificada uma nova espécie de ramulária que pode significar um novo desafio de manejo.
“Inicialmente o patógeno foi nomeado como Ramularia areola Atk. Estudos recentes observaram que as estruturas conidiogênicas revelavam conidióforos muito longos e semelhantes ao gênero Ramulariopsis sp.”, explica Ricardo Desjardins, Gerente de Resistência a Fungicidas da Syngenta Brasil.
Com base nos programas de monitoramento da Syngenta e na literatura pesquisada, identificou-se as espécies Ramulariopsis pseudoglicynes e Ramulariopsis gossypii . Até a safra 2021, somente a primeira espécie foi encontrada em campos comerciais.
Para manejar o problema é comum o uso de variedades resistentes à ramulária, de maneira que as aplicações de fungicidas para o controle da ramulária vêm sendo reduzidas. Contudo, o controle varietal funciona contra R. pseudoglicynes, e, na safra 2022/23, observou-se a presença de isolados de Ramulariopsis gossypii no Mato Grosso, espécie que não é controlada pela resistência varietal.
Sobre isso, Desjardins comenta:
“A principal forma de controle da doença é feita por meio de aplicações de fungicidas. São utilizados no manejo de ramulária: triazóis, organoestânico, estrobilurinas e carboxamidas, apresentados comercialmente, de forma geral, em formulações associando diferentes modos de ação. A rotação de mecanismos de ação e o reforço das aplicações com fungicidas multissítios diminui o risco de resistência do fungo. O posicionamento assertivo é também extremamente importante nesse cenário, visto que o atraso no início das aplicações pode comprometer a eficiência de controle da doença.”
O atual sistema de produção, com base em extensas áreas e poucas cultivares, muitas delas suscetíveis a mais de uma doença, leva ao agravamento de enfermidades antes consideradas pouco expressivas; também possibilita surtos epidêmicos de novas doenças como Cercospora spp. Alternaria spp, Colletotrichum spp, Myrothecium spp. e Phomopsis spp. Tais patógenos têm crescido em ocorrência anualmente e já preocupam o setor produtivo.
Como as doenças interferem na qualidade da fibra do algodão?
A relação entre a qualidade da fibra e as doenças fúngicas que causam manchas foliares no algodão é significativa. A ramulária pode reduzir a produtividade em cerca de 40%, mas também tem efeitos negativos nos fatores que envolvem a qualidade necessária para a comercialização, tais como: micronaire, comprimento e resistência.
Um estudo realizado por Nedio Tormen, doutor em fitopatologia pela Universidade de Brasília, e Ricardo Balardin, PhD em Crop and Soil Sciences, Plant Pathology, pela Michigan State University, MSU, Estados Unidos, constatou que os danos à qualidade da fibra do algodão causados pela ramulária foram maiores em áreas que não receberam aplicação fungicida:
Novo fungicida para algodão protege produtividade e qualidade de maneira simples
As condições climáticas e ambientais favorecem as principais doenças do algodão, mas o cotonicultor pode proteger sua lavoura, sua rentabilidade e a qualidade da fibra aplicando um MID (Manejo Integrado de Doenças) assertivo, com a ferramenta que oferece simplicidade para o produtor e é poderoso contra as doenças: o novo fungicida para algodão MIRAVIS® Duo.
Com amplo espectro de controle, MIRAVIS® Duo entrega performance superior contra:
- antracnose (Colletotrichum gossypii);
- mancha-de-cercóspora (Cercospora gossypina);
- mancha-alvo (Corynespora cassiicola);
- mancha-de-alternária (Alternaria alternata);
- mancha-de-mirotécio (Myrothecium roridum);
- ramulária (Ramularia areola).
Isso é possível graças à composição inédita e inovadora de MIRAVIS® Duo, à base de ADEPIDYN® technology: uma molécula fungicida que dá origem a um novo ingrediente ativo de um grupo químico nunca antes utilizado nas lavouras.
ADEPIDYN® technology é combinado de maneira sinérgica com o difenoconazol, revolucionando o manejo das principais doenças do algodão. Com dois modos de ação complementares (inibição da succinato desidrogenase e da biossíntese de ergosterol), MIRAVIS® Duo age de maneira preventiva e curativa, impedindo que os patógenos penetrem na planta e freando a colonização e a disseminação daqueles que já foram identificados.
Em resumo, MIRAVIS® Duo entrega os seguintes benefícios:
- poder e alta atividade intrínseca de controle;
- excelente residual e rápida absorção;
- amplo espectro de ação
- alta performance multicultivos.
Toda essa tecnologia desenvolvida pela Syngenta tem como objetivo proporcionar ao cotonicultor poder de controle e simplicidade no manejo. Assim, se as doenças do algodão evoluem, as técnicas para controlá-las avançam ainda mais.
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