Considerada uma das 10 plantas daninhas mais agressivas do mundo, a tiririca (Cyperus rotundus) é uma espécie capaz de impor uma série de impactos negativos nos ambientes agrícolas.

A tiririca, além de competir por recursos, como água, nutrientes e luz, é capaz de produzir substâncias inibidoras de germinação e crescimento de outras culturas, podendo, inclusive, ser hospedeira alternativa de agentes fitopatogênicos, insetos–praga e nematoides.

Todos esses fatores combinados fazem com que as infestações dessa planta daninha nas lavouras causem perdas significativas de produtividade e rentabilidade em diversas culturas, como a cana-de-açúcar. Perdas de produtividade da ordem de 20% já foram registradas, quando comparado a canaviais totalmente livres de infestações.

Para evitar esses prejuízos, é preciso então que seja implementado um conjunto de estratégias de manejo eficazes e sustentáveis capazes de proteger a cultura e garantir o seu pleno desenvolvimento e produção.

Neste texto, vamos conhecer mais a respeito da tiririca e como essa planta daninha é capaz de afetar a cultura da cana-de-açúcar, assim como as melhores práticas para o seu controle. Confira! 

Conhecendo a tiririca e seus impactos na agricultura

A tiririca é um dos nomes populares atribuídos à espécie Cyperus rotundus, uma planta herbácea que se tornou uma das plantas daninhas mais disseminadas e agressivas de todo o mundo.

Também chamada de tiririca-roxa, junça, tiririca-de-três-quinas ou capim-dandá, ela é uma planta de origem asiática que está presente em mais de 90 países e chegou ao Brasil nos tempos coloniais, através dos navios mercantes portugueses.

Atualmente, essa planta daninha está distribuída praticamente por todo o país e vem afetando negativamente mais de 50 culturas agrícolas, incluindo:

  • o arroz;
  • o milho;
  • o feijão;
  • o algodão;
  • as hortaliças;
  • a cana-de-açúcar.

Segundo estudos realizados por pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a tiririca pode causar perdas expressivas de produtividade dependendo da cultura afetada, do nível de infestação da área e das medidas de manejo adotadas.

Tais prejuízos estão associados a uma série de impactos negativos que essa planta daninha impõe nos sistemas agrícolas. 

1. A competição por recursos

O primeiro impacto negativo que a tiririca gera nos ambientes agrícolas é a competição por recursos. A tiririca é uma planta que possui metabolismo fotossintético favorecido em condições de altas temperaturas e luminosidade, o que faz com que o seu desenvolvimento seja beneficiado frente a culturas como a soja e o café, que possuem um ciclo fotossintético mais eficiente em condições de clima temperado.

É estimado que a tiririca seja capaz de formar até 40 toneladas de material vegetal por hectare em condições favoráveis, retirando nutrientes essenciais e água do solo, como também exercendo uma competição direta pela luz, o que afeta principalmente os estágios de desenvolvimento mais iniciais das culturas.

Além disso, essa é uma planta daninha perene e apresenta um método de propagação predominantemente vegetativo, ou seja, ela consegue se multiplicar a partir dos tecidos da planta-mãe. 

Inclusive, o epíteto do seu nome científico rotundus faz alusão a esse método de propagação. Ele deriva de um adjetivo latino que significa redondo, sendo uma referência  direta aos tubérculos arredondados que a tiririca forma no solo que darão origem às novas plantas.

Exemplar de tiririca (Cyperus rotundus) e os tubérculos em seu sistema radicular. Fonte: Syngenta

Em um ano, estudos indicam que um único tubérculo da tiririca pode originar até 700 novos tubérculos, o que leva a produção de dois a três milhões de tubérculos por semana em condições favoráveis ao desenvolvimento dessa planta daninha.

Tal potencial de propagação, somado a longevidade dos tubérculos no solo – que pode chegar a 5 anos ou mais dependendo da sua profundidade – tornam a infestação de áreas agrícolas pela tiririca um problema recorrente.

2. A produção de substâncias inibidoras de germinação e crescimento

Outro impacto associado à presença da tiririca nas lavouras são os efeitos alelopáticos negativos que ela pode exercer sobre outras plantas e, assim, prejudicar o seu desenvolvimento.

Os efeitos alelopáticos podem ser definidos como fenômenos químicos ecológicos cujas substâncias produzidas por determinadas espécies de plantas podem causar, de forma direta ou indireta, efeitos positivos ou negativos às espécies vizinhas. Em alguns casos, esses efeitos podem inclusive chegar a impactar as propriedades e características nutricionais do solo e as atividades de microrganismos, nematoides e insetos.

Essas substâncias são conhecidas como aleloquímicos e são sintetizadas em diferentes órgãos da planta, como as raízes, as folhas, as flores e os frutos. 

No caso da tiririca, estudos indicam que a produção de aleloquímicos está presente tanto nas folhas quanto em seus órgãos subterrâneos e podem interferir de forma negativa na germinação e no crescimento de várias espécies, sobretudo outras espécies de plantas daninhas.

Portanto, a produção de aleloquímicos pela tiririca acaba favorecendo o seu desenvolvimento frente às demais espécies de plantas daninhas, potencializando a sua capacidade de multiplicação nas lavouras e intensificando as relações de competição por recursos.

Entretanto, vale-se ressaltar que nem todos os efeitos alelopáticos da tiririca são negativos e que, em alguns casos específicos, os aleloquímicos produzidos por ela vêm sendo estudados para serem utilizados em benefício do agricultor.

3. A hospedagem de agentes fitopatogênicos, insetos–praga e nematoides

Por fim, um último impacto negativo da tiririca que vale destaque é que ela é considerada uma hospedeira alternativa de agentes fitopatogênicos relacionados a doenças de grande importância econômica.

Dentre eles, os fungos do gênero Fusarium são os mais relevantes. Esses fungos ocorrem em regiões de clima tropical e subtropical e podem colonizar ramos, folhas, inflorescências e frutos de várias culturas, causando doenças como: 

  • a podridão do caule em café;
  • a podridão de fusário em citrus;
  • a fusariose em cana-de-açúcar;
  • o mal-do-panamá em bananeira;
  • a podridão-radicular-vermelha em soja;
  • a murcha-do-fusário em soja, feijão e tomate.

Além disso, a tiririca também pode ser hospedeira de uma ampla variedade de pragas e nematoides. Pelo menos 26 espécies de artrópodes e 22 nematoides parasitas são associados à tiririca, sendo eles responsáveis por gerar uma série de prejuízos para as culturas às quais estão associados.

Os desafios do manejo da tiririca na cana-de-açúcar

Na cultura da cana-de-açúcar, os impactos negativos da tiririca são observados principalmente logo após o plantio ou colheita da cana. Apesar dessa cultura ser muito eficiente ao utilizar os recursos disponíveis para o seu desenvolvimento, ela também é muito afetada pelas plantas daninhas nas suas fases mais iniciais, por apresentar brotação e crescimento inicial mais lentos em grande parte das situações.

Durante essas fases da cultura a tiririca é capaz de liberar substâncias alelopáticas que inibem a brotação e o perfilhamento da cana-de-açúcar, já havendo estudos demonstrando uma correlação de que quanto maior o número de tubérculos de tiririca por metro quadrado, menor será a brotação esperada.

Além das perdas associadas à brotação da cultura, outro desafio são as interferências negativas na produtividade e na qualidade da cana-de-açúcar, assim como no número de cortes economicamente viáveis.

Dessa forma, é justificável adotar medidas de manejo que promovam o controle eficaz dessa planta daninha nos canaviais, combinando diferentes medidas preventivas e métodos de controle. Para tanto, o primeiro passo consiste na identificação precoce da tiririca.

Como identificar corretamente a tiririca (Cyperus rotundus)?

A principal característica utilizada para identificação correta da tiririca é a presença de tubérculos arredondados em seu sistema radicular, normalmente encontrados nos primeiros 15 centímetros do solo. Essa característica, somada à presença de folhas predominantemente basais e pontiagudas e de um caule triangular e liso, sem ramificações, são evidências claras dessa espécie.

Outra característica que também pode ser utilizada para identificação da tiririca são as suas inflorescências, que são em formato de espiguetas lineares de coloração vermelho-ferrugínea. Entretanto, não é indicado aguardar o surgimento dessas estruturas para identificação da tiririca, uma vez que essa espécie se propaga rapidamente em um curto espaço de tempo.

Características da inflorescência da tiririca (Cyperus rotundus). Fonte: Syngenta

Verificada a presença da tiririca e o seu nível de infestação no canavial, o agricultor deve então adotar um conjunto de medidas preventivas e de controle para obter o manejo assertivo dessa planta daninha no campo. 

Medidas preventivas e métodos de controle da tiririca na cana-de-açúcar

Dentre as principais medidas de prevenção e controle da tiririca na cana-de-açúcar, podemos destacar:

  1. a escolha adequada da variedade a ser cultivada, considerando aspectos, como arquitetura foliar, perfilhamento, brotação das soqueiras, suscetibilidade a herbicidas e resistência a pragas e doenças; 
  2. a escolha de espaçamentos de plantio menores, quando possível, a fim de promover o fechamento mais rápido do canavial;
  3. a limpeza dos implementos agrícolas, para evitar a disseminação da tiririca entre os talhões;
  4. o uso de implementos mecânicos na época “seca”, para mitigar a propagação dos tubérculos;
  5. a manutenção correta de canais de vinhaça ou de irrigação, mantendo-os livres de plantas daninhas;
  6. o armazenamento da torta de filtro em áreas livres de infestações;
  7. o uso de herbicidas eficazes e eficientes no momento certo e na dosagem correta.

Desse modo, o agricultor, ao adotar esse conjunto de estratégias, consegue promover o manejo assertivo da tiririca, assegurando a produtividade e a rentabilidade dos seus canaviais.

A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.

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