A cafeicultura brasileira é uma das mais importantes do mundo, com uma longa história de desafios e conquistas. Seja você produtor, profissional do campo ou admirador dessa cultura, certamente sabe que no dia 18 de julho de 1975, um evento climático extremo mudou drasticamente a produção e o mercado de café do Brasil. 

Há quatro décadas, o país enfrentou desastres climáticos em diversas regiões. Enquanto grandes enchentes deixavam cerca de 80% da cidade de Recife debaixo d’água, o Centro e o Sul do Brasil enfrentavam geadas extremamente severas que dizimaram a produção brasileira de café de uma forma nunca vista antes. 

O Paraná, na época líder em produção cafeeira no país, foi o Estado mais impactado. De uma participação de 48% na produção nacional em 1975, o Estado viu sua participação despencar para apenas 0,1% no ano seguinte. Diante da importância econômica que o cultivo representava para o Paraná, a “Geada Negra”, de 1975, foi considerada “o maior golpe social e econômico enfrentado na história do Estado”.

Se você leu atentamente o título desse artigo, pode estar se perguntando: mas o que tudo isso tem a ver com os nematoides? A resposta é que esses vermes parasitas tiveram um papel crucial nesse evento e em perdas expressivas que antecederam a grande geada – e continuam afetando a produtividade dos cafezais até os dias de hoje!

Quer entender melhor essa relação e saber como descobrir se os nematoides estão afetando a sua lavoura de café? Continue a leitura e confira!

Os nematoides mudaram o rumo da cafeicultura brasileira

Embora a “Geada Negra” tenha sido o golpe final para os cafezais, outro fator crucial contribuiu para a tragédia: os nematoides. Esses minúsculos vermes parasitas do solo, considerados inimigos ocultos, já vinham debilitando as lavouras há anos, diminuindo a produtividade e a resistência das plantas, fator muito importante para o enfrentamento de condições climáticas adversas

Segundo historiadores locais, as geadas eram recorrentes na região nessa época, e geraram um incentivo à renovação dos cafezais com novas mudas para tentar recuperar a produtividade. No entanto, essa iniciativa, embora bem-intencionada, teve um efeito colateral desastroso: a disseminação dos nematoides, principalmente dos nematoides-das-galhas.

As mudas utilizadas para renovar os cafezais, em sua maioria, estavam infestadas por nematoides, especialmente das espécies Meloidogyne incognita e Meloidogyne paranaensis. Ao serem plantadas em solo já debilitado pela geada, essas plantas enfraquecidas não resistiam ao ataque dos inimigos ocultos, sucumbindo rapidamente.

A combinação da geada com a infestação por nematoides causou um impacto devastador nas lavouras. E esse cenário serviu como um alerta crucial sobre a importância do controle de nematoides na cafeicultura, principalmente diante dos eventos climáticos extremos que estão ocorrendo cada vez mais em decorrência da crise climática global.

O que mudou?

Desde então, medidas rigorosas para a produção de mudas livres de nematoides foram implementadas, e novos métodos de manejo foram desenvolvidos para combater esses parasitas.

Devido à alta infestação de nematoides no Paraná, a cafeicultura se viu obrigada a migrar de região e Estados, como Minas Gerais e Espírito Santo, despontaram como novos polos da cafeicultura brasileira. 

Embora esses Estados tenham se beneficiado da baixa frequência de registros dos nematoides M. incognita e M. paranaensis em seus cafezais, esses inimigos ocultos ainda continuam atacando as lavouras de café Brasil a fora. 

Por isso é importante ressaltar que, mesmo com danos menos visíveis devido à utilização de mudas tolerantes, os impactos na produtividade continuam a acontecer nas lavouras do país, afetando não só a produção e a rentabilidade, como a longevidade dos cafezais. 

Mas atualmente, com o desenvolvimento de novas soluções ainda mais tecnológicas para controlar esses inimigos ocultos nas lavouras e a adoção de práticas agrícolas adequadas, podemos construir um futuro promissor para a cafeicultura brasileira, que continua superando desafios dia após dia. 

Principais espécies de nematoides que atacam o café no Brasil

Apesar da mudança no padrão de qualidade e sanidade das mudas, os inimigos ocultos ainda estão presentes com alta incidência nas áreas brasileiras, afetando diversas culturas. As principais espécies de nematoides do café são dos gêneros Meloidogyne e Pratylenchus, popularmente conhecidos como nematoide-das-galhas e nematoide-das-lesões.

Nematoides-das-galhas 

Foto: Sônia M. de Lima Salgado. (GONÇALVES; SILVAROLLA, 2001).
EspécieDistribuição geográfica
Meloidogyne incognitaEspírito Santo, Minas Gerais, Paraná e São Paulo
Meloidogyne paranaensisGoiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo
Meloidogyne exiguaTodas as regiões cafeeiras
CaracterísticasM. incognitaM. paranaensisM. exigua
Época de infestaçãode mudas a plantas adultas
Local de parasitismogeralmente radicelasgeralmente radicelasradicelas
GalhasPresentes ou não (atípicas)Presentes ou não (atípicas)Presentes (típicas)
Descorticamentograndegrandeausente
Desfolhamentoacentuadoacentuadoocasional
Nº de plantas mortas altoaltobaixo
Fonte: Nematoides Parasitos do Cafeeiro. Boletim Técnico Instituto Biológico São Paulo – SP. Nº 32 – págs. 1-28. Fevereiro/2018.

Nematoides-das-lesões (Pratylenchus spp.)

Sintomas causados por Pratylenchus brachyurus em Coffea arabica cv. Catuaí Vermelho com braquiária na entrelinha. Foto: Mario M. Inomoto.
EspécieDistribuição geográfica
Pratylenchus brachyurusSão Paulo e Minas Gerais 
Pratylenchus coffeaeSão Paulo e Pernambuco 
Pratylenchus jaehniSão Paulo
Pratylenchus vulnusSão Paulo
CaracterísticasPratylenchus spp.
Zona favorável de penetraçãozona pilífera ou região posterior à zona de crescimento das raízes
Local de parasitismoApós penetrarem nas raízes, nutrem-se das células do parênquima cortical e causam lesões que aumentam gradualmente
Danos diretosDestruição e diminuição de raízes secundárias
Sintomasclorose e atrofiamento, resultando na morte da planta
Principal espécie no BrasilP. brachyurus

3 grandes prejuízos que os cafeicultores enfrentam com os nematoides em campo

1. Perda de produtividade

O ciclo de vida dos nematoides no cafeeiro se estende por todo o período da lavoura, mas o verão chuvoso é a época de maior proliferação desses parasitas. As raízes parasitadas sofrem prejuízos na absorção de nutrientes, afetando o crescimento e desenvolvimento da planta.

Situações de estresse, sejam biológicas ou não, agravam os efeitos do ataque dos nematoides, levando a perdas significativas na produção. A combinação desses fatores, somada à presença de nematoides nas raízes afetam diretamente a produtividade.

Além disso, o ataque também facilita a entrada de outros patógenos de solo nas raízes, como fungos e bactérias.

Estudos demonstram quedas significativas na produção cafeeira devido ao parasitismo por nematoides. Estimativas de perdas nas lavouras brasileiras variam de 25% a 45% com o nematoide-das-galhas. Em relação à produção mundial de café, estudos apontam que a redução devido à ação dos nematoides, seja, em média, de 15%

2. Aumento de custos

A necessidade de medidas de controle gera custos para os produtores, mas o não controle desses parasitas custa muito mais. Plantas com raízes danificadas precisam de mais água e nutrientes para compensar os efeitos do parasitismo, além de serem mais susceptíveis a doenças e pragas, tornando o manejo ainda mais oneroso e complexo.

Esses parasitas atacam o principal patrimônio do cafeicultor: o cafezal. A morte de plantas demanda replantio e a redução da longevidade da lavoura demanda renovação dos cafezais, aumentando os custos. Com plantas fragilizadas pelos nematoides, os custos com a sanidade da lavoura se tornam ainda maiores, tornando a atividade menos lucrativa para os produtores.

3. Redução da rentabilidade 

A menor produtividade aliada ao maior consumo de recursos por unidade de produção causa impactos significativos na rentabilidade das lavouras de café. A diminuição da quantidade de café colhido significa menor receita, e os impactos na qualidade desses grãos também se estendem para o valor agregado pago pelo produto.

A redução da rentabilidade também torna o café menos competitivo no mercado, pois os produtores não conseguem trabalhar sua margem de lucro, podendo levar à perda de mercado para outros cafeicultores. Dessa forma, a sustentabilidade econômica da lavoura a longo prazo pode ser comprometida.

Sintomas de nematoides no café: como saber se esses parasitas estão prejudicando sua lavoura?

Será que a sua lavoura de café está sofrendo com nematoides? Por serem inimigos ocultos, é preciso estar atento aos sintomas visuais na lavoura

Atenção: se você tem observado alguns dos sintomas abaixo, é fundamental realizar uma análise laboratorial, pois só assim é possível confirmar a pressão e as espécies, e planejar ações efetivas para o controle.

  • Crescimento atrofiado: as plantas apresentam desenvolvimento lento e menor porte, com folhas menores e menos vigorosas.
  • Amarelecimento das folhas: as folhas podem apresentar coloração amarela, especialmente nas áreas entre os nervos, em um sintoma conhecido como clorose.
  • Queda prematura das folhas: as folhas podem cair prematuramente, afetando a fotossíntese e a produtividade da planta.
  • Desenvolvimento irregular da planta: as plantas podem apresentar tamanhos e crescimentos desiguais, formando reboleiras na lavoura.
  • Fraqueza geral da planta: a planta se torna mais fraca e suscetível a outras doenças, pragas e estresses ambientais.
  • Redução na produtividade: a principal consequência da infestação por nematoides é a queda significativa na produção de café, podendo chegar a 45% em casos severos.
  • Presença de galhas nas raízes: no caso do nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.), o principal sintoma são galhas nas raízes, que impedem a correta absorção de água e nutrientes.

É importante ressaltar que nem sempre é possível diagnosticar a presença de nematoides apenas pela observação dos sintomas. A confirmação da infestação por nematoides deve ser feita por meio de análises laboratoriais de solo e raízes.

A época ideal para realizar a análise é durante o período de florescimento ou frutificação do café, quando o solo apresentar de 40% a 60% de umidade. Consulte um agrônomo experiente para obter um diagnóstico preciso e elaborar um plano de manejo adequado para sua lavoura!

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Não dê espaço para os nematoides no café! 

O controle dos nematoides no café exige uma estratégia abrangente que combine diferentes métodos, visando minimizar o impacto desses parasitas e assegurar a sanidade das plantas e a rentabilidade do cafeicultor.

Para isso, lembre-se:

  • Integre as medidas de manejo: melhore a saúde do solo e utilize nematicidas adequados para o cenário da sua lavoura; utilize porta-enxertos que apresentem resistência genética aos nematoides específicos da sua região; adquira mudas de viveiros certificados, livres de nematoides e outras pragas.
  • Mantenha a vigilância: realize análises periódicas de solo e raízes para detectar a presença e a população de nematoides na lavoura; monitore as plantas regularmente, buscando sinais de infestação, como clorose, queda de folhas e desequilíbrio no crescimento.
  • Fique atento às inovações do mercado: o desenvolvimento de novas soluções nematicidas mais eficientes, de amplo espectro e sustentáveis, está abrindo caminho para o avanço da produtividade da cafeicultura brasileira. Cafeicultores que se mantêm atualizados aos lançamentos do mercado saem na frente na hora de minimizar os danos causados pelos nematoides, assegurar a produtividade e a qualidade do café brasileiro e contribuir para a prosperidade do setor cafeeiro.  

O combate aos nematoides é uma responsabilidade de todos os envolvidos na cadeia produtiva do café. Ao trabalharmos juntos, podemos construir novas histórias aprendendo com os desafios enfrentados nos últimos anos. 

Por meio da união de esforços, disseminação do conhecimento e práticas agrícolas mais inovadoras, podemos proteger a cultura do café e assegurar que ela continue a ser um símbolo de excelência e tradição para as futuras gerações!

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