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Em abril, o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) publicou a Portaria SDA nº 781, estabelecendo o período de vazio sanitário e o início do plantio de soja para cada região produtora do Brasil em 2023.
Instituída pela primeira vez em 2006, a medida visa proteger as áreas de cultivos contra a ferrugem-asiática, ao mantê-las livres de plantas hospedeiras pelo período necessário para impedir a sobrevivência do inóculo do fungo causador da doença.
A primeira ocorrência da ferrugem-asiática no Brasil foi identificada em 2001, mas somente em 2004 foi verificada uma disseminação generalizada nas principais regiões produtoras de soja. A partir disso, passou-se a monitorar a doença, a fim de avaliar os riscos e as possíveis medidas de controle.
Segundo o Consórcio Antiferrugem, que é uma das frentes de combate à dispersão do fungo Phakopsora pachyrhizi, a safra 2005/06 apresentou um dos piores cenários, com registro de 1358 ocorrências da doença. Com isso, verificou-se a necessidade de instituir o vazio sanitário como medida integrada de controle da ferrugem-asiática.
A partir da safra 2007/08, o respeito a essa calendarização oficial tornou-se ainda mais importante, considerando que o fungo causador da doença estava menos sensível aos principais fungicidas disponíveis no mercado, precarizando a eficiência do controle químico e aumentando a necessidade do MID (Manejo Integrado de Doenças), em que se passou a incluir:
- vazio sanitário;
- manejo preventivo;
- uso de fungicidas com uma combinação de diferentes ativos e modos de ação;
- monitoramento periódico;
- análise do histórico de cada área.
Dessa forma, é possível estabelecer um manejo de ferrugem-asiática na soja que evite a seleção de populações do patógeno com menor sensibilidade aos fungicidas disponíveis, além de desenvolver novas ferramentas, medidas e aprimorar as diretrizes do vazio sanitário, que representa uma das principais estratégias antirresistência para evitar o avanço da doença nas lavouras.
Sobre a importância do vazio sanitário: soja e a ameaça da ferrugem-asiática
Em 2022, a central de conteúdos Mais Agro publicou um artigo sobre algumas mudanças aplicadas ao vazio sanitário na soja que implicaram em modificações na janela de plantio de algumas regiões que ainda não estavam inclusas nas medidas nacionais de manejo da ferrugem-asiática.
O motivo dessa ampliação se deve à verificação do aumento do foco da doença, que estava espalhando-se pelo território nacional e limitando a produtividade.
Assim, cada um das 21 regiões incluídas na Portaria SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária) precisam manter a área de cultivo limpa – inclusive sem plantas tigueras – por um período de 90 dias, uma vez que se estima que os esporos do P. pachyrhizi sobrevivem por cerca de 55 dias.
Dessa forma, a ausência de plantas hospedeiras impede a continuidade do ciclo do fungo, retardando a entrada da ferrugem-asiática nas lavouras.
Pela análise do histórico registrado pelo Consórcio Antiferrugem, é possível perceber a relevância dessa medida. A partir de 2006, a pressão da doença foi muito severa, atingindo 2884 ocorrências na safra 2008/09. Então, o MID com a inclusão do vazio sanitário começou a mostrar seus resultados.
A diminuição do foco de P. pachyrhizi no território nacional foi evidente, com uma redução significativa no ano agrícola 2011/12, deixando de atingir a casa de milhares de ocorrências dispersas pelo país, de maneira que seguir o calendário estipulado para cada região passou a ser imprescindível para o controle da ferrugem-asiática.
Safra de soja 2023/24: vazio sanitário e janela de plantio
Para a safra de soja 2023/24, o vazio sanitário começou entre junho e julho nas principais regiões produtoras, e produtores devem ficar atentos para a limpeza das áreas a fim de evitar as penalidades previstas pela legislação. Finalizado o período mínimo de 90 dias, já se pode iniciar a semeadura, com atenção à janela ideal definida pelo ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).
A seguir, é possível conferir o que foi determinado para o vazio sanitário da soja em 2023:
Fonte: Portaria SDA 781, de 06 de abril de 2023, MAPA, 2023.
Assim, fica instituído o período em que não se pode manter plantas vivas de soja em cada uma das regiões produtoras. O objetivo é reduzir ao máximo o inóculo da ferrugem-asiática, minimizando os impactos negativos durante a safra seguinte. Findo o vazio sanitário, produtores já podem iniciar os preparos para a semeadura propriamente.
Risco para a produção de soja? Aumento da ferrugem-asiática pode limitar a produtividade
Como uma doença policíclica, a ferrugem-asiática da soja apresenta uma taxa de progressão crescente, de forma exponencial, uma vez que gera mais de um ciclo de infecção em um único ciclo da cultura, diferentemente de outros fitopatógenos. Assim, pode causar reinfecções em uma mesma área em um mesmo ano agrícola, para além de se disseminar rapidamente para outras áreas.
Ciclo de vida do Phakopsora pachyrhizi, agente causal da ferrugem-asiática da soja. Fonte: Reis et al. (2006).
A doença pode, inicialmente, atingir as folhas do baixeiro, onde há mais umidade e menos luminosidade, um ambiente propício para a rápida reprodução do fungo.
As folhas infectadas amarelecem e caem precocemente, de maneira que a planta de soja precisa dividir a energia das folhas do terço médio com o sistema radicular, desviando, assim, parte da energia que seria dedicada ao enchimento de grãos. Com isso, há impacto negativo na produtividade da cultura.
O risco da ferrugem-asiática não é só para a produtividade, mas também gera alto custo de produção e possível aumento da pressão de seleção de populações resistentes do fungo, arriscando o futuro da produção em caso de indisponibilidade de fungicidas com mecanismos de ação eficientes. É esse o cenário que faz com que o vazio sanitário seja indispensável.
O monitoramento da safra 2022/23, realizado pelo Consórcio Antiferrugem, indicou que houve uma diminuição das ocorrências em relação a 2021/22, no entanto, a pressão aumentou de maneira localizada, especialmente no Rio Grande do Sul, o que gera preocupação para a nova safra. As regiões com foco da doença são consideradas em estado de alerta:
Ocorrência de ferrugem-asiática na safra de soja 2022/23. Fonte: Consórcio Antiferrugem, 2023.
Em uma análise histórica dos últimos 10 anos, é possível perceber que as variações entre uma safra e outra são grandes, o que indica que a ferrugem-asiática continua sendo um risco, reforçando a importância das boas práticas agrícolas quanto ao monitoramento e ao controle, de encontro com o MID.
Elaborado pela redação a partir de dados do Consórcio Antiferrugem. Fonte: Mais Agro, 2023.
A grande preocupação, no entanto, está relacionada à entrada da doença na lavoura cada vez mais cedo. Comparando janeiro de 2022 com janeiro de 2023, houve um aumento de 208% na ocorrência de ferrugem-asiática, período em que os danos são mais severos no que tange à queda de produtividade.
Comparação da ocorrência acumulada de ferrugem-asiática na soja, 13/01/22 – 13/01/23. Fonte: Consórcio Antiferrugem.
Mesmo com esse cenário, o Brasil alcançou recorde de produtividade na safra 2022/23, com resultados muito satisfatórios inclusive nas regiões em que a ferrugem-asiática foi mais intensa. Isso é um indício de que o manejo integrado está cumprindo sua função, incluindo o vazio sanitário como uma das frentes para controlar o avanço da doença.
É possível, então, imaginar o tamanho do potencial produtivo que seria possível alcançar se o patógeno fosse controlado com ainda mais eficiência.
Recomendações para o sojicultor controlar a doença em sua lavoura
Para evitar os danos causados pela ferrugem-asiática da soja e sua intensificação, é preciso seguir a calendarização à risca, mas também é indispensável que o sojicultor realize o manejo preventivo. A recomendação é que a aplicação de fungicidas de sítio-específico e multissítios – como uma prática do manejo antirresistência – seja feita antes do fechamento das entrelinhas.
Isso se aplica não só para a ferrugem-asiática, mas também para outras doenças comuns à cultura. O motivo está relacionado à interação entre a planta, o patógeno e o produto. Quando as plantas ainda estão pequenas, em estádio vegetativo – entre V4 e V8 –, as aplicações de fungicidas conseguem atingir o terço inferior e mediano das plantas.
Com as plantas já grandes, isso não acontece de forma tão eficiente e as folhas do terço inferior podem ficar desprotegidas, criando um ambiente propício para o P. pachyrhizi manter a continuidade de seu ciclo reprodutivo.
Assim, a falta de aplicações preventivas pode levar a doença a se manifestar mais cedo, multiplicando-se quase que de maneira irreversível e colocando em risco a safra vigente.
Com a integração da aplicação preventiva de fungicidas com mais de um modo de ação e do vazio sanitário, a soja consegue se desenvolver sem a influência negativa dessa doença nos períodos mais significativos para a definição de seu potencial produtivo. Ademais, é possível avançar no combate nacional à ferrugem-asiática, diminuindo, ano a ano, a ocorrência e os focos da doença.
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