O arroz é uma das culturas mais importantes do Brasil, sendo fundamental para a segurança alimentar do país. que está entre os dez maiores produtores de arroz do mundo. Sua produção está concentrada principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso, que utilizam diferentes sistemas de cultivo e enfrentam diversos desafios fitossanitários.

A mancha-parda é uma das principais doenças que afetam o cultivo de arroz no Brasil e em outras regiões produtoras do mundo. Essa enfermidade compromete não apenas a produtividade das lavouras, mas também a qualidade dos grãos, resultando em prejuízos econômicos significativos. Por isso, entender as particularidades do cultivo do arroz no Brasil e os desafios impostos pela mancha-parda é essencial para garantir a sustentabilidade da produção. 

Este texto abordará os principais sintomas da doença, o ciclo de vida do patógeno, as condições que favorecem sua proliferação e as diferentes estratégias de controle. 

Incidência e impactos da mancha-parda no arroz

No Brasil, a mancha-parda do arroz é uma das principais doenças que afetam as plantações, especialmente na região Sul, onde as condições climáticas favorecem a sua ocorrência. 

A doença se intensifica em áreas de cultivo irrigado, onde temperaturas moderadas criam o ambiente ideal para a proliferação do Bipolaris oryzae. Em muitos casos, a incidência da mancha-parda está associada a práticas agrícolas inadequadas, como o uso excessivo de adubação nitrogenada e a falta de rotação de culturas.

O impacto econômico da mancha-parda é significativo, com reduções significativas na produtividade em casos severos. Além das perdas diretas na produção, há também prejuízos relacionados à qualidade dos grãos, que podem ser recusados pelo mercado por não atingirem os padrões exigidos. 

A doença afeta tanto produtores pequenos quanto grandes, sendo um dos principais desafios para a sustentabilidade da cultura do arroz no país.

Sintomas da mancha-parda no arroz

A mancha-parda, causada pelo fungo Bypolaris oryzae, é uma doença endêmica e pode se manifestar tanto na fase vegetativa quanto na reprodutiva da planta. 

Os primeiros sintomas aparecem como pequenas manchas arredondadas ou ovais, de cor marrom, nas folhas e nas sementes, medindo até 1 cm de comprimento. À medida que a doença avança, essas manchas adquirem uma tonalidade marrom-avermelhada, com o centro esbranquiçado ou acinzentado, e podem se expandir, coalescendo à medida que as folhas começam a murchar. 

Nas sementes, observam-se manchas marrom-escuras ou marrom-avermelhadas, que, com a esporulação do fungo, adquirem uma aparência aveludada.

Fatores como a idade da planta, tipo de solo, fertilização, métodos e época de semeadura, temperatura, luz e umidade influenciam o desenvolvimento da mancha-parda. As plantas tornam-se mais suscetíveis durante os estádios de enchimento de grãos e maturação

Além disso, os grãos de arroz são mais vulneráveis à infecção nas fases de floração e enchimento leitoso, em comparação com as demais fases de desenvolvimento.

Características do patógeno da mancha-parda

O crescimento do fungo é influenciado por diversos fatores ambientais, como umidade, temperatura, luz, pH e condições nutricionais. 

No que diz respeito à temperatura, a faixa ideal para o desenvolvimento do micélio situa-se em torno de 28 °C e a germinação dos esporos ocorre de maneira mais eficiente entre 25 °C e 30 °C. A esporulação de Bipolaris oryzae requer períodos alternados de luz e escuridão. 

Os fatores ambientais também desempenham um papel crucial na sobrevivência do fungo, tanto nas sementes quanto no solo. A temperatura e a umidade relativa durante o armazenamento das sementes afetam diretamente a viabilidade do patógeno. 

A mancha-parda geralmente não é observada em anos com chuvas regulares. No entanto, em estações com precipitação limitada, mas com formação intensa de orvalho, as condições se tornam favoráveis para epidemias mais severas. Isso ocorre devido ao período de molhamento foliar, essencial para a propagação do fungo.

O patógeno consegue sobreviver no solo e em restos culturais de plantas infectadas, como palhada e grãos. Esses materiais vegetais servem como fonte primária de inóculo que pode sobreviver por até três anos. Algumas plantas daninhas também podem servir de hospedeiras do fungo. 

Com as informações a respeito da doença, o produtor deve adotar diferentes frentes de ação, visando controlar o patógeno utilizando o Manejo Integrado de Doenças (MID).

MID para controlar a mancha-parda no arroz

O MID é uma estratégia altamente eficaz para o controle da mancha-parda do arroz. Essa ferramenta combina diversas estratégias, que visam reduzir o impacto das doenças e promover uma lavoura mais saudável e produtiva. 

Uma das principais vantagens do MID é sua abordagem abrangente, que considera fatores ambientais, culturais e biológicos, permitindo maior eficiência no controle da doença. Essa estratégia contribui para o aumento da longevidade das lavouras, melhora a qualidade dos grãos e, ao mesmo tempo, promove a sustentabilidade do cultivo.

Monitoramento regular da lavoura

O monitoramento contínuo e detalhado da lavoura é a base do MID. A observação frequente dos sinais iniciais da mancha-parda, como pequenas manchas nas folhas, permite que os agricultores adotem medidas preventivas antes que a doença se espalhe e cause danos significativos. 

Além disso, o uso de tecnologias de monitoramento, como drones e sensores de campo, facilita a detecção precoce da doença e ajuda na tomada de decisões mais assertivas sobre o momento ideal para intervenção. A avaliação climática também deve ser constante, considerando a umidade e a temperatura, que são fatores que influenciam diretamente a proliferação do fungo.

Tipos de controle

  • Controle cultural

O controle cultural é uma ferramenta essencial dentro do MID, focada em práticas agrícolas que reduzem as condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. A rotação de culturas, por exemplo, é uma das estratégias mais recomendadas, pois quebra o ciclo de vida do Bipolaris oryzae, reduzindo a presença do fungo na área de cultivo. 

A escolha de sementes de alta qualidade e certificadas também é importante para evitar a introdução do fungo na lavoura. Além disso, o manejo adequado da irrigação e o controle da adubação nitrogenada são práticas que ajudam a manter as plantas mais saudáveis e menos suscetíveis à doença. 

Evitar o excesso de nitrogênio é especialmente crucial, pois altas concentrações do nutriente podem aumentar a sensibilidade das plantas ao patógeno.

  • Controle biológico

O controle biológico envolve o uso de organismos vivos que combatem o patógeno de maneira natural, reduzindo sua presença no campo. Embora ainda esteja em fase de pesquisa, essa técnica apresenta grande potencial de uso no futuro. 

Fungos antagonistas e bactérias benéficas estão sendo estudados como possíveis aliados no combate ao Bipolaris oryzae. Essa estratégia, quando combinada com outras técnicas do MID, poderá oferecer uma alternativa promissora para o manejo sustentável da doença. 

  • Controle químico

O controle químico, quando bem aplicado, é uma ferramenta eficiente no combate à mancha-parda. Seu uso deve ser realizado de maneira técnica e estratégica

É fundamental seguir as recomendações agronômicas em relação às doses corretas, intervalos de aplicação e estádios adequados da planta para o tratamento. Aplicações preventivas são geralmente mais eficazes, especialmente durante os estádios críticos do desenvolvimento do arroz, como a fase de enchimento de grãos.

Além disso, a rotação de moléculas é essencial para evitar selecionar o fungo resistente ao fungicida. O uso contínuo de um único tipo de fungicida pode levar à perda de eficácia no controle da doença, por isso, alternar diferentes grupos químicos ajuda a prolongar a vida útil das moléculas e mantém sua eficácia a longo prazo. 

Seguir as orientações técnicas e as boas práticas no uso de defensivos é vital para alcançar um controle eficiente da mancha-parda, sem comprometer a saúde das lavouras.

O Manejo Integrado de Doenças se destaca por sua flexibilidade e eficiência ao integrar múltiplas frentes de ação. Ao monitorar de perto a lavoura e aplicar práticas de controle cultural, biológico e químico de forma coordenada, os agricultores podem reduzir a incidência da mancha-parda e aumentar a resiliência de suas lavouras de arroz.

Controle da mancha-parda para o crescimento da rizicultura no Brasil

O controle eficaz da mancha-parda no arroz, com base nas práticas do MID, é essencial para a sustentabilidade e o crescimento contínuo da rizicultura no Brasil. Para seguir atendendo às demandas crescentes por alimentos de alta qualidade, é fundamental adotar estratégias eficientes e sustentáveis no manejo de doenças como a mancha-parda.

Ao utilizar o MID, os produtores brasileiros podem minimizar as perdas de produtividade e a degradação da qualidade dos grãos causadas pela Bipolaris oryzae, com a preservação do meio ambiente e a viabilidade econômica das lavouras. 

A integração dessas técnicas permite ao Brasil continuar expandindo sua capacidade produtiva de arroz, oferecendo ao mercado interno um produto de alta qualidade, alinhado às exigências de consumidores que cada vez mais valorizam práticas agrícolas sustentáveis.