O cultivo do algodão exerce um importante papel no agronegócio brasileiro e no desenvolvimento do país. No entanto, os produtores enfrentam diversos obstáculos que podem comprometer a produtividade e a lucratividade da produção, como as pragas.
A lagarta-rosada é uma das principais pragas da cultura do algodão, gerando enormes prejuízos para produtores em todo o mundo, inclusive no Brasil. Conhecida por sua capacidade destrutiva e por seu difícil controle, essa praga exige atenção constante dos agricultores e o uso de práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) para minimizar seus impactos.
Neste artigo, vamos abordar as principais características da lagarta-rosada, seus danos na cultura do algodão, as condições favoráveis para seu desenvolvimento e as estratégias de controle adotadas no Brasil. Além disso, destacaremos a importância do monitoramento contínuo para evitar grandes perdas na produção.
Incidência da lagarta-rosada no Brasil
No Brasil, a lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella) tem causado grandes preocupações, especialmente nas regiões de maior produção de algodão, como os Estados de Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul.
As condições climáticas encontradas nessas áreas, com verões quentes e alta umidade, favorecem o desenvolvimento e a proliferação da praga.
Os prejuízos causados pela lagarta-rosada no Brasil são expressivos. Em alguns casos, a infestação severa pode reduzir significativamente a produtividade das lavouras, dependendo do tipo de controle adotado e da rapidez com que as ações são implementadas.
Danos causados pela lagarta-rosada no algodão
Os danos causados pela lagarta-rosada podem ser devastadores para a lavoura de algodão. A principal forma de prejuízo está relacionada à alimentação das lagartas nas maçãs, o que compromete diretamente a qualidade e o volume de produção.
A fase de maior manifestação da praga na lavoura ocorre no início do florescimento, num período entre 70 e 100 dias após a semeadura, embora a lagarta possa estar presente também em outros momentos do cultivo.
Os ovos da lagarta são depositados nas maçãs novas do algodoeiro. Após emergirem, as lagartas-rosadas perfuram as maçãs de algodão, criando galerias internas onde se alimentam de fibras e sementes. Esse tipo de dano reduz a produtividade e a qualidade do algodão colhido, uma vez que as fibras danificadas não têm o mesmo valor comercial que as fibras intactas.
Além disso, a alimentação das larvas pode induzir a queda prematura das maçãs, e os danos também podem ocorrer na fase de floração, impossibilitando que as flores abram e reduzindo ainda mais a produtividade da lavoura.
A ocorrência e os danos da lagarta-rosada estão fortemente relacionados com as condições climáticas ambientais, o que torna o monitoramento dessas variáveis extremamente importante.
Condições climáticas favoráveis à ocorrência da lagarta-rosada
A lagarta-rosada se adapta facilmente a diversas condições climáticas, mas encontra seu ambiente ideal em regiões com temperaturas elevadas e umidade moderada.
Temperaturas mais elevadas aceleram o ciclo de vida da lagarta-rosada, encurtando o tempo necessário para que a mariposa adulta ponha seus ovos e as lagartas causem danos à lavoura.
Durante períodos de seca, a praga pode se refugiar nas maçãs remanescentes do algodão, nas plantas invasoras ou nos resíduos de culturas anteriores, reinfestando a área quando as condições se tornam mais favoráveis.
Além de conhecer os danos e as condições favoráveis para o desenvolvimento da lagarta, é de extrema importância saber fazer a correta identificação da praga.
Identificação da lagarta-rosada
A identificação da lagarta-rosada é um passo essencial para o sucesso no controle dessa praga. Ela se apresenta, inicialmente, como uma pequena lagarta de coloração rosada, medindo aproximadamente 10 mm quando completamente desenvolvida.
O corpo é segmentado, com uma tonalidade variando de rosa pálido a um tom rosado mais escuro, dependendo do estágio larval. Sua cabeça é de cor marrom, com mandíbulas bem desenvolvidas, utilizadas para perfurar e danificar os tecidos da planta.
Outro ponto importante na identificação da lagarta-rosada é o ciclo de vida do inseto. A praga passa por quatro estágios: ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos, depositados individualmente ou em grupos nas estruturas reprodutivas da planta, têm formato oval e coloração branco-esverdeado.
A fase larval é a mais destrutiva, pois é nessa fase que as lagartas perfuram as maçãs do algodão, se alimentando de fibras e sementes. No estágio adulto, é uma pequena mariposa de coloração cinza-escura, com asas bem definidas.
O ciclo de vida dura entre 21 e 45 dias, sendo fortemente influenciado pela temperatura. Em condições desfavoráveis, o inseto pode inclusive entrar em diapausa, permitindo maiores chances de sobrevivência, o que também deve ser levado em consideração no momento de selecionar as estratégias de controle.
Controle da lagarta-rosada no Manejo Integrado de Pragas
Para conter os danos causados pela lagarta-rosada, os produtores brasileiros têm adotado diversas estratégias de controle com base nos princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
O MIP consiste na utilização de uma combinação de métodos de controle para reduzir a população da praga a níveis que não causem prejuízos econômicos significativos. Entre as principais técnicas, estão o monitoramento e os controles cultural, biológico e químico.
Importância do monitoramento e da identificação
O monitoramento contínuo das lavouras é uma prática indispensável para a detecção precoce da lagarta-rosada e para a implementação de medidas de controle antes que a praga cause prejuízos significativos.
O uso de armadilhas com feromônios sexuais é uma técnica possível de ser utilizada para capturar mariposas adultas e estimar a população de lagartas no campo.
Além disso, a inspeção visual regular das plantas pode ajudar na identificação de ovos e larvas nas maçãs de algodão. Ao detectar sinais iniciais de infestação, o produtor pode agir rapidamente para evitar o agravamento do problema.
Importante salientar que essa praga possui hábito noturno e, por este motivo, a inspeção mais eficaz deve ser realizada nos períodos de maior atividade da lagarta.
A identificação precisa da praga é essencial, uma vez que a lagarta-rosada pode ser confundida com outras espécies de lagartas que também atacam o algodão. Para garantir a precisão no diagnóstico, é recomendável que os agricultores contem com o suporte de consultores técnicos especializados.
Amostragem da lagarta-rosada
A coleta de amostras para identificar a presença da lagarta-rosada deve ser realizada em maçãs bem desenvolvidas, localizadas na parte inferior do dossel das plantas de algodão.
O monitoramento da entrada da praga pode ser feito por meio de armadilhas com feromônios específicos, que atraem as mariposas e as capturam em superfícies adesivas.
Essas armadilhas ajudam a determinar o momento ideal para aplicar produtos biológicos ou químicos, visando o controle da infestação em seu estágio inicial. As armadilhas devem ser colocadas a cada cinco hectares, e cada feromônio tem uma durabilidade de seis semanas.
Controle cultural
O controle cultural envolve práticas agrícolas que reduzem a sobrevivência e a reprodução da lagarta-rosada.
Uma das técnicas culturais é o manejo adequado do período de plantio e colheita. Ao ajustar o calendário agrícola, é possível evitar que as fases mais vulneráveis da planta coincidam com os picos populacionais da praga.
Outra importante ferramenta do controle cultural é plantar cultivares com a tecnologia Bt, que produzem proteínas tóxicas às lagartas que se alimentam da planta, sendo mais uma alternativa para manter a população abaixo dos níveis de danos econômicos.
Controle biológico
O controle biológico é uma estratégia sustentável que tem ganhado espaço no manejo da lagarta-rosada. Nessa estratégia, se utilizam inimigos naturais para diminuir a população da praga de forma natural.
Um dos principais métodos utilizados é o uso de parasitoides, que se alimentam dos ovos da lagarta impedindo seu desenvolvimento. Esse tipo de controle pode reduzir significativamente a população da praga e ser mais uma forma aliada de controle.
Outro exemplo de controle biológico é o uso de produtos à base de Bacillus thuringiensis (Bt) que podem ser utilizados alcançando resultados satisfatórios no controle de diversas pragas, incluindo a lagarta-rosada, em áreas de cultivo de algodão.
Controle químico
O controle químico é uma das principais ferramentas utilizadas no manejo da lagarta-rosada, sendo bastante eficaz em situações de altas infestações, momento em que outras estratégias podem não ser suficientes para conter o avanço da praga.
A partir do monitoramento correto, esse tipo de controle permite que os produtos sejam aplicados no estágio mais vulnerável da praga, maximizando os resultados.
Para garantir a sustentabilidade do controle químico, é essencial seguir as boas práticas agrícolas, que envolvem o uso correto de dosagens e a aplicação no momento certo. Isso inclui observar as condições climáticas ideais para a pulverização, como evitar períodos de ventos fortes ou chuvas iminentes, que podem comprometer a eficácia do produto.
Além disso, é fundamental que o agricultor siga as orientações técnicas fornecidas pelo fabricante e por profissionais especializados, garantindo que o controle seja feito de maneira segura e eficiente, tanto para o ambiente quanto para os trabalhadores rurais.
Outro aspecto importante do controle químico é a necessidade de evitar o uso repetido de produtos, o que pode levar à seleção de organismos resistentes. A rotação de diferentes mecanismos de ação e a integração dessa prática com outras formas de controle, como o biológico e o cultural, são estratégias fundamentais para preservar a eficácia dos produtos ao longo do tempo.
Dessa forma, o controle químico pode ser uma ferramenta valiosa em um programa de MIP, ajudando a reduzir as perdas na cultura do algodão sem comprometer a sustentabilidade da produção.
Perspectivas e próximos passos no controle da lagarta-rosada
A lagarta-rosada representa um grande desafio para os produtores de algodão no Brasil, causando danos significativos à produção. No entanto, com a adoção de estratégias integradas de manejo, como os controles cultural, químico e biológico, é possível minimizar os impactos dessa praga e garantir a sustentabilidade da cultura.
O monitoramento constante e a identificação correta são essenciais para o sucesso no controle da lagarta-rosada. Ao combinar diferentes métodos de controle e ajustar as práticas agrícolas, os produtores podem manter a praga sob controle e preservar a produtividade de suas lavouras.
A lagarta-rosada no algodão é uma ameaça real, mas, com as ferramentas e técnicas adequadas, os agricultores brasileiros estão cada vez mais preparados para enfrentar esse desafio.
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