Entre os muitos desafios enfrentados no campo, o controle de doenças fúngicas é um dos mais relevantes, pois diversos fitopatógenos têm o potencial de afetar drasticamente a produtividade de lavouras de alta relevância econômica. Nesse contexto, os fungicidas surgem como uma importante ferramenta para a manutenção da saúde das culturas e para possibilitar safras com boa produtividade e qualidade.

Os fungicidas sistêmicos, em particular, ganharam destaque no manejo fitossanitário brasileiro, devido à sua capacidade de penetração e mobilidade nas plantas, permitindo uma proteção que abrange diferentes partes da cultura.

Além da eficiência, a utilização de fungicidas sistêmicos se destaca também pela segurança que oferecem, desde que aplicados com técnicas adequadas e nas dosagens corretas. As boas práticas no uso desses produtos são fundamentais para alcançar o equilíbrio entre proteção e segurança ambiental.

Diante de seus grandes benefícios, torna-se importante conhecer de que forma os fungicidas sistêmicos atuam nas plantas e auxiliam no controle de doenças a campo.

Características dos fungicidas sistêmicos

Os fungicidas sistêmicos são produtos químicos especializados em controlar fungos de maneira interna na planta. Diferentemente dos fungicidas de contato, que atuam somente na superfície externa, os sistêmicos são absorvidos pelos tecidos e se translocam pela planta. 

Embora tenham a capacidade de se translocarem pelo vegetal, é importante ressaltar que esse movimento ocorre prferencialmente via xilema, e por isso, costumam se movimentar em um sentido ascendente. Essa característica permite que o fungicida atinja tecidos novos e alcance áreas internas, em que os fungos de difícil acesso podem estar instalados. 

Algumas características desse grupo de fungicidas são consideradas essenciais e serão abordadas a seguir. 

Penetração

Para iniciar o processo de translocação, o fungicida precisa entrar na planta, seja pelas raízes, folhas, caule ou sementes. A eficiência dessa entrada depende de sua capacidade de se dissolver em lipídios, que formam a base da cutícula foliar. Essa cutícula age como uma barreira natural, dificultando a passagem do fungicida para o interior da planta.

Em sementes e frutos de plantas herbáceas, a cutícula é semelhante à das folhas, apresentando os mesmos desafios para a penetração de fungicidas. Já a absorção pelas raízes é geralmente mais eficaz, pois essas estruturas não possuem as barreiras que limitam a absorção nas folhas. No entanto, a penetração pela raiz ainda depende das características específicas de cada fungicida.

Após penetrar na planta, o fungicida precisa alcançar o xilema ou o floema, os tecidos do sistema vascular, para ser transportado a longas distâncias dentro da planta, permitindo uma proteção abrangente contra doenças.

Movimento do fungicida dentro da planta

Os fungicidas sistêmicos conseguem atravessar a membrana celular, o que possibilita sua difusão interna. Esse movimento pode ocorrer de maneira translaminar (entre as faces de uma folha) e ascendente (via apoplasto).

A translocação do fungicida dependerá das propriedades específicas de cada composto. O padrão de distribuição do fungicida pelo xilema é guiado pelo gradiente de potencial de água entre o solo e a planta, movimentando-se no sentido das raízes para as áreas de maior transpiração, como as folhas. 

Por isso, os fungicidas transportados pelo xilema apresentam apenas movimento ascendente, sem retorno a partir das folhas maduras e expandidas. Isso significa que, quando aplicados na base da folha, esses fungicidas são, de maneira preferencial, transportados em direção ao ápice da própria folha.

Toxicidade seletiva

Os fungicidas sistêmicos precisam manter contato próximo com os patógenos e interagir com os sistemas bioquímicos das plantas para serem eficazes. Essa característica de interação pode variar dependendo da espécie de planta tratada. 

A seletividade entre a planta e o patógeno acontece devido a vários fatores, como a diferença na sensibilidade dos tecidos vegetais e dos patógenos. Além da seletividade entre plantas e fungos, os fungicidas sistêmicos também podem apresentar especificidade entre diferentes tipos de fungos. Essa seletividade é muito mais pronunciada nos fungicidas sistêmicos do que nos fungicidas protetores. 

Em função dessa especificidade, muitos fungicidas sistêmicos são desenvolvidos para grupos específicos de doenças, como ferrugens, carvões e oídio, permitindo maior eficácia no combate a esses patógenos.

Estabilidade metabólica

Ao entrar nas células da planta, o fungicida enfrenta o desafio de resistir à degradação provocada por diversas enzimas do metabolismo celular. Para que sua ação seja eficaz, ele precisa ter uma estrutura química capaz de resistir a esse processo, permitindo que se mova pela planta e penetre nas células-alvo.

Dentro das células, o fungicida deve agir de forma seletiva, eliminando ou inibindo o patógeno sem causar danos à planta. Para assegurar a saúde da planta, seu efeito deve ser prolongado, permanecendo ativo tempo suficiente para garantir uma proteção contínua e eficaz contra infecções.

Essas diferentes características fazem parte dos fungicidas sistêmicos mais conhecidos e utilizados.

Principais grupos de fungicidas sistêmicos

Triazóis

Introduzidos no mercado na década de 1970, os triazóis fazem parte do grupo de inibidores de biossíntese de esteróis, sendo um dos mais importantes compostos já desenvolvidos para o controle de doenças fúngicas em plantas.

Com um espectro de ação bastante abrangente, os triazóis são eficazes no controle de doenças causadas por diversos grupos de fungos, como ascomicetos, basidiomicetos e deuteromicetos. Entre os principais princípios ativos estão o ciproconazol e o propiconazol.

Carboxamidas

Os ingredientes ativos do grupo das carboxamidas, assim como as estrobilurinas, interrompem o processo de geração de energia no patógeno ao atuar em diferentes complexos proteicos, bloqueando a produção de ATP, essencial para a sobrevivência do fungo. Essa interrupção ocorre em um ponto específico da cadeia respiratória, tornando o mecanismo altamente eficiente no controle de doenças fúngicas.

O mecanismo de ação das carboxamidas é baseado na inibição da enzima succinato desidrogenase (SDHI), que atua no Complexo II da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria do fungo. Essa inibição impede a oxidação do succinato em fumarato, comprometendo a respiração celular do patógeno e, consequentemente, sua capacidade de crescimento e reprodução. Entre os princípios ativos mais conhecidos está o benzovindiflupir

Estrobirulinas

Esse grupo possui um amplo espectro de controle e surgiram como uma alternativa às carboxamidas, que é um grupo químico mais antigo. Seus compostos são considerados de ação mesosistêmica, translaminares, esporocidas e não curativos com residual prolongado.

As estrobilurinas apresentam um mecanismo de ação de sítio-específico, interferindo na respiração celular dos patógenos. Atuando como Inibidores Externos de Quinona (IeQ), elas bloqueiam a produção de energia dos fungos ao interromper a transferência de elétrons nas proteínas responsáveis pelo transporte de hidrogênio, conhecidas como citocromos. Esse processo inibe o crescimento e desenvolvimento dos patógenos de forma eficaz.

Os principais ingredientes ativos desse grupo incluem a azoxistrobina, a piraclostrobina e a trifloxistrobina.

Outro importante ponto a ser observado são as principais características dos fungicidas sistêmicos que os distinguem dos fungicidas considerados não sistêmicos, que não penetram na folha. Essas informações são extremamente relevantes no momento de decisão de recomendação de uso dos produtos.

Diferenças entre fungicidas sistêmicos e não sistêmicos

Cada um desse tipo de fungicida apresenta características específicas que os tornam mais indicados para determinadas situações no manejo fitossanitário. Abaixo, serão destacadas as principais diferenças entre esses dois grupos.

Fungicidas sistêmicos

Os fungicidas sistêmicos possuem poucos mecanismos de ação, o que os torna altamente específicos. Essa especificidade resulta em uma maior seletividade para as plantas, reduzindo os riscos de fitotoxicidade. Além disso, são necessários em doses menores e em menor número de aplicações, já que apresentam um tempo de residual mais longo.

Embora os fungicidas sistêmicos sejam mais modernos e eficazes, essas vantagens têm um custo: o preço mais elevado e o maior risco de desenvolvimento de resistência por parte dos patógenos. A resistência é um problema recorrente devido ao uso repetitivo de moléculas com o mesmo modo de ação, exigindo a rotação de princípios ativos e o manejo integrado de doenças para preservar a eficácia desses produtos.

Fungicidas não sistêmicos

Os fungicidas não sistêmicos agem diretamente na superfície das plantas, sem penetrar nas células, formando uma barreira química que impede a germinação de esporos e a penetração dos fungos. 

Eles possuem um amplo mecanismo de ação, o que significa que atuam em diferentes processos metabólicos dos patógenos, dificultando o desenvolvimento de resistência. Esse é um dos motivos pelos quais não há relatos significativos de resistência a esses produtos.

Por outro lado, os fungicidas não sistêmicos possuem algumas limitações. Eles tendem a ser recomendados em doses mais altas e exigem maior número de aplicações devido ao seu tempo de residual mais curto.

Além disso, esses produtos, frequentemente mais antigos e mais baratos, podem causar problemas de fitotoxicidade em algumas culturas, especialmente quando aplicados de forma inadequada ou em condições climáticas desfavoráveis.

Fungicidas sistêmicos no manejo agrícola

Compreender as propriedades e os mecanismos de ação dos fungicidas sistêmicos é fundamental para alcançar um controle satisfatório e sustentável das doenças no campo. Esses produtos, com sua capacidade de penetração, translocação e seletividade, oferecem vantagens significativas no manejo fitossanitário, mas sua eficácia depende de uma aplicação estratégica e bem informada.

Ao conhecer as características específicas de cada fungicida, como seu espectro de ação, modo de transporte e resistência à degradação, os agricultores podem maximizar os benefícios desses produtos, permitindo uma proteção de longo prazo para as culturas.