A ferrugem no trigo, causada pelo patógeno Puccinia triticina, é uma das principais doenças que afetam as lavouras de trigo no Brasil e em outras partes do mundo. Seu impacto pode ser devastador, levando a perdas significativas na produção, prejudicando a qualidade dos grãos e aumentando os custos para os produtores.
A doença, que se manifesta por meio de sintomas visíveis nas folhas e nos colmos das plantas, exige atenção constante e manejo adequado para evitar grandes prejuízos econômicos, e por isso é de extrema importância conhecer as principais informações a respeito dessa doença.
Neste artigo, será abordado sobre os principais sintomas da ferrugem no trigo, as características do patógeno, as condições climáticas que favorecem o seu desenvolvimento e as estratégias de controle mais eficazes adotadas pelos produtores brasileiros.
Sintomas da ferrugem no trigo
A ferrugem do trigo manifesta-se principalmente nas folhas, que pode ser visto desde as primeiras emissões foliares até o período de maturação. O patógeno também pode atingir outras partes da planta, como colmos e espigas, dependendo da gravidade da infecção.
O sintoma mais característico é o aparecimento de pequenas pústulas de 1,5 mm de diâmetro aproximadamente, com coloração amarelada a marrom-avermelhada na superfície das folhas. Essas pústulas, conhecidas como uredósporos, são estruturas do fungo responsáveis pela produção e dispersão de esporos.
Com o avanço da doença, as folhas começam a secar e cair prematuramente, comprometendo a capacidade da planta de realizar fotossíntese. Em infecções severas, a ferrugem pode provocar uma redução drástica no enchimento dos grãos, resultando em menores rendimentos e baixa qualidade do trigo.
Outro sinal importante é a presença de manchas cloróticas ao redor das pústulas, que indicam a morte das células vegetais.
Em fases avançadas, com a senescência do tecido foliar, podem ser observadas pústulas escuras, chamadas de teliósporos, que marcam a fase final do ciclo de vida do fungo na planta e são estruturas de sobrevivência do fungo.
Ciclo de vida do patógeno Puccinia triticina
O fungo Puccinia triticina pertence a um grupo de patógenos biotróficos, ou seja, parasitas que precisam de tecidos vivos da planta para completar seu ciclo de vida.
A reprodução do fungo ocorre em três fases principais: uredospórica, telióspórica e basidiospórica.
- Fase uredospórica: é a fase mais importante em termos de infecção, quando o fungo produz uredósporos, os esporos responsáveis pela disseminação da doença. Esses esporos são liberados pelas pústulas nas folhas e se espalham rapidamente pelo vento, podendo infectar novas plantas em um curto espaço de tempo.
- Fase telióspórica: nessa fase, o fungo produz teliósporos, que são esporos de resistência. Eles aparecem no final do ciclo da cultura e têm como principal função sobreviver ao período de entressafra, aguardando condições climáticas favoráveis para germinar.
- Fase basidiospórica: os teliósporos germinam e produzem basidiósporos, que são esporos sexuados e menos comuns de serem observados no campo. Essa fase é importante para a variabilidade genética do patógeno e a adaptação a novas condições ambientais.
A disseminação do Puccinia triticina ocorre principalmente por meio dos uredósporos transportados pelo vento, podendo cobrir grandes distâncias e infectar lavouras distantes. O fungo também consegue sobreviver em outras plantas hospedeiras além do trigo.
A disseminação e a velocidade para completar o ciclo de vida da ferrugem estão diretamente relacionadas às condições ambientais.
Condições climáticas favoráveis à ferrugem
As condições climáticas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e na propagação da ferrugem do trigo. O fungo Puccinia triticina prospera em ambientes com alta umidade e temperaturas moderadas.
Chuvas frequentes, orvalho e irrigação por aspersão criam microclimas favoráveis à germinação dos esporos e à infecção das plantas.
Regiões como o Sul do Brasil, que possuem invernos amenos e umidade elevada, são particularmente suscetíveis à doença. Anos em que ocorrem chuvas intensas durante a fase de desenvolvimento vegetativo do trigo geralmente apresentam uma maior incidência da ferrugem.
Além de estar atento às condições climáticas, para evitar grandes prejuízos causados pela ferrugem, o produtor deve fazer uso dos princípios do Manejo Integrado de Doenças (MID).
Controle da ferrugem do trigo com os princípios do MID
Como uma intervenção estratégica e sustentável, o MID visa controlar a ferrugem do trigo combinando diferentes métodos de controle para reduzir a pressão do patógeno e minimizar os impactos econômicos.
Essa metodologia não se baseia exclusivamente em um único tipo de controle, mas sim em um conjunto de práticas que aumentam a eficácia do manejo e prolongam a vida útil das ferramentas de controle disponíveis.
Os princípios do MID aplicados ao controle da ferrugem do trigo incluem o monitoramento contínuo da lavoura, e os diferentes tipos de controle. A seguir, será detalhado como esses princípios são aplicados no contexto do controle da ferrugem.
Monitoramento constante
O monitoramento é o primeiro passo e um dos pilares do MID. A inspeção regular das lavouras permite que os produtores identifiquem os primeiros sinais de ferrugem e tomem medidas preventivas antes que a doença se espalhe.
As visitas periódicas ao campo são essenciais para observar diretamente a presença de pústulas de ferrugem e determinar o momento mais adequado para intervenções de controle.
Controle cultural
As práticas culturais desempenham um papel crucial no manejo da ferrugem, pois podem alterar o ambiente da lavoura para torná-lo menos favorável ao desenvolvimento da doença. Algumas das principais práticas incluem:
- rotação de culturas: alternar o cultivo do trigo com outras culturas que não são hospedeiras do Puccinia triticina pode reduzir a presença de inóculo no campo, diminuindo a probabilidade de infecções severas nas próximas safras.
- espaçamento adequado: a semeadura em densidades ideais permite maior circulação de ar entre as plantas e reduzindo a umidade nas folhas, o que dificulta a germinação dos esporos do fungo.
- uso de variedades com melhor desempenho: nos programas de melhoramento genético, novas cultivares são desenvolvidas para tolerar ou resistir melhor à infecção, dificultando a permanência do fungo na área.
Controle biológico
O controle biológico é uma prática crescente no MID e tem ganhado destaque como uma alternativa sustentável no combate à ferrugem do trigo. Esse tipo de controle envolve o uso de organismos vivos, como fungos, bactérias e outros microrganismos, para inibir ou reduzir a ação de patógenos causadores de doenças.
Embora o controle biológico para a ferrugem do trigo ainda esteja em fase de desenvolvimento, pesquisas têm mostrado resultados promissores, com potencial para se tornar uma importante ferramenta dentro de estratégias de manejo integrado.
Entre os diferentes organismos com potencial de uso, podemos citar fungos antagonistas, bactérias promotoras de crescimento e antagônicas de patógenos, e microrganismos produtores de substâncias antifúngicas.
Controle químico
O uso de fungicidas é uma ferramenta fundamental no controle da ferrugem do trigo, mas no contexto do MID, sua aplicação deve ser feita de forma criteriosa. O princípio do controle químico no MID envolve algumas questões relevantes que devem sempre ser consideradas:
- aplicação preventiva: o uso de fungicidas deve ser feito de maneira preventiva, antes que a doença se instale de forma severa. As aplicações realizadas após o aparecimento dos primeiros sintomas podem exigir um número maior de intervenções e não serem tão efetivas como a aplicação preventiva.
- rotação de moléculas: alternar diferentes grupos de fungicidas, com modos de ação distintos, é essencial para evitar a seleção de organismos resistentes a determinados produtos. Essa rotação de moléculas prolonga a eficácia dos fungicidas e evita surtos de ferrugem resistentes a tratamentos químicos.
- uso adequado das doses: seguir as recomendações técnicas quanto à dose e ao intervalo de aplicação é essencial para alcançar a eficácia dos produtos e minimizar o custo do produtor.
O futuro do manejo da ferrugem no trigo
O controle da ferrugem do trigo, é um desafio contínuo para os produtores brasileiros. Com o aumento da pressão da doença em regiões favoráveis ao seu desenvolvimento, como o Sul e Centro-Oeste do Brasil, o uso de estratégias inovadoras e sustentáveis se torna cada vez mais necessário.
O MID desponta como a solução mais eficaz para esse problema, combinando diferentes práticas de controle, como o uso de fungicidas, variedades resistentes e, mais recentemente, o controle biológico com grande potencial de utilização.
Cada uma dessas estratégias oferece uma camada de proteção contra a ferrugem, e, juntas, formam um controle robusto e flexível, capaz de mitigar os prejuízos da doença, reduzir custos e promover maior sustentabilidade.
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