O armazenamento adequado dos grãos é uma etapa fundamental para preservar a qualidade da produção de grãos no Brasil e evitar perdas que podem comprometer a rentabilidade dos produtores e a segurança alimentar. 

Se essa etapa ocorrer de maneira inadequada, pode causar perda de qualidade sensorial, redução da massa seca e surgimento de odores indesejáveis, além de favorecer a proliferação de fungos e bactérias prejudiciais à saúde. Também pode haver perda de peso devido à respiração dos grãos e ao ataque de pragas, comprometendo a lucratividade da atividade.

Diante desse cenário, investir em boas práticas de armazenamento é essencial para que os grãos mantenham suas características ideais por mais tempo. Dessa forma, é possível preservar a qualidade do produto e reduzir desperdícios, proporcionando maior competitividade no mercado.

O que interfere na qualidade dos grãos armazenados?

Dois dos principais fatores que afetam a qualidade dos grãos armazenados são a umidade e a temperatura

Quando os grãos possuem um teor de umidade elevado, a atividade metabólica do próprio grão e de microrganismos indesejáveis se intensifica, acelerando o processo de deterioração. Determinadas espécies de fungos podem produzir micotoxinas que tornam os grãos impróprios para consumo.

A temperatura, por sua vez, influencia diretamente a taxa de respiração dos grãos e o desenvolvimento de pragas. Ambientes quentes favorecem a multiplicação de insetos como gorgulhos e carunchos, que podem comprometer estoques inteiros se não forem controlados adequadamente. 

A interação entre umidade e temperatura cria um ambiente favorável para a perda de qualidade, tornando essencial o monitoramento constante e a adoção de estratégias como aeração e controle de umidade. Diante disso, é importante conhecer as principais opções de armazenamento de grãos disponíveis, visando as melhores condições para a manutenção da qualidade. 

Principais sistemas de armazenamento de grãos

A escolha do sistema de armazenamento deve considerar o volume de produção, as condições climáticas da região e o período de estocagem necessário. A seguir, entenda as características dos principais modelos de armazenamento para grãos.

Silos de bolsa

Os silos de bolsa, ou bags, têm ganhado espaço como uma alternativa flexível e econômica para o armazenamento de grãos, especialmente em períodos de safra cheia. Compostos por estruturas de plástico de alta resistência, esses silos permitem a armazenagem temporária dos grãos diretamente no campo ou em áreas próximas às fazendas.

Uma das vantagens desse sistema é o baixo custo inicial e a possibilidade de fracionamento do armazenamento, reduzindo os riscos de contaminação cruzada entre lotes. No entanto, os silos de bolsa exigem monitoramento frequente para evitar perfurações que possam comprometer a vedação e permitir a entrada de oxigênio e umidade, o que favorece a deterioração dos grãos.

Silos permanentes ou verticais

Os silos permanentes, também conhecidos como silos verticais, são amplamente utilizados por grandes produtores e cooperativas devido à sua capacidade de armazenamento em larga escala. Construídos em aço ou concreto, esses silos armazenam o produto a granel e oferecem maior proteção contra variações climáticas e ataques de pragas.

Uma das principais vantagens dos silos verticais é a possibilidade de controle rigoroso das condições de armazenamento, por meio da aeração forçada e do monitoramento de temperatura e umidade. No entanto, o investimento inicial para a construção e manutenção desses sistemas pode ser elevado, tornando-se uma opção mais viável para operações de grande porte.

Armazéns para sacarias

O armazenamento em armazéns convencionais, em que os grãos são acondicionados em sacarias, é uma técnica tradicional ainda utilizada por pequenos e médios produtores. Essa modalidade permite maior flexibilidade na movimentação dos grãos e pode ser vantajosa para produtos que exigem comercialização fracionada.

No entanto, esse método apresenta algumas limitações, como maior necessidade de mão de obra e menor controle das condições ambientais. Além disso, as sacarias podem dificultar a ventilação dos grãos, tornando o ambiente propício ao desenvolvimento de fungos e insetos.

Escolha do sistema de armazenamento de grãos

A definição do sistema de armazenamento ideal deve levar em conta diversos fatores visando a preservação da qualidade dos grãos e a eficiência operacional da produção. 

Volume e tempo de armazenamento

Produtores que armazenam grandes volumes de grãos por longos períodos devem optar por estruturas robustas e de alta capacidade, como os silos verticais permanentes, que oferecem maior controle das condições internas. Já aqueles que necessitam de armazenamento temporário ou têm produção sazonal podem utilizar silos de bolsa, uma opção mais flexível e de menor custo inicial.

Condições climáticas e controle ambiental

Regiões com alta umidade e temperaturas elevadas exigem sistemas que permitam um controle eficiente da ventilação e da umidade dos grãos. Nesses casos, armazéns bem estruturados, equipados com sistemas de aeração e monitoramento de umidade, são essenciais para evitar a deterioração do produto e a proliferação de fungos e insetos.

Custos de implantação e manutenção

Enquanto silos verticais exigem um alto investimento inicial, oferecem maior durabilidade e eficiência no longo prazo. Por outro lado, armazéns convencionais para sacarias demandam menos infraestrutura, mas possuem custos operacionais elevados devido à necessidade de maior mão de obra.

Infraestrutura e logística da propriedade

A disponibilidade de espaço físico e a proximidade de rodovias ou ferrovias para escoamento da produção devem ser avaliadas na escolha do sistema de armazenamento. Armazéns centrais em cooperativas podem ser uma alternativa para pequenos e médios produtores que não possuem estrutura própria, enquanto grandes propriedades agrícolas optam geralmente por sistemas internos para maior autonomia na gestão dos estoques.

A escolha adequada do sistema de armazenamento impacta diretamente a qualidade e a rentabilidade da produção agrícola. Por isso, é essencial avaliar todos esses fatores, inclusive as etapas do processo de armazenamento.

Principais etapas do processo de armazenamento

Para manter a qualidade dos grãos durante o armazenamento, é fundamental seguir um conjunto de etapas que visam minimizar a presença de impurezas e reduzir a umidade do produto. Essas etapas incluem:

  • Recepção: consiste na chegada dos grãos ao armazém, em que são descarregados e preparados para os processos subsequentes. Nesse momento, é fundamental que não haja mistura entre diferentes lotes, o que pode comprometer a rastreabilidade do produto.
  • Amostragem: é uma etapa crucial para avaliar a qualidade do lote recebido. Por meio da coleta de amostras representativas, são realizadas análises laboratoriais para determinar fatores como umidade, presença de impurezas e contaminação por pragas ou fungos.
  • Limpeza: tem o objetivo de remover impurezas maiores, como restos de palha, terra e pedras, que podem comprometer a eficiência das etapas seguintes. Esse processo melhora a fluidez dos grãos e reduz o risco de danos mecânicos durante a armazenagem.
  • Secagem: pode ser realizada por diferentes métodos e é uma das etapas mais críticas do armazenamento, pois tem a função de reduzir o teor de umidade dos grãos para níveis seguros. Dependendo da espécie, o teor de umidade ideal para armazenagem pode variar, mas geralmente fica entre 12% e 14%.
  • Classificação: após a secagem, os grãos passam por um processo de classificação, no qual são separados conforme o tamanho, peso e qualidade visual. Essa etapa é fundamental para manter a padronização do produto, facilitando a comercialização e agregando valor ao lote.
  • Armazenamento: os grãos são transferidos para os silos ou armazéns, onde permanecerão até a comercialização. Durante essa fase, é essencial realizar o monitoramento contínuo da temperatura e umidade, além de práticas de controle de pragas para evitar perdas.

Além dessas etapas, um armazenamento eficaz inclui o frequente monitoramento durante todo o tempo em que o produto permanecer em estoque. 

Monitoramento durante o armazenamento

O sucesso do armazenamento de grãos também depende do monitoramento frequente das condições internas dos estoques. A verificação regular de fatores como umidade, temperatura, presença de pragas e contaminação por fungos é essencial para evitar perdas e manter a qualidade do produto até a comercialização.

O teor de umidade dos grãos deve ser mantido dentro de níveis seguros, geralmente entre 12% e 14%, para evitar a proliferação de microrganismos e a perda de qualidade. O ataque de insetos como gorgulhos, carunchos e traças pode comprometer estoques inteiros se não for identificado rapidamente. Além disso, fungos como os do gênero Aspergillus e Fusarium podem produzir micotoxinas prejudiciais à saúde humana e animal. 

A presença de grãos mofados, escurecidos ou quebrados pode indicar problemas no armazenamento e a necessidade de intervenção imediata. Além das inspeções visuais, testes laboratoriais periódicos podem ser realizados para verificar a qualidade do produto e garantir que ele esteja dentro dos padrões exigidos pelo mercado.

O monitoramento frequente dos grãos é uma prática indispensável para evitar prejuízos e proporcionar um armazenamento eficiente. A adoção de tecnologias como sensores remotos, sistemas automatizados de aeração e metodologias de controle de pragas são recursos eficazes que permitem maior segurança e previsibilidade na gestão dos estoques.

Armazenagem eficiente começa no campo

Embora o armazenamento adequado seja essencial para preservar a qualidade dos grãos, ele não tem o poder de melhorar um produto que já apresenta problemas desde a colheita. Isso significa que a condução da lavoura, o manejo fitossanitário e a colheita devem ser realizados com máximo cuidado para que os grãos tenham boa qualidade desde a origem.

A adoção de boas práticas desde a fase de campo, associada a técnicas eficientes de armazenamento, permite que os produtores reduzam perdas, agreguem valor ao produto e fortaleçam sua competitividade no mercado. Dessa forma, o investimento em infraestrutura de armazenagem deve ser visto como uma estratégia de longo prazo para a sustentabilidade e eficiência da produção agrícola.