Nos últimos anos, a cafeicultura brasileira tem passado por mudanças no calendário da safra. Se antes a colheita vinha sendo antecipada em algumas regiões, há indicativos de que, para a safra 2024/25, o cenário pode ser diferente, com floradas e chuvas ocorrendo mais tarde do que o habitual.
O impacto do clima na florada e no ciclo produtivo
Segundo a Fundação Procafé, o déficit hídrico acumulado nas principais regiões produtoras, aliado a temperaturas acima da média, tem postergado o início das floradas. Dados da instituição mostram que, em algumas áreas, a florada principal pode ocorrer até 30 dias depois do que normalmente acontece. Esse atraso pode levar a um ciclo produtivo mais longo, impactando diretamente o período de colheita.
Já a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aponta que a regularização das chuvas deve acontecer somente entre outubro e novembro, o que reforça a perspectiva de um ciclo mais tardio. Com isso, os cafeicultores precisarão ajustar o manejo para garantir um pegamento eficiente da florada e um bom desenvolvimento dos frutos.
O clima se tornou vilão da cafeicultura brasileira?
As condições climáticas têm influenciado diretamente a maturação dos frutos. O aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas aceleram o ciclo produtivo, levando à antecipação da colheita. O professor e pesquisador Paulo Mazzafera, da Universidade de Campinas (Unicamp), explica que esse fenômeno começa na florada, que tem ocorrido cada vez mais cedo.
Segundo ele, ainda não há explicações fisiológicas suficientemente claras para justificar a antecipação das floradas observadas nos últimos anos. No entanto, é correto afirmar que se trata de um efeito hormonal.

“Isso é evidente, já que os hormônios controlam o florescimento. O problema é determinar com precisão qual temperatura leva a essa situação. Floradas em março e abril já foram reportadas em anos anteriores. Dependendo da intensidade da florada, o cafeicultor poderá ter frutos em diferentes estágios de maturação, tornando a colheita mais complexa”, afirma Mazzafera.
No entanto, essa antecipação da florada gera um efeito em cadeia: florescimento precoce, encurtamento do ciclo produtivo e, consequentemente, necessidade de colher mais cedo. Essa mudança impõe desafios ao planejamento da safra, pois o produtor precisa definir o melhor momento para colher sem comprometer a qualidade do grão.
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Colheita antecipada como estratégia
Além das condições climáticas, alguns produtores adotam a colheita antecipada para aliviar a planta e garantir uma recuperação mais rápida para o próximo ciclo.
“Alguns agricultores percebem que as plantas estão sob estresse ou escolhem antecipar a colheita por questões logísticas, garantindo que os frutos sejam colhidos antes de caírem no chão”, explica Mazzafera.
Possíveis impactos na qualidade do café com a colheita antecipada?
A grande preocupação com a colheita antecipada é seu impacto na qualidade da bebida. Quando os grãos amadurecem rápido demais, podem não alcançar o enchimento ideal, afetando o tamanho da peneira e as características sensoriais do café.

Mazzafera destaca que o ponto de colheita deve ser determinado não apenas pela aparência externa dos frutos, mas pelo estágio fisiológico do grão.
“O amadurecimento rápido não permite o desenvolvimento adequado da qualidade da bebida. Estudos mostram que diversos compostos essenciais para o sabor do café atingem sua concentração máxima logo após a finalização do enchimento do grão”, explica.
Portanto, para minimizar impactos negativos, o monitoramento da maturação se torna essencial. A definição do momento ideal da colheita deve considerar a proporção entre grãos maduros e verdes e o estágio de desenvolvimento dos frutos.

“Conferimos isso pesando o grão e verificando se ele começa a perder água. Esse seria um teste ideal”, destaca Mazzafera.
O Brasil deve continuar registrando colheita antecipada?
Embora a colheita antecipada tenha ganhado destaque nos últimos anos, ainda não há consenso se isso será uma tendência permanente no Brasil. No entanto, caso seja possível alinhar a antecipação ao controle de qualidade da bebida, a prática pode se consolidar como uma estratégia viável. O professor Mazzafera reforça que a decisão deve levar em conta a qualidade e a remuneração do café.

O professor também destaca que, apesar dos avanços tecnológicos expressivos na cafeicultura brasileira, o setor ainda é tradicionalista.
“O café de melhor qualidade sempre será o mais valorizado no mercado. A mudança no calendário da colheita só será aceita amplamente se não houver perdas financeiras e se a qualidade da bebida for preservada.”

Observar a qualidade do grão ao longo de uma colheita antecipada, é essencial. Afinal, abrir mão de qualidade é assumir riscos de possíveis perdas
Caso a colheita antecipada se torne uma prática recorrente, mantendo a qualidade e retorno financeiro ao produtor, não deve enfrentar resistência em uma possível adaptação comercial.
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