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A ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, costuma manifestar seus sintomas mais para o final do ciclo da cultura, quando a lavoura já está fechando as entrelinhas e iniciando a fase reprodutiva. Por que, então, dá-se tanta importância para essa doença desde antes de iniciar o plantio?
A resposta é simples e incômoda: a ferrugem-asiática é extremamente agressiva, pode gerar prejuízos de até 90% da produtividade – segundo a Embrapa – e prolifera-se rapidamente pelo vento. Uma única planta contaminada pelo fungo em determinada área pode fazer com que a doença se espalhe por toda a região produtora em pouco tempo.
O rigor no manejo integrado dessa doença se deve aos severos danos que vem causando nas lavouras desde que foi identificada no Brasil pela primeira vez, em 2004. Na primeira safra monitorada (2004/2005), verificou-se 332 ocorrências, conforme dados do Consórcio Antiferrugem. Nas duas safras seguintes, esse número saltou para 1358 e 2778, respectivamente.
Assim, além da severidade de danos, tal capacidade de dispersão coloca em risco a sojicultura. A recomendação é não deixar os sintomas de ferrugem-asiática se manifestarem na lavoura, por meio de medidas preventivas de controle, para evitar os danos e a disseminação do fungo para as áreas vizinhas.
No entanto, a responsabilidade não é apenas do produtor. Empresas e instituições de pesquisa estão sempre em busca de desenvolver novas tecnologias e promover práticas de manejo consciente para auxiliar o sojicultor a enfrentar esse desafio, seja por meio do lançamento de novos inseticidas mais eficientes ou somando forças no campo.
Em outro sentido, o controle de ferrugem-asiática também é uma tarefa governamental. O vazio sanitário foi instituído para frear o avanço da doença nas regiões produtoras. Além disso, ferramentas foram criadas para acompanhar o quadro e manter as medidas de controle sempre atualizadas, por exemplo, o PNCFS (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja), que existe desde 2007 e foi atualizado em 2022.
Quem trabalha com soja sabe: com a ferrugem-asiática não se brinca. Com o início da safra de soja 2023/24 entre setembro e novembro para a maioria das regiões – quando inicia a janela de plantio –, vale atualizar o panorama da doença no Brasil e relembrar quais as práticas de manejo mais eficientes.
Para saber mais sobre as características mais específicas da ferrugem-asiática e do fungo Phakopsora pachyrhizi, recomendamos as seguintes leituras:
- Leia sobre o histórico global e nacional da doença em: Novo calendário para vazio sanitário da soja entra em vigor.
- Leia sobre o comportamento e o ciclo do patógeno em: Vazio sanitário: soja 2023/24, janela de plantio e ferrugem-asiática.
- Leia sobre os sintomas e os danos da ferrugem-asiática em: Como evitar os danos causados por manchas e ferrugem na soja.
Por uma soja sem ferrugem! 6 pontos de atenção para a safra 2023/24
Antes de entrar especificamente nos destaques que envolvem a ferrugem-asiática na soja, considerando o atual contexto da atividade agrícola no Brasil e os dados obtidos com o histórico de monitoramento da doença a nível nacional, cabe explicar o que o produtor pode encontrar caso sua lavoura seja acometida pelo P. pachyrhizi.
Os danos da ferrugem-asiática na soja caracterizam-se pelos sintomas iniciais de manchas marrons na face abaxial (parte inferior da folha), que se agravam em condições de molhamento foliar frequente e temperatura entre 15 °C e 28 °C, causando severa desfolha precoce e impactando a formação de grãos.
O custo de controle da doença no Brasil é estimado em uma média de US$ 2,8 bilhões por safra, informa a Embrapa Soja. Já pensou investir nesse manejo e não conseguir evitar os prejuízos na produção?!
Como ninguém quer ver isso acontecendo na lavoura sem ter a chance de reverter os danos, um panorama atual sobre a doença cai bem. Vamos, enfim, aos 6 destaques sobre a ferrugem-asiática da soja para a safra 2023/24!
1. Focos da doença aumentaram na última safra
Na safra de soja 2022/23, a quantidade de ocorrências de ferrugem-asiática, registrada pelo Consórcio Antiferrugem, não está entre as maiores da série histórica, sendo, inclusive, inferior aos últimos dois anos agrícolas (2022/23 – 295 ocorrências; 2021/22 – 573; 2020/21 – 385). No entanto, o foco da doença se mostrou mais distribuído entre as regiões produtoras, o que é um sinal de alerta para 2023/24, uma vez que há a possibilidade de o fungo atingir ainda mais áreas.
Os dados apontam que o primeiro registro na safra passada ocorreu no Paraná, no dia 25 de novembro, em dois focos diferentes (oeste e norte do Estado). Ambas as lavouras haviam sido semeadas em setembro e já se encontravam em R4 (fase reprodutiva), diferentemente da maioria das áreas cultivadas na região, de maneira a se tornarem potenciais pontos de disseminação da doença.
A partir disso, a ocorrência da doença foi crescente, generalizando a infestação nas principais regiões produtoras, alcançando seis Estados em dezembro e dez em janeiro de 2023. No total, os 12 Estados responsáveis pela maior parte do volume de produção de soja no Brasil foram afetados pela ferrugem-asiática em 2022/23. Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul foram os que tiveram maior número de casos, nessa ordem.
Ocorrência de ferrugem-asiática na safra de soja 2022/23 por Estado. Fonte: Consórcio Antiferrugem.
Em se tratando do estádio fenológico das lavouras quando os sintomas começaram a aparecer, a maioria (201 ocorrências) estavam em R5, 39 em R6, 27 em R4, 10 em R7. Isso comprova que a doença entra na lavoura tarde e causa danos em um momento em que as plantas já estão produzindo os grãos, de maneira a prejudicar grande parte da produção, se não controlada.
Verifica-se ainda uma maior pressão da ferrugem-asiática da soja em regiões e épocas com alta pluviosidade e temperatura elevada. É possível inferir, por exemplo, a influência do clima no avanço do patógeno ao comparar os meses de janeiro de 2021 com janeiro de 2022. Para o período, houve um aumento de 208% nas ocorrências, algo compreensível se considerarmos que em 2021, nessa época, o Sul do Brasil passava por uma grave seca.
Sendo essa a região que originou as contaminações em 2022/23, pode-se relacionar as condições climáticas ao desenvolvimento do patógeno, inferindo que um janeiro chuvoso pode ter ocasionado essa diferença entre as ocorrências, o que nos leva ao próximo ponto de destaque.
Saiba mais sobre as condições das lavouras na safra 2022/23 em: Safra de soja 2022/23: projeções se confirmam no fim do ciclo?
2. Clima pode favorecer a ocorrência de ferrugem-asiática na soja em 2023/24
De acordo com os padrões climáticos, o Brasil pode sofrer intercorrências por conta do fenômeno El Niño, que tem possibilidade de se formar no segundo semestre de 2023, com grandes influências no clima no início de 2024. A tendência é de aumento de temperaturas e de pluviosidade em todo o país, condições que favorecem a ferrugem-asiática da soja.
É importante ainda considerar a oscilação da pressão da doença entre as safras, como uma característica do fungo. Quando há picos de ocorrência em uma safra, as medidas de manejo controlam a doença, com resultados positivos no ciclo seguinte, no entanto, a pressão torna a aumentar, exigindo novamente um controle mais criterioso. Essa tendência pode ser observada no gráfico a seguir.
Na série histórica, a ferrugem-asiática apresentou poucas ocorrências em 2022/23, sendo uma das menores nos últimos 10 anos. Observando o padrão e as previsões climáticas, que se relacionam ao comportamento do fungo, é preciso se preparar para um novo possível disparo na quantidade de casos na safra de soja 2023/24.
3. Mudanças no vazio sanitário visam diminuir a pressão da doença
O vazio sanitário é uma medida governamental que tem como objetivo implementar uma prática nacional de manejo da ferrugem-asiática. Assim, é estabelecido um período de 90 dias para cada região manter as áreas de cultivo de soja livres de plantas hospedeiras do P. pachyrhizi.
Com os relatos de aumento das ocorrências e de ampliação do foco da doença, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), em 2022, aplicou mudanças no vazio sanitário, que valem também para 2023.
A medida mostra bons resultados desde que foi instituída, em 2006, evitando uma pandemia de ferrugem-asiática nas lavouras brasileiras. Assim, cenários como o visto na safra 2008/09, que registrou 2884 casos da doença, nunca mais voltaram a acontecer, e as ocorrências se mantêm na casa das centenas pelos últimos 12 anos.
Isso mostra a relevância do vazio sanitário da soja no Brasil, como uma das frentes do MID (Manejo Integrado de Doenças). A partir de 2022, as unidades federativas que devem seguir a calendarização passaram de 14 para 21, e foram acrescidos 30 dias no período em que é proibido manter plantas de soja vivas nessas regiões.
Por um lado, isso implica em alterações na janela de plantio, uma vez que o produtor precisa se adequar a essa nova especificação. Por outro lado, seguir o vazio sanitário se mostra a melhor alternativa para diminuir os focos da doença e evitar a aplicação excessiva de fungicidas – prática que pode acabar selecionando populações do patógeno resistentes aos princípios ativos disponíveis no mercado e surtir o efeito oposto, tornando o controle ainda mais difícil.
4. Problemáticas do controle de ferrugem-asiática
Há dois fatores principais que tornam a ferrugem-asiática uma doença de difícil controle:
- Sua ocorrência tardia, quando as plantas de soja já estão bem desenvolvidas, dificulta que a aplicação de fungicidas atinja as folhas do baixeiro, de maneira que os patógenos ali presentes não são devidamente controlados.
- Com grande capacidade de adaptação, o P. pachyrhizi passa por pressão de seleção de populações resistentes, diminuindo a eficiência dos fungicidas.
O controle químico é uma das medidas de manejo mais eficazes, e, mesmo com inovações constantes no segmento de fungicidas, a ferrugem-asiática continua sendo um risco para a soja. Podemos imaginar, então, o que aconteceria caso os fungos se desenvolvessem de maneira seletiva aos mecanismos de ação dos produtos. A crise na sojicultura seria certa.
Para prolongar a vida útil das soluções, mantendo sua eficiência de controle contra o fungo, é preciso medidas integradas que componham um programa de manejo antirresistência contra a ferrugem-asiática na soja. É a isso que se dedica o FRAC – Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas –, que, em junho de 2023, atualizou suas recomendações (em boa hora para apoiar o produtor no combate à doença na safra 2023/24), a saber:
- O controle de doenças na soja deve ser baseado em aplicações preventivas.
- Os produtos devem ter diferentes mecanismos de ação associados e precisam ser aplicados em rotação.
- O uso de multissítios em combinação com produtos de sítio específico deve ser preconizado.
- A rotação de ingredientes ativos com o mesmo modo de ação também deve fazer parte do planejamento de manejo.
- A aplicação de fungicidas deve ser realizada em dose, épocas, alvos e intervalos de acordo com as recomendações de cada produto.
- Programas de aplicações iniciados curativamente favorecem a pressão de seleção, portanto, não devem ser utilizados.
- As boas práticas agronômicas devem ser seguidas, a fim de evitar a exposição dos produtos a altas populações do patógeno: i) evitar plantios tardios; ii) dar preferência por variedades de ciclo precoce e com maior tolerância às doenças; iii) respeitar o vazio sanitário; iv) eliminar plantas de soja voluntária; v) evitar o plantio de soja em segunda safra; vi) monitorar a lavoura; vii) ajustar adequadamente espaçamento e densidade de plantas; viii) realizar rotação de culturas na área; ix) aplicar correção do solo e balanceamento da adubação.
O documento apresenta ainda especificações para cada grupo químico de fungicidas disponíveis no mercado, auxiliando nas tomadas de decisão que favorecem a efetividade do controle de ferrugem-asiática e outras doenças da soja.
Assim, o MID inclui boas práticas agrícolas, em associação com o controle químico, que é eficaz para: “manejar as fontes de inóculo, reduzir a progressão de doenças e prevenir a evolução de populações de patógenos resistentes em soja” (Novas recomendações para o manejo de doenças em soja, FRAC, 2023).
5. Posicionamento correto de fungicidas para o controle da doença
Foco na aplicação na hora certa! Quando a ferrugem-asiática na soja começa a mostrar seus sintomas, as plantas já estão na fase reprodutiva, dificultando a eficiência das operações. Assim, o ideal é realizar aplicações preventivas, no pré-fechamento das entrelinhas, quando ainda é possível obter uma melhor cobertura do baixeiro e atingir os alvos com assertividade.
Ao realizar a operação antes disso, corre-se o risco de o residual do produto não durar até o momento de entrada da doença na lavoura (visto que o patógeno se espalha por meio do vento e pode atingir a área mais cedo ou mais tarde). Aplicar depois disso ou após a verificação dos sintomas significa uma ação curativa, comprovadamente de baixa eficiência.
Em áreas próximas a regiões com confirmação da ferrugem-asiática, a aplicação preventiva é essencial para a manutenção da sanidade da lavoura. Considerando ainda que há muitas outras doenças que acometem a cultura da soja, é interessante aproveitar a operação para um manejo completo, optando por fungicidas com amplo espectro de controle em combinação com multissítios, a fim de elevar a eficiência.
6. Aplicação zero e suas vantagens
A aplicação zero de fungicidas funciona como uma medida preventiva essencial para a construção da sanidade foliar, que entrega excelentes resultados contra a ferrugem-asiática da soja e outras doenças. Para isso, é preciso entrar com fungicidas nas fases entre V3 e V4 da cultura, cerca de 30 dias após a emergência da soja.
Nesse momento, o efeito residual do Tratamento de Sementes fungicida pode já ter chegado ao seu limite, o que faz com que as plantas fiquem novamente suscetíveis às doenças. Por isso, a aplicação zero é estratégica para construir a sanidade da lavoura, sendo uma medida tão importante quanto as outras já comentadas ao longo deste artigo.
O porte das plantas nesse estágio também permite que a aplicação cubra as folhas do baixeiro com uma melhor uniformidade, proporcionando uma melhor performance de controle.
Além de controlar as manchas foliares que costumam ocorrer no período vegetativo, a aplicação zero já atua também na prevenção de doenças mais tardias, tal como a ferrugem-asiática, desde que o fungicida escolhido tenha as características necessárias para isso:
- combinação de ativos;
- amplo espectro de controle;
- diferentes modos de ação;
- formulação de alta tecnologia.
A aplicação zero consegue reduzir a incidência de doenças ao longo do ciclo e controlar os patógenos que já estão colonizando a lavoura, embora ainda não manifestem sintomas. Para o manejo antirresistência do P. pachyrhizi, é uma oportunidade de rotacionar ativos e evitar danos nas plantas, além de prejuízos na produtividade.
Assim, a primeira aplicação preventiva de fungicida, a ser feita no pré-fechamento das entrelinhas, contribui para manter a sanidade e o vigor das plantas até o início do estádio reprodutivo, fortalecendo a soja para o enchimento de grãos.
Para conhecer os resultados dessa estratégia, comprovados em pesquisas de campo, acesse: Soja: aplicação zero reduz risco de incidência de doenças.
Para bater recorde histórico de produção na safra 2023/24, é preciso manter a ferrugem-asiática sob controle
A safra de grãos brasileira do último ciclo atingiu resultados jamais vistos (315,8 milhões de toneladas), com a soja na liderança do volume, representando cerca de 49% da produção (155,7 milhões de toneladas), de acordo com os dados do 9º Levantamento da Safra 2022/23, da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
As primeiras projeções para a safra 2023/24 já foram publicadas pela USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), com perspectivas ainda mais otimistas para o Brasil, visto que se espera uma produção de 163 milhões de toneladas de soja. Dados que, apesar de muito preliminares, são extremamente satisfatórios para um início de safra.
Tanto potencial não pode ser colocado em risco por conta da ferrugem-asiática e outras doenças da soja. Conhecendo os 6 pontos de atenção para um manejo correto e eficiente (histórico da doença, previsão climática, manejo integrado, dificuldade de controle, manejo preventivo e aplicação zero), é possível garantir a produtividade projetada e bons rendimentos para o sojicultor em 2024.
Tudo isso pode ser alcançado por meio de um controle completo, do início ao fim do ciclo, proporcionado pelo portfólio de fungicidas da Syngenta, que oferece soluções inovadoras e as ferramentas certas para rotacionar produtos e alcançar sucesso no manejo antirresistência.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
Acesse o portal Syngenta e confira a central de conteúdos Mais Agro para ficar por dentro de tudo o que está acontecendo no campo.
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