Embora o processo de sucessão rural ainda pareça demasiadamente burocrático, o tema vem ganhando cada vez mais notoriedade entre as famílias, visto que é uma ótima maneira para — além de dar continuidade à história — aplicar mudanças e melhorias, desde a forma como a gestão da propriedade é realizada, no entendimento das culturas consideradas mais rentáveis, na adoção de tecnologias, até os métodos de cultivo que avançam significativamente entre as gerações.

A sucessão rural familiar vai além da decisão sobre quem deve passar a gerir a propriedade e, portanto, tomar decisões. O processo impacta diretamente a comunidade em que a propriedade rural está inserida, podendo conferir benefícios para além dos financeiros.

Por isso, além de antecipar a criação de ambientes formais em que o assunto possa ser debatido entre os possíveis sucessores e gestores da propriedade rural, buscar conhecimentos sobre quais caminhos podem facilitar o processo sucessório é indispensável para a continuidade das atividades agrícolas naquele núcleo familiar e para a permanência dos jovens no campo, especialmente diante dos cenários animadores para o agronegócio nos próximos anos.

Antes de tudo, vamos conhecer um exemplo de sucesso na sucessão familiar acompanhada pela Syngenta:

Na propriedade rural dos produtores de café Geraldo Martins Fontes e Dayana Kelly, a história com a produção do grão se deu desde sempre, com o cultivo iniciado com o avô de Dayana, a sucessão ocorreu após o falecimento da matriarca da família. A produtora assumiu o negócio no final de 2016, fazendo com que o empreendimento só prosperasse, e a Syngenta foi uma grande parceira, levando o café da fazenda para o mundo. Conheça mais sobre essa história de sucesso no vídeo a seguir: 

Dayana ainda pontua: “pretendo deixar um legado, porque acho muito importante o que eu sinto da minha mãe e do meu avô, acho importante a gente mostrar essa história.  É gratificante saber que você é um produtor rural e que seu produto vai para o mundo, que alimenta as pessoas. Isso é uma coisa muito boa, e eu espero passar isso para os meus filhos assim como me foi passado”.

Mas, por que o tema é importante?

Participação do agronegócio no PIB brasileiro

Segundo o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o agronegócio, de forma geral, tem uma média de participação de 23% no PIB brasileiro (entre 1995 e 2021), número que representa 1/4 da economia brasileira, sendo, portanto, um dos carros-chefes do país.

Os cálculos oficiais do IBGE, por outro lado, apontam uma participação de 4,8%, em média, do setor para o mesmo período. Inicialmente, surgem dúvidas sobre os números discrepantes apontados.

No entanto, cabe ressaltar que, enquanto o IBGE considera os números relacionados apenas à produção, ou seja, dentro da porteira, o CEPEA considera em seus cálculos o agronegócio de forma mais ampla, ou seja, englobando também o conceito Agribusiness, que surgiu nos anos 1950, na Universidade de Harvard, a partir de Davis e Goldberg. Assim, nesse cálculo estão inclusos os valores correspondentes às atividades econômicas envolvidas na produção agropecuária, como indústria e serviços, o que eleva a porcentagem.

De qualquer forma, é nítida a importância do setor e, para que ele continue em expansão, com atividades agrícolas desempenhadas focando em atender às necessidades sociais e econômicas de seu tempo – considerando os pilares da sustentabilidade, com otimização do uso dos recursos –, é necessário que as gerações, pais, mães, filhos e filhas, estejam sintonizadas para realizar o processo sucessório de maneira tranquila, o que possibilita aplicar melhorias benéficas para todos.

Presença dos jovens no meio rural

O levantamento do IBGE indica que existem 5,07 milhões de estabelecimentos rurais (Censo 2017). Juntos, eles somam mais de 351,3 milhões de hectares, envolvendo diretamente 15 milhões de pessoas. Desse quantitativo, 73% tem algum grau de parentesco com o produtor e 27% não possui laços familiares, sendo um grupo composto por trabalhadores que atuam no meio rural.

Em relação ao gênero, os homens são maioria no setor, correspondendo a 81%. Já no que diz respeito à faixa etária, a predominância está entre 35 e 74 anos. Até os 34 anos de idade, 425.712 são homens, e 143.713 são mulheres, totalizando 569.425 pessoas, o que representa 3,79% do total de pessoas envolvidas com as atividades agropecuárias no país.

Diante desses dados, fica claro que o agronegócio e a sucessão rural estão diretamente relacionados, visto que, para que a propriedade continue a produzir, alguém deve assumir o comando da fazenda. Embora o quantitativo de jovens candidatos a esse posto tenha reduzido consideravelmente (influenciado por outros fatores, incluindo a redução do número de filhos), é imprescindível que políticas públicas possam incentivar a permanência dos descendentes no meio rural e que todos consigam encontrar um denominador comum na condução da propriedade e de sua produção.

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Sucessão rural: benefícios para além da gestão da propriedade

Pesquisas revelam que apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração (passagem da propriedade como herança para os descendentes) e menos de 15% passam para a terceira geração. Apesar desse número, ainda há muito espaço para crescer em relação ao tema, dada a importância crescente do setor nos cenários nacional e internacional. Até 2050, estima-se que a produção de alimentos no Brasil mais do que dobre, posicionando o país como o principal produtor de alimentos do mundo.

Nesse contexto, assumir um negócio rural deixa de ser sinônimo de ausência de oportunidades para se tornar um campo fértil para os jovens que optarem por esse caminho. Afinal, o agronegócio se mostra cada vez mais rentável, podendo, inclusive, superar as expectativas dos empreendimentos do meio urbano.

Essa é uma perspectiva possível de ser avaliada ao se considerar os números levantados em relação aos candidatos à sucessão:

  • 41% dos nascidos no meio rural têm intenção de permanecer na agricultura como proprietário rural, e dar continuidade às atividades da família (um dado considerado animador);
  • 22% buscam por formação profissional em grandes centros, principalmente, e desses, 23% pretendem retornar ao campo, transferindo para as fazendas os conhecimentos obtidos nos centros tecnológicos das metrópoles;
  • do total dos jovens, apenas 22% pretendem romper relações permanentemente e sair do meio rural de forma definitiva.

É importante frisar que a sucessão familiar vai além da transferência do dever administrativo da propriedade rural à outra geração, ela também possibilita o desenvolvimento econômico das comunidades rurais, conferindo benefícios para as famílias, que incluem:

  • valorização da produção local de alimentos, possibilitando maior diversidade e movimentando a economia local;
  • redução do êxodo rural, possibilitando a permanência dos jovens no campo;
  • profissionalização das atividades agrícolas, uma vez que a maioria dos jovens busca formação técnica ou superior, por conta própria ou por meio de terceiros, para impulsionar o negócio;
  • preservação do conhecimento local em relação às atividades agrícolas e culturais;
  • possibilidade de explorar outros cultivos mais rentáveis ao produtor e que estão de acordo com uma produção cada vez mais sustentável, melhorando a saúde financeira do produtor e otimizando a utilização de recursos, além de possibilitar maior qualidade de vida para os envolvidos na produção agrícola.

Assim, a quebra de paradigmas do setor e o avanço tecnológico no campo passa também pela inclusão das novas gerações nas atividades do negócio familiar, mesmo antes de ser necessária a formalização da transferência de bens. Afinal, o agronegócio evoluiu muito nos últimos anos, fazendo com que a tecnologia seja uma grande aliada da cadeia agrícola, da fazenda ao comércio, algo que é inerente aos mais jovens, imersos na tecnologia desde o berço.

Por isso, é necessário que as fronteiras relacionadas aos processos produtivos sejam expandidas, permitindo sua otimização, e a tecnologia, por mais simples que seja, pode ser uma aliada.

Como o processo de sucessão rural tem ocorrido e quais as perspectivas futuras?

Em tempos não tão distantes, mas em que aconteceram enormes avanços tecnológicos e operacionais, o processo de sucessão ocorria quando, por motivo de doença ou falecimento, o patriarca ou a matriarca deixava de gerir a propriedade abruptamente, configurando uma situação desafiadora para os sucessores.

Com conhecimento limitado de como administrar a fazenda, muitas vezes a propriedade acabava por ser vendida, e o negócio da família era encerrado. Mais recentemente, esse processo de transferência de bens passou a ser mais complexo, visto que a sucessão pode ser planejada antecipadamente e, portanto, envolve diferentes etapas de longo prazo.

As principais etapas dos processos sucessórios de propriedades rurais envolvem dois pontos principais:

  • alinhamento de expectativas: como qualquer empresa, a sucessão da gestão deve ocorrer pelo profissional mais qualificado, por isso, é importante ressaltar que a sucessão deve ser imparcial e alinhada aos objetivos dos familiares. Não é vantajoso que a gerência da propriedade fique com um sucessor que não tem interesse na continuidade das atividades agropecuárias, por isso, a transparência sobre as aspirações futuras é fundamental, além, é claro, da honestidade consigo mesmo e com os demais familiares: “estou mesmo preparado(a) para a sucessão?”, “quero muito, mas preciso de ajuda profissional!”;
  • o gestor da propriedade deve iniciar o processo inserindo o possível sucessor nas atividades diárias, tais como: manejo da propriedade, tomada de decisões e demais atribuições. O processo deve ser baseado no diálogo e na flexibilidade de ambas as partes, mantendo a abertura para novas ideias que aprimorem os processos produtivos.

De fato, não é uma receita de bolo, em que um passo a passo pode ser definido, pois o processo ocorre em diferentes níveis de complexidade.

No entanto, resultados de pesquisa acendem uma luz sobre quais são os principais determinantes para o êxito no processo de sucessão familiar:

  • rendimento financeiro das atividades rurais: dado o fato de que as novas gerações têm uma percepção mais ampla do conceito de empresa rural, a busca por soluções que otimizem os processos produtivos e que aumentem os rendimentos torna a atividade atrativa;
  • oportunidade de crescimento e de rentabilidade dos negócios: com o agronegócio em expansão e cada vez mais valorizado pelo mercado mundial, as oportunidades de negócios são amplas;
  • recursos oferecidos pelo governo para subsidiar investimentos: para pequenos e grandes proprietários de terras, as possibilidades de investimentos e de melhorias nos resultados financeiros são muitas. No entanto, é imprescindível que esse processo seja orientado com participação ativa de um profissional qualificado, caso o sucessor não tenha conhecimento na área;
  • localização do estabelecimento próximo à cidade: importante para que as novas gerações, mais acostumadas com a vida urbana, tenham acesso a lazer, bens e serviços;
  • estrutura dos estabelecimentos rurais: além de moradia, há os recursos necessários para a realização das atividades agrícolas;
  • incentivo dos parentes para dar continuidade às atividades rurais tem participação importante no processo.

O estudo evidenciou ainda a importância de rendimentos financeiros satisfatórios como fruto das atividades rurais – sendo isso, inclusive, um balizador para as decisões –, visando garantir uma renda adequada para a permanência das novas gerações no meio rural e facilitar o interesse pela sucessão familiar.

As perspectivas são de que, cada vez mais, o processo seja pensado e profissionalizado, ou seja, os filhos de produtores rurais passariam a se profissionalizar para, então, retornar à propriedade e gerir os negócios, aderindo às novas tecnologias que otimizam a realização das atividades agrícolas.

Desafios e caminhos da sucessão familiar

Dados apontam ainda que, embora grande parte dos gestores das propriedades rurais não façam a preparação da sucessão, eles incentivam seus filhos a permanecerem no campo. Além disso, 64% dos sucessores entrevistados, em uma pesquisa realizada em municípios do Oeste de Santa Catarina, relatam que o fato de gostar das atividades no meio rural é importante para a decisão de permanência.

Os principais desafios no contexto da sucessão familiar envolvem, principalmente, quatro pontos centrais:

  • o tamanho dos imóveis: visto que, em pequenas propriedades, a divisão entre os filhos, especialmente em famílias maiores, inviabiliza o processo do ponto de vista econômico – um cenário que dificulta o retorno financeiro para todos os sucessores;
  • a falta de autonomia financeira dos jovens nas propriedades: a dificuldade da gestão em compreender que a propriedade é uma empresa leva os membros da geração mais jovem a atuar nas atividades do negócio sem uma renda adequada, afinal, a percepção é de que eles estejam contribuindo em assuntos domésticos/familiares, no entanto, o sucessor precisa receber remuneração pelo seu trabalho, como ocorre em qualquer outro empreendimento familiar, possibilitando o incentivo a crescer no ramo;
  • a distância entre a propriedade e regiões urbanas gera dificuldade de acesso a recursos importantes para as novas gerações, como variedade de bens de consumo, lazer, estradas, educação, entre outros.

Nesse sentido, para que a sucessão rural possa ser realizada com êxito, uma premissa básica deve ser observada: as propriedades rurais são uma empresa, portanto, precisam ser rentáveis e geridas da melhor forma possível, e, para isso, há caminhos.

O caminho é longo, mas a sucessão rural é necessária para o futuro da produção agrícola e pode, quando possível, ser conduzida com a ajuda de profissionais. O fato é que o planejamento e o diálogo transparente, honesto e de peito aberto às inovações, são fundamentais para o sucesso da sucessão.

A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.

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