Quem trabalha com cana-de-açúcar sabe bem o valor de cada colmo e o esforço que existe por trás de cada safra. O setor segue avançando na sua missão de aumentar a eficiência produtiva e operacional – e não à toa bateu seu recorde histórico de produção na safra 2023/24, chegando a 713,2 milhões de toneladas.
No entanto, os desafios seguem igualmente em evolução e, com a superação de limites de produtividade, as últimas safras trouxeram uma ameaça adicional na categoria de doenças: a síndrome da murcha da cana.
A murcha da cana é causada por uma combinação de fungos e outros fatores, e já está presente em diferentes variedades de cana em várias regiões do país. Os sintomas aparecem gradualmente e impactam diretamente o teor de açúcar recuperável (ATR) e a qualidade dos colmos.
Esse é um momento que exige união de forças e conhecimento. Sabemos o quanto é frustrante ver uma safra inteira de dedicação ser prejudicada – e, assim como você, queremos soluções que fortaleçam os canaviais e ajudem a proteger seu investimento e dedicação.
Por isso, neste artigo, vamos explorar em detalhes tudo o que se sabe até agora sobre os sintomas da murcha da cana, os principais patógenos envolvidos e as práticas de manejo que podem fazer a diferença no enfrentamento a esse problema.
Entendendo a síndrome da murcha da cana: o que está acontecendo nos canaviais?
A “síndrome da murcha da cana”, também chamada de “síndrome do murchamento da cana” ou “síndrome da murcha do colmo”, se caracteriza principalmente – como o próprio nome sugere – pelo murchamento dos colmos da cana, afetando o crescimento, a saúde da planta e a qualidade do produto final.
O problema ganhou maior relevância depois de 2023, devido à constatação de uma incidência crescente em várias regiões produtoras.
Embora ainda esteja em estudo, os fungos mais comuns associados a essa doença são Colletotrichum falcatum, que provoca a podridão vermelha; Phaeocytostroma sacchari (ou Pleocyta sacchari), responsável pela podridão da casca; e Fusarium spp., que está ligado à murcha de Fusarium – ou seja, esses patógenos já são conhecidos na cultura da cana-de-açúcar, sendo responsáveis por doenças comuns nos canaviais.
Dentre eles, a espécie P. sacchari tem sido a mais comum, enquanto Fusarium aparece com menor frequência. Em geral, os fungos têm sido encontrados de forma isolada, embora, em alguns casos, tenha sido registrada a ocorrência simultânea de duas ou mais espécies, um fenômeno conhecido como coinfecção.
Sintomas
Os sintomas na lavoura podem variar em decorrência do que acabamos de discutir: se há uma ocorrência isolada de alguma espécie ou se temos um quadro de coinfecção. Mas, no geral, entre os sintomas mais evidentes associados à síndrome da murcha da cana, temos:
- Murchamento e desidratação dos colmos: os colmos começam a secar e perder água, o que reduz o peso e a qualidade da cana.
- Descoloração interna e externa: a podridão vermelha, causada pelo Colletotrichum falcatum, cria faixas brancas contrastantes no interior do colmo, enquanto o Phaeocytostroma sacchari provoca uma coloração marrom-glacê e cheiro de fermentação.
- Estruturas escuras e cirros: pequenos pontos escuros se formam na casca do colmo à medida que a infecção avança, sinalizando a presença dos fungos.
- Avermelhamento dos entrenós: com o avanço da infecção, os internódios se tornam avermelhados, indicando uma deterioração progressiva.
Esses sintomas geralmente se intensificam na fase final da maturação dos colmos, principalmente no terço final da safra, o que dificulta o manejo e exige uma rápida resposta dos produtores para evitar perdas mais significativas. (E esse fator está conectado a uma das recomendações atuais para o manejo das lavouras infectadas, que detalharemos no tópico de estratégias de manejo!)
Impactos da síndrome da murcha da cana até agora: produtividade, rentabilidade e mix de produção
A síndrome da murcha da cana tem grande potencial de redução da rentabilidade dos produtores, uma vez que reduz o peso dos colmos e compromete a qualidade da matéria-prima. O impacto mais expressivo é observado no açúcar total recuperável (ATR), que diminui em razão da perda de pureza do caldo.
Até a safra 2023/24, a murcha da cana já havia registrado perdas de até 25% na produtividade de algumas áreas. No entanto, com o cenário complexo da safra 2024/25, com recorde de seca e de incêndios nos canaviais, as perdas em algumas regiões chegaram a 45%, segundo a Orplana.
Essa doença tem afetado não só a qualidade da cana-de-açúcar, mas também a produtividade e a longevidade dos canaviais. A junção dessas problemáticas – novas ameaças, seca severa e queimadas históricas – causou a queda da produtividade total esperada para a safra 2024/25, isso depois do setor ter batido seu recorde de produtividade em 2023/24.
Para o setor sucroenergético, a ocorrência e o avanço dessa doença tem afetado o mix de produção e, consequentemente, a rentabilidade das usinas. Isso porque a redução no ATR compromete a viabilidade de direcionar a produção para o açúcar, levando produtores a optar mais pelo etanol, o que altera as expectativas do mercado e a rentabilidade do setor como um todo.
Ainda de acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), a produção de açúcar para este ano está estimada em 38,7 milhões de toneladas, uma redução de 3,3 milhões de toneladas em comparação com a última safra.
Estratégias de manejo e controle da síndrome da murcha da cana: o que sabemos até agora
Diante da complexidade da murcha da cana e de ser um tema ainda novo e em fase de estudos, o manejo passa a ser ainda mais desafiador e carente de respostas efetivas. No entanto, algumas estratégias já estão sendo recomendadas:
1. Colheita antecipada
Em áreas com alta incidência da síndrome da murcha da cana, a antecipação da colheita é uma das principais estratégias recomendadas. Essa prática ajuda a minimizar perdas ao colher a cana antes que a doença comprometa ainda mais o desenvolvimento dos colmos e a qualidade do ATR (Açúcar Total Recuperável).
2. Utilização de mudas sadias
A escolha de mudas livres de patógenos é fundamental para reduzir a introdução e a disseminação de doenças nos canaviais. O uso de mudas certificadas, com garantia de sanidade, reduz o risco de contaminação inicial e promove um início mais saudável para as lavouras.
3. Rotação e diversificação genética
Embora o desenvolvimento de variedades resistentes ainda esteja em fase de pesquisa, é importante que os produtores considerem a diversificação de variedades para reduzir a suscetibilidade dos cultivos. A rotação de culturas em áreas específicas também pode auxiliar no controle de patógenos no solo.
4. Monitoramento e controle dos sintomas
Apesar do manejo de doenças ser preferencialmente preventivo, respeitando um planejamento robusto, completo e integrado de aplicações sequenciais, o monitoramento frequente para a identificação precoce dos sintomas de murcha da cana e tomada de decisão ágil é essencial.
Manter registros das áreas afetadas e inspecionar regularmente os colmos permite uma resposta mais rápida e pode ajudar a evitar a propagação da doença. A remoção de plantas ou partes infectadas nos estágios iniciais pode minimizar a dispersão dos fungos.
5. Gestão integrada com suporte técnico e acompanhamento das novidades
Contar com assistência técnica especializada para a elaboração de um plano de manejo integrado é essencial. Esse suporte pode envolver a avaliação periódica das condições de cada talhão e recomendações específicas que fortaleçam a planta e aumentem a proteção contra a síndrome da murcha da cana.
Além disso, manter-se atualizado sobre as novidades relacionadas à murcha da cana é fundamental. Isso porque as recomendações de manejo podem evoluir e novas tecnologias podem chegar ao mercado, possibilitando que os produtores respondam a esse problema com mais efetividade.
Nosso compromisso é apoiar o setor canavieiro com conhecimento e inovação. Continuaremos acompanhando os estudos sobre a síndrome da murcha da cana e compartilhando informações atualizadas para que você, produtor, esteja sempre preparado para enfrentar os desafios no campo.
O futuro do setor depende da união entre pesquisa e prática no campo para encontrar soluções que permitam aos produtores superar essa e qualquer outra ameaça que possa surgir no caminho, e continuar contribuindo para a força do agronegócio – e do agricultor – brasileiro.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
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