Construir a rentabilidade no setor agrícola é um processo que não envolve somente a gestão de riscos da lavoura, com ações de MIP (Manejo Integrado de Pragas) e MID (Manejo Integrado de Doenças). Claro que proteger a produtividade do cultivo é essencial, no entanto, uma empresa lucrativa e duradoura no agronegócio precisa estruturar um manejo integrado de riscos, a partir de uma gestão financeira eficiente.
Ao contrário do que muitos pensam, administrar o retorno sobre o investimento no agro não é um bicho de sete cabeças. Com foco em pontos-chave do negócio, desenvolve-se uma cultura de gestão de riscos para além das porteiras da fazenda, que funciona continuamente e entrega resultados a curto e longo prazo.
As dicas de rentabilidade que serão apresentadas a seguir têm como base os conceitos e estratégias da AgroSchool. A partir de uma conversa com Marina Piccini, sócio-fundadora da plataforma, estruturamos os princípios básicos do manejo integrado de riscos no agro, o MIP das finanças!
Boa leitura.
Os 4 pontos fundamentais da gestão de riscos no agronegócio
O ponto de partida para uma administração financeira eficiente é olhar para o negócio em sua totalidade. Isso significa que o produtor precisa estender a mesma atenção depositada no manejo de pragas e doenças para os demais riscos. De maneira simplificada, pode-se compreender as atividades de gestão de riscos a partir de quatro princípios básicos:
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mapeamento dos riscos;
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definição dos limites de investimento;
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monitoramento das operações;
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correção dos processos.
Assim, considera-se o modelo estratégico para manejo de pragas e doenças, que vai desde a identificação das ameaças até o controle efetivo que mantenha as populações abaixo do nível que causa danos à lavoura. No mesmo sentido, o manejo integrado de riscos, no que diz respeito ao financeiro, deve começar pela identificação de lacunas que podem prejudicar a rentabilidade, a fim de estabelecer estratégias para mantê-los em um nível de controle que não afetem a saúde financeira no agronegócio.
Especificando cada um desses tópicos e seu funcionamento no cotidiano do agricultor, é possível visualizar como estabelecer uma cultura da gestão de riscos no agronegócio que permita expandir as margens de lucro e proteger os investimentos.
1º Princípio: mapeamento dos riscos
Uma gestão de riscos sóbria precisa amparar-se na realidade. Impossível estabelecer critérios e limites para uma aplicação financeira saudável sem identificar os gargalos operacionais que oferecem ameaças para a continuidade do negócio.
No agro, além dos fatores que prejudicam a produtividade da lavoura, que já são de conhecimento do produtor, existem problemas de outras ordens, externos ao campo, que podem comprometer a lucratividade dentro de um mesmo ciclo de produção ou ao longo do tempo, tais como:
Riscos financeiros:
Uma realidade que, infelizmente, não é incomum diz respeito ao produtor que não possui recursos suficientes, seja para capital de giro ou investimentos, e não consegue acessar linhas de financiamento adequadas a cada propósito. Mais do que isso, não tem meios para analisar se o resultado operacional do negócio conseguirá cobrir com folga o pagamento de juros e amortizações de parcelas de financiamento, não tendo capacidade de servir à dívida como deveria.
Além disso, há os produtores que, sem realizar um exercício de projeção para os anos subsequentes, não conseguem ter uma visão clara se o negócio irá suportar pagar pelos investimentos realizados de forma saudável.
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Riscos de sucessão:
A questão da sucessão também está diretamente relacionada à gestão financeira e, embora tenha evoluído nos últimos anos, ainda carece de maior atenção pelos produtores rurais. Trata-se da criação e da estabilização de um patrimônio familiar consistente por meio da fazenda, que pode sofrer perdas se não houver coesão e continuidade do modelo administrativo, conforme a sucessão para as gerações seguintes.
Claro que a inovação no agronegócio, inclusive no que diz respeito à atualização dos processos financeiros de acordo com os avanços da sociedade, é sempre bem-vinda. Todavia, a sucessão patrimonial das propriedades e da empresa necessita de uma cultura de gestão bem estruturada, para que haja continuidade ao longo das gerações, se estes forem os planos da família.
Riscos cibernéticos:
A automatização e o uso de tecnologias digitais nas fazendas chegou para ficar, no entanto, ao implementar um software ou uma máquina, é preciso prever as falhas para que a produção e o gerenciamento não sejam prejudicados por conta de mau funcionamento ou falta de capacitação.
Por isso, da infraestrutura (rede elétrica, acesso à internet, funcionamento e manutenção das máquinas) ao aproveitamento máximo dos recursos e estratégias de investimentos em agricultura digital, é preciso mapear os riscos para que uma falha no processo não trave o andamento das operações.
Riscos de mercado:
A volatilidade do mercado não é uma incerteza, é uma verdade. Por isso, acompanhar o ciclo das commodities é regra fundamental para a criação de uma cultura de gestão de riscos que deixe evidente qual o momento certo para investir e para vender, assegurando uma negociação que mantenha o giro de caixa sempre positivo e minimizando os impactos na gestão do negócio.
2º Princípio: definição dos limites
Uma vez compreendidos quais os riscos que mais podem gerar impacto financeiro ao negócio, é preciso atuar no segundo passo, quando serão definidos os limites, como: qual o mínimo e o máximo que o produtor irá fixar da safra antes da colheita; com quantas linhas de crédito ele irá trabalhar; e com quantos bancos ou fornecedores ele pretende manter um relacionamento.
O estabelecimento de metas e limites confere visibilidade sobre quais são as ações possíveis e saudáveis para o negócio, de maneira que nenhuma decisão seja tomada sem a certificação de que é um movimento viável.
3º Princípio: monitoramento das operações
O monitoramento consiste em acompanhar cada um dos riscos elencados e verificar se estes estão dentro dos limites previamente estabelecidos. Um ponto fundamental para o sucesso dessa prática é eleger uma pessoa responsável para o acompanhamento de um risco ou de um grupo de riscos.
O monitoramento constante oferece os dados que evidenciam se o planejamento inicial está condizente com a realidade e quais os processos operacionais que precisam ser adaptados para alcançar melhores resultados, de maneira a evitar que se tornem prejuízos.
Por meio do monitoramento, os problemas são antecipados, tornando possível estruturar estratégias para corrigi-los preventivamente.
4º Princípio: correção dos processos
Esse quarto princípio de ação da gestão integrada de riscos para proteção financeira do produtor diz respeito ao próprio controle das ameaças ao negócio, estabelecendo, depois de realizados os três passos anteriores, formas de corrigir cada um dos riscos identificados.
A reação diante de um risco em potencial deve ser imediata, criando estratégias de correção e aplicando-as rapidamente, a fim de controlar o problema, a partir de alternativas viáveis dentro do contexto de produção, antes que surta efeitos financeiros negativos e difíceis de serem recuperados.
Nessa etapa, além da correção do processo, é importante ainda investigar o que levou a extrapolar o limite anteriormente estabelecido, avaliando os cenários internos e externos do mercado para entender por que foi necessário desviar o planejamento. Essa compreensão permite estruturar planejamentos futuros já desviando desse risco para que não se repita.
MIP de finanças para uma gestão de riscos completa no agro
Não somente pragas, doenças e plantas daninhas colocam em xeque a rentabilidade do produtor, o agronegócio envolve muito mais que isso! Em muitos anos de boa performance na produtividade das lavouras, o agricultor já domina os processos integrados para controlar danos diretos ao cultivo.
No entanto, para o produtor rural no Brasil se colocar competitivo no cenário mercadológico interno e externo, é preciso também proteger seu caixa, seus investimentos e sua liquidez. Transportar as frentes do manejo integrado de ameaças à lavoura para a gestão de riscos é uma estratégia potente, que facilita o controle não apenas das finanças, mas do negócio como um todo.
É importante lembrar ainda que, se para um MIP eficiente um engenheiro-agrônomo se faz essencial, para gerenciar as ameaças financeiras não seria diferente. Conte sempre com os conhecimentos e serviços de especialistas, para que sua empresa construa uma curva de lucratividade crescente ao longo do tempo, e alinhe os conhecimentos de campo das primeiras gerações do agronegócio às inovações tecnológicas que otimizam cada operação.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, com o objetivo de impulsionar o agronegócio brasileiro com qualidade e inovações tecnológicas.
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