As plantas daninhas competem com as culturas agrícolas por água, luz e nutrientes. Algumas espécies liberam substâncias alelopáticas que inibem o crescimento das plantas cultivadas, além de servir como hospedeiras de pragas e doenças. Esses fatores aumentam os custos de produção, diminuem a produtividade, comprometem a qualidade dos produtos e dificultam a colheita.

Entre as espécies que comprometem a produção agrícola, está a grama-seda (Cynodon dactylon), conhecida por sua agressividade, alta capacidade de propagação e adaptação a diferentes condições climáticas. Embora amplamente utilizada como forrageira na produção animal, essa espécie se comporta como uma planta daninha de difícil controle quando presente nas demais culturas agrícolas.

Sua presença não só compromete a competitividade das culturas, como também desafia o produtor a buscar soluções inovadoras para manter a sustentabilidade agrícola. Nesse contexto, compreender a biologia, a dinâmica e o impacto dessa planta daninha é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo.

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Grama-seda: uma das plantas daninhas mais disseminadas no mundo

A grama-seda (Cynodon dactylon), também conhecida como capim-bermuda ou capim-estrela, é uma planta perene pertencente à família Poaceae. O gênero Cynodon, conhecido por seu caráter colonizador, é composto por aproximadamente 10 espécies, divididas em dois grandes grupos:

  • Gramas-bermuda (Cynodon dactylon e Cynodon transvaalensis): caracterizam-se por rizomas e estolões bem desenvolvidos, amplamente usados em gramados e como forrageiras.
  • Gramas-estrela (Cynodon nlemfuensis e Cynodon plectostachyus): são mais robustas, de hábito ereto e menos adaptadas a climas temperados.

Originária das regiões tropicais e subtropicais da África, foi introduzida nos Estados Unidos por volta de 1750, onde passou por melhoramentos com o intuito de ser cultivada como forrageira e, a partir de então, se expandiu para outros países. Está amplamente distribuída em todos os continentes, exceto na Antártica, e é considerada uma das plantas mais disseminadas no mundo.

No Brasil, é encontrada em todas as regiões, com maior prevalência em áreas de clima tropical e subtropical; sua presença em cultivos agrícolas faz dela uma das principais plantas daninhas de culturas perenes e anuais, como a cana-de-açúcar e a soja.

Características morfofisiológicas da grama-seda

A grama-seda é uma planta herbácea, de metabolismo fotossintético C4. Esse tipo de metabolismo aumenta sua eficiência no uso de água e na fixação de carbono em condições de alta luminosidade e temperatura, permitindo que se estabeleça em ambientes rústicos.

Assim, possui boa capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas e edáficas, bem como tolerância a variações de pH do solo e a estresses ambientais, como seca e salinidade.

No entanto, essa espécie não tolera sombreamento e o seu crescimento é influenciado pela disponibilidade de água e pela temperatura, que vai de 15 °C a 40 °C, sendo que a temperatura de 35 °C a 40 °C favorece a sua ampla distribuição.

Planta de grama-seda (Cynodon dactylon).

Essas características fisiológicas contribuem para a sua capacidade de colonização rápida e  eficiente e isso é potencializado pelas suas características morfológicas:

  • Raízes: sistema radicular fasciculado, profundo e fibroso, que contribui para sua resistência à seca e capacidade de se fixar em diversos tipos de solo.
  • Colmos: são finos, lisos e levemente achatados. Possuem rizomas (caules subterrâneos) e estolões (caules rasteiros), com alta capacidade de propagação e regeneração.
  • Folhas: as folhas apresentam lâminas lanceoladas, lineares e glabras (sem pelos). Suas bainhas foliares são abertas, frequentemente com coloração avermelhada nas bases. Apresenta lígula, uma estrutura membranosa curta e com tufos de pelos brancos na base.
  • Inflorescência: do tipo panícula, composta por 5 espigas (podendo variar em número de acordo com a variedade) distribuídas em um verticilo. As espiguetas estão fixadas apenas em um lado do eixo, conferindo à inflorescência um aspecto característico.
  • Sementes: são pequenas e apresentam viabilidade moderada, porém sua reprodução é predominantemente vegetativa, através de estolões e rizomas.
Inflorescência da grama-seda (Cynodon dactylon)

Propagação: a alta capacidade de colonização da grama-seda

Sua capacidade invasiva também é resultado de múltiplos mecanismos de reprodução e propagação. A grama-seda possui estratégias de propagação altamente eficazes, combinando reprodução sexuada e vegetativa. Além de produzir sementes viáveis, ela se propaga por estolões e rizomas, que possuem alta taxa de regeneração.

A reprodução vegetativa é o principal método de propagação da grama-seda e o responsável por sua disseminação rápida e eficiente em áreas agrícolas. Esse processo ocorre por meio de:

  • Estolões: caules rasteiros que crescem na superfície do solo, desenvolvendo nós que emitem raízes adventícias e brotos. Esses nós formam novas plantas independentes, criando densos tapetes vegetais.
  • Rizomas: caules subterrâneos que crescem horizontalmente; seus fragmentos podem formar novas plantas e possuem alta capacidade de regeneração. Em 80 dias, uma planta produz até 5 metros de rizoma. Sua maior parte se encontra na camada mais superficial do solo, mas pode alcançar até 80 cm de profundidade.
Crescimento rasteiro da grama-seda, formando estolões.

Embora a reprodução sexuada não seja o principal meio de propagação da grama-seda, ela desempenha um papel importante em sua capacidade adaptativa. As sementes são pequenas e viáveis, mas sua produção é limitada em comparação a outras gramíneas.

As sementes apresentam baixa taxa de germinação em algumas condições, mas são altamente adaptáveis a climas quentes e solos bem drenados. Em regiões de clima temperado, as sementes podem entrar em dormência durante o inverno, germinando apenas quando as condições forem favoráveis.

Uma vez estabelecida, a grama-seda forma um denso tapete de plantas interconectadas, com regeneração rápida mesmo após intervenções de manejo, como corte, gradagem ou aplicação de herbicidas inadequados, isso graças à reserva de energia nos rizomas e estolões.

Tapete vegetal formado pela grama-seda.

Os métodos de dispersão contribuem para o caráter invasivo da planta

A fragmentação de rizomas e estolões por equipamentos, como grades e arados, é uma das principais formas de propagação em lavouras mecanizadas. Essas partes vegetativas podem ser transportadas para novas áreas durante o uso de máquinas não higienizadas e, em regiões sujeitas à irrigação ou enchentes, podem ser carregadas pela água, estabelecendo novas colônias em locais distantes.

O vento também desempenha um papel relevante para a dispersão de sementes em áreas abertas. Além disso, os animais  também contribuem para a propagação, pois os estolões podem se prender ao casco ou no pelo, enquanto as sementes podem ser ingeridas e eliminadas na área, germinando assim que as condições forem ideais.

Impactos e desafios da grama-seda na cana-de-açúcar

A presença da grama-seda em canaviais representa um dos maiores desafios para os produtores de cana-de-açúcar. Essa planta daninha forma uma densa cobertura no solo que suprime o desenvolvimento lento da cana nas fases iniciais, sombreando brotos, prejudicando o perfilhamento e a formação de touceiras.

A seguir, abordamos os impactos e os fatores que tornam essa planta daninha um problema crítico para a cultura:

  • Redução da vida útil do canavial: ao competir agressivamente por água, luz e nutrientes, a grama-seda reduz o vigor da cana, acelerando o declínio do canavial e diminuindo o número de cortes. Essa redução de longevidade força os produtores a renovarem o canavial com maior frequência, aumentando os custos de produção.
  • Alelopatia: a grama-seda pode liberar substâncias químicas no solo que inibem a germinação e o desenvolvimento das brotações de cana, comprometendo a recuperação de soqueiras.
  • Hospedeira de nematoides e pragas: é hospedeira de nematoides, como Meloidogyne spp. e Pratylenchus spp., que causam danos severos às raízes da cana, reduzindo sua capacidade de absorver água e nutrientes. A daninha também pode abrigar pragas e vírus que comprometem o desenvolvimento da cultura.
  • Aumento de impurezas na colheita: durante a colheita mecanizada, a grama-seda contribui para o aumento de impurezas minerais (terra) e vegetais (resíduos de folhas e colmos). Essas impurezas afetam a qualidade da matéria-prima e elevam os custos de processamento na indústria.
  • Redução de produtividade: todos esses fatores comentados levam à redução de produtividade e qualidade da cana. Estudos demonstram que a presença da grama-seda (Cynodon dactylon) em cana-soca provoca uma redução de até 15% no número de colmos e, na cana-planta, de até 23%, refletindo na diminuição da produtividade. Além disso, na cana-planta, pode haver queda de até 32% no rendimento de açúcar, comprometendo também a qualidade final do produto.

Manejo da grama-seda: práticas recomendadas

O manejo integrado, combinando as seguintes estratégias, é essencial para conter a infestação da grama-seda e manter a produtividade:

  • Controle preventivo: implementação de medidas para impedir a introdução e a disseminação de plantas daninhas em áreas não infestadas, como a limpeza de máquinas e implementos agrícolas antes da mudança de área.
  • Controle cultural: práticas agrícolas que favoreçam o desenvolvimento da cultura em detrimento das plantas daninhas, como a escolha de variedades competitivas, adubação equilibrada e o manejo adequado da irrigação.
  • Controle mecânico: práticas, como a retirada manual dos rizomas, são úteis, mas requerem constância para manter a eficácia.
  • Uso de herbicidas: aplicação de herbicidas seletivos ou não seletivos, considerando certos aspectos, como o estádio de desenvolvimento da cultura e das plantas daninhas, doses recomendadas e condições ambientais.

Dessa forma, fica claro que a grama-seda é uma planta daninha bem competitiva que exige atenção no manejo agrícola, especialmente em cultivos como a cana-de-açúcar. É preciso que o produtor esteja atento às inovações do mercado, especialmente se tratando de herbicidas, para escolher as melhores soluções.

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