Quem está à frente do manejo da cana-de-açúcar sabe o quanto é desafiador superar os limites da produtividade. A pressão para alcançar mais eficiência operacional e rentabilidade cresce a cada safra. E, quando falamos de produtividade, não podemos ignorar uma das maiores barreiras atuais no caminho do sucesso: as plantas daninhas.

É fato que as daninhas são um dos maiores desafios para quem produz cana-de-açúcar. Mas o que nem sempre fica claro é o impacto que elas têm na rentabilidade a longo prazo. São inúmeras as variáveis envolvidas no controle dessas invasoras, e o manejo correto exige muita atenção e cuidados específicos para essa cultura. 

Isso porque, na cana, temos um cenário ainda mais complexo: o ciclo semiperene da cultura e as diferentes fases climáticas – úmida, seca e os períodos de transição – que exigem estratégias de controle dinâmicas. É mais do que uma questão de aplicar herbicidas, é saber usar as moléculas certas, no momento certo.

Outro complicador? A diversidade de espécies. Folhas largas e estreitas competem diretamente com a cana por luz, água e nutrientes, e, para piorar, as populações resistentes estão em crescimento. O que talvez passe despercebido, no entanto, é o tamanho do impacto da convivência prolongada com essas daninhas. 

O produtor pode não perceber de imediato, mas a presença delas, mesmo que por poucos dias, já compromete a produtividade e a qualidade da colheita. É por isso que o manejo eficiente das plantas daninhas não pode ser tratado de forma secundária. 

Entender o momento certo para agir e usar as tecnologias adequadas são passos cruciais para proteger sua rentabilidade. Neste blog, vamos mergulhar nas particularidades desse desafio, explorando como as daninhas impactam a produtividade e a rentabilidade da cana-de-açúcar, com exemplos práticos que os estudos nos mostram. Confira!

A diversidade de daninhas na cana complica a vida do canavicultor

Um dos pontos que complicam o manejo das daninhas na cana-de-açúcar é a diversidade de espécies que competem com a cultura. São diferentes épocas do ano, diferentes condições climáticas, e, claro, diferentes tipos de invasoras, com diferentes sensibilidades e resistências às moléculas. 

O que isso significa na prática? Que não há uma solução única para o controle das plantas daninhas. Cada espécie tem seu próprio ciclo de vida e suas particularidades, e o manejo eficaz passa por entender quais plantas estão prevalecendo em cada momento e escolher a tecnologia certa para combatê-las. 

Algumas das principais daninhas que atrapalham a produtividade e a rentabilidade dos canaviais são:

  1. Mucuna (Mucuna spp.): essa trepadeira cresce rápido e se enrola nas plantas de cana, sufocando-as e dificultando seu desenvolvimento. Essa competição intensa pode atrasar o crescimento da cana e, assim, comprometer sua colheita.
  2. Mamona (Ricinus communis): com suas folhas largas, a mamona também se destaca na competição por nutrientes e água. E, para piorar, suas sementes são tóxicas! Isso pode afetar a qualidade da matéria-prima para a produção de açúcar e etanol.
  3. Corda-de-viola (Ipomoea spp.): essa planta trepadeira é especialista em enrolar-se em torno da cana, causando danos mecânicos e dificultando a colheita. E, quando as plantas ainda estão em crescimento, essa competição por luz e espaço é ainda mais intensa.
  4. Capim-colchão (Digitaria spp.): com seu crescimento denso, o capim-colchão é um dos invasores mais comuns nos canaviais. Ele se aproveita da sua rápida taxa de crescimento e compete ferozmente por água e nutrientes, o que pode reduzir significativamente a sua produtividade.
  5. Merremias (Merremia spp.): além da competição intensa por água, luz, nutrientes e espaço, as merremias, por serem trepadeiras, dificultam a colheita mecanizada. Ou seja, quando essas plantas invadem o canavial, elas comprometem o rendimento das máquinas.
  6. Capim-colonião (Panicum maximum): essa planta perene, com suas folhas longas, é uma competidora ágil em solos secos e férteis. A rapidez com que se espalha a torna uma ameaça significativa para a cana.
  7. Braquiária (Brachiaria decumbens): extremamente agressiva, essa planta se espalha rapidamente e compete por recursos naturais. Isso pode ser especialmente prejudicial durante períodos de seca, quando cada gota conta.
  8. Capim-camalote (Rottboellia exaltata): uma planta invasora que pode causar perdas de rendimento de até 100% na cana-planta! Sua capacidade de competir é especialmente forte na fase inicial de desenvolvimento da cultura.

Um herbicida que funcione bem contra folhas largas pode não ser eficaz contra folhas estreitas, e vice-versa. Além disso, moléculas que performam bem na época úmida costumam não ser apropriadas para a época seca, cujo residual e mobilidade precisam ser específicos para tal condição climática e época do ciclo. 

Outro fator de atenção em relação ao manejo de daninhas na cana é que o uso inadequado de uma mesma molécula ao longo do tempo pode levar ao aumento de populações resistentes, tornando o controle ainda mais difícil no futuro.

E falando em resistência…

O uso repetido e não estratégico dos mesmos herbicidas faz com que algumas populações de plantas daninhas resistentes a essas moléculas sejam selecionadas. Isso significa que, mesmo aplicando o produto, o controle certamente não será mais tão eficaz quanto antes.

A resistência é um problema que afeta não só a produtividade, mas também o custo operacional. Se antes uma única aplicação era suficiente para controlar as invasoras, hoje pode ser necessário aumentar a dose ou mesmo realizar mais aplicações, o que aumenta o custo do manejo e coloca ainda mais pressão sobre a rentabilidade.

A solução aqui é adotar uma estratégia de manejo de resistência, alternando modos de ação e utilizando as melhores tecnologias disponíveis. O planejamento do controle precisa ser pensado com antecedência, levando em consideração as particularidades de cada talhão e das populações de daninhas presentes. E, claro, é fundamental contar com o suporte de especialistas e parceiros que possam orientar sobre as melhores práticas.

Mas, vamos ao ponto-chave: qual o impacto das daninhas na produtividade e na rentabilidade da cana-de-açúcar? 

Quando falamos de rentabilidade, a conta é simples: quanto mais eficiente você for na produção, maior será o retorno. 

Mas, como já mencionamos, as plantas daninhas na cana são uma ameaça constante à produtividade e à eficiência operacional. E o que o canavicultor não pode esquecer é que as perdas causadas pela convivência com essas plantas invasoras começam a se acumular desde o início.

O ATR (Açúcar Total Recuperável) é um indicador fundamental para o canavicultor, pois representa a qualidade da cana e sua capacidade de ser convertida em açúcar ou álcool. Quando falamos de produtividade, não se trata apenas da quantidade de cana colhida, mas também da qualidade dessa produção. 

Um ATR mais elevado significa que, com o mesmo volume de cana, é possível gerar uma maior quantidade de açúcar e etanol. Esse índice é utilizado pela indústria para realizar o pagamento pela produção.

Alcançar índices elevados de ATR se torna ainda mais crucial em um cenário em que a concorrência e a volatilidade de preços no mercado exigem uma eficiência operacional cada vez maior. Afinal, a oscilação no preço do açúcar e do etanol impacta diretamente o valor do ATR e, consequentemente, a rentabilidade do produtor. 

E por que isso é importante quando falamos de daninhas na cana? Porque estudos mostram que a convivência com as daninhas pode reduzir significativamente o teor de ATR da cana

Agora, vamos trazer isso para números: 

Um estudo mostrou que, para cada dia de convivência com as plantas daninhas, houve uma perda de 13,123 kg de ATR por hectare.

Figura 1: quantidade de ATR em função dos períodos crescentes de convivência com predomínio de I. hederifolia. (Silva, et al. 2009) 

Para tornar isso ainda mais visual, vamos considerar o valor do ATR atualmente em São Paulo: R$ 1,1738/kg. 

Cada dia de atraso no controle das daninhas, considerando a perda de 13,12 kg de ATR ha-1, resulta em uma perda de aproximadamente R$ 15,40 por hectare, por dia. Em 120 dias de controle pelo herbicida, o retorno para o produtor seria de:

R$ 15,40 x 120 dias de controle = R$1.848,00 de retorno para o produtor.

Multiplicando isso pelos hectares da sua plantação e pelos dias que essas daninhas convivem com a cana, é fácil perceber o quanto sua rentabilidade está em jogo. Isso sem contar o impacto acumulado ao longo dos meses.

Esse estudo, que considerou a planta Ipomoea hederifolia na cana-soca, concluiu que o potencial de redução do número final de colmos e da produtividade foi de 34% e 46%, respectivamente. Quando a cana não enfrentou nenhuma competição com plantas daninhas, a produtividade média chegou a 71,65 toneladas por hectare. Mas, quando as daninhas ficaram no campo junto com a cana até 229 dias após o brotamento (DAB), essa produtividade caiu para 38,59 toneladas por hectare.

E não para por aí. Em cana-soca colhida na época úmida, um estudo de Meirelles et al. (2009) mostrou uma queda de 42,4 toneladas por hectare, ou 33,4% de perda

Já em cana-planta de 18 meses, segundo Kuva et al., 2003, a perda pode chegar a 47,5%, dependendo das espécies de daninhas presentes, como capim-braquiária, capim-colonião e dicotiledôneas. Em casos cujo capim-braquiária domina, a redução pode alcançar impressionantes 82%

Outro estudo considerando a mucuna-preta mostrou que, quando a cana-de-açúcar foi deixada convivendo com a espécie por 180 dias após a brotação, houve uma redução significativa de 29,30% no ATR em comparação com a cana que cresceu sem a presença da mucuna-preta.

Figura 2: quantidade de ATR presente no caldo da cana-de-açúcar em resposta aos períodos crescentes de convivência e controle com a mucuna-preta. Vista Alegre do Alto, 2013.

Uma redução tão significativa no ATR não seria economicamente viável para os produtores.

Agora, o ponto chave: o tempo de convivência com as daninhas faz toda a diferença. Quanto mais tempo elas ficam no campo competindo com a cana, maiores as perdas. Esses números mostram o quão importante é controlar as plantas daninhas quanto antes, para garantir o máximo de produtividade e proteger o retorno do seu investimento.

Outras perdas causadas pelas daninhas na cana

Além de prejudicarem o crescimento e o desenvolvimento da cana, as daninhas podem dificultar a colheita e reduzir a eficiência operacional, além de elevar os custos

A presença dessas plantas invasoras exige intervenções frequentes e cuidadosas, principalmente em períodos críticos, nas épocas úmida e seca, quando as condições de campo e o comportamento das plantas exigem estratégias de manejo diferenciadas.

  • Impacto no rendimento operacional

As plantas daninhas, especialmente as de crescimento vigoroso e entrelaçado, como as trepadeiras, podem dificultar o trabalho das máquinas, reduzindo o rendimento da colheita mecanizada. Isso impacta diretamente a eficiência das operações no campo. 

O maquinário gasta mais tempo para realizar a colheita e sofre desgaste maior, o que eleva os custos com manutenção e combustível. 

  • Repasses

Controlar daninhas na cana não é uma tarefa única e simples. Durante a época seca, por exemplo, as condições climáticas desfavoráveis, como a falta de chuvas e as altas temperaturas, podem comprometer a eficácia dos herbicidas. 

Algumas moléculas com ação residual limitada acabam perdendo sua eficácia antes do canavial se fechar, abrindo espaço para uma nova infestação. Isso força o produtor a realizar “repasses”, ou seja, reentrar nas áreas com novas aplicações de herbicidas para garantir o controle das invasoras. Cada repasse significa um custo adicional não previsto, tanto em produtos quanto em horas de trabalho e movimentação de máquinas.

  • Riscos de prejudicar a cana

O uso de herbicidas é indispensável no controle das plantas daninhas, mas também apresenta riscos. Durante a época úmida, a combinação de condições de alta umidade e temperaturas elevadas pode aumentar o risco de fitotoxicidade, ou seja, o efeito tóxico dos herbicidas na própria cana-de-açúcar. 

Isso torna a escolha de moléculas seletivas ainda mais crucial. Produtos que garantam o controle das daninhas, mas sem prejudicar o crescimento e a produtividade da cana, são essenciais para evitar perdas indiretas. Quando há falhas no controle, ou quando se utilizam herbicidas inadequados, o prejuízo pode ser duplo: tanto pela competição das daninhas quanto pelo impacto dos produtos químicos na cultura.

No fim, os custos com herbicidas, aplicações adicionais e o desgaste operacional representam um peso significativo na rentabilidade do canavial. Gerenciar essa situação exige uma estratégia de controle integrada e bem planejada, que minimize a necessidade de repasses e preserve a eficiência das operações no campo.

Estratégias para proteger a rentabilidade da cana-de-açúcar contra as plantas daninhas 

Proteger a rentabilidade da cana-de-açúcar requer um planejamento cuidadoso e a adoção de estratégias eficazes no manejo de daninhas. Aqui, estão algumas práticas essenciais que podem ajudar a minimizar perdas e alcançar um canavial saudável, produtivo e com maior potencial de retorno econômico:

  • Manter a cana no limpo

Manter a cana livre de daninhas é o primeiro passo essencial para garantir uma colheita saudável e lucrativa. Isso significa que o produtor deve fazer um monitoramento regular da lavoura, procurando por qualquer sinal de plantas invasoras. Diante das perdas diárias causadas pela convivência com as daninhas, intervenções rápidas são fundamentais. Essa vigilância constante previne a competição e assegura que a cana receba toda a luz, água e nutrientes de que precisa para prosperar.

  • Evitar os repasses

Um dos principais desafios no manejo de plantas daninhas na cana é a necessidade de repasses, que aumentam os custos operacionais e afetam a rentabilidade. Para evitar isso, é importante planejar as aplicações de herbicidas de maneira estratégica. Conhecer as características de cada produto e as condições climáticas é essencial para determinar o melhor momento para a aplicação. Dessa forma, além de economizar recursos, o produtor também minimiza o impacto ambiental, promovendo uma agricultura mais sustentável.

  • Mitigar o banco de sementes

O banco de sementes no solo revela o potencial para infestações futuras. Por isso, trabalhar na mitigação desse banco é uma estratégia a longo prazo que todo produtor deve priorizar. Quanto mais o produtor conseguir diminuir esse banco, menos complexo será o manejo pós-emergente.

  • Alcançar um amplo espectro de controle

A diversidade de daninhas é um desafio constante para o canavicultor. Portanto, contar com um amplo espectro de controle é fundamental. Isso significa que, ao escolher herbicidas, o produtor deve optar por aqueles que atuam em diferentes espécies de daninhas, ou realizar combinações necessárias, rotacionando os mecanismos de ação. Essa abordagem ajuda a evitar o desenvolvimento de resistência nas plantas daninhas, um problema que pode ser desastroso para o setor.

  • Saber posicionar as moléculas corretamente

O posicionamento adequado dos herbicidas é uma prática que pode fazer toda a diferença na proteção da cana. É vital escolher os herbicidas de acordo com os períodos climáticos: seca, úmida, semi-seca e semi-úmida. Entender como cada produto funciona em diferentes condições ajuda a maximizar o potencial de controle, garantindo que a cana receba o cuidado necessário em cada fase do seu desenvolvimento. 

  • Escolher tecnologias com seletividade para a cana

Ao escolher herbicidas e tecnologias, é essencial optar por produtos que ofereçam seletividade para a cana. Essa escolha ajuda a evitar a fitotoxicidade, que pode prejudicar o desenvolvimento da cultura. A utilização de herbicidas específicos e novas tecnologias que promovam eficiência e sustentabilidade no manejo de plantas invasoras são passos fundamentais. 

Conclusão: o sucesso no manejo de daninhas na cana depende de cada decisão no campo

Superar os desafios que as plantas daninhas impõem à cana-de-açúcar é uma tarefa constante, mas não impossível. Cada decisão tomada no campo – desde o planejamento até a escolha das tecnologias – tem um impacto direto na produtividade e na rentabilidade da lavoura.

Ao adotar uma estratégia eficiente e personalizada para o controle das daninhas, é possível proteger a canavicultura de perdas diárias que podem comprometer o futuro e a viabilidade econômica da cultura.

Agora que você já entendeu um pouco mais sobre a seriedade da interferência das daninhas na produtividade e na rentabilidade da cana, é hora de analisar as condições do seu canavial, contar com as ferramentas certas e garantir que, a cada safra, você esteja um passo à frente na proteção da sua produtividade!

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