Conforme esperado a primeira semana de outubro trouxe chuva para a maior parte das regiões produtoras. No Sul de Minas, por exemplo, o volume ficou entre 10 e 60 milímetros. O pesquisador da Fundação Procafé, Rodrigo Naves Paiva, explica a relevância dessas águas neste momento em que muitas lavouras estavam sendo castigadas pelas altas temperaturas.
“A chuva desse início de outubro representa um alivio, a lavoura para de perder. Tínhamos botão floral secando e agora a planta pode se recuperar. Esse clima mais quente paralisa a fotossíntese, o desenvolvimento da planta. Tivemos também muita desfolha nas plantas, agora com água no solo e temperatura mais amena, essa planta começa a brotar’’, explica.
Esse cenário se montou após a onda de calor nas regiões Centro-oeste e Sudeste do país devido ao fenômeno El Niño, no mês de setembro. Situação que trouxe uma grande preocupação entre os cafeicultores. A maioria das regiões produtoras de café, ficaram em alerta vermelho por conta do clima quente. Algumas regiões registraram temperaturas acima de 40ºC nas últimas semanas.
O contexto preocupou muitos produtores pelo país que já haviam registrado floradas e aguardavam por chuvas para o desenvolvimento. O agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio, explica que o grande problema que os cafeicultores tendem a enfrentar este ano são as temperaturas elevadas.
“E não há previsão de muitas chuvas, tivemos algumas chuvas, mas só vai voltar a chover bem no Sul de Minas e demais regiões, provavelmente em outubro”, ressalta.
Muitas propriedades começaram a temer pela safra de 2024 com as altas temperaturas após as floradas do mês de setembro
O pesquisador Rodrigo, ressalta que o mês de setembro castigou muito as lavouras de café. “Setembro foi péssimo com altas temperaturas e déficit hídrico em muitas regiões, algumas tiveram floradas significativas, em outras foram floradas iniciais, mas todas sem chuvas relevantes”.
Segundo ele a espera nesse momento é por uma nova florada, e caso as chuvas continuem a tendência é um bom pegamento. O que preocupa nesse contexto também é a expectativa de altas temperaturas em outubro. A chegada de nova florada e a persistência das altas temperaturas sem água no solo é o que tem gerado preocupação. “Se essa chuva se permanecer em uma condição boa, tudo ok, mas se repetir o cenário de setembro, a preocupação com a safra 2024 aumenta. Mas hoje, o cenário é de incerteza por conta das alterações climáticas”, ressalta.
As lavouras em todas as regiões produtoras do país dependem de boas condições nutricionais e fisiológicas para resistirem as altas temperaturas também previstas para outubro. “Teremos essas chuvas em todas as áreas de café, MG, ES, SP e RO em outubro, porém, irregulares. Então temos uma condição delicada para o pegamento do café, podemos ter um pegamento abaixo da média nesta temporada”, explica o agrometereologista da Rural Clima, Marco Antonio.
O líder de Marketing Café e Citros da Syngenta, Paulo Azevedo, explica que o cenário atual é preocupante, já que na prática as altas temperaturas podem causar o fechamento dos estômatos das plantas e, consequentemente, atrapalhar a fenologia. “Essa situação pode causar ainda a queima ou desidratação dos botões florais”, afirma.
Ainda de acordo com Paulo, o que tem ficado em evidência também nos últimos dias é que lavouras que saíram desta safra depauperadas, seja por ataque de doença, praga ou tratamentos fitossanitários que ficaram a desejar, poderão ser podadas. “Podemos ter muitos produtores podando muitas áreas assim, porque lavouras que estejam desenfolhadas vão sofrer mais ainda com essas temperaturas, assim como as lavouras novas de primeira e terceira safra”, explica Azevedo.
Segundo ele, as lavouras mais velhas ou que estejam vindo de podas e foram bem tratadas sofrem menos impacto com o cenário atual. “É de extrema importância que continuemos a observar o andamento, a questão da abertura do botão floral, porque altíssimas temperaturas acabam por resultar em uma abertura anormal”, ressalta Azevedo.
A necessidade de manter os tratos culturais em dia é essencial para que as plantas tenham maior resistência as dificuldades climáticas, segundo especialistas
Para a safra de 2024, o Brasil tem expectativa de alta, e a esperança se concentra neste momento nas chuvas de outubro, para que essa expectativa se concretize. Pensando em formas de reduzir os impactos climáticos, a orientação é seguir à risca as pulverizações de pré e pós-florada.
Também é preciso ter atenção redobrada com as aplicações de fungicidas e inseticidas via solo, além dos foliares, que neste momento podem ajudar no controle de pragas como o bicho-mineiro e o ácaro vermelho, que têm surgido em muitas regiões cafeeiras por conta do clima.
Robustas Amazônicos: Rondônia deve ter cenário mais favorável que demais regiões cafeeiras
As altas temperaturas preocupam os produtores de café conilon na região amazônica, uma vez que a distribuição das chuvas tem roubado o sono dos produtores.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, Enrique Alves, a região Matas de Rondônia teve um bom pegamento das flores na maioria das lavouras. “Houve alguns episódios de escaldadura, alguns clones mais que outros, mas nada que não seja absorvido pela plasticidade agronômica das plantas”, ressalta. Até o momento, a região não teme prejuízos para a próxima safra.
Rondônia neste momento está em transição climática, com chuvas regulares esperadas também em novembro, período que deve inclusive expandir os frutos dessas alvoradas.
Ainda segundo Enrique, as chuvas até agora foram suficientes para o pegamento dos chumbinhos e início de desenvolvimento nas lavouras. “Mas vale mencionarmos que cerca de 90% das lavouras do estado são clonais e irrigadas. Se não faltar água para irrigação, estará tudo sob controle”, explica.
E falando justamente da irrigação dessas lavouras, é importante destacarmos como muitos produtores têm se preocupado com as águas naquela região. Em tempos climáticos extremamente desafiadores, a maioria presta atenção na proteção dos rios, córregos e nascentes.
“Já começa a fazer parte da rotina dos cafeicultores essa preocupação. Alguns estão investindo em reservatórios de água para irrigação. De forma ainda mais pontual, alguns cafeicultores começam a investir na arborização dos cafezais e seu entorno”.
A maioria das regiões cafeeiras tiveram florada ao longo do mês de setembro, e muitas delas foram comprometidas pelas altas temperaturas
Isso porque as árvores ajudam a deixar o clima mais ameno nas proximidades das lavouras. O que hoje é apenas eventual pode se tornar uma prática obrigatória com os episódios de aumento recorde de temperatura nessas regiões.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos juntos um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
Confira a central de conteúdos Mais Agro para ficar por dentro de tudo o que está acontecendo no campo.
Deixe um comentário