O café, um dos símbolos do agronegócio brasileiro, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico do país, sendo um dos produtos mais valiosos em termos de produção e exportação. 

No entanto, a cafeicultura enfrenta constantes desafios devido ao surgimento de pragas e doenças que ameaçam a produtividade das lavouras. Entre as doenças, destaca-se a mancha-anular do café, causada pelo vírus Coffee ringspot virus (CoRSV), que tem preocupado cada vez mais os produtores brasileiros. 

Este artigo abordará sobre a mancha-anular do café, os principais sintomas da doença, a incidência no Brasil e as estratégias eficazes de controle adotadas pelos produtores brasileiros.

A importância do café para o Brasil

O café é parte intrínseca da identidade e da economia brasileira. O país é o maior produtor e exportador de café do mundo, contribuindo com aproximadamente 40% da produção global. Essa posição de destaque no mercado internacional é fruto de uma história centenária de cultivo que se consolidou no Brasil há muitos seculos atrás.

Em termos econômicos, o café é uma das principais fontes de receita agrícola do país, gerando divisas significativas por meio das exportações. Os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia são as regiões que mais se destacam na produção, empregando milhões de pessoas em toda a cadeia produtiva. 

O setor cafeeiro também impulsiona outras áreas, como o comércio de insumos agrícolas, o transporte e a indústria de máquinas.

Apesar de sua importância para a economia, a produção de café no Brasil enfrenta diversos desafios. As pragas e as doenças que afetam as plantas podem comprometer a qualidade dos grãos e reduzir drasticamente a produtividade. 

A mancha-anular do café é uma dessas doenças que têm causado preocupações crescentes entre os cafeicultores.

A incidência da mancha-anular no Brasil e os prejuízos causados

A mancha-anular do café tem sido observada em várias regiões produtoras do Brasil, especialmente em Minas Gerais e São Paulo, Estados responsáveis por grande parte da produção nacional. A doença, transmitida principalmente pelo ácaro Brevipalpus phoenicis, tem a capacidade de se espalhar rapidamente por toda a área, dificultando o controle.

Os prejuízos causados pela mancha-anular são consideráveis. Além da redução de produtividade, a doença compromete a qualidade dos grãos, impactando o valor de mercado do café. Em áreas severamente afetadas, as perdas podem representar um grande impacto para os produtores e para a economia local.

Além disso, o custo do manejo da doença eleva as despesas do produtor, que precisa investir em medidas fitossanitárias e na substituição de plantas severamente afetadas. A mancha-anular, portanto, é uma ameaça não apenas à rentabilidade da atividade, mas também à sustentabilidade do setor cafeeiro na totalidade.

Principais sintomas da mancha-anular no café

A mancha-anular do café é causada pelo vírus Coffee ringspot virus (CoRSV) e apresenta sintomas visíveis que podem ser identificados no campo. Entre os principais sintomas, destacam-se:

  • manchas anulares nas folhas: o sintoma mais característico da doença são as manchas anulares, que se manifestam em forma de anéis concêntricos, de coloração amarela ou esverdeada. Essas manchas aparecem com maior intensidade nas folhas mais novas, mas podem surgir em folhas mais velhas em casos mais graves.

As manchas também podem se coalescer, além de evoluírem para pontos necróticos nos centros. 

  • manchas nos ramos: também podem ser observadas manchas arredondadas ou elípticas nas regiões verdes dos ramos.
  • queda precoce das folhas: outro sintoma é a queda antecipada das folhas, que prejudica a capacidade da planta de realizar a fotossíntese de forma eficiente e compromete a produção de frutos. A desfolha normalmente ocorre de dentro para fora, deixando a copa da árvore oca. 
  • sintomas nos frutos: além das folhas, os frutos do café também podem ser afetados, apresentando manchas amareladas e arredondadas ou irregulares e deprimidas e caindo prematuramente. 

Importante ressaltar que não se tem relato de uma infecção sistêmica na planta, o que significa dizer que as partículas virais estão presentes apenas nos locais com sintomas da doença, que são, coincidentemente, nos mesmos pontos de inoculação do ácaro. Pode-se dizer, portanto, que se caracteriza como uma infecção localizada.

Esses sintomas, se não tratados a tempo, podem causar uma redução significativa na produção, afetando tanto o volume quanto a qualidade do café.

O patógeno: ciclo de vida e formas de contaminação

O ácaro Brevipalpus phoenicis desempenha um papel fundamental na disseminação do vírus Coffee ringspot virus (CoRSV), causador da mancha-anular no café. 

Para entender como ocorre a contaminação das plantas pelo vírus e o impacto da mancha-anular, é essencial compreender o ciclo de vida do ácaro e seu papel como transmissor.

Ciclo de vida do ácaro Brevipalpus phoenicis

O ciclo de vida do Brevipalpus phoenicis é relativamente curto, o que contribui para sua rápida disseminação nas plantas de café. A seguir estão as principais fases do ciclo de vida do ácaro.

  • Ovo: a fêmea do ácaro deposita os ovos na superfície de folhas, frutos ou ramos das plantas. Esses ovos são muito pequenos, medindo cerca de 0,1 mm, e são de coloração clara, quase translúcida. 
  • Larva: após a eclosão, o ácaro entra na fase larval. As larvas possuem três pares de patas e são muito ativas, alimentando-se da seiva das plantas. Elas raspam a epiderme das folhas e sugam a seiva, causando danos diretos à planta e favorecendo a transmissão do vírus CoRSV.
  • Protoninfa: a fase de protoninfa é a primeira etapa ninfal do ácaro. Nessa fase, o ácaro desenvolve um quarto par de patas e continua a se alimentar da planta hospedeira, promovendo mais danos e transmitindo potencialmente o vírus.
  • Deutoninfa: a deutoninfa é a segunda etapa ninfal, e os ácaros nessa fase também são altamente móveis e continuam a se alimentar da planta. O ciclo de alimentação contínua do ácaro nessa fase aumenta o risco de transmissão do vírus entre as plantas.
  • Adulto: o ácaro atinge a fase adulta após a última muda, quando é capaz de se reproduzir. A fêmea adulta pode colocar centenas de ovos ao longo de sua vida, que pode ter uma duração variável, dependendo das condições ambientais. 

Contaminação das plantas pelo vírus 

O processo de contaminação das plantas pelo vírus pode ser dividido em algumas etapas principais:

  • aquisição do vírus pelo ácaro: o ácaro se contamina com o vírus quando se alimenta de uma planta já infectada. Durante a alimentação, o ácaro perfura as células vegetais com suas peças bucais e suga a seiva, que contém partículas virais do CoRSV. 
  • transmissão para plantas saudáveis: quando o ácaro contaminado se alimenta de uma planta saudável, ele transmite o vírus durante o processo de sucção da seiva. Por meio da penetração do estilete do ácaro nos tecidos vegetais, o CoRSV é inserido nas células da planta, iniciando o processo de infecção. Esse processo de alimentação e transmissão ocorre principalmente nas folhas, que exibem as características típicas da mancha-anular.
  • disseminação do vírus: as áreas infectadas exibem os sintomas típicos da doença, como manchas anulares cloróticas nas folhas e deformações nos frutos. A partir desse momento, a planta se torna uma nova fonte de infecção para outros ácaros que, ao se alimentarem dela, podem adquirir o vírus e transmitir a outras plantas.

Esses ácaros estão presentes nos cafezais ao longo de todo o ano, embora sua densidade populacional varie. Diversos fatores influenciam essa flutuação, como a fenologia das plantas, a variedade do café cultivado, a presença de predadores naturais e as condições climáticas.

Devido à capacidade de rápida reprodução e disseminação do ácaro Brevipalpus phoenicis, é essencial implementar um manejo integrado que combine diferentes estratégias para controlar sua população e reduzir a transmissão do vírus da mancha-anular.

Manejo Integrado de Doenças (MID) para o controle da mancha-anular do cafeeiro

O MID é uma estratégia fundamental para o controle eficaz da mancha-anular do cafeeiro, doença causada pelo vírus Coffee ringspot virus (CoRSV) e transmitida pelo ácaro Brevipalpus phoenicis

No caso da mancha-anular, além de combater os sintomas nas plantas, é crucial controlar o vetor da doença, o que demanda uma estratégia integrada com práticas de manejo adequadas.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) deve ser adotado em conjunto com o manejo da doença, focando no controle do ácaro Brevipalpus phoenicis para reduzir a disseminação do vírus no campo. 

Esse manejo visa a sustentabilidade da produção, utilizando diferentes métodos para manter o equilíbrio no cafezal e diminuir a pressão do ácaro-vetor.

A importância do monitoramento e da identificação

Uma das etapas mais críticas no Manejo Integrado de Doenças e Pragas é o monitoramento e a identificação tanto da mancha-anular quanto do ácaro Brevipalpus phoenicis

O monitoramento permite a detecção precoce da doença e do vetor, o que é essencial para implementar medidas de controle antes que a infestação atinja níveis que comprometam a produtividade.

Realizar inspeções regulares ajuda a identificar os primeiros sinais de infecção viral e os sintomas da presença do ácaro. As folhas devem ser observadas cuidadosamente para verificar a presença de manchas anulares características da doença e do próprio ácaro nas folhas.

Com o monitoramento contínuo, é possível ajustar o momento ideal para iniciar as intervenções de controle, otimizando os recursos e evitando grandes prejuízos.

Controle cultural

O controle cultural é uma das ferramentas mais importantes no Manejo Integrado de Doenças e Pragas. Ele consiste em adotar práticas agrícolas que visam criar um ambiente desfavorável para o desenvolvimento do ácaro-vetor e, consequentemente, para a disseminação do vírus CoRSV. 

Entre as práticas de controle cultural recomendadas para o manejo da mancha-anular, estão:

  • eliminação de plantas severamente infectadas: plantas que estão muito afetadas pela mancha-anular devem ser removidas e destruídas para evitar que sirvam de fonte de contaminação para o restante da área.
  • adubação e irrigação adequadas: a sanidade da planta é fundamental para aumentar sua resistência natural às infecções. Práticas de manejo que favorecem o vigor da planta, como adubação balanceada e irrigação adequada, ajudam a manter as plantas mais fortes e menos suscetíveis ao ataque de ácaros e à infecção viral.

Controle biológico

O controle biológico tem se mostrado uma opção sustentável e eficaz no Manejo Integrado de Pragas como o ácaro Brevipalpus phoenicis

O uso de inimigos naturais do ácaro pode reduzir a população do vetor antes mesmo que o tamanho da população do inseto se torne prejudicial para a produção. Algumas estratégias de controle biológico incluem:

  • introdução de predadores naturais: insetos predadores, como joaninhas e ácaros predadores, podem ser utilizados para controlar a população de Brevipalpus phoenicis de forma natural.
  • uso de parasitoides: alguns parasitas naturais podem ser liberados nas áreas para atacar diretamente o ácaro-vetor, contribuindo para a redução da infestação.
  • microrganismos benéficos: fungos entomopatogênicos têm mostrado bons resultados no controle do ácaro Brevipalpus phoenicis, infectando e matando o vetor sem afetar as plantas.

O controle biológico, quando bem implementado, pode ser uma ferramenta eficiente de longo prazo, especialmente em conjunto com práticas culturais e químicas, mantendo o equilíbrio ecológico e evitando grandes prejuízos econômicos ao produtor.

Controle químico

O controle químico é uma parte importante do Manejo Integrado de Pragas e Doenças, especialmente quando há surtos severos de mancha-anular e infestações elevadas do ácaro. 

No entanto, o uso de produtos químicos deve ser realizado de maneira estratégica para maximizar a eficiência e minimizar os danos causados pelo inseto-vetor e pela doença.

A rotação de moléculas é essencial para evitar a seleção de ácaros resistentes aos produtos químicos. Alternar entre diferentes grupos químicos impede que o ácaro desenvolva resistência, favorecendo um controle eficaz ao longo do tempo.

Além disso, é importante seguir as dosagens recomendadas e os intervalos de aplicação indicados, sempre sob orientação de um técnico da área, para evitar o uso inadequado e garantir a segurança da aplicação. 

Produtos químicos devem ser utilizados em conjunto com outras medidas de controle, como o manejo cultural e o biológico, para otimizar os resultados e reduzir os impactos negativos.

Considerações finais

O controle da mancha-anular no cafeeiro exige uma estratégia integrada e eficiente, envolvendo não apenas o manejo da doença em si, mas também o controle rigoroso do vetor, o ácaro Brevipalpus phoenicis

A adoção de estratégias de Manejo Integrado de Doenças e Manejo Integrado de Pragas permite uma redução significativa da disseminação do vírus Coffee ringspot virus (CoRSV) e, consequentemente, dos danos causados. A integração do monitoramento contínuo com diferentes métodos de controle, como o cultural, o biológico e o químico, é essencial para manter a saúde da plantação e garantir uma produção sustentável de café.

Portanto, ao implementar essas práticas de manejo integrado, o produtor não apenas protege seu cultivo, mas também contribui para a sustentabilidade do setor cafeeiro no Brasil. 

A mancha-anular pode ser um desafio significativo, mas, com a aplicação de estratégias preventivas e o uso correto dos defensivos, é possível minimizar seus impactos e garantir uma produção de café de alta qualidade, preservando a competitividade do Brasil no mercado global.