O trigo é uma das culturas mais antigas e importantes do mundo, essencial para a alimentação global. No Brasil, apesar de ter um papel menor comparado a outras commodities como a soja e o milho, a cultura do trigo tem ganhado relevância nos últimos anos. 

Atualmente, o trigo é amplamente utilizado na produção de alimentos, com destaque para pães, massas e biscoitos, sendo um grão indispensável na dieta de milhões de pessoas. O Brasil, que possui um consumo anual superior à sua produção, ainda importa uma quantidade significativa de trigo, especialmente da Argentina. 

No entanto, esforços contínuos estão sendo feitos para aumentar a produção nacional e reduzir a dependência externa, tornando o país cada vez mais autossuficiente e competitivo no mercado internacional. Além disso, o aumento da demanda interna e externa, aliado às inovações tecnológicas, tem impulsionado o crescimento da produção e da produtividade

Esse movimento de expansão do trigo no Brasil está ligado às melhorias nas práticas agrícolas e à incorporação de novas tecnologias no campo. A adoção de técnicas modernas e eficazes e o manejo integrado de pragas e doenças, tem contribuído para a elevação da produtividade e para o desenvolvimento de um sistema de cultivo mais eficiente e sustentável. 

Neste conteúdo, iremos aprofundar os principais aspectos dessa evolução e os desafios enfrentados por essa cultura ao longo dos anos.

A história do trigo e sua introdução no Brasil

O cultivo do trigo tem uma longa e fascinante história que remonta aos primórdios da agricultura, há mais de 10.000 anos. O trigo foi uma das primeiras plantas a ser domesticada pelos seres humanos, marcando o início da transição de sociedades nômades caçadoras-coletoras para civilizações agrícolas sedentárias. 

Desde então, a cultura se espalhou para diversas partes do mundo, tornando-se um dos cereais mais importantes para a alimentação humana.

No Brasil, a introdução do trigo aconteceu no período colonial, trazido pelos colonizadores portugueses. Inicialmente, os esforços para estabelecer a cultura no país foram limitados e ineficazes, uma vez que o trigo não se adaptava bem às condições tropicais prevalentes na maior parte do território brasileiro. A produção só começou a ganhar tração mais de um século depois, com experimentos nas regiões Sul e Sudeste, onde o clima subtropical se mostrou mais adequado.

No século XX, o cenário começou a mudar com o desenvolvimento de variedades mais adaptadas ao solo e ao clima brasileiros. Mas foi a partir da década de 1940 que a triticultura brasileira passou a ser impulsionada de forma mais estruturada, com a criação de órgãos de pesquisa e de incentivo à produção. 

Além disso, a instalação de moinhos e o crescente consumo de derivados de trigo, como pães e massas, aumentaram a demanda pelo cereal, consolidando a cultura no país.

Durante a década de 1970, a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) representou um marco para a evolução da triticultura no Brasil. A Embrapa Trigo foi fundamental no desenvolvimento de novas cultivares de trigo adaptadas ao clima do Sul, além de tecnologias que melhoraram o manejo da cultura. 

Entre as inovações, destaca-se o desenvolvimento de cultivares mais tolerantes a pragas e doenças, como a ferrugem e a giberela, além de avanços em técnicas de manejo sustentável, como o plantio direto e o uso de adubação adequada. Esses esforços resultaram em uma elevação substancial da produtividade e na expansão das áreas de cultivo, que até então eram limitadas.

Atualmente, o Brasil ainda é um importador de trigo, principalmente da Argentina, mas a produção nacional vem crescendo. Os Estados do Paraná e Rio Grande do Sul lideram a produção. Nos últimos anos, novas áreas no Cerrado têm sido exploradas para o cultivo, com o apoio de cultivares desenvolvidas para as condições específicas da região. 

Além disso, o crescimento da agricultura de precisão e de outras tecnologias tem ajudado a melhorar a eficiência do cultivo, permitindo que o país avance rumo à autossuficiência na produção.

Essa jornada histórica revela não apenas a resiliência dos produtores brasileiros, mas também o papel crucial da inovação tecnológica e da pesquisa agrícola na transformação do trigo em uma cultura de importância crescente no cenário agrícola nacional. 

A evolução do trigo no Brasil: inovações e produtividade

A triticultura no Brasil passou por uma grande transformação nas últimas décadas, resultado do avanço de práticas agrícolas modernas e do uso de novas tecnologias. 

A melhoria da produtividade foi impulsionada por uma série de inovações que permitiram não apenas aumentar a produção, mas também adaptar o cultivo de trigo a diferentes condições climáticas e geográficas. 

A seguir, serão apresentadas as principais tecnologias e práticas que revolucionaram o cultivo do trigo no país.

Sistema Plantio Direto (SPD)

Uma das maiores revoluções no cultivo de trigo no Brasil foi a adoção do Sistema Plantio Direto, introduzido amplamente no país a partir da década de 1970. Esse método, que consiste em semear diretamente no solo sem revolvê-lo, trouxe inúmeros benefícios para a triticultura, especialmente na preservação da qualidade do solo e na eficiência do uso da água.

O plantio direto promove a conservação do solo, pois a cobertura vegetal que permanece no campo protege contra a erosão e mantém a umidade, fatores essenciais para o desenvolvimento saudável do trigo. Além disso, o método reduz a necessidade de preparo intensivo do solo, o que diminui os custos operacionais e o consumo de combustíveis, ao mesmo tempo que melhora a estrutura do solo a longo prazo. 

Como resultado, o SPD tem sido uma prática amplamente adotada nas principais regiões produtoras de trigo, principalmente no Sul do Brasil, onde os índices pluviométricos são favoráveis ao cultivo, mas as perdas por erosão eram significativas antes da sua implementação.

Sistemas de irrigação

Outro avanço importante no cultivo de trigo no Brasil foi a adoção de sistemas de irrigação com pivô central, especialmente em regiões mais secas, como o Cerrado brasileiro. A irrigação com pivô central permite uma distribuição uniforme da água, garantindo que as plantas recebam a quantidade necessária de umidade para o seu pleno desenvolvimento.

Essa tecnologia tem sido crucial para expandir o cultivo de trigo para novas fronteiras agrícolas no Brasil, como a região Centro-Oeste, onde a disponibilidade de água para irrigação é menor do que nas áreas tradicionais de cultivo no Sul. 

Com o uso de pivôs centrais, essas áreas conseguem estimar maiores produtividades, mesmo em períodos de estiagem. A irrigação controlada também permite que os agricultores ajustem o volume de água conforme as necessidades da planta em cada fase de desenvolvimento, otimizando o uso dos recursos hídricos e reduzindo o estresse hídrico.

Introdução de defensivos agrícolas

O uso de defensivos agrícolas, como herbicidas, inseticidas e fungicidas, foi outro elemento fundamental na evolução do trigo no Brasil. A aplicação correta desses produtos ajudou os agricultores a controlarem as ameaças causadas por doenças, pragas e plantas daninhas, possibilitando colheitas mais abundantes e de melhor qualidade.

No caso do trigo, o controle de doenças fúngicas, como a ferrugem e a giberela, é vital para evitar perdas significativas de produtividade e qualidade dos grãos. 

Os defensivos agrícolas se mostraram ferramentas eficazes no controle dessas e de outras doenças, desde que utilizados de forma criteriosa e dentro das recomendações técnicas, respeitando os intervalos de segurança e dosagens adequadas.

Além disso, o uso de herbicidas para controle de plantas daninhas, como o azevém e a buva, reduziu a competição dessas espécies com o trigo por nutrientes, água e luz solar. Isso proporcionou não apenas o aumento da produtividade, mas também facilitou o manejo de áreas com grandes infestações de daninhas, que antes inviabilizavam o cultivo do cereal.

O papel da pesquisa no melhoramento genético de cultivares

A pesquisa agrícola desempenhou um papel crucial na modernização da triticultura brasileira, principalmente por meio do melhoramento genético das cultivares. Organizações como a Embrapa Trigo e outras instituições de pesquisa pública e privada têm desenvolvido cultivares de trigo mais produtivas, mais tolerantes a doenças e pragas, e adaptadas às diferentes condições de solo e clima do Brasil.

Essas novas cultivares são fundamentais para ampliar as áreas de cultivo de trigo e aumentar a produtividade em regiões com desafios específicos, como o Cerrado, que possui clima mais seco e altas temperaturas. 

A pesquisa também se concentrou no desenvolvimento de variedades mais tolerantes ou menos sensíveis às principais doenças do trigo, o que ajudou a aumentar a sustentabilidade da produção.

Além da resistência a doenças, o melhoramento genético também foca em características como a tolerância ao déficit hídrico, a qualidade industrial dos grãos para panificação e outras finalidades, e a capacidade de adaptação a diferentes sistemas de manejo. 

Esses avanços permitiram que o Brasil passasse a produzir trigo com maior qualidade e competitividade. Mas apesar dos importantes avanços, o cultivo do trigo ainda enfrenta grandes obstáculos que interferem significativamente na produção e exigem uma maior atenção por parte dos produtores, como as pragas, as doenças e as plantas daninhas no campo.

Principais pragas do trigo: danos e características

O cultivo do trigo no Brasil enfrenta uma série de desafios fitossanitários, sendo as pragas um dos principais fatores que afetam a produtividade e a qualidade dos grãos. Entre as pragas mais comuns que atacam o trigo, destacam-se larvas de solo, pulgões, percevejos, lagartas desfolhadoras e pragas do armazenamento. 

Cada uma dessas pragas causa diferentes tipos de danos às plantas, podendo resultar em perdas significativas de produção. A seguir, serão detalhados os danos causados por essas pragas e como o MIP pode ajudar no controle.

  • Larvas de solo

As larvas de solo, como a larva-alfinete (Diabrotica speciosa) e outras espécies de besouros, são pragas que atacam as raízes do trigo, especialmente durante o estabelecimento das plantas. 

Esses insetos se alimentam das raízes, reduzindo a capacidade da planta de absorver água e nutrientes, o que afeta o crescimento inicial e pode resultar em plantas enfraquecidas ou até mesmo na morte de plântulas.

Os danos causados pelas larvas de solo são particularmente severos em áreas com solos compactados ou mal manejados, onde as condições são mais favoráveis para a praga.

As consequências desse ataque incluem falhas na lavoura, queda da produtividade e menor uniformidade do plantio, fatores que prejudicam diretamente a colheita e a qualidade dos grãos.

  • Pulgões

Os pulgões são pragas sugadoras que se alimentam da seiva das plantas de trigo. Esses insetos se concentram principalmente nas folhas, enfraquecendo a planta ao reduzir sua capacidade fotossintética. Além disso, algumas espécies de pulgões são vetores de doenças virais, como o vírus do nanismo amarelo da cevada (BYDV), que pode causar perdas substanciais na lavoura.

Os sintomas do ataque de pulgões incluem o amarelamento das folhas, o encurtamento dos entrenós e a má formação das espigas. Em infestações severas, as plantas podem não produzir grãos ou gerar grãos de baixa qualidade, resultando em prejuízos econômicos significativos para os produtores.

  • Percevejos

Diversas espécies de percevejos podem estar presentes no trigo. Esse grupo pode atacar as fases iniciais e os momentos finais do ciclo do trigo. Os percevejos se alimentam sugando a seiva das plantas, o que pode provocar o murchamento das folhas e, em casos mais graves, até a morte das plantas mais jovens. 

Além disso, durante o enchimento dos grãos, algumas espécies de percevejos podem atacar as espigas, afetando diretamente a qualidade e o peso dos grãos, resultando em perdas de rendimento.

Os danos causados pelos percevejos geralmente resultam em grãos chochos, mal formados ou até inviabilizados para a colheita. Esses insetos são uma ameaça particularmente significativa em áreas onde o controle não é feito de forma eficaz, podendo comprometer a qualidade final do trigo.

  • Lagartas desfolhadoras

As lagartas desfolhadoras, como a lagarta-do-trigo (Pseudaletia sequax), são pragas que se alimentam das folhas da planta, reduzindo a área foliar disponível para a fotossíntese. 

Esse ataque pode comprometer o desenvolvimento das plantas, especialmente durante as fases iniciais de crescimento, levando a uma redução significativa na produtividade.

Quando em alta infestação, as lagartas podem causar desfolhamento severo, deixando as plantas debilitadas e menos capazes de resistir a outras pragas e doenças. O resultado é uma colheita de menor volume e grãos de qualidade inferior, prejudicando tanto o rendimento quanto o valor comercial do produto.

  • Pragas no armazenamento

O caruncho, especialmente o Sitophilus granarius (caruncho-do-trigo) é uma das principais pragas que afetam o trigo durante o armazenamento

Esse inseto perfura os grãos para depositar seus ovos, e as larvas se alimentam do interior dos grãos, causando danos invisíveis a olho nu até que a infestação esteja avançada. Esse tipo de ataque provoca perda de peso, redução da qualidade e contaminação do trigo, comprometendo seu valor comercial.

Além dos danos diretos aos grãos, a infestação por carunchos pode favorecer o desenvolvimento de fungos e bactérias, uma vez que os grãos perfurados tornam-se mais suscetíveis à proliferação de microrganismos. 

Esses contaminantes podem gerar condições de deterioração ainda mais graves nos estoques, impactando diretamente a viabilidade dos grãos para o consumo humano e a produção industrial.

Manejo Integrado de Pragas (MIP) como melhor estratégia de controle

A melhor maneira de controlar as pragas do trigo é seguir as recomendações do MIP. Essa estratégia combina diferentes métodos de controle de pragas, incluindo monitoramento constante da lavoura, práticas culturais adequadas, uso de controles biológicos quando disponíveis, e a aplicação criteriosa de defensivos químicos.

O monitoramento regular permite identificar precocemente as pragas e avaliar o nível de infestação, evitando danos e custos demasiados ao produtor. 

Entre as práticas culturais que podem se aliadas do produtor, estão a rotação de culturas e o momento ideal de semeadura. Além disso, o uso de inimigos naturais das pragas, como predadores e parasitoides, pode ajudar a manter as populações de insetos sob controle de maneira sustentável. 

O controle químico deve ser aplicado com base no nível de dano econômico, respeitando as dosagens recomendadas para permitir a eficiência e a durabilidade da tecnologia no campo

Ao adotar o MIP, os produtores conseguem reduzir os custos de controle, minimizar o impacto ambiental e realizar uma colheita de trigo de maior qualidade e produtividade, mantendo o equilíbrio ecológico nas lavouras.

Principais doenças do trigo: quais os danos e como controlar

O trigo é suscetível a várias doenças que afetam sua produtividade e qualidade, causando sérios prejuízos aos produtores. Entre as doenças mais comuns no cultivo de trigo no Brasil estão a giberela, a ferrugem, a mancha-amarela, a mancha-marrom, entre outras. 

Essas enfermidades são causadas principalmente por fungos e, se não controladas adequadamente, podem resultar em perdas substanciais na lavoura. A seguir, serão detalhados os principais danos de cada uma dessas doenças e a importância do MID para o controle eficaz.

  • Giberela

É causada pelo fungo Fusarium graminearum, é uma das doenças mais prejudiciais ao trigo, afetando especialmente as espigas. Esse fungo pode levar à podridão da espiga e à má formação dos grãos, comprometendo tanto a produtividade quanto a qualidade da colheita. 

Os sintomas incluem a descoloração das espigas e a presença de grãos murchos ou chochos. Em condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do fungo, a giberela pode se alastrar rapidamente, causando grandes prejuízos.

Além das perdas diretas na produção, a giberela é responsável pela produção de micotoxinas, como o deoxinivalenol (DON), que tornam os grãos impróprios para o consumo humano e animal.

  • Ferrugem

A ferrugem do trigo é outra doença fúngica devastadora, sendo causada pela espécie Puccinia triticina. Essa doença ataca as folhas do trigo, reduzindo a capacidade de fotossíntese da planta, que impacta diretamente o desenvolvimento dos grãos.

Os sintomas incluem a formação de pústulas amareladas ou alaranjadas nas folhas, que liberam esporos responsáveis por disseminar a doença. Em infestações severas, a ferrugem pode levar à morte prematura das plantas e à produção de grãos de baixa qualidade. 

A ferrugem é favorecida por ambientes com alta umidade e temperaturas amenas, o que torna o monitoramento constante da lavoura essencial para seu controle.

  • Mancha-amarela

A mancha-amarela, causada pelo fungo Drechslera tritici-repentis, é uma doença que ataca as folhas do trigo, provocando lesões necróticas de coloração amarela. 

Esse fungo afeta a área foliar da planta, reduzindo a capacidade de realizar fotossíntese e, consequentemente, limitando o desenvolvimento da espiga e a formação dos grãos.

As perdas podem variar de leves a severas, dependendo do nível de infestação e do estádio da cultura quando a infecção ocorre. Se não controlada adequadamente, a mancha-amarela pode resultar em reduções significativas na produtividade e na qualidade do trigo.

  • Mancha-marrom

Seu agente causal é o fungo Bipolaris sorokiniana, e possui aspectos similares ao da mancha-amarela. Os sintomas incluem a presença de manchas escuras ou marrons nas folhas, que podem se expandir e coalescer, causando a necrose da folha e a redução da área fotossintética.

Assim como outras doenças foliares, a mancha-marrom compromete o desenvolvimento das plantas e a formação dos grãos. As perdas em produtividade são significativas quando a doença não é controlada, principalmente em áreas com manejo inadequado e baixa rotação de culturas, que favorecem a persistência do fungo na área de produção.

Manejo Integrado de Doenças (MID) como ferramenta de controle

A melhor forma de controlar essas doenças é seguir as recomendações do MID, que envolve uma combinação de práticas culturais, biológicas e químicas. O MID preconiza o monitoramento constante das lavouras para identificar precocemente os primeiros sinais de doença e implementar as medidas necessárias antes que a infestação se agrave.

Entre as práticas culturais recomendadas estão a rotação de culturas, o manejo adequado da adubação, o uso de sementes certificadas e o controle de espécies de plantas daninhas que podem servir como hospedeiras para os fungos. O uso de cultivares geneticamente tolerantes a doenças, desenvolvido por meio de programas de melhoramento genético, também é uma ferramenta eficaz para reduzir a incidência de doenças.

O controle biológico é uma estratégia com grande potencial de utilização, promovendo o uso de microrganismos benéficos para combater patógenos de forma sustentável, contribuindo para uma agricultura mais equilibrada e ambientalmente responsável.

No controle químico, o MID recomenda a aplicação preventiva e nas doses adequadas, sempre considerando as recomendações técnicas, as melhores tecnologias de aplicação, a rotação de moléculas e as condições climáticas para as aplicações. 

Esse manejo integrado, além de reduzir os impactos das doenças, permite uma produção mais sustentável e econômica, preservando a qualidade e o rendimento do trigo.

Principais plantas daninhas do trigo e as formas de controle

As plantas daninhas são outros importantes desafios no cultivo do trigo, pois competem diretamente com a cultura por recursos essenciais como água, luz e nutrientes. 

A presença de plantas daninhas nas lavouras de trigo pode reduzir significativamente a produtividade e a qualidade dos grãos, além de aumentar os custos de produção devido à necessidade de controle. As espécies mais comuns que infestam as áreas de cultivo de trigo podem ser classificadas em dois grupos principais: plantas de folha estreita e plantas de folha larga

A seguir, serão apresentados os danos causados pelas principais espécies de cada grupo e discutido a importância do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) para um controle eficaz.

Plantas daninhas de folha estreita

Também conhecidas como monocotiledôneas, são espécies cujo formato das folhas é longo e fino, semelhante a lâminas. Elas pertencem ao grupo das gramíneas, e seu crescimento ocorre de maneira vertical, com nervuras paralelas à nervura principal ao longo da folha. 

  • Azevém

O azevém (Lolium multiflorum) é uma das plantas daninhas mais comuns nas lavouras de trigo no Brasil. Essa espécie de folha estreita é altamente competitiva, especialmente em áreas de plantio direto e em solos férteis. 

O azevém compete diretamente com o trigo por nutrientes, luz e água, podendo reduzir significativamente o rendimento das lavouras. Além disso, algumas populações de azevém desenvolveram resistência a herbicidas, o que dificulta seu controle e aumenta os custos de manejo.

  • Capim-amargoso

Essa espécie (Digitaria insularis) é outra planta de folha estreita que causa grandes prejuízos às lavouras de trigo. É uma planta invasora perene e pode crescer rapidamente, competindo com o trigo desde o início do ciclo. 

O capim-amargoso possui um sistema radicular agressivo, que absorve grande quantidade de água e nutrientes, comprometendo o desenvolvimento da cultura. Assim como o azevém, o capim-amargoso também tem apresentado resistência a herbicidas, o que exige um manejo integrado e eficiente.

  • Aveia

A aveia-branca (Avena sativa) e a aveia-preta (Avena strigosa) são plantas de folha estreita que também podem ser daninhas em cultivos de trigo. 

Essas espécies, quando presentes em excesso, competem diretamente com o trigo pelo mesmo espaço, comprometendo a produtividade da lavoura. Além disso, a aveia pode dificultar as operações de colheita, afetando a qualidade final dos grãos de trigo.

Plantas daninhas de folha larga

Também chamadas de dicotiledôneas, são espécies cujas folhas apresentam um formato mais largo e arredondado, com nervuras ramificadas. Diferente das gramíneas, essas plantas têm uma estrutura foliar mais extensa, que pode auxiliar na capacidade de competir por luz, essencial na fotossíntese.

  • Buva

A buva (Conyza spp.) se tornou uma das principais preocupações dos produtores de trigo no Brasil. Devido à sua alta capacidade de propagação e resistência a herbicidas, especialmente ao glifosato, essa espécie tem se disseminado rapidamente nas áreas de cultivo. 

Ela compete agressivamente com o trigo por recursos essenciais e, se não controlada, pode reduzir drasticamente o rendimento da lavoura. A buva também possui raízes profundas, o que dificulta seu controle mecânico.

  • Nabo forrageiro

Essa planta de folha larga (Raphanus sativus) também é conhecida como nabo-bravo, bastante comum em áreas de cultivo de trigo. Essa espécie apresenta crescimento rápido e agressivo

Quando em altas densidades, essa planta daninha pode comprometer severamente a produtividade da lavoura e acabar contaminando as sementes no momento da colheita.

  • Picão-preto

O picão-preto (Bidens pilosa) é outra planta que afeta bastante as lavouras de trigo. Essa espécie tem uma capacidade de adaptação elevada e pode crescer em diferentes tipos de solo

Essa planta compete com o trigo por nutrientes e água, além de prejudicar a operação de colheita e a qualidade dos grãos.

Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) para controle no trigo

O MIPD é uma estratégia que combina práticas culturais, mecânicas e químicas para o controle eficaz de plantas invasoras, minimizando os danos para a cultura e os custos de produção.

Entre as práticas culturais, o uso de rotação de culturas é uma ferramenta fundamental para quebrar o ciclo das plantas daninhas e reduzir a infestação. 

O controle mecânico, embora seja menos usado e apresente limitações, pode ser uma estratégia eficiente em casos de dificuldade com o controle químico.

Por meio de herbicidas seletivos, o controle químico deve ser utilizado de forma estratégica, respeitando o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas e do trigo. A rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação é essencial para prevenir a seleção de organismos resistentes de espécies como azevém e buva.

O monitoramento constante da lavoura e a adoção de práticas preventivas são essenciais para o sucesso do MIPD, garantindo uma lavoura de trigo mais produtiva, sustentável e com menor interferência das plantas daninhas.

Além dos obstáculos no campo, a cadeia produtiva do trigo deve estar atenta e buscar soluções para os desafios que tendem a surgir nos próximos anos.

Desafios para os próximos anos na produção de trigo

A produção de trigo no Brasil tem avançado significativamente, mas diversos desafios ainda precisam ser superados para permitir o crescimento sustentável da cultura nos próximos anos. Com a demanda global crescente e as mudanças climáticas afetando a agricultura, o setor enfrenta questões complexas que exigem soluções tecnológicas e manejo eficiente

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios para a produção de trigo nos próximos anos. As alterações nos padrões de temperatura, precipitação e eventos climáticos extremos afetam diretamente o desenvolvimento da cultura, criando incertezas sobre a produtividade em diferentes regiões.

Aumento de temperaturas, secas prolongadas, geadas tardias e chuvas intensas são alguns dos fenômenos climáticos que podem impactar o ciclo do trigo, afetando desde a germinação até a fase de colheita.

A adaptação às mudanças climáticas exigirá a adoção de novas tecnologias e práticas agrícolas, como o desenvolvimento de cultivares mais resistentes ao calor e à seca, o uso de sistemas de irrigação eficientes e o manejo dos solos para aumentar sua capacidade de retenção de água. 

Expansão das áreas de cultivo

A expansão do cultivo de trigo em novas regiões do Brasil, como o Cerrado, traz grandes oportunidades, mas também desafios. Essas áreas apresentam condições climáticas e de solo diferentes das regiões tradicionais do Sul, exigindo o desenvolvimento de novas cultivares adaptadas ao clima quente e seco do Cerrado. 

Além disso, a necessidade de investimentos em infraestrutura e manejo adequado do solo e da água será fundamental para alcançar o sucesso da triticultura nessas novas fronteiras agrícolas.

Qualidade industrial e competitividade

A qualidade industrial dos grãos de trigo é um desafio importante para aumentar a competitividade da produção brasileira no mercado internacional. O Brasil ainda depende de importações para suprir sua demanda interna de trigo de alta qualidade, especialmente para a panificação e a produção de massas. 

O aprimoramento do melhoramento genético e o desenvolvimento de variedades que atendam às exigências do mercado, com características como melhor rendimento na moagem, serão essenciais para que o Brasil reduza sua dependência de importações e amplie suas exportações de trigo.

Volatilidade do mercado global

A dependência brasileira das importações do cereal e dos fertilizantes expõe o país à volatilidade dos preços no mercado global e a questões geopolíticas que afetam a disponibilidade de trigo importado. 

A flutuação de preços e a instabilidade de oferta podem gerar desafios tanto para os consumidores quanto para os produtores locais, que precisam obter uma produção interna mais consistente e competitiva para reduzir a dependência externa.

Esses desafios, somados àqueles já discutidos, mostram que o futuro da produção de trigo no Brasil exige ações integradas, com soluções que envolvam tecnologia, infraestrutura e políticas públicas adequadas que assegurem a expansão sustentável do setor.

O futuro do trigo no Brasil: inovação e sustentabilidade

O futuro do trigo no Brasil parece promissor, especialmente com o avanço contínuo das tecnologias agrícolas. A pesquisa em melhoramento genético deve seguir trazendo cultivares mais resistentes e produtivas, capazes de se adaptar às mudanças climáticas e aos novos desafios fitossanitários.

Outro aspecto fundamental para o futuro do trigo é a adoção de práticas mais sustentáveis, como o uso eficiente da água e a implementação de sistemas de cultivo que favorecem a saúde do solo e a biodiversidade. A agricultura de precisão também deve desempenhar um papel cada vez mais importante, permitindo o monitoramento e o manejo das lavouras de forma mais eficiente e sustentável.

O conhecimento, aliado à tecnologia, é a chave para que o país continue evoluindo e buscando uma posição de destaque no cenário global da produção de trigo.