A soja ocupa uma posição central na agricultura brasileira por ser uma das principais commodities agrícolas do país e um motor econômico de alcance global.

Embora sua história no Brasil seja relativamente recente, a expansão dessa cultura foi rápida e impressionante, transformando o país no maior produtor e exportador de soja do mundo.

Originária da Ásia, onde era cultivada há milênios, a soja encontrou no Brasil um ambiente propício para seu desenvolvimento, graças às condições climáticas favoráveis, à adaptação tecnológica e ao avanço das fronteiras agrícolas. 

Ao longo das últimas décadas, a soja passou de uma cultura experimental em pequenas propriedades no Sul do Brasil para se tornar um pilar da economia nacional, desempenhando um papel vital na geração de receitas, na criação de empregos e na consolidação do agronegócio brasileiro no cenário internacional.

Este texto explora a trajetória desse grão no Brasil, destacando desde sua origem e chegada até a repercussão profunda que exerce na agricultura e na economia atual.

Origem da cultura da soja

A soja, Glycine max, é uma planta originária da Ásia, mais especificamente da região da China, onde seu cultivo data de mais de cinco mil anos. Considerada um alimento sagrado pelos chineses, a planta era cultivada principalmente como fonte de proteína, sendo parte essencial na dieta da população. Além de alimento, a soja também era utilizada para fins medicinais e como matéria-prima para diversos produtos.

A expansão da cultura da soja para o Ocidente ocorreu por meados dos séculos XV e XVI, por meio das grandes navegações europeias. No entanto, foi apenas no início do século XX que a soja começou a ser plantada em larga escala fora da Ásia, devido ao crescente interesse por seu potencial como fonte de óleo vegetal e proteína. Foi nos Estados Unidos que se iniciaram os primeiros cultivos comerciais e, após o final da Primeira Guerra Mundial, o grão toma importância no comércio exterior. 

A chegada da soja no Brasil

A história da soja no Brasil começou por volta do ano de 1882, quando o primeiro registro da entrada do grão no país foi feito, com sementes trazidas por imigrantes que se estabeleceram na Bahia.

Contudo, o cultivo não prosperou imediatamente. Foi apenas nas primeiras décadas do século XX que a soja passou a ganhar atenção como cultura agrícola no Brasil, especialmente no Sul do país, onde imigrantes europeus e japoneses começaram a testar seu cultivo em pequenas propriedades.

Início e expansão do cultivo de soja no Brasil

O marco inicial do cultivo comercial de soja no Brasil ocorreu em 1914, quando o grão passou a ser cultivado no município de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Outros municípios próximos, como Ijuí e Passo Fundo, também passaram a cultivar a soja visando a comercialização. 

O clima subtropical da região, com chuvas regulares e temperaturas amenas, semelhantes às condições das regiões norte-americanas que já promoviam o cultivo comercial, mostrou-se adequado para o desenvolvimento das primeiras variedades do grão. No entanto, o cultivo ainda era rudimentar, realizado em pequenas propriedades familiares, com uso limitado de tecnologias agrícolas.

O cultivo da soja permaneceu limitado até a década de 1970, quando a indústria de óleo começou a ser ampliada, além do aumento na demanda internacional pelo grão. Também nos anos 1970, a pesquisa agropecuária ganhou força, impulsionada pela criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1973, contribuindo para expandir a produção do grão.

A Embrapa desempenhou um papel crucial na adaptação da soja a diferentes regiões do país, desenvolvendo cultivares resistentes às condições tropicais do Cerrado. Esse avanço tecnológico permitiu a expansão do cultivo da soja para além do Sul, alcançando o Centro-Oeste e, posteriormente, o Nordeste e o Norte do país.

Evolução das técnicas de cultivo

Nos primeiros anos de cultivo, o plantio e a colheita da soja no Brasil eram atividades predominantemente manuais. O plantio era realizado com o auxílio de arados tracionados por animais, e a colheita era feita manualmente ou com o uso de pequenas máquinas de tração animal. O processo era laborioso e limitava a expansão da área plantada.

Com o passar dos anos, a mecanização começou a transformar o cenário agrícola. A introdução de tratores, plantadeiras e colheitadeiras na década de 1970 permitiu o aumento da produtividade e a expansão das áreas de cultivo.

Essa revolução tecnológica foi acompanhada pelo desenvolvimento de técnicas de manejo do solo e controle de pragas, que contribuíram para a consolidação da soja como uma cultura de grande relevância econômica.

A ascensão do Brasil como potência produtora de soja

O Brasil tornou-se um dos maiores produtores e exportadores de soja do mundo, posição consolidada a partir da década de 1990. A expansão do cultivo da soja foi impulsionada pela abertura de novas fronteiras agrícolas, principalmente no Cerrado.

Outro fator crucial para o crescimento da produção foi o aumento da demanda global por soja, tanto para a alimentação humana quanto para ração animal. O Brasil, com sua vasta disponibilidade de terras e condições climáticas favoráveis, foi capaz de atender a essa demanda crescente. Nos últimos anos, o país superou os Estados Unidos em produção de soja, tornando-se o maior exportador mundial.

A expansão da cultura para as demais regiões do país foi fortemente impulsionada pela Embrapa, que dedicou boa parte de suas atividades ao desenvolvimento de novas cultivares adaptadas a regiões de clima mais quente, como é o caso do Centro-Oeste.

Além disso, outros fatores bastante relevantes para a expansão da cultura para o restante do território nacional foram a adoção do Sistema Plantio Direto e o uso de cultivares tolerantes a herbicidas e com a tecnologia Bt

A soja e a implantação do Sistema de Plantio Direto (SPD)

A expansão da soja no Brasil está intimamente ligada à adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD), uma prática agrícola que revolucionou a forma como a cultura é cultivada no país. Introduzido na década de 1970, o SPD foi desenvolvido em resposta aos desafios de degradação do solo e à necessidade de aumentar a sustentabilidade na agricultura

 Ao contrário do plantio convencional, que envolve a aração e revolvimento do solo, o Plantio Direto consiste em semear diretamente sobre a palhada da cultura anterior, sem a necessidade de preparo prévio do solo. Essa técnica preserva a estrutura, reduz a erosão, aumenta a retenção de água e melhora a biodiversidade. 

A soja desempenhou um papel fundamental na disseminação do SPD, pois suas características biológicas, como a fixação biológica de nitrogênio, contribuem para a melhoria da fertilidade do solo.

Com o SPD, a produtividade da soja aumentou significativamente, permitindo o cultivo sustentável em áreas como o Cerrado, onde o manejo inadequado do solo poderia ter causado sérios impactos ambientais. A adoção dessa prática não só elevou o Brasil ao status de potência agrícola, mas também consolidou o país como referência mundial em tecnologias de manejo sustentável.

A soja e a tecnologia de resistência a herbicidas

O desenvolvimento de cultivares de soja geneticamente modificadas para resistir a herbicidas foi um marco na agricultura brasileira e mundial, proporcionando avanços significativos em termos de produtividade e manejo sustentável.

Introduzida no Brasil no início dos anos 2000, essa tecnologia permitiu que os agricultores controlassem de forma mais eficiente as plantas daninhas, que competem por nutrientes, luz e água, sendo um dos principais desafios no cultivo da soja.

A soja transgênica resistente ao glifosato, o herbicida mais amplamente utilizado, facilitou o manejo das lavouras, permitindo a aplicação do produto após a emergência das plantas daninhas sem afetar a soja.

Essa inovação transformou a dinâmica do cultivo, reduzindo a necessidade de múltiplas aplicações de herbicidas diferentes e eliminando a necessidade de práticas como a capina manual, o que resultou em uma diminuição dos custos de produção e em uma maior eficiência operacional. No entanto, essa tecnologia deve ser utilizada de forma responsável e integrada com as demais formas de controle. Com base em um manejo consciente, o produtor contribui para evitar o desenvolvimento de resistência ao princípio ativo pelas plantas daninhas.

Com o emprego dessa tecnologia, a produtividade das lavouras aumentou significativamente, permitindo a expansão do cultivo de soja para novas áreas, inclusive em regiões com maior incidência de plantas daninhas, como o Cerrado.

Além dos benefícios econômicos, a tecnologia de resistência a herbicidas teve um papel importante na sustentabilidade agrícola. Ela contribuiu para a adoção de práticas como o SPD. Com o uso eficiente de herbicidas, a necessidade de revolvimento do solo diminuiu, preservando sua estrutura e a saúde ao longo do tempo.

Atualmente, a maioria da soja cultivada no Brasil é geneticamente modificada, o que posiciona o país como líder mundial na adoção de biotecnologia agrícola e ajuda a fortalecer a competitividade do Brasil no mercado global de soja.

A soja e a tecnologia Bt

A introdução da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) na soja representou outro avanço crucial na agricultura brasileira, complementando as inovações proporcionadas pela resistência a herbicidas.

A tecnologia Bt incorpora genes da bactéria Bacillus thuringiensis na soja, conferindo à planta a capacidade de produzir proteínas inseticidas que são tóxicas para determinadas pragas, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e a helicoverpa (Helicoverpa armigera).

Essa tecnologia se tornou mais uma das importantes ferramentas a serem usadas pelos produtores. Com a soja Bt aliada às demais práticas de cultivo, os produtores conseguem um controle eficiente e duradouro das pragas, resultando em lavouras com sanidade e produtividade.

A adoção da soja Bt também tem sido um fator importante para a expansão da cultura em áreas antes vulneráveis a altas infestações de pragas. No Brasil, a rápida aceitação desta tecnologia reflete a busca constante por inovações que aumentem a eficiência produtiva e reforcem a competitividade do país no mercado global de soja.

Assim como a resistência a herbicidas, a soja Bt se consolidou como uma ferramenta essencial para a agricultura moderna, contribuindo para o alcance de altas produtividades e rentabilidade.

Principais Estados produtores de soja no Brasil

O Mato Grosso é o maior produtor de soja do Brasil. Com vastas áreas cultiváveis e clima favorável, o Estado lidera a produção há décadas. A agricultura no Estado é altamente mecanizada e tecnificada, o que permite a produção em larga escala.

Além disso, o Estado investe continuamente em práticas como o SPD, e no uso de biotecnologias, como as variedades transgênicas resistentes a herbicidas e à tecnologia Bt, que ajudam a maximizar a produtividade.

Paraná e Rio Grande do Sul, no Sul do Brasil, são outros Estados que se destacam na produção de soja. 

O Paraná possui uma agricultura diversificada e uso intensivo de tecnologias avançadas. A região se beneficia de um clima subtropical e solos férteis, que garantem altas produtividades. 

O Rio Grande do Sul, por sua vez, é um dos Estados pioneiros no cultivo de soja no Brasil, com uma tradição agrícola que remonta ao início do século XX. Embora enfrente desafios relacionados ao clima, como a irregularidade das chuvas, o Estado continua a ser um dos principais produtores, com práticas agrícolas consolidadas e alta adoção de tecnologias. 

Goiás e Mato Grosso do Sul, ambos no Cerrado, também são destaque, graças ao solo fértil e ao clima adequado, o que fez desses lugares centros de produção agrícola essenciais para o país.

Além desses Estados, a Bahia, na região do oeste baiano, vem ganhando destaque, com grandes áreas destinadas à produção de soja, impulsionadas por investimentos em irrigação e inovação tecnológica.

Esses Estados, juntos, compõem o coração da produção de soja no Brasil, garantindo o suprimento tanto para o mercado interno quanto para exportações, que são vitais para a economia brasileira.

A história da soja no Brasil é um exemplo de como a adaptação e o desenvolvimento tecnológico podem transformar uma cultura exótica em um pilar da economia nacional. Desde suas origens modestas nas mãos de imigrantes no sul do país até seu status atual como carro-chefe das exportações brasileiras, a soja é símbolo da capacidade do Brasil em se reinventar e liderar no cenário agrícola global.

O futuro da soja no Brasil promete continuar sendo promissor, com o país consolidando sua posição como maior produtor mundial e expandindo sua influência nos mercados globais. A sustentabilidade e a inovação continuarão a ser fundamentais para garantir que a soja brasileira permaneça competitiva e contribua para o desenvolvimento econômico e social do país.

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