O cultivo do algodão no Brasil é uma atividade agrícola de grande importância econômica e social. O país se destaca como um dos maiores produtores e o maior exportador mundial dessa fibra, essencial para a indústria têxtil. As áreas de plantio concentram-se principalmente na região Centro-Oeste, onde as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento da cultura. 

Com tecnologias avançadas e técnicas de manejo eficientes, a cotonicultura brasileira alcança altos níveis de produtividade, contribuindo significativamente para o agronegócio nacional. No entanto, esse cenário promissor enfrenta desafios significativos como a ramulose, uma das principais ameaças às lavouras de algodão. 

Causada pelo fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, a doença afeta o desenvolvimento das plantas, comprometendo tanto o crescimento quanto a qualidade da fibra produzida. A alta incidência de ramulose, especialmente em regiões com condições climáticas favoráveis ao patógeno, representa um obstáculo contínuo para os produtores, que precisam adotar estratégias de controle eficazes para mitigar os prejuízos.

É necessário entender os sintomas, o ciclo de vida do fungo e as formas de controle, para que os cotonicultores mantenham a produtividade e a competitividade da cultura do algodão no Brasil. Neste artigo, abordaremos todos esses aspectos, fornecendo uma visão detalhada sobre a ramulose e suas implicações na cotonicultura brasileira.

O cenário da produção de algodão no Brasil

O Brasil é hoje um dos principais players globais na produção e na exportação de algodão, com destaque para a região Centro-Oeste. O cultivo da fibra vem crescendo significativamente nas últimas décadas, impulsionado por investimentos em tecnologia, mecanização e melhoramento genético. 

Atualmente, o Brasil se consolidou entre os maiores produtores mundiais e alcançou a posição de maior exportador, competindo diretamente com países como Estados Unidos e Índia.

Grande parte dessa expansão se deve ao desenvolvimento de sistemas de cultivo altamente eficientes, incluindo, por exemplo, o uso de variedades de algodão transgênico, que oferecem maior resistência a pragas e doenças, além de proporcionarem maior produtividade. 

No entanto, mesmo com o avanço tecnológico e as boas práticas agrícolas adotadas pelos produtores brasileiros, a cultura do algodão continua a enfrentar desafios fitossanitários.

Entre esses desafios, a ramulose se destaca como uma das doenças mais problemáticas. A enfermidade não apenas impacta o desenvolvimento das plantas, mas também reduz significativamente a produtividade, gerando perdas que podem comprometer a rentabilidade das lavouras, especialmente em regiões onde as condições climáticas favorecem a disseminação do patógeno.

Dessa forma, é fundamental ter conhecimento sobre os sintomas, as formas de disseminação e os danos causados pela doença, para implementar o manejo eficaz da ramulose nas lavouras.

Sintomas da ramulose no algodão

Os primeiros sintomas da ramulose surgem nas folhas mais jovens, onde aparecem manchas necróticas circulares que, ao evoluírem, levam à ruptura do tecido necrosado, resultando em perfurações com formato de estrela. Essas manchas afetam o desenvolvimento normal da planta, causando enrugamento do limbo foliar.

Logo após o aparecimento das primeiras lesões, ocorre a morte do meristema apical dos ramos, que paralisa o crescimento e estimula a brotação de gemas laterais, formando um aglomerado de ramos com entrenós curtos e intumescidos, que dão à planta um aspecto característico de “vassoura”.

Além de comprometer o crescimento da planta, a ramulose também afeta a qualidade da fibra de algodão. O fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, responsável pela doença, prejudica características importantes como comprimento, uniformidade e diâmetro das fibras. Isso leva à redução no peso dos capulhos e à diminuição da porcentagem de fibras, causando perdas consideráveis na produção. 

Dependendo das condições da área cultivada, os danos podem ser extremamente significativos, representando um sério risco econômico para os produtores.

Disseminação e contaminação pela ramulose 

O fungo causador da ramulose se dissemina principalmente por meio de sementes infectadas e pode sobreviver no solo e nas sementes de uma safra para outra, aumentando o risco de infecção em ciclos subsequentes. 

Sua capacidade de persistir no ambiente torna o controle da doença um desafio contínuo para os produtores de algodão.

Condições de alta umidade e temperaturas elevadas são ideais para o desenvolvimento e a propagação do patógeno. Dessa forma, chuvas frequentes aumentam a umidade no ambiente e podem facilitar a germinação dos esporos do fungo.

O início da infecção ocorre quando o patógeno, em condições ambientais favoráveis, entra em contato com uma planta hospedeira suscetível, no processo conhecido como o triângulo das doenças.

Em uma lavoura, as lesões primárias das primeiras plantas servirão como fonte de inóculo para a propagação das demais plantas. Essa disseminação tende a ocorrer em áreas circulares ou elípticas, mas aparecimentos simultâneos de novos focos também podem ser observados no campo.

Diante disso, o monitoramento constante das lavouras e o manejo adequado, com práticas integradas de controle, são essenciais para minimizar os prejuízos causados pela ramulose e garantir a sanidade das plantações de algodão.

Manejo Integrado de Doenças (MID) no algodão

O MID é uma estratégia que utiliza diferentes métodos de controle, como o cultural, o químico e o biológico para reduzir a pressão da ramulose de forma sustentável. 

No caso do algodão, o MID se mostra especialmente eficaz, já que a combinação de práticas culturais, como a rotação de culturas e a eliminação de restos, com o uso criterioso de fungicidas, pode reduzir significativamente a incidência da doença.

O sucesso do MID depende da integração de todas as práticas disponíveis, buscando sempre minimizar os custos ao produtor e otimizar a aplicação dos insumos químicos. Isso inclui, por exemplo, o uso de variedades resistentes, o manejo adequado da irrigação e a rotação de moléculas fungicidas. 

Métodos de controle da ramulose

A estratégia de controle da ramulose no algodão envolve uma combinação de medidas de monitoramento e controle, principalmente cultural e químico, que precisam ser integradas para garantir a eficiência no manejo da doença. 

O controle isolado, por meio de uma única prática, pode não ser suficiente para prevenir a disseminação do fungo, sendo necessário fazer uma intervenção mais ampla e coordenada.

Monitoramento e identificação: chave para o sucesso no manejo

Uma das medidas mais importantes no controle da ramulose é o monitoramento constante da lavoura. A identificação precoce dos sintomas é fundamental para evitar a disseminação do fungo e permitir que os produtores adotem medidas preventivas antes que a doença atinja níveis críticos. 

O monitoramento deve ser realizado regularmente, durante todas as fases do desenvolvimento da cultura.

A utilização de ferramentas de diagnóstico, como o uso de drones e de inspeções visuais frequentes, pode auxiliar na detecção precoce da ramulose. Além disso, a capacitação de técnicos e produtores para a identificação dos sintomas é crucial para garantir a aplicação correta das medidas de controle.

Controle cultural

O controle cultural também desempenha um papel importante no manejo da ramulose. A rotação de culturas, por exemplo, é uma prática que ajuda a reduzir a população do patógeno no solo. A alternância com culturas não hospedeiras interrompe o ciclo de vida do fungo e reduz a quantidade de inóculo presente na área.

No momento do plantio, buscar utilizar sementes livres de inóculos e, sempre que possível, fazer o plantio de cultivares mais tolerantes ou com algum grau de resistência ao patógeno, também são medidas de controle cultural que podem ser adotadas pelos produtores.

Controle biológico

O controle biológico, embora frequentemente menos utilizado que o químico e o cultural, é uma alternativa promissora para o manejo da ramulose. Existem diversos agentes biológicos, como fungos antagonistas e bactérias, que se comportam como inimigos naturais e que podem ser utilizados para suprimir a população do patógeno no solo e nas plantas. 

No entanto, essa estratégia continua em fase de desenvolvimento para selecionar os melhores organismos e as formas mais eficazes de utilizá-los, o que pode auxiliar no controle da ramulose no campo.

Controle químico

O controle químico é uma das principais ferramentas utilizadas pelos produtores para combater a ramulose. Os fungicidas, sistêmicos e de contato, devem ser aplicados de forma preventiva e, em alguns casos mais avançados, curativa, para reduzir a pressão da doença na lavoura. 

A aplicação preventiva dos fungicidas, é realizada antes da manifestação dos sintomas visíveis, especialmente em áreas onde a ramulose já foi detectada em safras anteriores.

No entanto, é importante destacar que é essencial a adoção, por parte dos produtores, de diferentes classes de fungicidas, rotacionando moléculas com diferentes modos de ação para evitar a seleção de organismos resistentes ao princípio ativo. 

Essa prática, além de evitar a resistência, também garante um controle mais eficiente da doença ao longo da safra. Outro ponto crucial é seguir corretamente as recomendações técnicas do fabricante quanto às doses, momentos de aplicação, tempo de carência e condições ambientais adequadas para a pulverização. 

Todas essas medidas do tratamento químico, quando conduzidas corretamente, otimizam a eficácia do produto e permitem maior tempo de utilização da tecnologia no campo.

Próximos passos no manejo da ramulose 

A ramulose continua sendo um dos principais desafios enfrentados pelos produtores de algodão no Brasil, exigindo uma intervenção integrada e proativa para o seu controle. 

O conhecimento dos sintomas e das formas de disseminação do patógeno, o monitoramento constante, o uso preventivo e rotacionado de fungicidas, além de práticas culturais como a rotação de culturas, são fundamentais para garantir a sanidade das lavouras e minimizar os danos causados por essa doença.

Manter a cadeia produtiva do algodão competitiva depende de um esforço conjunto de produtores, técnicos, pesquisadores e demais profissionais do agronegócio. 

O controle de doenças como a ramulose vai além do campo e requer investimentos em pesquisa, inovação e capacitação para que soluções eficazes sejam constantemente desenvolvidas e aplicadas. Com essa colaboração integrada, é possível preservar a produtividade e a qualidade do algodão brasileiro no mercado global.