A produção de milho no Brasil é uma das atividades agrícolas mais relevantes e dinâmicas do país, ocupando um papel central na economia, tanto pelo consumo interno quanto pelas exportações.

Em 2023, o país consolidou-se como o terceiro maior produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, com uma produção que ultrapassa 130 milhões de toneladas por ano, sendo o maior exportador mundial do grão

Este artigo oferece uma análise geral sobre o cenário da produção de milho no Brasil, incluindo desde os principais usos e destinos da produção até os desafios fitossanitários e as estratégias de manejo adotadas pelos agricultores.

Cenário da produção de milho no Brasil

O milho é uma cultura de extrema importância no Brasil, sendo utilizado em diversos segmentos da cadeia produtiva. Internamente, é essencial na produção de ração animal, principalmente para as cadeias de suínos, aves e bovinos. 

A produção nacional de milho destinada à alimentação animal reflete o forte vínculo entre a cultura e o setor de proteínas animais no Brasil, que é um dos maiores exportadores globais de carne. Além disso, o milho é amplamente utilizado na indústria alimentícia para a fabricação de produtos como óleos, amidos, farinhas e outros derivados.

Porém, vale ressaltar que a importância do milho para a economia brasileira não se restringe apenas ao consumo interno e ao setor agrícola.

Importância do milho na economia brasileira

Como mencionado anteriormente, o milho é um insumo crucial para a produção de carnes, o que coloca o Brasil em uma posição de destaque no mercado internacional de alimentos. A sinergia entre a produção de milho e a pecuária é um dos fatores que impulsionam a competitividade brasileira, permitindo que o país abasteça tanto o mercado interno quanto o externo com produtos de alta qualidade.

No cenário externo, as exportações de milho têm aumentado significativamente. Com mercados cada vez mais competitivos, o Brasil tem se destacado como um dos principais fornecedores globais, exportando para países da União Europeia e China, entre outros. Em 2023, o país exportou mais de 50 milhões de toneladas, contribuindo de forma expressiva para o superávit da balança comercial agrícola.

Além disso, o milho é uma cultura estratégica para a bioenergia. A produção de etanol de milho, embora ainda menor em comparação ao etanol de cana-de-açúcar, tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Estados como Mato Grosso já possuem plantas de etanol que utilizam o milho como matéria-prima, diversificando as fontes de energia renovável e agregando valor à cadeia produtiva.

Os diferentes usos do milho e seu importante papel nas exportações são resultado de um grande esforço de toda a cadeia produtiva do grão que, embora distribuída praticamente por todo o território nacional, o maior volume de produção está concentrado em algumas regiões específicas. 

Principais regiões produtoras de milho no Brasil

A produção de milho no Brasil é amplamente distribuída, mas se concentra principalmente em regiões como Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

O Estado de Mato Grosso é o maior produtor nacional, embora os Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul também se destaquem no volume de produção. No Sudeste, Minas Gerais se destaca entre os Estados produtores. Na região Sul, o Estado do Paraná é responsável por uma produção significativa.

Essa distribuição geográfica permite que o Brasil tenha até três safras de milho por ano. A primeira, conhecida como “safra de verão”, é plantada no final do ano e é historicamente bem conhecida no país. A segunda, chamada de “safrinha” ou “segunda safra”, é feita logo após o plantio da soja. A terceira safra é mais comum na região Nordeste, em Estados, como Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco, com uma importância nacional um pouco menor que as demais, pois seu histórico de produção é recente, com registros de produção a partir da safra 2018/19.

Milho safrinha

O milho safrinha costuma ser plantado logo após a colheita da soja, geralmente entre os meses de janeiro e março, e sua colheita normalmente ocorre entre junho e julho, podendo ser variável conforme a região e as condições climáticas da safra. 

A safrinha já representa hoje um grande volume da produção total de milho do país, destacando-se como um pilar da competitividade brasileira no mercado global. Inicialmente, essa safra de milho era considerada como secundária, e por isso esse nome. No entanto, sua produção aumentou tanto que hoje já corresponde pela maior parte da produção de milho no país. Por tamanha importância, é cada vez menos referida como “safrinha”, passando a ser chamada de “segunda safra”.

Com essa safra adicional, o país consegue manter de uma maneira mais equilibrada um fluxo constante de oferta do produto e, por isso, uma possível estabilidade nos preços para agricultores e consumidores. 

A prática é predominante nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde o clima seco do inverno favorece o desenvolvimento da cultura, mas também exige um manejo cuidadoso para evitar perdas causadas por pragas, doenças e plantas daninhas.

Principais pragas no milho

A produção de milho no Brasil enfrenta diversos desafios, principalmente relacionados ao manejo de pragas, que podem impactar severamente a produtividade da lavoura. 

Entre as principais espécies, destacam-se:

  • lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), que se alimenta de folhas, colmos e, especialmente, do cartucho da planta, que é a região onde ficam as folhas mais jovens e protegidas;  
  • percevejo-barriga-verde (Diceraeus melacanthus), que danifica a planta ao introduzir seus estiletes e injetar toxinas em seus tecidos, resultando em murchamento das folhas e secamento total em casos mais graves; 
  • cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), que é vetor do complexo de enfezamentos, infecta as plantas ao se alimentar de sua seiva, deixando-as atrofiadas, amarelecidas ou avermelhadas, e com espigas malformadas. 
  • lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), ataca principalmente na fase inicial do cultivo, perfurando a planta no nível do solo e abrindo galerias no colmo, que podem levar ao murchamento e secamento das folhas;
  • coró (Liogenys fuscus), na fase larval, danifica as sementes e se alimenta das raízes, comprometendo a absorção de nutrientes e resultando em plantas mal formadas;
  • pulgão (Rhopalosiphum maidis), ataca partes mais jovens das plantas, como as gemas florais e o cartucho, sugando a seiva e excretando um líquido açucarado que favorece a formação de fumagina, atrapalhando o processo de fotossíntese.

Principais doenças no milho

No âmbito das doenças, podemos citar algumas de maior relevância, como: 

  • enfezamento, ocasionado por bactérias da classe dos Mollicutes que são transmitidas pelo hábito de alimentação da cigarrinha-do-milho, gerando redução do porte das plantas e atrofiamento das espigas;
  • ferrugem (Puccinia polysora), com o principal sintoma sendo a presença de pústulas de coloração marrom, principalmente da face superior das folhas, ocasionando, entre outros problemas, redução de área foliar e menor peso de grãos; 
  • mancha-de-phaeosphaeria (Phaeosphaeria maydis), também é conhecida por mancha-branca-do-milho, se manifesta primeiramente nas folhas inferiores, gerando lesões com manchas claras, circulares e aquosas;
  • helmintosporiose (Exserohilum turcicum), mais comum em cultivos safrinha, também é uma doença foliar, formando manchas esverdeadas ou marrons, sendo favorecida em condições de alta umidade do ar; 
  • cercosporiose (Cercospora zeae-maydis), apresenta manchas acinzentadas que se desenvolvem paralelamente às nervuras das folhas, que podem gerar necrose de todo o tecido foliar.
  • mancha-de-bipolaris (Bipolaris maydis): também é uma mancha foliar, ocasionando lesões necróticas ovaladas, favorecidas em ambientes quentes e úmidos.

Principais daninhas no milho

Entre as plantas daninhas que costumam ser mais prejudiciais à lavoura, estão: 

  • capim-amargoso (Digitaria insularis): é uma planta perene, de folha estreita e de difícil controle no Brasil, devido aos relatos de resistência a alguns herbicidas e à formação de rizomas, que facilitam sua recuperação. Sua ampla dispersão ocorre por meio da produção abundante de sementes e sua dispersão pelo vento.
  • capim-pé-de-galinha (Eleusine indica): também é uma planta daninha de folha estreita, tem ciclo anual e infesta quase todas as regiões do Brasil. É capaz de produzir milhares de sementes por planta e de perfilhar precocemente.
  • buva (Conyza spp.): é uma planta daninha de importância nacional, de ciclo anual e de folha larga. Também tem casos de resistência a herbicidas e capacidade de cruzamento com outras espécies do gênero Conyza. Sua ampla dispersão é facilitada pela produção abundante de sementes, que são facilmente transportadas pelo vento.
  • picão-preto (Bidens pilosa): é uma planta daninha anual e de folha estreita. Reproduz-se por sementes, que possuem dormência e são disseminadas principalmente por animais e máquinas agrícolas, tornando-a competitiva. 

Para um efetivo controle dessas pragas, doenças e plantas daninhas, diferentes métodos de controle devem ser aplicados, visando sempre aplicar o Manejo Integrado. 

Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas

Diante desses desafios, o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas tem sido amplamente adotado pelos produtores brasileiros. Essa estratégia combina diferentes técnicas de controle, integrando principalmente os controle cultural, biológico e químico, promovendo um manejo sustentável da lavoura.

Independente do desafio que o produtor enfrente, é de extrema importância que ele sempre realize o monitoramento da lavoura para, a partir dessa informação, aplicar o melhor tipo de controle. A seguir, falaremos um pouco sobre cada um dos manejos integrados.

Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O MIP baseia-se na utilização de diversas táticas de controle, como o controle biológico, o uso de cultivares tolerantes, a rotação de culturas e o monitoramento constante das lavouras. No caso da lagarta-do-cartucho, por exemplo, o uso de organismos entomopatogênicos, como bactérias do gênero Bacillus thuringiensis, e variedades transgênicas contendo o gene Bt, têm sido estratégias bastante eficientes. 

Além disso, o monitoramento e o controle químico, quando necessário, são realizados de forma criteriosa, visando a aplicação de inseticidas para manter as populações abaixo do nível de dano econômico, equilibrando o cultivo e reduzindo os custos de produção.

Manejo Integrado de Doenças (MID)

No manejo das doenças, a escolha de variedades tolerantes e o tratamento de sementes são práticas fundamentais. Para o controle do enfezamento, por exemplo, o uso de cultivares tolerantes ao complexo do enfezamento e o plantio de milho em épocas menos favoráveis à proliferação do inseto têm se mostrado estratégias eficazes. 

A rotação de culturas, com o plantio de espécies que não hospedam os patógenos, é outra medida importante, além do uso de fungicidas específicos para o controle de doenças fúngicas, aplicados de forma preventiva e seguindo as recomendações técnicas.

Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD)

O manejo de plantas daninhas é outra frente crucial para o sucesso da produção de milho. Essas plantas competem com a cultura por luz, água e nutrientes, podendo reduzir significativamente a produtividade. 

O MIPD inclui práticas, como a rotação de culturas, o uso de herbicidas seletivos e em alguns casos, o controle mecânico. Para uma lavoura livre de plantas daninhas, o produtor pode fazer aplicações de herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes. Essa pode ser uma estratégia valiosa para controlar diferentes espécies em diferentes momentos do cultivo.

A alta produtividade das lavouras e a grande competitividade do Brasil na cadeia produtiva do milho é consequência de diversos fatores atuando simultaneamente, como a pesquisa e a tecnologia. Para continuar se mantendo entre o ranking dos maiores produtores e exportadores do grão, o país deve continuar trabalhando nessas frentes para avançar ainda mais.

Perspectivas futuras e inovações

O futuro da produção de milho no Brasil está intimamente ligado à adoção de tecnologias e inovações que possam aumentar a eficiência produtiva e a sustentabilidade das lavouras. 

A agricultura de precisão, que utiliza sensores, drones e outras tecnologias para monitorar as condições da lavoura e aplicar insumos de forma precisa, tem se mostrado promissora na gestão da cultura do milho.

Além disso, o contínuo desenvolvimento de cultivares geneticamente modificadas, resistentes a pragas e tolerantes a herbicidas, continua sendo uma das principais ferramentas para enfrentar os desafios da produção.

Outro ponto relevante é a sustentabilidade, com a busca por práticas agrícolas que reduzam o impacto ambiental. O plantio direto, que minimiza o revolvimento do solo e preserva a umidade, é uma técnica que vem ganhando espaço e que contribui para a conservação dos recursos naturais.

Considerações finais

A produção de milho no Brasil é um dos pilares do agronegócio nacional, com uma importância que transcende a agricultura e impacta diretamente a economia do país. Apesar dos desafios impostos por pragas, doenças e plantas daninhas, os produtores brasileiros têm mostrado resiliência e capacidade de adaptação, adotando práticas de manejo integradas e tecnologias inovadoras para garantir a sustentabilidade e a competitividade da cultura.

Com o contínuo avanço tecnológico e a ampliação das práticas sustentáveis, o Brasil está bem posicionado para manter-se como um dos principais produtores e exportadores de milho do mundo. 

O futuro da produção de milho no país será moldado pela capacidade dos produtores de inovar e adaptar-se às novas realidades do mercado global, garantindo a oferta de um produto de alta qualidade e com impactos ambientais reduzidos.