A cultura do milho desempenha um papel vital na agricultura brasileira, sendo um dos principais pilares da economia agropecuária do país. O Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de milho do mundo, com uma produção que supera 100 milhões de toneladas por ano.
Esse cereal é essencial não apenas como alimento humano, mas também como matéria-prima para ração animal e produtos industriais. No entanto, apesar de sua importância, a produção de milho enfrenta desafios significativos, sendo a infestação por pragas uma das principais ameaças.
As pragas do milho podem causar perdas expressivas na produtividade se não forem adequadamente manejadas. Elas atacam em diferentes estágios do ciclo de desenvolvimento da planta, desde a emergência das plântulas até o enchimento dos grãos.
Neste artigo, falaremos brevemente sobre o milho no Brasil e apresentaremos as principais pragas que afetam a cultura, dividindo-as em duas categorias: pragas iniciais, que atacam as plântulas e a parte subterrânea das plantas, e pragas da parte aérea, que danificam as folhas, o caule e as espigas.
Em seguida, discutiremos as práticas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para controlar essas ameaças e proteger a produtividade das lavouras.
A importância do milho na agricultura brasileira
O milho é uma cultura bastante adaptável, capaz de crescer em diferentes tipos de solos e climas, o que facilita sua disseminação por praticamente todas as regiões agrícolas do Brasil. Ele é cultivado tanto em pequenas propriedades, como parte de sistemas diversificados, quanto em grandes áreas de monocultura, sendo fundamental para a rotação de culturas e para a manutenção da fertilidade do solo.
A relevância do milho também se reflete na sua diversidade de usos. Na alimentação humana, é a base para a produção de farinhas, flocos, óleos e xaropes. Na pecuária, o milho é a principal fonte de energia na dieta de aves, suínos e bovinos. Além disso, o cereal é utilizado na fabricação de etanol, uma fonte de energia renovável, e na produção de bioplásticos e outros produtos industriais.
No entanto, o sucesso dessa cultura depende de uma série de fatores, incluindo o controle eficaz das pragas que podem comprometer a qualidade e a quantidade da colheita. A seguir, discutiremos as pragas mais comuns que afetam o milho no Brasil, classificando-as conforme a época de danos na cultura.
Pragas iniciais: ameaças desde a germinação
Podemos chamar de pragas iniciais do milho aquelas que atacam o vegetal em seus estágios iniciais de desenvolvimento, desde a germinação até o estabelecimento da planta. Esses insetos podem causar perdas significativas, pois comprometem o vigor e a sobrevivência das plântulas, impactando diretamente na densidade de plantas por hectare e, consequentemente, na produtividade final da lavoura.
Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
A lagarta-elasmo, também chamada de broca-do-colo, é uma das pragas mais destrutivas do milho em suas fases iniciais. As larvas dessa mariposa atacam as plântulas logo após a emergência, perfurando o caule, prejudicando o sistema de condução de água e nutrientes e causando o murchamento e a morte das plantas.
Essa praga é especialmente ativa em solos arenosos e em condições de seca, e possui alta mobilidade. Dependendo do tamanho da população da lagarta na lavoura, a grande quantidade de morte de plântulas pode acabar exigindo uma nova semeadura na área.
Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
A lagarta-rosca é outra praga que ataca as plântulas de milho, cortando o caule na base da planta, o que resulta em morte ou tombamento das plântulas. Essa praga tem coloração marrom, é mais ativa durante a noite e pode causar grandes prejuízos, especialmente em áreas com solo mais úmido e com maior deposição de matéria orgânica, que são condições de preferência da lagarta.
Em plantas de milho mais desenvolvidas, a lagarta-rosca abre galerias na base dos colmos, o que acaba facilitando o tombamento e podendo matar as plantas. Além disso, essa praga consegue se alimentar de algumas plantas daninhas presentes ou próximas à lavoura, exigindo um manejo ainda mais atencioso.
Coró (Liogenys fuscus)
Os corós são larvas de besouros que atacam as raízes das plantas de milho, causando danos significativos e encontram-se amplamente distribuídos em diversos Estados brasileiros, como Tocantins, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Essas larvas se alimentam das raízes, prejudicando a absorção de nutrientes e água, podendo levar a uma queda expressiva na produtividade da lavoura.
Percevejo-barriga-verde (Dichelops melacanthus e Dichelops furcatus)
O percevejo-barriga-verde é uma praga que suga a seiva das plântulas, e, ao mesmo tempo, injeta toxinas que podem comprometer o desenvolvimento do milho e causar alterações fisiológicas. Em sua fase adulta, o inseto tem a parte superior do corpo castanho-avermelhada, e a parte inferior de coloração verde.
Esse percevejo é mais comum em áreas com cultivo de soja na safra anterior, pois se alimenta das plantas de soja e migra para o milho quando essa cultura é implantada.
O controle desse percevejo também pode ser dificultado pela sua sobrevivência no período de entressafra, ficando entre a palhada ou se hospedando em plantas daninhas.
Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis)
A cigarrinha-do-milho é uma das pragas mais preocupantes para os produtores, pois, além dos danos diretos causados pela sucção de seiva, ela é vetor de doenças conhecidas como enfezamento pálido (CSS: Corn Stunt Spiroplasma), enfezamento vermelho (MBSP: Maize Bushy Stunt Phytoplasma) e virose (MRFV: Maize Rayado Fino Virus), que podem devastar lavouras inteiras.
Já na fase vegetativa, a cigarrinha pode causar sérios danos, principalmente na segunda safra, momento em que, normalmente, as temperaturas são mais elevadas e essa característica do ambiente favorece a rápida propagação do inseto. Na fase vegetativa, a cigarrinha costuma se alojar no cartucho, e por isso, esses pontos devem ser inspecionados no monitoramento da lavoura.
Pragas da parte aérea: ameaças às folhas e espigas
As pragas da parte aérea do milho atacam principalmente as folhas, o colmo e as espigas, comprometendo o desenvolvimento da planta e a formação dos grãos. O manejo adequado dessas pragas é crucial para garantir uma boa produtividade e qualidade dos grãos colhidos.
Pulgão (Rhopalosiphum maidis)
O pulgão do milho é um inseto sugador verde translúcido que ataca principalmente as folhas, causando amarelecimento, encarquilhamento das folhas, redução na fotossíntese e no desenvolvimento.
Além dos danos diretos, ao se alimentar das plantas, o pulgão também excreta uma substância açucarada que favorece a formação de fumagina, gerando uma camada escura do fungo na face superior da folha e atrapalhando sua capacidade fotossintética.
Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)
A lagarta-do-cartucho é uma das pragas mais conhecidas e devastadoras do milho. Ela ataca as folhas, causando desfolha intensa e, em casos de alta infestação, pode comprometer a espiga e os grãos.
As lagartas se alojam no cartucho da planta, alimentando-se das folhas ainda enroladas que, quando se abrem, já estão cheias de furos causados pela praga. As principais características visuais dessa lagarta são quatro pontos pretos no final do abdômen, listras claras no dorso e um Y invertido na parte superior da cabeça.
Seu controle deve ser rigorosamente realizado, principalmente porque essa praga também é encontrada em algodão e soja, culturas que costumam ser usadas na rotação de culturas das lavouras.
Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea)
A lagarta-da-espiga ataca diretamente as espigas de milho, perfurando a palha e se alimentando dos grãos em formação. Esse tipo de dano deixa as espigas falhadas, compromete a qualidade dos grãos e facilita a entrada de fungos, prejudicando ainda mais a qualidade do produto final.
Seu ciclo de vida é de aproximadamente 30 dias e seus ovos são depositados no cabelo do milho. Seus danos podem comumente ser confundidos com os danos causados pela Spodoptera frugiperda. No entanto, essas duas lagartas se diferenciam pela coloração da cabeça, que é mais escura na lagarta-do-cartucho.
Essa diversidade de pragas no milho exige do produtor um olhar atento à lavoura em todas as fases de cultivo. E, para um controle eficaz, a melhor recomendação é seguir as estratégias preconizadas no Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Manejo integrado de pragas: uma técnica sustentável
O MIP é a estratégia mais recomendada para o controle eficaz e sustentável das pragas do milho. Essa técnica combina diferentes métodos de controle — cultural, biológico e químico — para potencializar o uso de defensivos agrícolas e reduzir os impactos ambientais.
O sucesso do MIP depende de um monitoramento constante da lavoura, que permite a identificação precoce das pragas e a aplicação das medidas de controle no momento mais adequado. Além disso, o MIP promove o uso de práticas agrícolas que favorecem a sanidade da planta e a biodiversidade do agroecossistema, como a rotação de culturas, o uso de cultivares resistentes e a conservação de inimigos naturais.
Monitoramento e amostragem
O monitoramento das pragas deve ser realizado de forma sistemática, utilizando, quando possível, armadilhas e realizando inspeção visual e amostragem de plantas de diferentes locais da lavoura e em diferentes estágios de desenvolvimento.
Essa prática permite a tomada de decisão baseada em dados reais da infestação, evitando intervenções ineficazes. Por isso, deve ser sempre priorizada e realizada antes de qualquer tipo de controle.
Controle cultural
O controle cultural no MIP envolve práticas agrícolas que criam condições desfavoráveis para as pragas. A rotação de culturas, por exemplo, ajuda a quebrar o ciclo de vida de pragas específicas que se alimentam apenas de certas plantas.
Realizar a semeadura em épocas adequadas também ajuda a evitar picos populacionais de pragas, reduzindo sua pressão sobre as lavouras.
Além disso, a eliminação de plantas voluntárias, que podem servir de hospedeiras para insetos como a cigarrinha-do-milho, são estratégias fundamentais para diminuir a infestação e garantir um controle mais eficaz.
Controle biológico
O controle biológico é um dos tipos de controle de grande relevância dentro do MIP para o milho, utilizando inimigos naturais das pragas, como parasitas, predadores e patógenos, para reduzir as populações de insetos danosos de forma sustentável. Diversas espécies já foram testadas e são usadas em lavouras comerciais, gerando resultados satisfatórios de controle.
Essa prática favorece a biodiversidade no agroecossistema, promovendo um equilíbrio natural que pode resultar em lavouras mais saudáveis e produtivas a longo prazo. O controle biológico é, portanto, uma ferramenta crucial para a sustentabilidade e eficácia do MIP em lavouras de milho.
Controle químico
O controle químico é uma ferramenta importante no MIP, mas deve ser utilizada de maneira correta para otimizar seu uso e evitar a resistência das pragas.
Inseticidas devem ser aplicados com base em monitoramento e critérios técnicos, assegurando que sejam usados no momento e nos intervalos corretos e na dosagem adequada, conforme prescritos pelo fabricante para máxima eficácia.
Fazer uso de tecnologias adequadas de aplicação e pulverizar nos melhores momentos do dia também contribuem para que o defensivo atinja o alvo corretamente.
Outra importante consideração é a rotação de ingredientes ativos com a integração de outras práticas de controle, que ajuda a preservar a eficácia dos produtos químicos, garantindo que sejam uma ferramenta eficiente e segura da estratégia de manejo, além de preservar o uso da tecnologia por mais tempo
Considerações finais
O controle das pragas do milho é um desafio constante para os produtores, exigindo um amplo conhecimento sobre as espécies que afetam a cultura e as melhores práticas de manejo. O Manejo Integrado de Pragas, que combina diferentes métodos de controle de forma sustentável, é a chave para garantir uma produção eficiente e minimizar os impactos ambientais.
Por meio das estratégias integrantes do MIP, como o monitoramento constante, o uso de práticas culturais e a correta aplicação de defensivos, é possível manter a produtividade das lavouras de milho, protegendo esse importante recurso agrícola e assegurando sua contribuição para a economia e a segurança alimentar do Brasil.
O compromisso com um manejo sustentável é essencial para o sucesso da cultura do milho, garantindo a longevidade e a rentabilidade dessa atividade agrícola.
Deixe um comentário