O feijão (Phaseolus vulgaris) é uma das culturas mais importantes do Brasil. Amplamente utilizado na culinária brasileira, é um alimento básico que está presente no cotidiano de milhões de brasileiros, contribuindo para a segurança alimentar do país.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de feijão, com áreas cultivadas em todas as regiões do país. Contudo, a produção dessa cultura enfrenta diversos desafios, entre eles, a ocorrência de pragas que podem comprometer a quantidade e a qualidade da safra.
Com ciclos curtos e ampla adaptação às diferentes condições climáticas brasileiras, o feijão é vulnerável ao ataque de uma série de espécies com potencial de danos. Diferentes insetos e artrópodes podem causar prejuízos significativos, afetando diretamente a produtividade das lavouras.
Neste artigo, abordaremos as principais pragas que afetam o cultivo do feijão no Brasil. Também apresentaremos as melhores estratégias de controle, destacando a importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP) como uma solução sustentável e eficaz.
Principais pragas da cultura do feijão
A seguir, destacamos as principais pragas que afetam a lavoura de feijão, bem como suas características essenciais, seus hábitos de crescimento e os danos que causam na cultura.
Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)
É uma das principais pragas que afetam o feijão, especialmente em estádios mais avançados da cultura. Ela recebe esse nome devido à sua forma de locomoção característica, onde parece medir o terreno ao se mover em forma de arco.
Essa lagarta ataca as folhas, alimentando-se principalmente do tecido foliar, o que reduz a capacidade fotossintética da planta. Deixa um aspecto rendilhado, pois não consome as nervuras foliares. Em infestações severas, pode prejudicar o desenvolvimento das vagens e a qualidade do feijão.
Os adultos são mariposas de coloração marrom, com aproximadamente 35 mm de envergadura. Nas asas anteriores, possuem um pequeno desenho prateado na região central. A fase adulta dura em média 15 dias e as fêmeas podem depositar até 700 ovos, encontrados na face inferior das folhas.
Os ovos são globulares e normalmente depositados de forma isolada nas folhas. Logo após a oviposição costumam ter uma coloração mais clara, que vai se alterando e escurecendo ao longo do tempo, conforme se aproxima a eclosão.
Ao eclodirem, as larvas são de coloração verde-clara e possuem listras longitudinais brancas, além de pontuações pretas. Ao longo da fase larval, que dura cerca de 15 dias, a coloração dos indivíduos se altera aos poucos para um verde-limão translúcido.
As larvas se transformam em pupas, que normalmente se localizam também na parte inferior das folhas. Com o decorrer do tempo a coloração das pupas costumam escurecer.
Mosca-branca (Bemisia tabaci)
Entre as pragas que afetam o feijoeiro, a mosca-branca é uma das mais prejudiciais, principalmente por ser vetor do vírus do mosaico-dourado do feijoeiro (Bean Golden mosaic virus). Essa praga está amplamente distribuída nas principais regiões produtoras de feijão no Brasil, causando danos severos, sobretudo pela transmissão dessa doença viral.
Os adultos da mosca-branca possuem dois pares de asas membranosas cobertas por uma substância cerosa e medem cerca de 0,8 a 0,9 mm. Cada fêmea pode colocar de 20 a 350 ovos ao longo de sua vida. No feijoeiro, a maioria dos ovos eclode em aproximadamente 8 dias.
A ninfa de primeiro instar é transparente e móvel por algumas horas ou dias, até se fixar na planta. Após isso, permanece séssil até o estágio adulto. No segundo instar, a ninfa é mais arredondada e maior, e no terceiro instar, mais translúcida, com o estilete visível. No quarto e último estágio, as ninfas apresentam seu tamanho máximo.
O ciclo de vida da mosca-branca, de ovo a adulto, dura em média 33 dias, permitindo que até 10 a 11 gerações ocorram anualmente no feijoeiro.
Embora o dano direto causado pela sucção de seiva seja mínimo para o feijoeiro, os danos indiretos resultantes da transmissão de vírus são muito mais prejudiciais. A gravidade dos danos varia conforme a cultivar, a taxa de infecção e o estádio de desenvolvimento da planta no momento da infecção.
Quanto mais jovem for a planta infectada, mais severos serão os danos, incluindo redução de porte, deformação das vagens e sementes de baixa qualidade. Após o florescimento, o impacto do vírus diminui, e as perdas tendem a ser menores. A mosca-branca prefere plantas mais jovens, mas pode estar presente durante todo o ciclo da cultura, com a população declinando à medida que o feijoeiro cresce.
Os primeiros sintomas de infecção viral nas folhas surgem entre 14 e 17 dias após o plantio. No caso do mosaico-dourado, as folhas adquirem uma coloração amarelo-intensa com um padrão de mosaico dourado-brilhante. Os sintomas começam nas folhas novas e podem se espalhar por toda a planta. Plantas infectadas precocemente (até 20 dias) sofrem grande redução no porte, além de vagens deformadas e sementes descoloridas e fora do formato padrão.
Vaquinha (Diabrotica speciosa)
A vaquinha, também conhecida como “patriota” em algumas regiões, é uma praga polífaga que se alimenta de várias culturas, incluindo o feijão. Tanto os adultos quanto as larvas causam danos às plantas.
Os adultos das vaquinhas provocam desfolha ao longo de todo o ciclo do feijoeiro, reduzindo a área disponível para a fotossíntese. O impacto mais grave ocorre na fase de plântula, pois, em casos de altas populações de insetos e baixa disponibilidade de área foliar, os adultos podem consumir o broto apical, resultando na morte da planta. Em estádios mais avançados, o dano é menos expressivo. Em casos de alta infestação durante a fase reprodutiva, os adultos podem atacar flores e vagens.
As larvas alimentam-se de raízes, nódulos e sementes em germinação, causando perfurações nesses locais. Quando se alimentam das sementes, as folhas cotiledonares podem apresentar perfurações similares às causadas pelos adultos. Se o ataque às raízes for severo, as plantas podem atrofiar, resultando no amarelecimento das folhas mais próximas da base.
O adulto da Diabrotica speciosa possui aproximadamente 4,5 mm de comprimento, com coloração verde e manchas amarelas no corpo. Suas antenas são escuras, com os três primeiros segmentos mais claros, principalmente o escapo. As larvas, ao atingirem o desenvolvimento completo, medem cerca de 10 mm de comprimento e possuem coloração branca, com a cabeça, tórax e pernas torácicas pretas.
A D. speciosa passa por três estágios larvais, sendo o período de desenvolvimento das fases imaturas (ovo, larva, pré-pupa e pupa) influenciado pela temperatura. As pupas, que medem cerca de 5 mm de comprimento, são brancas e se desenvolvem em uma câmara pupal localizada logo abaixo da superfície do solo.
O ciclo de vida completo varia entre 24 e 40 dias, com a fase de ovo durando de 5 a 7 dias, a fase larval de 14 a 26 dias, e o estágio de pupa de 5 a 7 dias.
Tamanduá-da-soja ou bicudo-da-soja (Sternechus subsignatus)
Embora seja uma praga conhecida por atacar principalmente a soja, o tamanduá-da-soja também pode afetar o feijão, causando danos semelhantes.
Os adultos possuem a forma característica dos curculionídeos, medem cerca de 10 mm de comprimento e apresentam coloração que varia de pardo-escura a preta, com listras amarelas finas no dorso e nas laterais do corpo. Uma particularidade desses insetos é que, quando perturbados, eles se prendem firmemente às hastes ou ao caule das plantas com as pernas, permanecendo imóveis.
As larvas podem atingir até 15 mm de comprimento e possuem a forma curvada típica dos curculionídeos, com coloração branco-amarelada e cabeça marrom. Durante aproximadamente três meses, elas se alimentam das plantas até atingir o tamanho máximo.
No final desse período, as larvas descem ao solo, onde constroem uma câmara pupal na camada compactada, geralmente a menos de 10 cm de profundidade. Durante o período em que permanecem no solo, as larvas não se alimentam.
Nessa fase, esses organismos entram em diapausa até o início da próxima safra, quando se transformam em pupas. As pupas, de coloração esbranquiçada, medem cerca de 10 mm de comprimento e permanecem nessa fase por três a quatro semanas.
Os adultos raspam o caule e as hastes no sentido longitudinal, conferindo-lhes um aspecto desfiado. Além disso, fazem orifícios no caule e nas hastes para depositar seus ovos, que são alongados e de cor clara. Ao raspar e anelar a casca, eles estimulam a planta a emitir raízes adventícias na área danificada, principalmente na parte superior.
As larvas se desenvolvem no interior do caule, a partir de cerca de 10 cm acima do solo, ou nas hastes. Elas se alimentam do xilema e do lenho, causando um engrossamento no local afetado e levando à morte lenta da parte superior da planta.
Outras pragas importantes
A produção do feijão também pode ser comprometida por outras pragas em diversas fases do ciclo, e dependendo do tamanho da população do inseto, pode ser fortemente danificada. Entre as espécies, podemos citar:
- lagarta-rosca (Agrotis ipsilon): corta as plântulas rente ao solo, diminuindo o estande;
- lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus): capaz de perfurar o caule e criar galerias no xilema;
- ácaro-rajado (Tetranychus urticae): se alimenta da seiva após danificar o tecido foliar;
- lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera): se alimenta de diversos órgãos da planta, mas prefere flores e vagens;
- broca-das-axilas (Crocidosema aporema): as larvas acessam o caule pelas axilas e criam galerias para se abrigarem;
- percevejos (Euschistus heros, Piezodorus guildinii, Nezara viridula, Dichelops furcatus, Edessa meditabunda): ao se alimentarem das vagens causam danos nos grãos, tornando-os chochos, enrugados e menores.
Uma vasta diversidade de espécies e danos exige do produtor adotar medidas eficientes e com diferentes frentes de ação.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) no feijão: estratégias e benefícios
O MIP é uma ferramenta que combina diferentes métodos de controle de pragas com o objetivo de proteger as lavouras de maneira eficiente e sustentável. No cultivo do feijão, o MIP é uma ferramenta fundamental para assegurar que a produtividade não seja comprometida pela presença de insetos prejudiciais, mantendo o equilíbrio do ecossistema agrícola.
Ao utilizar um conjunto de práticas, essa estratégia visa controlar as pragas de forma coordenada e integrada, promovendo a saúde da planta e reduzindo os prejuízos econômicos causados pelos ataques.
Principais benefícios do MIP
Um dos grandes benefícios do MIP no cultivo do feijão é a proteção contínua da lavoura, que se torna menos vulnerável a surtos de pragas. Ao adotar o MIP, o agricultor promove um ambiente de cultivo mais estável, com menores riscos de quedas bruscas na produtividade, já que o sistema leva em consideração o ciclo de vida das pragas e o momento adequado para o controle.
Outro benefício é o aumento da eficiência no uso dos recursos naturais. O MIP ajuda a manter o equilíbrio entre pragas e inimigos naturais, permitindo que o ecossistema agrícola funcione de maneira mais autossustentável.
Isso resulta em uma redução do impacto ambiental, ao promover práticas de controle que interagem de forma positiva com o solo, a biodiversidade e a planta. Além disso, o MIP é uma estratégia flexível, que pode ser ajustada conforme as condições climáticas, o estádio da cultura e o histórico de pragas da área.
Monitoramento no MIP
O monitoramento é uma etapa essencial e envolve a observação constante das lavouras para identificar a presença de pragas e seus níveis populacionais. A partir do monitoramento, é possível determinar quando as intervenções são necessárias e quais métodos de controle devem ser aplicados. Esse acompanhamento pode ser feito por meio de vistorias regulares, uso de armadilhas e amostragens em pontos estratégicos da plantação.
A partir das informações coletadas no monitoramento, o agricultor pode definir os níveis de controle, que indicam quando a população de pragas atinge um ponto crítico, chamado de Nível de Dano Econômico. Esse nível é o ponto em que a presença das pragas começa a gerar prejuízos que superam os custos de controle.
O MIP permite que as ações de manejo sejam aplicadas de maneira oportuna e precisa, evitando intervenções desnecessárias e protegendo a lavoura de forma mais eficaz.
Métodos de controle cultural
O controle cultural é uma das estratégias mais utilizadas no MIP e envolve práticas que tornam o ambiente menos favorável para o desenvolvimento das pragas. No cultivo do feijão, essas práticas incluem a rotação de culturas, a época de plantio e o manejo adequado do solo.
A rotação de culturas, por exemplo, quebra o ciclo de vida das pragas ao alternar plantas que não são hospedeiras, o que reduz as chances de infestação em safras subsequentes. O manejo do solo, com técnicas como a adubação equilibrada e a irrigação correta, também contribui para o vigor das plantas, tornando-as menos suscetíveis aos danos causados pelas pragas.
Outro exemplo de controle cultural é o plantio em épocas que não favoreçam a reprodução de pragas, o que ajuda a manter suas populações em níveis baixos. Além disso, a eliminação de plantas daninhas hospedeiras pode reduzir o abrigo para pragas que permanecem no solo ou em resíduos vegetais entre uma safra e outra.
Métodos de controle biológico
O controle biológico faz uso de inimigos naturais das pragas para controlar suas populações de forma sustentável. No cultivo do feijão, predadores, parasitoides e microrganismos são utilizados para manter as pragas em níveis que não causem danos econômicos.
Um exemplo comum de controle biológico é a introdução de insetos predadores que se alimentam das pragas que atacam o feijoeiro, como as vespas parasitoides que combatem lagartas. Além disso, microrganismos como fungos, vírus e bactérias entomopatogênicos podem ser aplicados na lavoura para infectar e controlar pragas de forma natural. Esses agentes biológicos são aliados valiosos no MIP, pois ajudam a manter o equilíbrio ecológico.
O controle biológico também pode ocorrer naturalmente, sem a introdução de novos agentes, quando o ambiente é manejado para favorecer a presença de predadores e parasitoides nativos. Isso acontece, por exemplo, quando a biodiversidade na lavoura é preservada, criando um habitat mais rico e diversificado.
Métodos de controle químico
No MIP, o controle químico é utilizado de forma seletiva e quando necessário, sempre respeitando os níveis de dano econômico estabelecidos no monitoramento. O uso de inseticidas deve ser feito com critério, buscando produtos que sejam efetivos para as pragas presentes na lavoura, identificadas no momento do monitoramento.
O controle químico pode ser uma ferramenta importante quando as populações de pragas ultrapassam o nível de controle ou quando outras medidas, como o controle biológico ou cultural, não são suficientes para manter as pragas abaixo do limite de dano. No entanto, a escolha do produto, a dose correta, o momento da aplicação e as condições meteorológicas são fatores cruciais para proporcionar a eficácia e evitar problemas como a seleção de organismos resistentes aos princípios ativos.
Os inseticidas devem ser aplicados de forma direcionada, preferencialmente nos pontos da lavoura onde a infestação é mais severa. Além disso, é fundamental realizar a rotação de princípios ativos, o que ajuda a evitar a resistência das pragas e prolonga a eficácia dos produtos utilizados.
Perspectivas para o controle de pragas no feijão
A adoção do MIP no cultivo do feijão é fundamental para a sustentabilidade da produção e a proteção da lavoura contra os principais inimigos. Combinando diferentes estratégias de controle, é possível reduzir os custos e os impactos ambientais, além de assegurar colheitas mais seguras e produtivas.
Além das técnicas já amplamente utilizadas, o futuro do controle de pragas no feijão aponta para o uso crescente de tecnologias digitais e soluções de agricultura de precisão. Ferramentas como sensores, drones e sistemas de monitoramento remoto permitem uma vigilância mais detalhada e eficiente das lavouras, identificando focos de infestação com maior precisão. O uso de algoritmos e inteligência artificial para analisar dados de campo pode otimizar ainda mais as decisões relacionadas ao controle de pragas, ajudando os agricultores a agir de maneira rápida e assertiva.
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