O cultivo de arroz é uma das atividades agrícolas mais importantes do Brasil, com destaque para o papel fundamental que desempenha na alimentação nacional e na economia do setor agropecuário.
O Brasil está entre os dez maiores produtores de arroz do mundo, ocupando posição de destaque no mercado internacional. Com uma produção concentrada principalmente na região Sul, o cultivo do arroz em sistema irrigado é predominante no país.
No entanto, a cultura enfrenta desafios significativos relacionados à infestação de pragas, que podem causar prejuízos expressivos na produtividade e na qualidade dos grãos. Neste conteúdo, serão abordadas as principais pragas que afetam o arroz no Brasil, com foco nos danos que causam e nas estratégias de manejo para mitigar seus impactos.
Pragas do arroz: uma visão geral
As pragas são um dos principais desafios no cultivo do arroz, podendo comprometer significativamente a produção e a qualidade dos grãos. No Brasil, onde o arroz é uma cultura cultivada especialmente na região Sul com várzeas irrigadas, e no Centro-Oeste em sistemas de sequeiro, as condições climáticas e o sistema de cultivo favorecem a proliferação de diversas pragas.
Os danos causados por esses insetos variam conforme a intensidade do ataque, o estádio fenológico da planta e a parte afetada, mas todos podem resultar em perdas econômicas consideráveis.
Essas pragas podem ser categorizadas conforme a parte da planta atacada, incluindo aquelas que danificam o colmo, as folhas e as raízes, além de outras que causam prejuízos menos comuns, mas que merecem atenção.
Os prejuízos vão desde o comprometimento do desenvolvimento inicial das plantas, afetando a germinação e a formação do estande, até a redução na produtividade final e na qualidade dos grãos colhidos. Em alguns casos, além dos danos diretos, o ataque de pragas predispõe as plantas ao desenvolvimento de doenças secundárias, aumentando ainda mais os prejuízos.
Dessa forma, é extremamente importante conhecer as características e hábitos de alimentação das pragas presentes nas diferentes fases da lavoura.
Pragas que atacam o colmo
Broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus)
A broca-do-colo, também conhecida como lagarta-elasmo, é uma das pragas mais prejudiciais para o arroz, especialmente na fase inicial da lavoura. Os adultos são pequenas mariposas, medindo de 8 a 10 mm de comprimento. As fêmeas colocam mais de 100 ovos no solo ou diretamente nas plantas de arroz, e esses ovos eclodem em cerca de quatro dias.
As larvas atacam a base do colmo, próximo à superfície do solo, bloqueando o fluxo de nutrientes. Em cinco a sete dias, as plantas afetadas já mostram os primeiros sinais de “coração-morto”, caracterizados pelo murchamento das folhas centrais. Uma única larva pode causar a morte de vários colmos.
A fase de pupa ocorre em um casulo preso à planta, e o ciclo biológico completo da praga dura entre 22 e 27 dias. Surtos são mais comuns em solos arenosos, especialmente quando as condições de baixa precipitação e alta temperatura predominam. Os ataques podem ocorrer de forma esporádica e localizada ou causar danos extensivos em grandes áreas da lavoura.
Broca-do-colmo (Diatraea saccharalis)
Comumente associada à cultura da cana-de-açúcar, a broca-do-colmo também representa uma ameaça à rizicultura. Está presente em todo o Brasil, atacando também outras gramíneas além do arroz, tanto em áreas de terras baixas quanto em terras altas.
A larva dessa praga perfura o colmo ao se alimentar do interior desse órgão, provocando a quebra da planta e reduzindo o transporte de nutrientes, o que afeta diretamente a produtividade e a qualidade dos grãos.
Os sinais de infestação só se tornam aparentes depois que os colmos já foram danificados. Na fase vegetativa, os sintomas são conhecidos como “coração-morto”, enquanto na fase reprodutiva, o ataque é identificado pela “panícula-branca”. Além disso, o ataque facilita a entrada de fungos e outros patógenos.
A mariposa deposita seus ovos em massa, e após um período de incubação de aproximadamente uma semana, as lagartas de uma mesma massa eclodem quase simultaneamente. A larva, então, para se desenvolver, passa a se alimentar das plantas.
Pragas que danificam as folhas
Lagarta-das-folhas ou lagarta-militar (Spodoptera frugiperda)
A lagarta-das-folhas é uma praga comum em diversas culturas, incluindo o arroz. O período de infestação das plantas de arroz e os danos causados à cultura podem diferir conforme o sistema de cultivo utilizado.
Ela se alimenta das folhas, causando desfolha e redução na capacidade fotossintética das plantas. Em altas populações, a lagarta pode devastar lavouras inteiras, resultando em perdas significativas.
As infestações em arrozais podem ocorrer tanto por meio da oviposição diretamente nas plantas quanto pela migração de lagartas provenientes de pastagens ou outras culturas previamente infestadas nas proximidades. O ataque da lagarta ao arroz começa logo após a emergência das plantas, cortando-as rente ao solo.
Além disso, as lagartas atacam as folhas durante as fases vegetativa, ou seja, no perfilhamento, e reprodutiva da cultura, sendo mais prejudiciais nesta última, especialmente se danificarem as folhas bandeira ou as panículas.
Em áreas de várzea, onde o terreno é plano, o período crítico de ataque vai desde a emergência das plantas até a inundação da lavoura. A irrigação por alagamento provoca a morte das lagartas por afogamento ou, ao deslocá-las do solo, as torna mais vulneráveis ao ataque de aves.
Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta)
Embora seja mais conhecida por atacar gramíneas forrageiras, a cigarrinha-das-pastagens pode infestar campos de arroz, especialmente em áreas próximas a pastagens.
Os adultos têm corpo ovalado, medindo 10 mm de comprimento e 4,5 mm de largura. Apresentam coloração preta no dorso, com três manchas creme em cada asa, além de pernas e abdômen de tom avermelhado.
O desenvolvimento da cigarrinha ocorre por hemimetabolia. Isso significa que nesse processo, a ninfa já se assemelha ao adulto, mas é menor e não possui asas. A metamorfose para esse grupo de insetos é, portanto, parcial, também conhecida como metamorfose incompleta.
O ciclo da cigarrinha passa pelas fases de ovo, ninfa e adulto. As fêmeas depositam seus ovos ao nível do solo ou sobre restos vegetais próximos à base da planta hospedeira. Os ovos têm formato alongado, semelhante a um grão de arroz.
Durante seu desenvolvimento, a ninfa se alimenta nas raízes superficiais ou na base da planta, próximo ao solo, e produz uma massa de espuma na qual passa a viver. Essa espuma serve como proteção contra patógenos e perda de umidade.
Os danos causados pelos adultos são indiretos, ocorrendo pela introdução de toxinas nas plantas no momento da sucção da seiva das folhas, que resultam no amarelecimento e na morte de folhas. Em casos mais severos, a praga pode levar à morte das plantas jovens.
Pragas que atacam a raiz
Bicheira-do-arroz (Oryzophagus oryzae)
A bicheira-do-arroz também é chamada de gorgulho-aquático-do-arroz. O ataque dessa praga é mais frequente em áreas irrigadas, onde o ciclo do arroz pode favorecer a permanência e a reprodução do inseto.
As larvas se movem lentamente e só sobrevivem em solos inundados, com águas paradas ou pouco movimentadas. São ápodes, de cor branca, com a cabeça marrom, e permanecem fixas às raízes submersas, inseridas no lodo.
Aproximadamente 25 dias após a eclosão, no último estágio de desenvolvimento, atingem 8,5 mm de comprimento. A fase de pupa ocorre também em solo inundado, num casulo impermeável feito de argila e material vegetal, fortemente aderido a uma raiz jovem.
Acredita-se que a pupa receba oxigênio por meio dessa raiz, que o transporta por meio dos aerênquimas da planta. A maioria dos casulos é fixada às raízes, a até 6 cm de distância da planta de arroz, e mede em média 2,7 mm de diâmetro e 4,1 mm de comprimento.
Cerca de dez dias depois, os adultos emergem rompendo a câmara pupal com suas mandíbulas e permanecem nos arrozais até o fim do ciclo da cultura, quando entram em diapausa.
Os adultos da bicheira-da-raiz do arroz tendem a se concentrar em áreas da lavoura onde a lâmina d’água é mais profunda, pois esses locais apresentam temperaturas mais amenas, favorecendo a sobrevivência dos ovos e, posteriormente, o desenvolvimento das larvas.
Os maiores danos são causados pelas larvas, que se alimentam das raízes, resultando no seccionamento e na diminuição do sistema radicular. Isso compromete a capacidade da planta de absorver nutrientes, levando ao encolhimento das plantas e provocando o amarelecimento das folhas, o que causa sérios prejuízos à produção.
Demais pragas
Além das pragas anteriormente citadas, o produtor deve estar atento a outras espécies que historicamente possuem ocorrência no arroz, como:
- lagarta-das-panículas (Pseudaletia sequaz);
- cigarrinha-do-arroz (Tagosodes orizicolus);
- gorgulho-do-arroz (Sitophilus oryzae);
- percevejo-do-colmo (Tibraca limbativenfris);
- percevejos-do-grão (Oeabalus poecilus, O. ypsilongriseus e O. grisescens);
- curuquerê-dos-capinzais (Mocis laripes).
Essa diversidade de espécies, com suas características próprias, tornam o controle das pragas uma atividade abrangente, que deve ser pensada de forma integrada, seguindo os fundamentos do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
MIP na cultura do arroz
O MIP é uma estratégia fundamental para o controle eficaz das pragas do arroz, combinando diferentes métodos de controle para reduzir a população de insetos a níveis que não causem prejuízos econômicos.
Essa ferramenta se baseia em três pilares principais: monitoramento, uso de níveis de controle e integração de técnicas de controle.
Monitoramento
O monitoramento constante da lavoura é essencial para identificar a presença de pragas e a fase de desenvolvimento das mesmas. Essa prática permite a tomada de decisões baseadas em dados reais da infestação, evitando intervenções desnecessárias e onerosas ao produtor.
No MIP, são definidos três níveis de controle:
- Nível de Dano Econômico (NDE): é o ponto em que o custo dos danos causados pela praga se iguala ao custo do controle. A partir desse nível, as ações de manejo são economicamente justificáveis.
- Nível de Controle (NC): é o momento em que a população de pragas está prestes a atingir o NDE. Intervenções devem ser feitas antes que o NDE seja alcançado, permitindo que as perdas sejam minimizadas.
- Nível de Equilíbrio (NE): é o nível populacional que a praga mantém em equilíbrio com o ambiente, sem causar danos econômicos significativos.
Técnicas de controle no MIP
- Controle cultural: inclui práticas como a rotação de culturas, o uso de variedades adaptadas e a adubação equilibrada para reduzir a população inicial de pragas. Essas medidas contribuem para o equilíbrio do ecossistema agrícola, tornando a lavoura menos suscetível a ataques severos.
- Controle biológico: utiliza inimigos naturais, como parasitoides e predadores e patógenos, para controlar as populações de pragas. No caso do arroz, parasitoides de larvas de broca e patógenos para controle de lagartas são eficazes aliados na estratégia de manejo.
- Controle químico: o tratamento de sementes e a aplicação de inseticidas a campo são importantes alternativas, sendo mais uma forma de controle das pragas. É importante optar por produtos adequados às pragas em questão e seguir as recomendações de dose, intervalo de segurança, condições climáticas para pulverização e rotação de moléculas.
A importância de uma estratégia integrada e sustentável
Para alcançar a sustentabilidade do cultivo de arroz, é crucial adotar uma ferramenta integrada de manejo de pragas. A combinação de práticas culturais, biológicas e químicas do MIP oferece um controle mais eficiente e econômico, resultando em uma lavoura mais produtiva e sustentável.
Investir em capacitação e tecnologia para o monitoramento preciso das pragas e para o uso adequado das técnicas de controle é essencial para manter a competitividade da rizicultura brasileira e promover colheitas abundantes e de alta qualidade. A integração de conhecimento técnico, inovação e manejo sustentável protege a lavoura contra infestações severas e contribui para uma produção agrícola mais resiliente e alinhada com as demandas por alimentos seguros e de alta qualidade.
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