A cana-de-açúcar é uma das culturas mais relevantes para a economia do Brasil, sendo a base para a produção de açúcar e etanol, itens de importância mundial. Sua cadeia produtiva emprega milhares de pessoas nas mais diversas etapas de produção e contribui para o desenvolvimento do país.

No entanto, a presença de plantas daninhas nas lavouras pode gerar sérios prejuízos, afetando diretamente a produtividade e aumentando os custos de manejo. 

Essas plantas competem por nutrientes, água e luz solar, além de dificultarem a colheita mecanizada e em alguns casos, contribuírem para o aumento de pragas e doenças.

Neste artigo, vamos explorar os principais problemas causados pelas plantas daninhas na cana-de-açúcar, destacar as espécies mais comuns encontradas nas lavouras brasileiras, discutir os prejuízos econômicos e agronômicos e apresentar as principais estratégias de controle adotadas pelos produtores.

A ameaça das plantas daninhas na lavoura de cana-de-açúcar

A competição entre as plantas daninhas e a cana-de-açúcar começa desde o início do ciclo da cultura, o que torna essencial o controle eficiente logo nas fases iniciais do plantio. As plantas daninhas se caracterizam por possuírem um ciclo de vida rápido e alta capacidade de reprodução, formando densos aglomerados que impedem o pleno desenvolvimento da cana.

No Brasil, as condições climáticas tropicais, caracterizadas por altas temperaturas e chuvas frequentes, criam um ambiente propício para o crescimento de diversas espécies de plantas daninhas. 

Esses fatores, combinados ao fato de que muitas lavouras são extensas e de difícil monitoramento, tornam o controle um verdadeiro desafio.

A presença de plantas daninhas pode reduzir significativamente a produtividade da cana em áreas não controladas, dependendo do estágio de crescimento da cultura e do tipo de planta daninha presente. Além disso, há o aumento do custo de controle, seja no manejo manual ou mecânico, que demanda tempo e recursos.

Prejuízos econômicos e agronômicos

A competição das plantas daninhas com a cana gera uma série de prejuízos, tanto econômicos quanto agronômicos. Em termos de produtividade, as perdas podem ser expressivas quando não há controle eficiente das invasoras.

Além disso, a frequente necessidade de manejo eleva os custos de produção com operação, mão de obra e horas de utilização de máquinas. O excesso de plantas daninhas também pode dificultar a mecanização da colheita, aumentando o tempo necessário para realizar o corte da cana e, em alguns casos, provocando danos ao maquinário utilizado.

Em termos agronômicos, as plantas daninhas podem alterar o equilíbrio de nutrientes no solo, comprometendo a qualidade da colheita. Elas também servem como hospedeiras para pragas e doenças, ampliando os desafios para o produtor.

Principais espécies de plantas daninhas na cana-de-açúcar

Diferentes espécies de plantas daninhas afetam as lavouras de cana, sendo algumas delas especialmente agressivas e de difícil controle. Abaixo, destacamos as principais espécies encontradas no Brasil:

Corda-de-viola (Ipomoea spp.)

A corda-de-viola é uma das plantas daninhas mais comuns e problemáticas nas áreas de cana-de-açúcar. Ela apresenta crescimento vigoroso, se enroscando nas plantas de cana e dificultando o desenvolvimento adequado da cultura. 

Além disso, suas sementes têm alta persistência no solo, o que dificulta o controle de infestações ao longo dos anos.

Capim-marmelada (Brachiaria plantaginea)

Essa espécie é amplamente disseminada em áreas agrícolas e tem uma grande capacidade de competição com a cana. O capim-marmelada cresce rapidamente, formando touceiras densas que ocupam grandes áreas, principalmente em solos de alta fertilidade.

Capim-colchão (Digitaria horizontalis)

O capim-colchão é uma planta daninha que se destaca pela sua capacidade de formar um denso tapete que cobre o solo, dificultando o crescimento da cana-de-açúcar. 

Ele compete diretamente por água e nutrientes, além de ser muito resistente ao pisoteio, o que o torna difícil de controlar em áreas mecanizadas.

Caruru (Amaranthus spp.)

As espécies de caruru estão entre as plantas daninhas mais resistentes e adaptáveis, sendo comuns em diversas regiões do Brasil. Elas possuem alta taxa de germinação e crescimento rápido, competindo com a cana por nutrientes essenciais. 

O caruru também é uma planta com vários relatos de resistência a herbicidas, o que dificulta ainda mais o manejo.

Buva (Conyza spp.)

A buva é uma planta daninha que se espalhou rapidamente nos últimos anos, principalmente devido à seleção de organismos resistentes a herbicidas de amplo espectro, como o glifosato. 

A buva também se prolifera muito bem em áreas de pousio e na entressafra, exigindo monitoramento constante e estratégias diversificadas de controle.

Outras plantas daninhas comuns

Além das espécies mencionadas, várias outras plantas daninhas afetam a lavoura de cana-de-açúcar, como a tiririca (Cyperus rotundus), a grama-seda (Cynodon dactylon), a erva-quente (Spermacoce latifolia), a mucuna-preta (Mucuna aterrima), o capim-braquiária (Brachiaria decumbens), entre outras. 

Essas espécies também possuem grande capacidade de adaptação e, em conjunto, podem provocar significativas perdas de produtividade. A ocorrência e a dispersão dessas plantas são fortemente influenciadas pelo banco de sementes do solo e pelas condições climáticas locais.

O banco de sementes no solo e as condições climáticas

Um dos principais desafios no controle de plantas daninhas na cana-de-açúcar é o chamado “banco de sementes” no solo. Esse termo refere-se às sementes de plantas daninhas que permanecem viáveis no solo por longos períodos, esperando as condições ideais para germinar. 

Estima-se que o banco de sementes de uma área agrícola possa conter milhões de sementes por hectare, muitas delas de espécies daninhas.

As condições climáticas, como temperatura, umidade e luminosidade, influenciam diretamente a germinação dessas sementes. Períodos de chuva intensa seguidos por calor, comuns em várias regiões do Brasil, criam um ambiente ideal para o surgimento das plantas daninhas, o que exige dos produtores maior atenção no manejo.

Manejo integrado no controle de plantas daninhas

O controle das plantas daninhas na cana-de-açúcar exige uma estratégia integrada, que combine diferentes métodos de manejo para ser eficaz, incluindo o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD). Entre as principais estratégias adotadas pelos produtores, estão diversos tipos de controle, sempre baseados no monitoramento das áreas.

Importância do monitoramento e da identificação

Uma das etapas mais importantes no controle eficiente de plantas daninhas é o monitoramento constante da lavoura

A identificação precoce das espécies invasoras permite que os produtores adotem as medidas de controle adequadas no momento correto, evitando a proliferação dessas plantas e reduzindo os prejuízos.

O monitoramento deve ser realizado periodicamente, especialmente nas fases iniciais do ciclo da cana-de-açúcar, quando a competição por recursos é mais intensa. 

Além disso, é fundamental que os produtores saibam identificar corretamente as espécies de plantas daninhas presentes na lavoura, uma vez que diferentes plantas exigem diferentes estratégias de controle.

Controle cultural

O controle cultural baseia-se na adoção de práticas agrícolas que favoreçam o desenvolvimento da cultura desejada, ao mesmo tempo que dificultam o estabelecimento e a proliferação das plantas daninhas. 

  • Cobertura do solo com palhada

A manutenção da palhada no solo após a colheita da cana-de-açúcar é uma prática essencial no controle cultural. A palhada atua como uma barreira física, impedindo que as sementes de plantas daninhas recebam luz suficiente para germinar e crescer. Além disso, a cobertura do solo com palha ajuda a conservar a umidade e a evitar a erosão, contribuindo para a saúde geral do solo.

No sistema de colheita mecanizada, em que a cana é cortada sem a queima prévia, uma quantidade significativa de palha permanece no campo. Essa camada de material vegetal é fundamental para o controle das plantas daninhas, especialmente durante a entressafra, quando a competição por recursos naturais, como água e nutrientes, é menor. 

  • Uso de variedades competitivas

A escolha de variedades de cana mais competitivas também é uma estratégia cultural eficaz. Algumas variedades de cana apresentam crescimento mais rápido e maior capacidade de competição com plantas daninhas, suprimindo o seu desenvolvimento. 

O uso dessas variedades, combinado com um bom manejo agrícola, pode ajudar a reduzir significativamente a pressão das plantas invasoras.

  • Correção e manejo da fertilidade do solo

Outro aspecto importante do controle cultural é a correção e o manejo da fertilidade do solo. Solos bem equilibrados em termos de nutrientes e pH tendem a favorecer o crescimento da cana-de-açúcar, que se desenvolve bem, e as interferências das plantas daninhas acabam sendo menos relevantes. 

A aplicação adequada de corretivos e fertilizantes, com base em análises de solo, permite obter um solo saudável, que favorece o crescimento rápido e vigoroso da cultura, ajudando a evitar que as plantas invasoras ocupem os espaços disponíveis.

  • Plantio direto na palha

O sistema de plantio direto na palha é outra estratégia de controle cultural que vem sendo adotada em várias culturas, incluindo a cana-de-açúcar. Nesse sistema, o solo não é revolvido antes do plantio, o que reduz a exposição das sementes de plantas daninhas presentes no banco de sementes no solo. 

Com isso, a germinação dessas sementes é suprimida e as plantas daninhas que já estão presentes são controladas pela cobertura do solo e pela própria cultura da cana.

Além de controlar as plantas daninhas, o plantio direto ajuda a preservar a estrutura do solo e a aumentar sua capacidade de retenção de água, o que pode melhorar o desempenho da lavoura em períodos de seca.

Controle mecânico

O controle mecânico é uma estratégia tradicional e eficaz no manejo de plantas daninhas, particularmente em culturas de grande extensão como a cana. 

O controle mecânico desempenha um papel crucial, especialmente nas fases iniciais do ciclo da cultura e em áreas em que o controle químico pode ser limitado. 

Essa técnica envolve o uso de máquinas e implementos agrícolas para remover fisicamente as plantas daninhas ou interromper seu crescimento, garantindo que não compitam diretamente com a cana-de-açúcar por recursos, como luz, água e nutrientes.

O controle mecânico pode ser realizado de várias formas, dependendo das condições da lavoura, do estágio de desenvolvimento da cultura e das características das plantas daninhas presentes. 

  • Roçada

A roçada é uma técnica simples e muito comum no manejo de plantas daninhas. Nessa prática, as plantas são cortadas rente ao solo, impedindo seu crescimento contínuo e minimizando a competição com a cana-de-açúcar. 

A roçada pode ser realizada manualmente, com o uso de foices ou enxadas, ou mecanicamente, utilizando roçadeiras acopladas a tratores.

É uma solução eficiente em muitos cenários, especialmente quando há resistência das plantas daninhas aos herbicidas ou quando o uso de produtos químicos não é recomendado por razões de segurança.

Apesar de ser uma técnica eficiente para reduzir a biomassa das plantas daninhas, a roçada não elimina o problema por completo, já que as plantas continuam com seus sistemas radiculares intactos e podem rebrotar. Por isso, a roçada é frequentemente usada em conjunto com outras estratégias, como o uso de herbicidas, para aumentar sua eficácia a longo prazo.

  • Capina

A capina é outra prática mecânica tradicional utilizada para controlar plantas daninhas. Existem dois tipos principais de capina: a capina manual e a capina mecânica

A capina manual é realizada com enxadas ou outras ferramentas manuais, sendo mais indicada para áreas menores ou com alta densidade de plantas daninhas próximas à cultura. Embora eficaz, é uma técnica trabalhosa e menos viável em lavouras de grande extensão.

Já a capina mecânica utiliza equipamentos específicos, como escarificadores ou cultivadores, acoplados a tratores para cortar as plantas daninhas ou revolver o solo, expondo suas raízes e matando as plantas por desidratação. 

Essa técnica é especialmente útil em áreas mais amplas e em momentos críticos, como no início do ciclo da cultura, quando as plantas daninhas ainda não estão completamente estabelecidas.

  • Gradagem

A gradagem consiste no uso de grades agrícolas, implementos que cortam e revolvem o solo de forma mais profunda, promovendo o controle de plantas daninhas ao desenterrar suas raízes e destruir suas estruturas. 

A gradagem é mais comumente aplicada no preparo do solo antes do plantio, mas pode ser usada em fases posteriores para controlar invasoras que ainda persistem na área.

No entanto, a gradagem pode gerar desvantagens, como a exposição excessiva do solo, facilitando a erosão e a perda de umidade, além de incentivar a germinação de novas plantas daninhas presentes no banco de sementes do solo. 

Portanto, é fundamental aplicar essa técnica com moderação e, preferencialmente, em conjunto com práticas conservacionistas, como a manutenção da cobertura vegetal ou o plantio direto.

No entanto, o controle mecânico também tem suas limitações. Especialmente em grandes áreas, onde a utilização constante de máquinas e implementos pode demandar altos investimentos em equipamentos, combustível e mão de obra, o alto custo pode ser um empecilho nesse controle. 

Além disso, em áreas declivosas ou de difícil acesso, a mecanização pode ser inviável, exigindo métodos alternativos de controle. Por essa razão, é importante utilizar o controle mecânico de forma criteriosa, sempre em conjunto com outras práticas de manejo integrado.

Controle químico

O controle químico é uma das ferramentas mais amplamente utilizadas no manejo de plantas daninhas na cana-de-açúcar, devido à sua eficiência em áreas extensas e à capacidade de controlar uma grande variedade de espécies invasoras. 

O uso de herbicidas oferece uma forma rápida e eficaz de reduzir a competição das plantas daninhas com a cana-de-açúcar por recursos essenciais, como água, nutrientes e luz. Contudo, o manejo químico deve ser utilizado com cautela, considerando aspectos técnicos, agronômicos e ambientais, para garantir sua sustentabilidade e eficácia a longo prazo.

O controle químico na cana envolve o uso de diferentes tipos de herbicidas, que variam em seu modo de ação, espectro de controle e momento de aplicação. 

A escolha adequada do herbicida é fundamental para o sucesso do manejo, considerando as características das plantas daninhas presentes, o estágio de crescimento da cultura e as condições climáticas.

Herbicidas pré-emergentes

Os herbicidas pré-emergentes são aplicados no solo antes da germinação das plantas daninhas. Eles criam uma camada protetora na superfície do solo, impedindo que as sementes das plantas invasoras germinem ou que as plântulas emergentes se desenvolvam. 

Esse tipo de herbicida é amplamente utilizado nas fases iniciais do cultivo da cana-de-açúcar, quando o controle das plantas daninhas é mais crítico porque pode prejudicar o estabelecimento da cultura.

A aplicação de herbicidas pré-emergentes também é indicada logo após o plantio ou a renovação da lavoura, quando o solo está exposto e as plantas daninhas podem germinar rapidamente.

Herbicidas pós-emergentes

Os herbicidas pós-emergentes são aplicados diretamente sobre as plantas daninhas que já germinaram e estão em fase de desenvolvimento ativo. Esse tipo de herbicida é usado quando as plantas invasoras já estão competindo com a cana por recursos. 

Os herbicidas pós-emergentes podem ser de ação seletiva, controlando apenas as plantas daninhas sem afetar a cultura, ou de ação não seletiva, eliminando todas as plantas com as quais entram em contato.

Métodos de aplicação e tecnologia no controle químico

A eficácia do controle químico depende não apenas da escolha do herbicida, mas também do método de aplicação e das tecnologias empregadas no processo. 

A aplicação de herbicidas na cana-de-açúcar pode ser feita de várias formas, incluindo pulverização terrestre com tratores ou equipamentos acoplados, e pulverização aérea, comum em grandes áreas de cultivo.

O desenvolvimento de tecnologias de precisão tem revolucionado a aplicação de herbicidas, permitindo uma aplicação mais eficiente e direcionada. 

A pulverização seletiva, por exemplo, utiliza sensores que identificam a presença de plantas daninhas em meio à lavoura e aplicam o herbicida apenas no local necessário. Essa tecnologia reduz o desperdício de produto e economiza recursos para o produtor.

Além disso, o uso de drones e veículos autônomos na aplicação de herbicidas também vem crescendo no Brasil, oferecendo uma alternativa mais ágil e precisa, especialmente em áreas de difícil acesso ou com alta densidade de plantas daninhas. 

Boas práticas no uso de herbicidas

O uso de herbicidas requer uma série de cuidados para garantir que seja feito de forma segura e sustentável. Entre as boas práticas que devem ser adotadas pelos produtores, estão:

  • rotação de herbicidas: alternar herbicidas com diferentes modos de ação ajuda a evitar a seleção de plantas daninhas resistentes;
  • aplicação na dose correta: seguir as recomendações de dose e frequência de aplicação indicadas pelos fabricantes é essencial para garantir a eficácia do controle;
  • monitoramento constante: a identificação precoce de plantas daninhas emergentes permite a aplicação de herbicidas no momento certo, evitando que elas se estabeleçam e causem maiores danos;
  • capacitação de operadores: garantir que os operadores de máquinas e equipamentos estejam devidamente capacitados para aplicar os produtos químicos de forma correta e segura.

Como garantir a sustentabilidade da lavoura de cana-de-açúcar?

Para garantir a viabilidade econômica e ambiental das lavouras de cana-de-açúcar, o manejo eficiente das plantas daninhas é uma prioridade. 

A implementação de estratégias integradas de controle, aliada ao monitoramento contínuo e à adoção de tecnologias mais avançadas, pode contribuir para a redução dos prejuízos causados pelas plantas daninhas e para a preservação da produtividade da cana.

Dessa forma, os produtores brasileiros têm à disposição uma série de ferramentas que, quando bem aplicadas, garantem uma produção de cana-de-açúcar mais eficiente e sustentável, contribuindo para o desenvolvimento do setor e para o fortalecimento da economia agrícola no país.