O Brasil é um dos maiores produtores e o maior exportador mundial de algodão, com destaque para a região Centro-Oeste. A fibra brasileira é reconhecida por sua alta qualidade, sendo amplamente utilizada na indústria têxtil. Dessa forma, proteger essa cultura de pragas como o percevejo-manchador é essencial para manter a competitividade e a sustentabilidade da produção algodoeira no país.

O percevejo-manchador (Dysdercus spp.) é uma das pragas mais prejudiciais às lavouras de algodão no Brasil. Com sua capacidade de danificar significativamente a produção e comprometer a qualidade da fibra, o inseto tem sido uma preocupação constante para os produtores. 

Neste texto, abordaremos as principais características para identificação dessa praga, os danos que ela causa à cultura do algodão, a sua incidência no Brasil e as estratégias de controle adotadas, incluindo o Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Prejuízos causados pelas pragas no cultivo do algodão

As pragas representam uma das maiores ameaças ao cultivo do algodão, causando prejuízos significativos tanto na produtividade quanto na qualidade da fibra. Entre as principais pragas que afetam a cultura, o percevejo-manchador se destaca pelos danos consideráveis, que acabam comprometendo o valor comercial do produto final. 

Além dos prejuízos diretos à produção e à qualidade do algodão, as pragas também impactam a sanidade das plantas, tornando-as mais suscetíveis a doenças e outras adversidades. 

O ataque de pragas como o percevejo-manchador causa ferimentos que podem servir para a contaminação de patógenos oportunistas, como fungos e bactérias, que podem agravar ainda mais a deterioração das fibras e das estruturas vegetais. 

Isso aumenta o risco de podridão nos capulhos e gera perdas adicionais durante o armazenamento e o transporte, uma vez que o algodão danificado perde sua resistência e valor mercadológico.

Diante de tantos prejuízos, é preciso ficar atento à incidência de pragas como o percevejo-manchador, a fim de evitar que possíveis problemas na rentabilidade e na produtividade do algodão inviabilizem a atividade econômica.

Incidência do percevejo-manchador no Brasil

No cenário agrícola brasileiro, o algodão é uma das culturas de maior relevância econômica, especialmente na região Centro-Oeste. No entanto, a presença do percevejo-manchador nessas áreas tem sido uma constante preocupação para os produtores. O clima tropical desses locais de produção cria condições favoráveis para a proliferação dessa praga.

Estados, como Mato Grosso, Bahia e Goiás, que estão entre os principais produtores de algodão no país, são frequentemente afetados pelo Dysdercus spp. Algumas características do cultivo, como o ciclo contínuo de cultivo do algodão nas mesmas áreas, acabam contribuindo para a manutenção das populações de percevejos e dificultando o controle. 

De maneira geral, a infestação por percevejo-manchador pode variar de safra para safra, dependendo das condições climáticas, do manejo aplicado e do nível de monitoramento realizado pelos produtores. Em anos de clima favorável, as perdas podem ser expressivas, tornando essencial a adoção de práticas eficazes de controle.

Danos causados pelo percevejo-manchador no algodão

Os danos provocados pelo percevejo-manchador estão diretamente relacionados à qualidade e ao rendimento da produção de algodão. 

Uma das principais consequências da infestação é a mancha nas fibras, que ocorre com a liberação dos dejetos do inseto. Essas manchas afetam diretamente o valor comercial da fibra, prejudicando a coloração natural do algodão e a sua qualidade.

Outros danos causados por esses percevejos são a queda de botões florais, de flores e de maçãs jovens, além de causar pontuações internas nos capulhos. O ataque também resulta em deformações das maçãs, que assumem a forma de bico-de-papagaio, e na abertura defeituosa dos capulhos.

Quando não controlada, a infestação pode levar a prejuízos significativos, comprometendo boa parte da produção em áreas severamente afetadas. Esse impacto econômico torna o percevejo-manchador uma das pragas prioritárias no manejo da cultura do algodão no Brasil.

Características para a identificação do percevejo-manchador

O percevejo-manchador é uma praga bastante distinta. Os adultos de Dysdercus spp. medem de 12 a 18 milímetros de comprimento e possuem uma coloração predominante vermelha ou alaranjada, com marcas pretas no dorso e nas asas. 

O corpo alongado e as longas pernas finas são algumas das características que facilitam sua identificação. Além disso, a cabeça pequena e pontiaguda e as antenas finas e longas são de fácil percepção.

As ninfas, por outro lado, apresentam coloração mais viva, variando entre o vermelho e o laranja, e não possuem as manchas escuras que aparecem nos adultos. Ao longo do seu desenvolvimento, passam por várias mudas até atingirem a fase adulta, mantendo sempre o hábito de alimentação prejudicial à planta hospedeira.

Essa praga se alimenta diretamente das sementes imaturas do algodão, sugando a seiva e causando danos irreparáveis às fibras. Por isso, é essencial a identificação precoce, permitindo a implementação rápida de medidas de controle.

Estratégias de controle do percevejo-manchador

Diante dos prejuízos significativos causados pelo percevejo-manchador, os produtores têm adotado diversas estratégias de controle, muitas delas inseridas no Manejo Integrado de Pragas (MIP)

Esse manejo busca a utilização de diferentes métodos de controle para reduzir a população da praga de forma sustentável, otimizando o uso de defensivos agrícolas e promovendo o equilíbrio ecológico.

Monitoramento e identificação: etapas iniciais do MIP

O monitoramento contínuo é uma das estratégias iniciais mais eficazes para evitar grandes surtos de percevejo-manchador nas lavouras de algodão. A identificação precoce da praga permite a aplicação de medidas de controle antes que a população cresça e cause prejuízos significativos.

Os produtores devem realizar inspeções regulares nas lavouras, especialmente durante o período de formação das maçãs de algodão, quando as plantas estão mais vulneráveis ao ataque. O uso de armadilhas e a amostragem manual podem ajudar a determinar o nível de infestação e a necessidade de intervenção.

O monitoramento também auxilia na escolha do método de controle mais apropriado, seja cultural, químico ou biológico, garantindo que as medidas sejam tomadas no momento certo para maximizar sua eficácia.

Controle cultural

O controle cultural é uma das primeiras linhas de defesa contra o percevejo-manchador. Essa técnica envolve práticas que dificultam a sobrevivência e a reprodução da praga no campo. 

Entre as principais ações, estão a rotação de culturas com espécies não hospedeiras da praga e a eliminação de plantas hospedeiras que possam servir de abrigo para o percevejo durante o período de entressafra.

Controle biológico

O controle biológico do percevejo-manchador ocorre naturalmente no campo por meio de inimigos naturais, como predadores e parasitoides. No entanto, essa ação natural não é suficiente para manter a população da praga em níveis economicamente viáveis. Por isso, é necessário complementar com a introdução desses inimigos naturais na lavoura.

O controle biológico com o uso de parasitoides ou fungos entomopatogênicos têm potencial para se tornar uma alternativa eficaz e sustentável no manejo do percevejo-manchador. 

Um dos agentes biológicos bastante comum em pragas de maneira geral é o parasitoide de ovos, que impede o desenvolvimento das ninfas ao parasitar os ovos do percevejo. Esse tipo de controle ajuda a reduzir a população da praga de forma natural.

Os parasitoides podem ser introduzidos de forma controlada nas lavouras, como parte de um programa de controle biológico, ou podem ser estimulados naturalmente por meio de práticas de manejo que favorecem o ambiente para esses inimigos naturais.

Controle químico

O controle químico, por meio do uso de inseticidas, é amplamente utilizado em casos de alta infestação de percevejos. 

No entanto, é fundamental que os produtores façam o uso racional de defensivos agrícolas, respeitando os níveis de infestação da praga, as doses recomendadas e o período de carência de cada produto conforme recomendações técnicas do fabricante.

A aplicação de inseticidas deve ser feita com base em um monitoramento criterioso da população da praga, e sempre que possível, alternando os princípios ativos, para evitar aplicações excessivas que possam levar à seleção de insetos resistentes e ao desequilíbrio ecológico.

Caminhos para o controle do percevejo-manchador no algodão

O percevejo-manchador representa uma ameaça constante para a cultura do algodão no Brasil, sendo responsável por perdas significativas na produção e na qualidade das fibras. 

A identificação correta e o monitoramento frequente são etapas cruciais para o sucesso das estratégias de controle. Além disso, a adoção de um bom MIP, que inclua práticas culturais, controle biológico e uso racional de inseticidas, é essencial para garantir a sustentabilidade da produção de algodão no país.

O manejo dessa praga exige uma estratégia multidisciplinar e o comprometimento dos produtores em seguir boas práticas agrícolas, considerando sempre as condições climáticas e as especificidades de cada safra. 

A adoção do MIP permite não apenas a proteção das lavouras, mas também a sustentabilidade da produção a longo prazo, minimizando os custos e promovendo o equilíbrio do ecossistema agrícola. Isso reforça a importância de uma gestão proativa e diversificada para garantir a produtividade e a alta qualidade da fibra de algodão, protegendo o agronegócio brasileiro de perdas consideráveis.

Dessa forma, é possível mitigar os impactos negativos do percevejo-manchador, protegendo a rentabilidade e a qualidade da produção de algodão.