O mosaico comum do milho é uma doença viral que afeta severamente a produtividade das lavouras, principalmente em regiões tropicais, como o Brasil. Essa doença é causada pelo vírus do mosaico comum do milho (Sugarcane Mosaic Virus – SCMV), sendo transmitida por pulgões, pequenos insetos sugadores que desempenham papel crucial na disseminação do patógeno. A doença é responsável por causar prejuízos significativos à lavoura, impactando diretamente a produção de grãos e a qualidade das espigas.

No cenário agrícola brasileiro, o mosaico comum se destaca como uma ameaça significativa, sobretudo em áreas de produção intensiva, onde as condições climáticas favorecem a proliferação dos vetores. 

Além disso, a falta de manejo adequado e a dificuldade em controlar a transmissão do vírus podem agravar o cenário. Nesse contexto, estratégias de monitoramento e controle são essenciais para minimizar as perdas econômicas e garantir a sustentabilidade da produção.

Neste conteúdo, vamos explorar os principais sintomas do mosaico comum, a incidência da doença no Brasil, as características do patógeno e as estratégias de controle adotadas pelos produtores.

O que é o mosaico comum do milho?

O mosaico comum do milho é uma doença viral transmitida por insetos-vetores, principalmente pulgões (Rhopalosiphum maidis). Essa virose pode ser observada tanto em cultivares tradicionais quanto em híbridos comerciais, e sua severidade varia de acordo com diversos fatores como a densidade populacional dos vetores, a suscetibilidade das plantas e as condições ambientais.

 O SCMV (Sugarcane Mosaic Virus) pertence ao gênero Potyvirus, um grupo de vírus de plantas que causam doenças devastadoras em várias culturas.

No Brasil, a doença tem sido relatada em diversas áreas de produção, principalmente onde as condições climáticas são mais favoráveis para a proliferação dos pulgões. Embora os surtos possam ocorrer em todo o país, o manejo inadequado e a falta de monitoramento eficaz aumentam os riscos da disseminação do mosaico comum.

Principais sintomas do mosaico comum no milho

Os sintomas do mosaico comum são facilmente observáveis nas folhas da planta, que apresentam manchas cloróticas (amareladas) distribuídas de maneira irregular, resultando em um aspecto de “mosaico”. À medida que a doença progride, as folhas podem mostrar deformações e enrugamento, comprometendo a fotossíntese e, consequentemente, o desenvolvimento da planta.

Outros sinais incluem a redução no tamanho das plantas e menor produção de espigas, que apresentam grãos mal formados e de baixa qualidade. Os sintomas são mais facilmente identificados em plantas de milho jovens.

A severidade dos sintomas varia conforme a fase de desenvolvimento em que a planta é infectada, o tamanho da população de pulgões e as condições ambientais, que interferem diretamente no ciclo de vida e na propagação do inseto-vetor.

Ciclo de vida do pulgão 

O Rhopalosiphum maidis, também conhecido como pulgão-do-milho, é o principal vetor do vírus Sugarcane Mosaic Virus (SCMV), responsável por causar o mosaico comum no milho. O ciclo de vida desse inseto é relativamente curto e favorecido por condições climáticas amenas e úmidas. 

O pulgão é um inseto de corpo alongado, variando de 0,9 a 2,6 mm de comprimento, com coloração amarelo-esverdeada ou azul-esverdeada e manchas negras ao redor dos sifúnculos (estruturas que se projetam da região abdominal para trás). Suas antenas são curtas, com seis segmentos, e sua cauda e sifúnculos são negros. 

De origem asiática, o pulgão hoje é um inseto cosmopolita, visto que consegue se hospedar em diferentes espécies de plantas, afetando mais de 30 gêneros vegetais. Dificilmente consegue sobreviver em regiões com invernos rigorosos.

Esses pulgões vivem em colônias, formadas por fêmeas adultas e ninfas, que sugam a seiva das partes mais tenras das plantas, especialmente nas estruturas vegetativas ou reprodutivas. As colônias se escondem no cartucho da planta de milho, dificultando a identificação pelos produtores e oferecendo proteção contra inimigos naturais. 

As formas ápteras (sem asas) são predominantes, enquanto as formas aladas, responsáveis pela dispersão, surgem quando há superpopulação ou as condições ambientais se tornam desfavoráveis.

Segundo a Embrapa, o ciclo de vida do Rhopalosiphum maidis a 20 °C tem uma duração média de 28 dias, tempo suficiente para a reprodução rápida e eficiente desse inseto em lavouras suscetíveis, o que contribui para o aumento do risco de surtos da doença.

As fêmeas do pulgão-do-milho, em especial, possuem a capacidade de se reproduzir de forma partenogenética (assexuada), o que significa que podem dar origem a ninfas sem a necessidade de acasalamento

Durante seu período reprodutivo, que dura cerca de 12 dias, cada fêmea pode gerar entre quatro a seis ninfas por dia, totalizando até 60 descendentes por ciclo. Essa alta taxa de reprodução, aliada à capacidade de voo e dispersão pelo vento, permite que o pulgão se mova rapidamente entre diferentes plantas, aumentando o risco de infecção viral.

Formas de contaminação do milho pelo SCMV

O SCMV é transmitido pelo Rhopalosiphum maidis de forma não persistente. Isso significa que, ao se alimentar de uma planta infectada, o pulgão adquire o vírus por meio de seu aparelho bucal e pode transferi-lo para outras plantas saudáveis por meio de novas picadas. 

No entanto, o pulgão não retém o vírus por longos períodos em seu corpo, sendo necessário continuar se alimentando de plantas infectadas para manter a capacidade de transmissão.

A contaminação das plantas ocorre durante o processo de alimentação do pulgão, que perfura os tecidos vegetais com seu estilete para acessar a seiva das plantas. Durante esse processo, o vírus é introduzido nos tecidos vasculares, onde se multiplica e se espalha pela planta, afetando seu desenvolvimento. 

A infecção resulta nos sintomas característicos do mosaico comum, como manchas cloróticas em padrão mosaico e má formação das espigas.

Além disso, o SCMV também pode sobreviver em gramíneas hospedeiras alternativas, como sorgo, aveia, diferentes espécies de braquiárias e algumas plantas daninhas, que é o caso do capim-colonião, que podem hospedar o vírus entre os ciclos de plantio do milho e até mesmo durante a safra, em lavouras vizinhas. 

A presença dessas plantas hospedeiras aumenta a probabilidade de recontaminação das lavouras, mesmo após o controle inicial da doença. Além disso, é importante estar atento às condições climáticas que contribuem para a multiplicação e a sobrevivência do inseto-vetor.

Condições climáticas favoráveis para a ocorrência da doença

O mosaico comum no milho é favorecido por condições climáticas específicas que aumentam tanto a multiplicação dos pulgões quanto a eficácia da transmissão do vírus. As temperaturas elevadas e a alta precipitação pluviométrica são ideais para o desenvolvimento e a dispersão dos insetos-vetores.

Além da influência do clima no ciclo de vida do pulgão, as temperaturas mais elevadas também podem aumentar a atividade fisiológica das plantas de milho, o que pode favorecer a multiplicação do vírus nas plantas já infectadas.

O monitoramento constante das condições climáticas e a utilização de modelos preditivos são fundamentais para antecipar possíveis surtos e agir de forma assertiva no controle dos pulgões e na disseminação do vírus.

Manejo Integrado de Pragas (MIP) e de Doenças (MID) no controle do mosaico comum

O MIP é uma estratégia que alia diferentes métodos de controle, como o biológico, o cultural e o químico, de forma harmoniosa, visando reduzir a pressão das pragas sobre a cultura e otimizar o uso de defensivos agrícolas. No caso do mosaico comum, o MIP desempenha um papel fundamental, pois os pulgões são os principais vetores do vírus.

O controle eficiente das populações de pulgões, aliado a diferentes práticas que também visam reduzir a incidência desse patógeno, pode diminuir significativamente a incidência da doença. Além disso, o MID é essencial para garantir que o mosaico comum seja controlado, inclusive em conjunto com outras enfermidades que afetam o milho.

Importância do monitoramento e da identificação do pulgão no MIP e no  MID

A detecção precoce do mosaico comum no milho é crucial para evitar que a doença se espalhe de maneira incontrolável na lavoura. O monitoramento regular das plantas e dos insetos-vetores é uma prática essencial no manejo integrado, permitindo a identificação dos primeiros sinais de infecção e da população do pulgão, levando a adoção de medidas corretivas antes que o vírus comprometa grandes áreas de cultivo.

Os produtores devem estar atentos aos sintomas nas folhas, como o padrão de mosaico e o amarelecimento, além de realizar inspeções periódicas em busca de populações de pulgões. Técnicas de amostragem podem auxiliar no acompanhamento da dinâmica populacional dos vetores, permitindo intervenções mais precisas e eficazes.

Métodos de controle do mosaico comum

Para mitigar os prejuízos causados pelo mosaico comum no milho, os produtores brasileiros têm adotado uma série de estratégias de controle, que incluem desde o manejo cultural até o uso de defensivos agrícolas. A seguir, abordamos os principais métodos de controle:

Controle cultural 

A rotação de culturas é uma prática essencial para interromper o ciclo do vírus. Plantar espécies não hospedeiras, como leguminosas, pode reduzir a quantidade de inóculo presente na área. Além disso, o controle de plantas daninhas que atuam como hospedeiras secundárias do vírus, na lavoura e em áreas vizinhas, também é crucial.

O uso de híbridos de milho com maior tolerância ao vírus é também uma das estratégias mais eficientes no controle do mosaico comum. Pesquisas de melhoramento genético têm avançado na identificação de cultivares mais resistentes, que podem reduzir a incidência da doença e os danos causados por ela.

Controle biológico 

O controle biológico é uma importante ferramenta no MIP para controlar o Rhopalosiphum maidis. Esse processo utiliza inimigos naturais, como predadores, parasitoides e patógenos, para manter as populações de pulgões em níveis abaixo dos que causariam danos econômicos. Para maximizar a eficiência dessa prática, é essencial promover o habitat dos inimigos naturais.

Esses organismos predadores e parasitoides agem atacando diretamente os pulgões, diminuindo suas populações de maneira eficiente e sustentável. As joaninhas, por exemplo, alimentam-se tanto de pulgões adultos quanto de ninfas, enquanto algumas espécies de parasitoides conseguem depositar seus ovos dentro dos pulgões, levando à morte do inseto após o desenvolvimento das larvas. 

O uso do controle biológico, quando aliado a práticas culturais e ao controle químico de forma integrada, diminui o risco de seleção de insetos resistentes e promove um ambiente mais equilibrado e saudável para a produção agrícola. 

Controle químico

O uso de inseticidas pode ser uma estratégia eficaz quando as populações de pulgões atingem níveis críticos, ameaçando a produtividade da lavoura. No entanto, seu uso deve ser sempre feito de maneira criteriosa, seguindo as recomendações técnicas do fabricante, para garantir segurança, eficácia e minimizar os impactos ambientais.

Entre as principais práticas recomendadas, está a rotação de moléculas, que consiste em alternar diferentes grupos químicos de inseticidas para evitar o desenvolvimento de resistência nos pulgões. 

Além disso, é fundamental aplicar os inseticidas no momento correto, geralmente identificado por meio de monitoramento constante das lavouras. As doses e os intervalos de aplicação devem seguir as indicações dos rótulos dos produtos, permitindo um máximo efeito dos produtos utilizados.

Dessa forma, o controle químico, quando utilizado de forma integrada com outras estratégias do MIP, como o controle biológico e o controle cultural, contribui para o controle sustentável do pulgão-do-milho, reduzindo o impacto do mosaico comum na lavoura e mantendo a produtividade e a rentabilidade da cultura.

Considerações finais

O mosaico comum do milho é uma ameaça constante às lavouras brasileiras, com impacto direto na produtividade e na qualidade do grão. A doença, transmitida por pulgões, exige um manejo integrado e eficiente para ser controlada, envolvendo práticas culturais, biológicas e químicas. O monitoramento constante e a identificação precoce dos sintomas são essenciais para evitar prejuízos maiores.

A adoção do manejo integrado de pragas e doenças, com foco no controle dos vetores e no uso de variedades tolerantes, é uma das principais estratégias para mitigar os efeitos do mosaico comum nas lavouras de milho, garantindo a sustentabilidade e a rentabilidade da produção no Brasil.